'Cabras salvaram minha vida após 3 dias ferido na selva': a históriavip579 freebetaventura e medo do francês que interpretou mascote na Copavip579 freebet1998:vip579 freebet

Morgan Segui com curativos enquanto come

Crédito, Morgan Segui

Legenda da foto, Morgan Segui estava certovip579 freebetque iria morrer na floresta,vip579 freebetTimor-Leste

"Quando toquei minha cabeça, percebi que parte do couro cabeludo estava solto, como se fosse uma banana descascada", relembra ele. "Levei os dedos um pouco mais para cima e senti um buraco na cabeça. Imediatamente pensei: 'vou morrer'."

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Ensanguentado e com os dedos quebrados navip579 freebettentativavip579 freebetfrear a queda, Segui passaria cinco dias perdido nas profundas selvasvip579 freebetTimor-Leste. Seu resgate seria dos mais incomuns, liderado por um grupovip579 freebetcabras selvagens.

Morgan Segui contavip579 freebetexperiência no seu livro Cinq Jours au Timor ("Cinco diasvip579 freebetTimor",vip579 freebettradução livre).

Masvip579 freebethistóriavip579 freebetaventuras começou muitos anos antes e muito longevip579 freebetTimor-Leste. Tudo começou nas ruas e nos céusvip579 freebetParis, na França.

Os céus da cidade-luz

Footix, um passarovip579 freebetcorpo azul e cabeça vermelha, na copavip579 freebet1998

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Morgan Segui ficou famoso ao se apresentar no Stadevip579 freebetFrance fantasiadovip579 freebetFootix, o mascote da Copa do Mundovip579 freebet1998, na França
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Segui conta que seu espírito aventureiro surgiu na infância, quando leu seu livro favorito: Onde Vivem os Monstros (Ed. Cia. das Letrinhas, 2014), do escritor e ilustrador Maurice Sendak (1928-2012).

"Sempre me imagineivip579 freebetum pequeno bote, cruzando o mar e conhecendo esses monstros apavorantes,vip579 freebetuma festa com eles", ele conta.

Repletovip579 freebetsonhosvip579 freebetaventuras e frustrado pela vida na escola, Segui abandonou os estudos ainda jovem, para entrar no circo. Ele se tornou acrobata profissional.

Segui era tão bom no que fazia que acabou participando da cerimôniavip579 freebetabertura da Copa do Mundo da França,vip579 freebet1998. Ele se fantasiou como o mascote do Mundial – o galo Footix – e permaneceu no ponto mais alto do Stadevip579 freebetFrance,vip579 freebetSaint-Denis, durante os jogos.

Mas Segui conta que, apesar do sucesso e do reconhecimento profissional por ter participadovip579 freebetum dos eventos esportivosvip579 freebetmaior audiência do mundo, o trabalho durante a Copa o levou à reflexão.

"Parado no teto do Stadevip579 freebetFrance, a 45 metrosvip579 freebetaltura, pensei: 'Não vou dedicar todo este dinheiro, todo este esforço, toda a minha vida, apenas aos grandes eventos. Quero fazer algo mais.'"

Ele saiu do mundo das acrobacias e começou a viajar pelo mundo, fazendo todo tipovip579 freebettrabalho. Segui foi fotógrafo, cinegrafista, pasteleiro e abriu um café,vip579 freebetpaíses como Marrocos, Cazaquistão e Timor-Leste, para onde se mudouvip579 freebet2017.

A vida na ilha

Segui com a população do Timor-Leste

Crédito, Morgan Segui

Legenda da foto, Segui ouviu falar do monte Manucoco e decidiu escalar a montanha

Desde o início davip579 freebetvidavip579 freebetTimor-Leste, Segui ouvia os moradores locais falaremvip579 freebetum local sagrado – uma grande montanhavip579 freebetuma ilha a cercavip579 freebet33 km da capital timorense, Díli.

Conhecida como monte Manucoco, a formação rochosa tem cercavip579 freebetmil metrosvip579 freebetaltura. Ela se ergue da densa floresta tropical que cobre a ilhavip579 freebetAtaúro e é parte importante das tradições culturaisvip579 freebetTimor-Leste.

