Os mapas sonoros que protegem onça-pintada1xtoto 1xbetcaçadores ilegais:1xtoto 1xbet

onça-pintada

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Guarda-parques usam ferramentas digitais para combater a caça1xtoto 1xbetanimais selvagens1xtoto 1xbetvários países da América Latina

Barros é coordenadora do projeto1xtoto 1xbetconservação da onça-pintada chamado Onças do Iguaçu.

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Fim do Matérias recomendadas

Ela conta que,1xtoto 1xbet140 mil quilômetros quadrados da Mata Atlântica, existem apenas 300 onças-pintadas. E até um terço delas vive agora no estreito corredor1xtoto 1xbet2,4 mil km² protegido pelos parques nacionais do Brasil e da Argentina, na região das cataratas do Iguaçu.

Atualmente, onças-pintadas enfrentam alguma ameaça1xtoto 1xbetquase todo o seu habitat, do sudoeste dos Estados Unidos até o norte da Argentina. E um estudo da Cites – a Convenção sobre o Comércio Internacional1xtoto 1xbetEspécies Ameaçadas da Fauna e da Flora Selvagem – indica que essas ameaças estão aumentando.

À medida que o desmatamento se amplia e aumentam as incursões das estradas e da agricultura na floresta, a quantidade1xtoto 1xbetpresas diminui, e os caçadores ilegais ganham cada vez mais acesso a áreas mais remotas.

E não são apenas os grandes felinos que enfrentam os riscos causados pelo desmatamento e pela caça ilegal. As populações1xtoto 1xbetanimais selvagens monitorados na América Latina e na região do Caribe como um todo diminuíram1xtoto 1xbetcatastróficos 94% nas últimas décadas, segundo o relatório Living Planet1xtoto 1xbet2022, elaborado pela Sociedade Zoológica1xtoto 1xbetLondres (ZSL, na sigla1xtoto 1xbetinglês).

"A caça precisa ser controlada com urgência" afirma Barros. "Os caçadores entram para caçar outros animais e acabam matando a onça-pintada."

Cataratas do Iguaçu

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Todos os anos, mais1xtoto 1xbet1,5 milhão1xtoto 1xbetturistas visitam as cataratas do Iguaçu, patrimônio mundial da Unesco.

Mas evitar a caça ilegal1xtoto 1xbetqualquer criatura não é uma tarefa fácil, especialmente quando os parques mantêm relativamente poucos funcionários, frequentemente responsáveis pelo patrulhamento1xtoto 1xbetgrandes áreas.

Por isso, pesquisadores e funcionários dos parques da região das cataratas começaram a aplicar novas táticas para detectar a ação1xtoto 1xbetcaçadores ilegais. E, para isso, contam com novas tecnologias1xtoto 1xbetmapeamento.

Mapeando o problema

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No início dos anos 2000, os guarda-parques ainda preenchiam relatórios1xtoto 1xbetcampo manualmente, segundo Cecilia Belloni. Ela trabalha há muito tempo como guarda-parque na fronteira leste do Parque Nacional Iguazú, na Argentina.

"Agora, usamos telefones via satélite na floresta, além do sistema Smart (sigla1xtoto 1xbetinglês para Ferramenta1xtoto 1xbetMonitoramento e Relatório Espacial) e do Sistema1xtoto 1xbetInformações Geográficas Quantum para análises espaciais", explica Belloni.

Segundo ela, "Sistemas1xtoto 1xbetInformações Geográficas podem aumentar a eficiência das patrulhas dos guarda-parques", pois permitem que as equipes florestais registrem melhor os dados e quantifiquem qualquer informação relevante que seja observada.

Esses dados podem incluir desde incêndios até desmatamento e mudanças do uso da terra, dentro e fora das áreas protegidas.

O aplicativo Smart nos celulares ou tablets ajuda os guarda-parques a selecionar e padronizar todos os novos dados registrados. Esse software gratuito,1xtoto 1xbetcódigo aberto, e suas ferramentas1xtoto 1xbetanálise foram especialmente projetados para auxiliar os gerentes1xtoto 1xbetconservação no seu trabalho1xtoto 1xbetvigilância.

