Placebo: o que é o efeito e como ele afeta até bebês e animais:sportsbet spfc

Pessoa com luvas segurando uma pílula azul e outra vermelha

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Testes clínicos costumam comparar candidatos a remédio com uma substância sem efeito terapêutico (o placebo) — sem que voluntários ou pesquisadores saibam quem tomou o que

Mas a dentista resolveu fazer um novo teste na hora da revelação. Para metade do grupo, Magri primeiro perguntava como estava a dor na face — e só depois revelava se a pessoa havia feito o tratamento com laser ou não.

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Para a outra parcela dos participantes, a estratégia foi contrária: ela dizia logosportsbet spfccara o tiposportsbet spfctratamento feito (laserterapia ou luz), para na sequência questionar se o incômodo no rosto havia melhorado.

“Queríamos ver se o conhecimento sobre a modalidade recebida influenciava na percepção imediata da dor”, aponta a dentista, que trabalha na Faculdadesportsbet spfcOdontologiasportsbet spfcRibeirão Preto da Universidadesportsbet spfcSão Paulo (Forp-USP).

“E nós vimos que sim: quando a paciente sabia antes que não havia passado pelo laser, ela dizia estar com mais dorsportsbet spfccomparação com as situaçõessportsbet spfcque essa informação só era dada depois”, resume ela.

“O mesmo aconteceu no grupo do tratamento ativo: se a voluntária sabia antes que recebeu o laser, ela tendia a relatar menos dor.”

O trabalhosportsbet spfcMagri é um exemplo clássicosportsbet spfcum fenômeno que até hoje intriga a Ciência e a Medicina: o efeito placebo.

O conceito, que tem uma sériesportsbet spfcdefinições e foi envolvidosportsbet spfcdiversas polêmicas, ajuda a descrever como substâncias ou intervenções que não tem uma ação terapêutica conhecida podem funcionar na prática e gerar uma melhorasportsbet spfcsintomas que afligem o corpo e a mente — atésportsbet spfcbebês e animaissportsbet spfcestimação.

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O placebo tem uma sériesportsbet spfcdefinições segundo o contextosportsbet spfcque ele aparece.

Na área da saúde, o fenômeno pode servir como uma medidasportsbet spfccomparação para estudos que avaliam novos tratamentos.

“A ideia aqui é criar uma situaçãosportsbet spfcque vou testar o efeitosportsbet spfcuma intervenção, como um novo remédio. Daí, para um grupo, eu dou a medicaçãosportsbet spfcfato e, para outro, ofereço as chamadas pílulassportsbet spfcfarinha”, explica a psicóloga Edna Kahhale, professora da Pontifícia Universidade Católicasportsbet spfcSão Paulo (PUC-SP).

Nesse contexto dos testes clínicos, a expectativa é que o novo produto farmacêutico tenha um efeito superior ao tal placebo — caso o resultado seja igual ou inferior, isso significa que o medicamento não funciona como esperado.

Idealmente, essa divisão dos voluntários entre os grupos deve ser aleatória (ou randomizada), e nenhuma das partes envolvidas com esse teste clínico — cientistas ou voluntários — deve saber quem recebeu tratamento ou placebo (o que é chamado no jargão científicosportsbet spfc“duplo cego”).

Há um consenso na áreasportsbet spfcque o simples fatosportsbet spfcse saber quem faz partesportsbet spfcqual grupo pode influenciar e enviesar os resultados obtidos ao final do experimento. Tanto pesquisadores quanto participantes podem subestimar ou superestimar os efeitos, especialmente quando os parâmetros avaliados são subjetivos, como a percepçãosportsbet spfcdor.

Médico segurando uma cápsula e um modelosportsbet spfccérebro

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Legenda da foto, Uma pílula sem efeito aparente pode produzir modificaçõessportsbet spfcalgumas áreas do cérebro

Alterações concretas

Os pesquisadores ouvidos pela BBC News Brasil destacaram outra confusão frequente que envolve o placebo: muita gente acredita que esse efeito é falso e não alterasportsbet spfcnada o organismosportsbet spfcuma pessoa.