Segui descreve a si próprio como um fanático por correr e caminhar – e a montanha parecia um objetivo perfeito. Inspirado pelo protagonista do seu livro favorito na infância, ele conseguiu uma pequena embarcação que o levariavip579 freebetDíli até Ataúro.

"Quando cheguei à praia, como sempre acontecevip579 freebetTimor, muitas pessoas vieram me ajudar", relembra ele.

"Contei que iria escalar o monte Manucoco e eles disseram que já era muito tarde e que seria melhor que eu retornasse."

A ilhavip579 freebetAtaúro,vip579 freebetTimor Leste. Ao fundo, o monte Manucoco.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A ilhavip579 freebetAtaúro,vip579 freebetTimor Leste. Ao fundo, o monte Manucoco

Mas Segui decidiu ignorar o conselho. Ele estava convencidovip579 freebetque, com seu ritmo, teria tempo mais que suficiente para completar a subida e descer antes do pôr do sol.

"É claro que esta é uma decisão que você não pode tomarvip579 freebetrelação à montanha", alerta ele. "É uma postura muito arrogante e perigosa."

"A primeira regra da montanha é que o bom caminho é aquele que você pode cancelar ou postergar para o dia seguinte. Mas eu não ouvi as advertências."

Segui começou a escalada. Ele conta que, a partir dos 700 metrosvip579 freebetaltura, a paisagem da montanha começou a mudar, passando a ser mais densa e hostil.

"A selva começou a se tornar mais verde e profunda, com todo tipovip579 freebetverde. Havia muitos sons específicosvip579 freebetaves e insetos e todo tipovip579 freebetodores."

"E, como é a selva, as sombras começam a se apoderarvip579 freebettudo porque ela é tão densa que a luz não consegue entrar. É um lugar mágico, é tudo o que você precisa para ser feliz", contou ele ao Serviço Mundial da BBC.

Queda abrupta

A ilhavip579 freebetAtaúro, vista do alto e cobertavip579 freebetverde.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A ilhavip579 freebetAtaúro, vista do alto e cobertavip579 freebetverde

Ao chegar ao topo do Manucoco e pressionado pela chegada da noite, Segui descansou por apenas 10 minutos e começou a descida.

Ele decidiu seguir pelo mesmo caminho da subida, para reduzir o tempo do trajeto. Mas,vip579 freebetcerto ponto, o caminho o levou para um lugarvip579 freebetonde não havia saída.

"Eu desci por aquele rio por cercavip579 freebetuma hora, até chegar a uma cascata seca, por onde não podia descer", recorda ele. "E já não havia formavip579 freebetvoltar, fiquei presovip579 freebetuma espécievip579 freebetcânion."

"À direita, havia uma sérievip579 freebetflorestas complexas, com cobras e aranhas, que não podia atravessar. À esquerda, havia aquele penhasco. Decidi tentar escalar o penhascovip579 freebet40 metros, achando que teria sinalvip579 freebetcelular quando chegassevip579 freebetcima."

Segui conta que os primeiros 30 metrosvip579 freebetsubida foram relativamente fáceis. Mas a situação se complicou no último trecho, já que as chuvas haviam enfraquecido a rocha, que estava úmida e parecia pouco estável.

"A única coisa que havia era uma pequena árvore que sobressaía do topo e era só onde podia me agarrar."

"Em uma escalada, você sabe que uma árvore que sobressai do topo é sempre uma má ideia, mas eu precisava tentar", explica ele. "Era a única possibilidade."

Segui tentou usar a árvore para levantar o próprio corpo, mas as raízes não suportaram seu peso.

"Quando as raízes se romperam, o tempo parou por cercavip579 freebet7 ou 8 segundos. Realmente me lembrovip579 freebettudovip579 freebetcâmera lenta."

"Observei o ar, a parede, as pedras passando por mim lentamente. Pensei que precisaria agarrar algo para me deter, mas só o que tinha disponível era a pedra. Por isso, tentei agarrá-la com todas as forças, mas os meus dedos se quebraram."