O aplicativo foi apresentado aos guarda-parques argentinos pela primeira vez1xtoto 1xbet2014, durante uma viagem1xtoto 1xbettreinamento para a Tailândia, e foi testado1xtoto 1xbetseguida no Parque Nacional Iguazú.

Atualmente, 20 dos 50 parques nacionais argentinos adotam o Smart, segundo o técnico1xtoto 1xbetserviços1xtoto 1xbetinformações geográficas Leónidas Lizarraga, da Administração1xtoto 1xbetParques Nacionais da Argentina (APN).

Lizarraga explica que, ao registrar fotos geolocalizadas1xtoto 1xbetcada cápsula1xtoto 1xbetmunição encontrada, os guarda-parques podem traçar uma trilha1xtoto 1xbetcaça.

"[Isso] acaba permitindo que eles sigam a trilha e encontrem pessoas que estão fora das áreas1xtoto 1xbetvisitação pública", afirma ele.

Caçadores ilegais também costumam usar árvores frutíferas como isca, segundo Belloni, como o timbó, que serve1xtoto 1xbetalimento para as antas.

Marcando (ou "geolocalizando") no software a localização dessas árvores e1xtoto 1xbetestação1xtoto 1xbetfrutificação, os guarda-parques também podem planejar melhor suas patrulhas.

A APN pretende expandir o uso do Smart para todos os parques nacionais argentinos no início deste ano, segundo o guarda-parque Federico Rodríguez Mira, encarregado1xtoto 1xbetoperações do Parque Nacional Iguazú.

"A APN pretende adquirir equipamentos eletrônicos como smartphones e tablets resistentes a condições meteorológicas extremas, para aprimorar substancialmente a coleta1xtoto 1xbetdados1xtoto 1xbetcampo e auxiliar na tomada1xtoto 1xbetdecisões", explica ele.

Julia Martínez Pardo

Crédito, Constanza Pasian

Legenda da foto, A bióloga argentina Julia Martínez Pardo registra as coordenadas1xtoto 1xbetum gravador automático que irá ajudar1xtoto 1xbetequipe a monitorar a atividade1xtoto 1xbetcaça1xtoto 1xbetanimais silvestres.

Ouvindo a floresta

Mas a utilidade da tecnologia Smart depende dos dados disponíveis para alimentar o sistema.

Após 18 anos1xtoto 1xbetmonitoramento da população1xtoto 1xbetonças-pintadas nos parques nacionais do Iguaçu, o número desses animais atingiu um pico1xtoto 1xbet1051xtoto 1xbet2018. Desde então, a população1xtoto 1xbetonças vem caindo e já atingiu cerca1xtoto 1xbet93.

"A situação operacional como um todo melhorou muito, mas a realidade é que [ainda] enfrentamos um alto número1xtoto 1xbetcaçadores", segundo Belloni. E os conservacionistas da região das cataratas procuram constantemente novas formas1xtoto 1xbetmapear e prever onde estarão os caçadores ilegais.

Existe ainda uma outra ferramenta1xtoto 1xbetmapeamento baseada no som. Em agosto1xtoto 1xbet2018, pesquisadores brasileiros e argentinos começaram a usar métodos1xtoto 1xbetmonitoramento acústico para mapear os locais1xtoto 1xbetcaça nos dois lados da fronteira.

Apoiados pelo Projeto Yaguareté (o equivalente argentino do Onças do Iguaçu), a equipe1xtoto 1xbetpesquisa instalou 20 gravadores1xtoto 1xbetáudio dentro e fora da região das cataratas. O experimento durou sete meses.

onça pintada

Crédito, Getty Images

A bióloga argentina Julia Martínez Pardo registra as coordenadas1xtoto 1xbetum gravador automático que irá ajudar1xtoto 1xbetequipe a monitorar a atividade1xtoto 1xbetcaça1xtoto 1xbetanimais silvestres.

O estudo cobriu uma área sem precedentes – enormes 4.637 km². Posicionando os gravadores automáticos no alto das árvores, fora da visão dos caçadores, os pesquisadores conseguiram gravar sons1xtoto 1xbettiros disparados a uma distância1xtoto 1xbetaté 2 km1xtoto 1xbetcada local.