Mas não é bem assim. “Estudos com ressonância magnética [um tiposportsbet spfcexamesportsbet spfcimagem] mostram que o placebo pode ativar áreas do cérebrosportsbet spfcforma muito similar ao que acontece quando um tratamento farmacológico convencional é utilizado”, destaca Magri.

Ou seja: até certo ponto, o efeito placebo é concreto e pode produzir algumas mudanças observáveis no corpo, mesmo que limitadas.

O mesmo vale para o “primo-irmão” dele: o efeito nocebo, que acontece quando o indivíduo desenvolve sintomas e efeitos colaterais pelo fatosportsbet spfcter ciência que isso pode ocorrer diantesportsbet spfcdeterminado tratamento ou doença.

“Em pesquisas que envolvem quimioterápicos contra o câncer, por exemplo, alguns voluntários têm enjoos e náuseas por já saberemsportsbet spfcantemão dos possíveis efeitos colaterais desse tiposportsbet spfcintervenção, mesmo que tenham tomado uma substância placebo”, diz a dentista.

Outro exemplo aqui é a chamada “hipertensão do jaleco branco”,sportsbet spfcque algumas pessoas apresentam um aumento da pressão arterial quando estão diantesportsbet spfcum médico e ficam nervosas com isso.

Bebês e animais

Um aspecto que chama a atenção neste debate é como o efeito placebo influencia bebês e animais, que teoricamente não têm clareza sobre o tiposportsbet spfcintervenção que estão recebendo para tratar um determinado incômodo — e, portanto, seriam menos influenciáveis na horasportsbet spfcavaliar possíveis melhoras.

Mas o fenômeno também pode acontecer com eles, por diferentes caminhos.

Magri cita as clássicas pesquisas sobre condicionamento feitas pelo fisiologista russo Ivan Pavlov no início do século 20.

Em resumo, ele tocava uma sineta toda vez que dava comida aos cachorros. Com o passar do tempo, Pavlov percebeu que o simples fatosportsbet spfctocar a sineta, mesmo sem oferecer uma refeição, já fazia com que os cães salivassem.

Ou seja, uma intervenção sem nenhuma ação direta no corpo (o somsportsbet spfcuma sineta) era capazsportsbet spfcproduzir uma alteração no organismo (a produçãosportsbet spfcsaliva);

“Posteriormente, outros estudos com ratos, que recebiam injeçõessportsbet spfcmedicamentos que inibem o sistema imunológico, viram que o mesmo efeito [sobre as célulassportsbet spfcdefesa] era obtido depoissportsbet spfcum tempo, mesmo que eles recebessem uma solução salina, sem nenhum fármaco”, aponta Magri.

“No caso das crianças, o efeito placebo também é observável na prática. É o típico caso das mães que dão um beijinho no machucado dos filhos para eles se sentirem melhor. A própria expectativasportsbet spfcuma melhora já pode surtir algum resultado”, exemplifica a pesquisadora.

Mas é preciso ponderar que a existência do efeito placebosportsbet spfccrianças pequenas e animais ainda é alvosportsbet spfcum extenso debate entre especialistas.

O médico veterinário Danny Chambers, do Colégio Realsportsbet spfcCirurgiões Veterinários do Reino Unido, cita o chamado “efeito do cuidador”.

“Vamos imaginar o casosportsbet spfcum cachorro com artrite, que apresenta dor e rigidez. Se você der um remédio que comprovadamente não funciona, como um homeopático, pode pensar que o animal melhorou pelo simples fatosportsbet spfcvocê esperar que aconteça uma melhora”, diz ele.

“Nós sabemos que doenças crônicas melhoram ou pioram ao longosportsbet spfcdias, semanas e meses. O cachorro pode sentir mais dor e rigidez num dia frio ou após realizar uma caminhada longa”, exemplifica o veterinário.

