A vida do último machof12 bet grupo telegramuma espécie que virou ícone da preservação animal:f12 bet grupo telegram
Na reserva florestal Ol Pejeta, aos pés do Monte Quênia, o jornalista fotográfico Tony Karumba, da agênciaf12 bet grupo telegramnotícias AFP, capturou uma famosa imagemf12 bet grupo telegramSudanf12 bet grupo telegram5f12 bet grupo telegramdezembrof12 bet grupo telegram2016, cercaf12 bet grupo telegram15 meses antes da morte do rinoceronte.
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A imagemf12 bet grupo telegramKarumba é o retratof12 bet grupo telegramprimeiro plano do doce relacionamento entre Sudan e os seres humanos na reserva florestal.
Ele capturou as imagens enquanto Sudan era retirado do seu cercado e levado para o pasto. "Existe amor e confiança naquele momento", descreve o fotógrafo.
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"Estar na presençaf12 bet grupo telegramSudan sempre pareceu para mim como visitar um sábio; seu comportamento, apesar do seu porte colossal, transmitia uma certa calma e paciência comigo e, embora seus cuidadores sempre nos rodeassem a pouca distância do campof12 bet grupo telegramvisão da câmera, ele [Sudan] aceitava minhas cautelosas intromissões e posava como se tivesse consciência do seu simbolismo como último ícone daf12 bet grupo telegramsubespécie."
A foto exibe o perfil cranianof12 bet grupo telegramSudan e seus dois chifres – característicos daf12 bet grupo telegramsubespécie – raspados para inibir os caçadores. O cuidadorf12 bet grupo telegramSudan acalma o animalf12 bet grupo telegram2,5 toneladas, comf12 bet grupo telegramcabeça maior que o tronco do homem.
A posição estratégicaf12 bet grupo telegramKarumba e seu pontof12 bet grupo telegramobservação mais baixof12 bet grupo telegramrelação a Sudan "destacam o poder e a estatura do rinoceronte", segundo o diretorf12 bet grupo telegramprogramas da Sociedade Real Fotográfica do Reino Unido, Michael Pritchard.
"O poder dessa fotografia é a interação entre esse animal impressionante e este ser humano", afirma Pritchard. "Existe gentileza, um relacionamento."
Sudan passou a maior parte da vida no Parque Safári Dvůr Králové, na República Checa, entre 1975 e 2009.
Ele foi então transportado para a fortemente vigiada reserva natural Ol Pejeta,f12 bet grupo telegramLaikipia, no Quênia. Foi uma última tentativaf12 bet grupo telegramincentivarf12 bet grupo telegramprocriação com as fêmeas restantes daf12 bet grupo telegramsubespécie. Mas não funcionou.
Sudan morreuf12 bet grupo telegram19f12 bet grupo telegrammarçof12 bet grupo telegram2018, com 45 anosf12 bet grupo telegramidade. E com ele se foram as esperançasf12 bet grupo telegramsalvar o rinoceronte-branco-do-norte da extinção.
Apenas duas fêmeas da subespécie permanecem vivas na reserva Ol Pejeta. Najin e Fatu são antigos animaisf12 bet grupo telegramzoológico. Ambas são incapazesf12 bet grupo telegramlevar a cabo uma gravidez,f12 bet grupo telegramforma que a subespécie é agora considerada funcionalmente extinta.
Mas surgem novas esperançasf12 bet grupo telegramfazer ressurgir o rinoceronte-branco-do-norte.
Cientistas conseguiram a primeira gravidez do mundo por fertilização in vitrof12 bet grupo telegramuma subespécie próxima, o rinoceronte-branco-do-sul. E eles esperam repetir este processo com o rinoceronte-branco-do-norte.
"Temos muita confiançaf12 bet grupo telegrampoder criar rinocerontes-brancos-do-norte da mesma forma e conseguir salvar a espécie", afirmou à BBC a cientista Susanne Holtze, do Instituto Leibnizf12 bet grupo telegramPesquisaf12 bet grupo telegramZoologia e da Vida Selvagem, na Alemanha.