Segui caiu quase 40 metros. Ele bateu a cabeça e ficou inconsciente por pelo menos três horas.

O instintovip579 freebetmamífero

Raio-x mostra fraturasvip579 freebetbraço

Crédito, Morgan Segui

Legenda da foto, Morgan Segui sofreu diversas fraturas na queda do penhasco

Quando recobrou a consciência, ficou apavorado com a situação.

Parte do seu couro cabeludo estava pendurada. Seus dedos estavam quebrados e ele não conseguia mover o braço direito.

"Eu me lembro da sensaçãovip579 freebetpânico", ele conta. "Era muito doloroso."

"Era uma espécievip579 freebetemoção muito amarga, como vinagre na alma. Você sente que tudo o que fez na vida foi ruim, todos os erros que você cometeu caem na mente como uma pedra."

Ele passou horas perdendo e recobrando a consciênciavip579 freebetforma intermitente. Mas, quando finalmente voltou a si, Segui conta que tinha uma clareza absoluta sobre o que deveria fazer.

"Em certo momento, senti que estava no meu território e isso me ajudou muito", ele conta.

"Foi muito reconfortante pensar na ideiavip579 freebetque, claro, não existem hospitais para os animais selvagens e, mesmo assim, na maioria das vezes, eles se curam sozinhos."

Segui conta que havia lido sobre como os animais usavam o repouso e o jejum como métodos para curar feridas e decidiu adotar estas mesmas medidas.

"Eu disse, 'vou fazer como fazem os mamíferos: vou aproveitar, deixarvip579 freebetter medo, dormir o mais que puder e deixar que o mamífero dentrovip579 freebetmim tome as decisões'. Depois disso, tudo ficou mais fácil."

Nos três dias seguintes, Segui conta que ocupou seu tempo imaginando que iria escrever um livro e que seria entrevistado para promover a obra.

Em certo momento, ele tentou negociar com "os deuses" e prometeu pararvip579 freebetbeber se sobrevivesse. Em resposta, surgiu uma alucinação, comvip579 freebetavó perguntando "até a cidravip579 freebetmaçã?"

Por fim, Segui conta que a ideia que mais o torturava não era a da morte, nem mesmo a dor. O que mais o perturbava eram seus filhos.

"Eu não sentia dor, mas sim tristeza", relembra ele. "Meu maior medo era que a minha família não soubesse maisvip579 freebetmim, que ninguém encontrasse meu corpo e que meus filhos nunca soubessem se eu morri ou, simplesmente, desapareci."

Ataúro

Cabras escalando rocha

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, As cabras possuem a impressionante capacidadevip579 freebetescalar rochedos inclinados

No idioma local, "ataúro" significa "cabra". Morgan Segui aprenderia o significado da palavra tempos depois que um grupovip579 freebetcabras salvouvip579 freebetvida, no ponto mais profundo do monte Manucoco.

Na terceira noite após o acidente, Segui acordou assustado com os ruídos do que parecia ser um animal grande se aproximando.

"Depoisvip579 freebetalguns minutos, percebi que eram cabras", ele conta. "Elas se aproximaram muito e fiquei contente por estar cobertovip579 freebetfolhas e galhos,vip579 freebetforma que elas não me viam como ser humano. Para elas, eu simplesmente fazia parte da vegetação."

"A menor delas se aproximou com o focinho e olhou, como se dissesse 'uau, você está arrebentado, mas acho que vai ficar bem'."

Para surpresavip579 freebetSegui, o grupovip579 freebetcabras começou escalar o penhasco, caminhando sobre o estreito caminhovip579 freebetzigue-zague pelas rochas. Elas forneceram a solução para o seu principal problema.

"Foi ali que eu disse 'não estou perdido'."

No dia seguinte, Segui usou todas as forças para ficarvip579 freebetpé, mesmo com fraturas no pé direito evip579 freebetvárias outras partes do corpo. Ele usou a camiseta para imobilizar o braço quebrado e se dirigiu ao caminho usado pelas cabras.

"Levei um dia inteiro para escalar o penhasco, porque fui muito, muito devagar", ele conta. "Como se fosse um urso preguiçoso, tudo foi muito lento."