Ao fim1xtoto 1xbetsete meses, foram registrados tiros1xtoto 1xbet43 dos 90 locais1xtoto 1xbetmonitoramento – e cada uma dessas 43 estações registrou1xtoto 1xbetum até 68 tiros.

Os pesquisadores usaram as informações para elaborar um mapa1xtoto 1xbetprevisão da atividade1xtoto 1xbetcaça ilegal. Eles também validaram seu modelo com viagens1xtoto 1xbetcampo1xtoto 1xbetbusca1xtoto 1xbetevidências físicas, como cartuchos1xtoto 1xbetbalas e cortes1xtoto 1xbetvegetação.

Essa validação confirmou que o mapa teve 82%1xtoto 1xbetconfiabilidade, segundo a líder do projeto, a bióloga1xtoto 1xbetconservação Julia Martínez Pardo, do Instituto1xtoto 1xbetBiologia Subtropical1xtoto 1xbetMisiones, na Argentina.

No futuro, a aplicação prática desse sistema poderá ajudar ainda mais os guarda-parques a patrulhar com mais eficiência.

Pardo afirma que, cruzando os dados1xtoto 1xbetmonitoramento acústico com as trilhas1xtoto 1xbetpatrulha, os guarda-parques podem determinar se as suas patrulhas coincidem com os locais com maior incidência1xtoto 1xbettiros. E, se os mapas não coincidirem, as operações podem ter seus trajetos alterados.

O designer e engenheiro eletrônico Sergio Moya, da Universidade Nacional1xtoto 1xbetMisiones, foi o criador do algoritmo usado pela equipe1xtoto 1xbetJulia Martínez Pardo.

"Hoje1xtoto 1xbetdia, a quantidade1xtoto 1xbetrecursos alocados à conservação é muito escassa", segundo ele. "Por isso, precisamos inevitavelmente confiar na tecnologia, para otimizar as ações e concentrar os esforços onde eles são realmente necessários."

Já existem outras provas1xtoto 1xbetque essa combinação1xtoto 1xbetfontes1xtoto 1xbetdados pode produzir resultados concretos.

Desde 2017, a ONG internacional Panthera vem desenvolvendo uma técnica semelhante ao monitoramento acústico no seu trabalho1xtoto 1xbetcombate à caça ilegal na Guatemala e1xtoto 1xbetHonduras. E,1xtoto 1xbettrês anos, as autoridades locais conseguiram usar os dados acústicos para prender três caçadores.

A coordenadora do Panthera para a Guatemala, Bárbara Escobar, explica que seu trabalho na região1xtoto 1xbetSierra del Caral, na fronteira com Honduras, é especialmente importante para as onças-pintadas.

Estudos genéticos demonstram que a conectividade da espécie na América Central e no México está sendo perdida.

"Embora tenhamos descoberto que a caça na região se concentra mais nas presas da onça-pintada, ela também é uma ameaça para o grande felino", afirma Escobar, "pois a perda das presas e o desmatamento do seu habitat contribuem para a perda1xtoto 1xbetconectividade."

onça-pintada

Crédito, Julieta Maccarino

Legenda da foto, Onça-pintada fêmea sob as árvores do Parque Nacional Impenetrável, na província do Chaco, no norte da Argentina.

Além do mapa

Voltando às cataratas do Iguaçu, a combinação1xtoto 1xbetsensores visuais e acústicos ajudaria as equipes1xtoto 1xbetguarda-parques a concentrar seus esforços, segundo Federico Rodríguez Mira. Da mesma forma, a adoção1xtoto 1xbetdrones também pode ajudar a vigilância1xtoto 1xbetáreas1xtoto 1xbetdifícil acesso.

Por isso, Rodríguez Mira afirma que a APN argentina tem planos1xtoto 1xbetincorporar estas e outras tecnologias1xtoto 1xbet2024. A esperança é que os novos equipamentos ajudem a orientar seu trabalho1xtoto 1xbetvigilância da caça ilegal e poupem tempo aos funcionários para que possam monitorar e auxiliar os mais1xtoto 1xbetum milhão1xtoto 1xbetvisitantes que visitam o parque nacional todos os anos.

O estudo1xtoto 1xbetJulia Martínez Pardo também concluiu que melhorar o mapeamento e o patrulhamento pode ser muito útil para reduzir a caça ilegal.

