'Não foi milagre, foi sabedoria ancestral do nosso povo', diz 'parente' brasileiradado cassinocrianças resgatadas na Colômbia:dado cassino

A técnicadado cassinoenfermagem é professora voluntária na comunidade Parque das Tribos,dado cassinoManaus, e afirma que a autonomia, o conhecimento sobre o manejo da floresta e a busca por alimentos na selva são ensinados às crianças indígenas desde muito cedo por meio do convíviodado cassinocomunidade.

"A educação se dá no cotidiano e na observação dos fazeres dos mais velhos. Desde cedo, as crianças são levadas para a roça e aprendem como cuidar e manejar a natureza, quais folhas, frutas e raízes podem comer ou como procurar rios, pescar e confeccionar instrumentos básicos", diz a líder indígena.

"Por isso, não consideramos um milagre a sobrevivência das crianças hitoto na Colômbia. Foi a força da espiritualidade, do conhecimento e da sabedoria ancestral do nosso povo que as manteve vivas."

Os irmãosdado cassino14, 9, 4 e um ano sobreviveram à queda do aviãodado cassinopequeno portedado cassinoque viajavam com a mãe e outros dois adultosdado cassino1ºdado cassinomaio.

Todos os adultos morreram e eles ficaram sozinhos na selva até a última sexta-feira (9/6), quando foram encontrados pelo Exército após uma intensa busca.

Segundo Vanda Witoto, emdado cassinocultura, a transmissãodado cassinoconhecimentos não acontece na escola tradicional, mas na convivência com os pais e avós e com a natureza. "Por isso é tão importante garantir o direito à terra", diz.

"Se hoje temos a condiçãodado cassinocontinuar existindo mesmo diantedado cassinotoda a violência estrutural que enfrentamos, não só no Brasil, masdado cassinotoda a América, é por conta da força da nossa relação com a floresta, com os rios e com a terra."

Como professora voluntária no bairro indígena Parque das Tribos, Vanda afirma que trabalha a preservação da cultura e da sabedoria ancestral.

"Nós indígenas costumamos ter muito baixa autoestimadado cassinoser quem somos por conta do preconceito. Então, trabalhamos a valorização da identidade indígena, das nossas línguas e história com as crianças", afirma.

'Parentes'dado cassinooutro país

Nativos da Colômbia, os witoto se deslocaram para o Peru e o Brasil para fugir da violência enfrentadadado cassinoseu território original, advinda principalmente da exploração da borracha na região e da açãodado cassinoguerrilhas como a extinta Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

A grafia do nome do povo varia conforme o país - na Colômbia são hitoto e no Peru, uitoto - mas os costumes mantidos pela etnia são os mesmosdado cassinotodos os locais.

No Brasil, o povo witoto vive no Estado do Amazonas, principalmente no Alto Solimões, na região da tríplice fronteira com Peru e Colômbia.

A região abriga atualmente cercadado cassinotrês aldeias com maisdado cassino150 famílias, que vivem da caça, da pesca e do extrativismo.

Outros indígenas da etnia também vivem no Parque das Tribos, como é o casodado cassinoVanda Witoto.

"Meus bisavós fugiram da Colômbiadado cassinocanoa e se instalaram no Brasil", conta.

"Nós nos distanciamos do nosso território ancestral, mas,dado cassino2021, fizemos o primeiro encontro entre os witoto do Brasil e da Colômbiadado cassinocem anos."

Vanda diz que a mãe das crianças, que morreu no acidentedado cassinoavião na Colômbia, é parentedado cassinouma tiadado cassinoque vivedado cassinoBogotá, capital da Colômbia.

"Na verdade, dizemos que todos somos parentes, apesardado cassinonão compartilharmos necessariamente vínculosdado cassinosangue."

Vanda conta ainda que, durante as buscas pelas crianças na selva amazônica, todos do povo se juntaramdado cassinoum movimento espiritual para que fossem encontradas.

"Os povos originários seguram o céu. Nós fazemos isso a partir das medicinas tradicionais, da espiritualidade e da relação com a floresta."