Quando chegou ao cume, Segui parecia ter outra alucinação, como as que o atormentaram nos seus momentosvip579 freebetdelírio. Ele encontrou um portão e, atrás dele, uma plantaçãovip579 freebetabacaxis.

"Eu cheguei pertovip579 freebetum dos abacaxis e o toquei. Estava muito maduro", relembra ele.

"Os primeiros pedaços não passaram da minha boca, que estava muito seca. Parecia uma esponja seca. Mas, quando as fibras e o açúcar finalmente chegaram ao meu estômago, foi algo inacreditável para minha mente."

"Senti que meus braços e minhas pernas conseguiam novamente se movervip579 freebetconjunto", recorda ele.

Segui comeu e foi finalmente vencido pelo cansaço. Ele caiu adormecido sob as estrelas.

O retorno à civilização

Segui abraçado com Moisés

Crédito, Morgan Segui

Legenda da foto, Moisés evip579 freebetfamília foram a salvaçãovip579 freebetMorgan Segui

Ele agora tinha certezavip579 freebetque iria sobreviver.

A plantaçãovip579 freebetabacaxis significava que havia alguém por perto que poderia socorrê-lo. Ele viu uma casa ao longe e se aproximou, tentando arrumar suas roupas da melhor forma possível antesvip579 freebetbater à porta.

"Mas demorei muito e,vip579 freebetrepente, vi um homem sair com um estilingue apontado diretamente para mim, enquanto eu tentava vestir as calças", ele conta.

"Ele me viu com o couro cabeludo pendurado, tentando vestir as calças e explicar o que havia acontecido. A única coisa que ele fez foi me abraçar e dizer: 'Obrigado, Jesus, por trazer este homem para o meu campo e dar forças para mim e para minha família, para podermos reuni-lo à família dele'."

"No mesmo momento, comecei a chorar."

Por acaso, o homem se chamava Moisés. Ele levou Segui para casa,vip579 freebetesposa o atendeu e lhe deuvip579 freebetcomer.

"Eu estava comendo, mas, a cada mordida, olhava para eles e voltava a chorar", relembra ele.

"Eu estava muito feliz. Foi um momento muito profundo. Eu havia voltado à civilização humana, à minha vida, à água, à comunidade, da melhor forma que poderia imaginar."

Foi assim que, depoisvip579 freebetcinco dias angustiantes, Morgan Segui estava a salvo.

Morgan Segui enfaixado

Crédito, Morgan Segui

Legenda da foto, Morgan Segui contouvip579 freebetum livro como sobreviveu àvip579 freebetaventura.

Quando estava para ser levadovip579 freebetvolta para Díli, Segui conta que agradeceu a Moisés por toda avip579 freebetatenção. Ele diz que o recompensou financeiramente pela ajuda.

Ao se despedir, o homem confessou: "Agora, preciso voltar porque estou preparando o funeral da minha filha".

"Eu disse 'o quê?'", relembra Segui. "Você tomou tempo do funeral davip579 freebetfilha para cuidarvip579 freebetmim? Não sei como agradecer e, agora, eu me sinto um turista estúpido que caiu davip579 freebetmontanha e fez você perder uma parte importante do funeral davip579 freebetfilha."

"Ele me respondeu: 'não, não, você está vivo e precisávamos cuidarvip579 freebetvocê'."

A experiência mudou a perspectivavip579 freebetvidavip579 freebetSegui. Ele conta que deixouvip579 freebetser tão egoísta e, hoje, valoriza imensamente coisas básicas, como a água.

Segui também se dedicou a ajudar as pessoas da região e incentivar projetosvip579 freebetabastecimentovip579 freebetágua potável.

"Desde criança, tive muita sorte e a vida me deu muitas coisas", ele conta. "Mas fui egoísta. Hoje, tento dar mais atenção às pessoas,vip579 freebetvezvip579 freebetreceber."

Ouça o episódio da série Outlook, do Serviço Mundial da BBC (em inglês), que deu origem a esta reportagem, no site BBC Sounds.