Seu modelo demonstrou que os principais fatores determinantes da ocorrência1xtoto 1xbetcaça foram a distância até os postos1xtoto 1xbetcontrole dos guarda-parques (que servem1xtoto 1xbetentraves para a atividade ilegal) e a proximidade e fácil acesso a assentamentos humanos, que são locais convenientes para os caçadores. Quando o acesso às cidades e vilarejos é mais fácil, a atividade1xtoto 1xbetcaça aumenta.

Por isso, também é essencial combater as ameaças à vida selvagem na1xtoto 1xbetorigem – especialmente depois da posse do novo presidente da Argentina, Javier Milei, que pretende enfraquecer a proteção ambiental.

O estudo1xtoto 1xbetPardo recomenda, entre outras medidas, melhorar a situação socioeconômica dos moradores locais. O turismo pode trazer novas fontes1xtoto 1xbetrenda, mas também aumenta as dificuldades, já que a infraestrutura turística ajuda os caçadores.

No Brasil, o analista ambiental Ivan Carlos Baptiston, ex-chefe do Parque Nacional do Iguaçu, destaca que os recentes planos1xtoto 1xbetreabertura da Estrada do Colono, que atravessa áreas protegidas do Parque Nacional do Iguaçu, foram suspensos. Por outro lado, o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro sancionou uma nova concessão para o parque1xtoto 1xbet2022.

"As novas propostas ainda estão1xtoto 1xbetdiscussão, mas elas autorizariam novos mirantes e pontes no já saturado circuito das Cataratas, que divide a floresta1xtoto 1xbetvolta das quedas d'água", explica Baptiston. Ele está preocupado com o impacto dessas medidas sobre a biodiversidade da região.

Os métodos adotados pelos caçadores também são cada vez mais sofisticados. Yara Barros destaca que, no Brasil, eles usam temporizadores para liberar iscas e atrair presas, além1xtoto 1xbetsilenciadores para despistar patrulhas e,1xtoto 1xbetalguns casos, até GPS e walkie-talkies.

As multas para os infratores podem ser consideráveis. Em 2023, um caçador foi multado na Argentina1xtoto 1xbet3,77 milhões1xtoto 1xbetpesos – o equivalente a quase US$ 11 mil (cerca1xtoto 1xbetR$ 53,6 mil), ou 29 vezes o salário mínimo médio da Argentina, na época.

Ainda assim, muitos caçadores escapam da prisão, segundo Nicolás Lodeiro Ocampo, um dos fundadores e diretor-executivo da ONG argentina Red Yaguareté.

"Na Argentina, as sentenças1xtoto 1xbetmenos1xtoto 1xbettrês anos1xtoto 1xbetprisão por qualquer delito são cumpridas1xtoto 1xbetliberdade", afirma ele. "Por isso, precisamos aumentar as penas para pelo menos quatro ou oito anos."

A coordenadora do Programa Paisagens Terrestres da Fundação Vida Silvestre Argentina, Lucía Lazzari, acredita que os esforços para introduzir novas ferramentas tecnológicas, como o sistema Smart e o monitoramento acústico, devem sempre fazer parte1xtoto 1xbetum conjunto maior1xtoto 1xbetações1xtoto 1xbetconservação ambiental.

Estas ações devem incluir o trabalho1xtoto 1xbetconservação, restauração e conexão1xtoto 1xbethabitats, além do combate ao desmatamento ilegal e à degradação da floresta, bem como a promoção1xtoto 1xbetpráticas1xtoto 1xbetprodução sustentáveis.

"O desmatamento é a ameaça mais importante enfrentada pela nossa floresta hoje1xtoto 1xbetdia", afirma Lazzari. "[Ele] afeta não só os animais, como a onça-pintada, mas também as pessoas que vivem e dependem dos serviços do ecossistema [da floresta]."

Para Yara Barros, o uso1xtoto 1xbetmapas1xtoto 1xbetalta tecnologia para melhorar as patrulhas dos guarda-parques deve ser combinado com o trabalho nas comunidades locais. E, se não houver mudanças, ela teme pelo pior.

"Não quero viver1xtoto 1xbetum mundo onde os olhos dourados da onça-pintada não existem mais", conclui a bióloga.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.