Mas, na manhã seguinte, ao ser cuidado e fazer um repouso prolongado, a tendência é que os incômodos sejam aliviados — independentementesportsbet spfcqualquer remédio utilizado. Só que a tendência é que o tutor vincule o alívio dos sintomas a uma intervenção farmacológica, mesmo que ela não tenha nada a ver com isso.

Em outras palavras, o “efeito do cuidador” está mais nos olhossportsbet spfcquem observa aquele paciente, na esperançasportsbet spfcnotar qualquer avanço.

Gato

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Legenda da foto, O efeito placebo também pode ocorrer,sportsbet spfcdiferentes maneiras,sportsbet spfcanimais e bebês

Placebo como arma

O antropólogo Mário Saretta Poglia, que estudou o efeito placebo durante o doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), opina que o fenômeno passou a ser usadosportsbet spfcforma problemática e com um certo moralismosportsbet spfctempos recentes.

“O uso do termo ‘efeito placebo’ virou uma categoriasportsbet spfcacusação da Ciência ocidental para práticas ancestrais e tradicionaissportsbet spfcoutros povos”, critica ele, que atualmente é professor da Universidade Estadual do Paraná.

“O efeito placebo virou um pontosportsbet spfcpassagem obrigatório para entender a Medicina baseadasportsbet spfcevidências e a pretensão das Ciências Médicas.”

O pesquisador entende o placebo como uma marca da racionalidade científica, mas se vê “preocupado com a multiplicidade e a legitimidadesportsbet spfcdiferentes procedimentos terapêuticos”.

“E a própria ciência e os pesquisadores não conseguem chegar a um denominador comum sobre o que é o efeito placebo”, pontua ele.

Poglia entende que é preciso produzir “uma éticasportsbet spfctorno do efeito placebo” para entender melhor “a ligação do ser humano com o ambiente”.

Malhete e comprimidos

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Legenda da foto, O efeito placebo virou uma categoriasportsbet spfcacusação, aponta antropólogo

Dá pra tirar vantagem?

Mas sabendo que o efeito placebo acontece — e pode produzir mudanças palpáveis no corpo — será possível tirar proveito dele?

Numa primeira análise, não faz sentido que profissionais da saúde prescrevam deliberadamente “pílulassportsbet spfcfarinha” ou outros tratamentos comprovadamente ineficazes, apontam os especialistas.

“Há uma questão ética e legal aqui. No consultório, só devemos usar práticas que tenham comprovação científica e baseadassportsbet spfcevidências”, pontua Magri.

Mas isso não significa que certos aspectos do efeito placebo não possam ser usados na prática — e alguns deles já fazem parte do dia a diasportsbet spfcprofissionaissportsbet spfcsaúde (e até da própria indústria farmacêutica).

“Sabemos que até a cor do comprimido pode influenciar no resultado. Os azuis tendem a causar um efeito calmante, por exemplo. O tamanho da pílula é outro fator: as maiores são vistas subjetivamente como mais efetivas. O mesmo vale para o preço: medicações mais caras podem surtir um resultado maior do que genéricos baratossportsbet spfcalguns indivíduos”, cita Magri.

Segundo a pesquisadora, algumas investigações sugerem que até a presençasportsbet spfcdiplomas pendurados na paredesportsbet spfcum consultório acabam influenciando na confiança do pacientesportsbet spfcdeterminado tratamento.

“Mesmo a forma que um diagnóstico é comunicado pode ter um impacto aqui. O pacientesportsbet spfcum médico que apresenta os fatossportsbet spfcforma otimista tende a se sentir melhorsportsbet spfccomparação com aquele que recebe a notíciasportsbet spfcforma passiva ou não esperançosa”, diferencia ela.

Na visão da pesquisadora, a forma como profissionais da saúde se comunicam pode fazer toda a diferença — e representam uma boa formasportsbet spfcse aproveitarsportsbet spfcum fenômeno tão comum e fascinante quando o placebo.