O instituto faz parte do projeto Biorescue, um consórcio formado para salvar os rinocerontes-brancos da extinção.
A força das imagens
"Sudan foi uma dessas notícias que correram o mundo", segundo Pritchard.
"Suas fotos mostram que estamos mudando o planetaf12 bet grupo telegramuma forma que os números, as estatísticas ou as reuniões governamentais não conseguem [mostrar]. Este é o poder da fotografia: atingir um público que pode não reagir a fatos e números."
Para Pritchard, as fotos são "evidentes". Mas o contextof12 bet grupo telegramtorno das imagens o impressionou. A históriaf12 bet grupo telegramSudan se tornou muito maior que o animal.
"Estamos procurando algo que não está mais entre nós como indivíduo, mas, o mais importante, enquanto espécie", afirma ele.
Depois que o mundo observou pela primeira vez um vislumbre da face funcional da extinção, não parou mais.
A campanha publicitáriaf12 bet grupo telegramSudan conquistou admiradores no mundo inteiro, visitasf12 bet grupo telegramturistas e doações para trabalhosf12 bet grupo telegramconservação.
Quando a notícia daf12 bet grupo telegrammorte se espalhou, políticos e celebridades postaram imagensf12 bet grupo telegramsi próprios ao ladof12 bet grupo telegramSudan.
E,f12 bet grupo telegram20f12 bet grupo telegramdezembrof12 bet grupo telegram2020, o Google lançou um Doodlef12 bet grupo telegramhomenagem ao rinoceronte naf12 bet grupo telegrampágina inicial, lançando uma enorme sombra na ilustração que foi exibida nas barrasf12 bet grupo telegrampesquisa dos computadoresf12 bet grupo telegramtodos os continentes, com exceção da Antártida.
"Fico feliz e realizado ao perceber que meus esforços para documentar as visões que tivef12 bet grupo telegramSudan foram e ainda são tão bem recebidos", segundo Karumba.
"Por diversas vezes, nossa cobertura sobre Sudan parece ter criado um burburinho, reunindo interesse da grande imprensa e dos círculos conservacionistas."
Comf12 bet grupo telegramaparência envelhecida, Sudan mostrou às pessoas como os rinocerontes são vulneráveis, segundo Karumba, que interagiu com o rinoceronte por toda a última décadaf12 bet grupo telegramvida do animal, na reserva natural do Quênia.
Espécie 'carismática'
Os rinocerontes – equivalentes biológicos dos tanques armados com a aparência anacrônica dos dinossauros – são ilusoriamente dóceis.
"Eu me lembrof12 bet grupo telegramficar surpreso com af12 bet grupo telegramcalma, enquanto tirava fotos dele e das fêmeas", escreveu Karumba sobre seu primeiro encontro com Sudan.
"Estávamos todos correndo agitadosf12 bet grupo telegramvolta dele e subindo no seu cercado para tentar conseguir boas imagens. Mas ele estava totalmente calmo."
Depoisf12 bet grupo telegrammorto, Sudan deixouf12 bet grupo telegramser um símbolof12 bet grupo telegramotimismo para ser uma históriaf12 bet grupo telegramcautela, consolidada pela iconografia conservacionista, segundo o economistaf12 bet grupo telegramsustentabilidade Michael 't Sas-Rolfes, da Universidadef12 bet grupo telegramOxford, no Reino Unido.
Quando Sas-Rolfes conheceu Sudan no Quênia mais para o fim da vida do rinoceronte,f12 bet grupo telegramuma reunião do Grupof12 bet grupo telegramEspecialistasf12 bet grupo telegramRinocerontes Africanos da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na siglaf12 bet grupo telegraminglês)f12 bet grupo telegram2013, "ele parecia um cadáver ambulante".
Os rinocerontes são o que Sas-Rolfes chamaf12 bet grupo telegramespécie ameaçada "carismática". Outros exemplos carismáticos são os elefantes, os grandes felinos e os ursos. Estas espécies capturam a imaginação do público, segundo ele.
Os animais selvagens carismáticos se equilibram sobre uma frágil linha entre o respeito e o medo, definida pela atenção dedicada pelos países economicamente desenvolvidos.
Não é preciso ir muito longe para ver os animais selvagens carismáticosf12 bet grupo telegramcena. Desde os anos 1960 e 1970, emergentes organizações internacionaisf12 bet grupo telegramproteção da vida selvagem, como o WWF, lançaramf12 bet grupo telegramcampanha Salve o Rinoceronte, segundo Sas-Rolfes.
"Nosso relacionamento com os animais carismáticos é complexo, mas eles sempre contaram com alta estima", segundo ele. "As ONGs capitalizaram essa poderosa imagem para levantar fundos."
O veterinário e conservacionista da vida selvagem William Fowlds testemunhou pessoalmente as sangrentas repercussões da caçaf12 bet grupo telegramanimais selvagens na África do Sul, que abriga mais rinocerontes do que qualquer outro país do mundo.
Em 2022, 448 rinocerontes foram mortos ilegalmente na África do Sul, contra 451 no ano anterior, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza.
O nívelf12 bet grupo telegrambrutalidade infligido sobre os rinocerontes depende do nívelf12 bet grupo telegramexperiência do caçador. Ele normalmente usa uma serra ou facão para arrancar seu chifre, segundo Fowlds.
"Pedaços do rosto e da carne voam do seu corpo, aterrissando a vários metrosf12 bet grupo telegramdistância do rinoceronte, e o sangue se espalha pela vegetação ao seu redor", ele conta. "Você pode ver pelas marcas no solo onde o animal tentou escapar."
Uma palavra vem à mentef12 bet grupo telegramFowlds quando ele observa a fotof12 bet grupo telegramSudan: solidão.
"Nós invadimos o mundo deles. Nós destruímos o seu habitat. Nós os separamos dos demais. Agora, chegamos a um momentof12 bet grupo telegramque existem muito poucos deles no planeta", lamenta o veterinário.
Os rinocerontes são animais sociais ef12 bet grupo telegramnatureza gentil, segundo Fowlds – e também inteligentes, com personalidades variadas.
"Como o cuidadorf12 bet grupo telegramSudan nesta imagem, as pessoas que observam a foto se sentem próximas e privilegiadas por passarem algum tempo com o último daf12 bet grupo telegramespécie", prossegue Fowlds. "Eles são vulneráveis."
Fowlds apresenta outra história famosaf12 bet grupo telegramrinoceronte, esta com final feliz. Trata-sef12 bet grupo telegramThandi, uma rinoceronte-branca-do-sul fêmea que foi desfigurada por caçadores no dia 2f12 bet grupo telegrammarçof12 bet grupo telegram2012.
Dois outros rinocerontes foram atacados e morreram. Mas Thandi melhorou, para grande surpresa dos veterinários envolvidos, como Fowlds.
Depois do seu resgate e reabilitação, ela foi mãef12 bet grupo telegramvários bebês e mostra suas cicatrizes no rosto com orgulho.
Para Fowlds, os casosf12 bet grupo telegramSudan e Thandi são histórias fenomenais. Seus rostos são importantes na luta contra a caçaf12 bet grupo telegramanimais selvagens. Eles representam o primeiro passo,f12 bet grupo telegramconsciência.
"Eles inspiram muitas pessoas, incluindo a mim mesmo, a fazer mais pelos rinocerontes", afirma ele. "Quando vemos uma criatura como aquela lutando para sobreviver, nós percebemos que precisamos ajudá-los e lutar com a mesma força."
Raízes profundas
A história da caça aos rinocerontes está evoluindo, o que é extremamente humano, segundo a especialista americanaf12 bet grupo telegramconservaçãof12 bet grupo telegramrinocerontes Katie Lawton.
Para ela, a comparação mais simples é com o tráficof12 bet grupo telegramarmas ouf12 bet grupo telegramnarcóticos. Um chifref12 bet grupo telegramrinoceronte,f12 bet grupo telegrampeso, vale mais do que ouro, diamantes ou cocaína. Ou seja, cometer crimes contra a vida selvagem é um grande negócio.
Caçadoresf12 bet grupo telegramsubsistência, levados pela fome e pela pobreza, são pagos por organizações comerciais estabelecidas. Lawton afirma que combater os caçadoresf12 bet grupo telegramsubsistência que fazem o trabalho sujo não irá atingir a estrutura sistêmica da demanda.
Fowlds considera que é fácil para o público dos países industrializados observar a questão da caça ilegal do pontof12 bet grupo telegramvista colonial sem consciência e esperar que os governos resolvam a questão. Mas esta crise tem raízes profundas, históricas e socioeconômicas.
"O problema com as espécies ameaçadas, como os rinocerontes, é que você não tem tempo para solucionar esses problemas antigos porque, quando você [conseguir] mudar essas circunstâncias socioeconômicas, não haverá mais rinocerontes", explica Fowlds.
"Simbolicamente, Sudan me fez pensar 'não quero que chegue a este ponto'", afirma Lawton. "E não irá chegar, nunca mais."
De forma geral, a caçaf12 bet grupo telegramrinocerontes diminuiu desde 2018, quando morreu Sudan. Dados do comércio indicam a menor estimativa anualf12 bet grupo telegramentradaf12 bet grupo telegramchifresf12 bet grupo telegramrinoceronte nos mercados ilegais desde 2013.
A combinaçãof12 bet grupo telegraminiciativasf12 bet grupo telegramgestão biológica ef12 bet grupo telegramconservação resultouf12 bet grupo telegramum totalf12 bet grupo telegram6.487 rinocerontes-pretosf12 bet grupo telegramtodo o continente africano. E existem atualmente no planeta 16.803 rinocerontes-brancos. Todos eles são rinocerontes-brancos-do-sul, exceto por Najin e Fatu, as duas únicas fêmeas remanescentes da subespécie do norte.
Mas a primeira gravidez viávelf12 bet grupo telegramuma rinoceronte-branca-do-sul por fertilização in vitro trouxe a esperançaf12 bet grupo telegrampodermos evitar a iminente extinção desses animais.
"Aquela imagemf12 bet grupo telegramSudan é um símbolo do relacionamento entre o reino animal e a humanidade", segundo Pritchard. "Talvez seja o lado negativo, mas também existe um relacionamento positivo entre o ser humano e os rinocerontes que todos nós deveríamos defender. Por isso, vejo como uma imagem positiva."
"Compartilhar esses momentos nesse ambiente muito especial que é um privilégio do nosso planeta nos motiva a continuar nos aventurando pelas maravilhas selvagens da natureza, mostrando os personagens que justificam a experiência ef12 bet grupo telegrampreservação", conclui Karumba.
f12 bet grupo telegram Por que o rinoceronte-branco-do-norte está extinto na natureza?
A caça ilegal, alimentada pela demanda cada vez maiorf12 bet grupo telegramchifresf12 bet grupo telegramrinoceronte ricosf12 bet grupo telegramqueratina para práticas medicinais tradicionais, devastou a populaçãof12 bet grupo telegramrinocerontes africanos.
Em 1960, ainda havia 2.360 rinocerontes-brancos-do-norte na natureza, mas a subespécie foi extinta na vida selvagemf12 bet grupo telegram2008.
f12 bet grupo telegram O comérciof12 bet grupo telegramrinocerontes ainda é legal hojef12 bet grupo telegramdia?
Segundo a Convenção sobre o Comércio Internacionalf12 bet grupo telegramEspécies Ameaçadas da Fauna e da Flora (Cites), o comércio globalf12 bet grupo telegramchifresf12 bet grupo telegramrinoceronte foi proibidof12 bet grupo telegram1977. Mas países como a África do Sul reverteram a proibição para permitir o comércio doméstico, baseados no argumento dos criadores comerciaisf12 bet grupo telegramrinocerontesf12 bet grupo telegramque a legalização do comércio evitaria a caça ilegal.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.