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Os segredossite roleta onlinefamília que são guardados por gerações:site roleta online
Mas vamos primeiro conhecer a históriasite roleta onlineAlex, nas suas próprias palavras.
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Alexandria Gamlin: meu bisavô Walter
Minha avó me contava com frequência a história da avó dela, chamada Lulu May. Ela nasceu no século 19site roleta onlineuma plantaçãosite roleta onlineNewberry, na Carolina do Sul (EUA), onde seus pais haviam sido escravizados.
Quando jovem, Lulu May foi estuprada pelo dono da plantação, um homem branco. O estupro levou ao nascimento do pai da minha avó, meu bisavô Walter, na virada do século 20.
A escravidão terminou oficialmente nos Estados Unidossite roleta online1865. Mas, para as pessoas negrassite roleta onlinemuitos Estados do sul dos Estados Unidos, como a Carolina do Sul, a emancipação não significou o fim da subserviência.
Aspectos fundamentais da escravidão eram mantidossite roleta onlineleis que foram aprovadas para que os cidadãos negros assinassem contratossite roleta onlinetrabalho ousite roleta onlineserviço com seus antigos escravizadores brancos, que continuariam a ser conhecidos como seus “senhores”.
A segregação e a discriminação foram reforçadas pelos chamados sistemassite roleta onlineleis racistassite roleta onlineJim Crow até bem depois da virada do século 20.
Mas, ao contrário da maioria dos bebês nascidos nessas circunstâncias, meu bisavôsite roleta onlinepele clara cresceu sabendo exatamente quem era o seu pai. Ele passou a maior parte da juventude com seus meios-irmãos brancos na “casa grande”, onde morava o dono da plantação comsite roleta onlinefamília, enquanto os trabalhadores e os antigos escravos viviamsite roleta onlinecabanas.
“Eu simplesmente sabia que ele não precisava trabalhar nos campossite roleta onlinealgodão e fazer todo aquele trabalho pesado, porque ele ficava na casa do seu senhor, que, na verdade, era seu pai, porque ele foi o primeiro filhosite roleta onlineLulu May, uma jovem donzela”, segundo minha avó, Recalia Ruth Davis Childress.
Lulu May casou-se depois com um homem negro e teve outros filhos, irmãos mais novossite roleta onlineWalter, que moravamsite roleta onlineuma cabana na plantação.
Quando Walter ficou adolescente, ele entrou nas forças armadas americanas e, mais tarde, serviu na Primeira Guerra Mundial. E, talvez naquela época, ou até um pouco antes, ele tomou a decisãosite roleta onlineviver pelo mundo passando como homem branco.
A história da “passagem” racial nos Estados Unidos – a decisãosite roleta onlinepassar como branco,site roleta onlineresposta à forte discriminação e ao violento racismo – é documentadasite roleta onlinefragmentos isolados. Ela costuma ser preservada pelas famílias, sem registros oficiais.
Uma razão, é claro, é que a decisão era um segredo. E, além disso, as famílias afro-americanas,site roleta onlineforma geral, podem ter dificuldade para rastrearsite roleta onlineprópria história, devido à escravidão (até 1865) e à formasite roleta onlineque foram mantidos os registros dos censos ao longo do tempo.
Em alguns casos, a passagem não incluía a reivindicação ativa da condiçãosite roleta onlinebranco, mas simplesmente não corrigir outras pessoas quando elas faziam essa avaliação. Em outros casos, ela envolvia esquemas elaborados,site roleta onlineuma tentativa desesperadasite roleta onlineobter liberdade e segurança.
Foi o casosite roleta onlineEllen e William Craft, um casal que escapou do sul da Geórgia para o norte dos Estados Unidos,site roleta onlinemeados dos anos 1800. Ellen passou como homem branco e William, como seu servo pessoal.
Brian Lowery é psicólogo social da Universidadesite roleta onlineStanford, nos Estados Unidos, e autor do livro Selfless: The Social Creation of You (“Sem identidade: a criação socialsite roleta onlinevocê”,site roleta onlinetradução livre), sobre a identidade e como o nosso mundo social nos molda enquanto pessoas. Ele define a passagem social como um conceito um tanto fluido.
“[Ela pode descrever] quando as pessoas saem para o mundo e permitem que os demais o considerem racialmente diferente do que você é”, explica Lowery. “Pode também significar a raça que você acredita que seja a sua.”
A passagem oferecia benefícios concretossite roleta onlineuma épocasite roleta onlineque as famílias afro-americanas enfrentavam muitas barreiras, incluindo a disparidadesite roleta onlineoportunidades codificada no sistema legal.
“Por isso, se alguém pudesse ter acesso a esses benefícios, ele teria, se houvesse mais a ganhar”, afirma Lowery. “A necessidadesite roleta onlinefazê-lo se devia principalmente à natureza do sistema.” Mas “a passagem era algo muito perigoso naquela época”.
Havia também o custo psicológicosite roleta onlinedeixar para trássite roleta onlinevelha identidade e comunidade.
No livro The Chosen Exile of Racial Passing (“O exílio voluntário da passagem racial”,site roleta onlinetradução livre), a autora Alysson Hobbs conta sobre uma mulher jovem e ambiciosa chamada Elsie Roxborough.
Ela decidiu passar racialmente como branca e rompeu todos os laços comsite roleta onlinefamília, na esperançasite roleta onlineconquistar seus sonhos com mais facilidade. Em muitos casos, esses sonhos poderiam significar um trabalho melhor, o direito ao voto e a oportunidadesite roleta onlinemorarsite roleta onlineum bairro melhor.
Posteriormente, Elsie, já com o nomesite roleta onlineMona Monet, pediu auxílio financeiro ao seu pai biológico, que se recusou a ajudá-la. Alguns dias depois, ela tirousite roleta onlineprópria vida.
“Acho que, para as pessoas que faziam a ‘passagem’, devia ser devastador para elas e para asite roleta onlinefamília”, afirma Lowery. “Imagine o que seria cortar todos os laços com asite roleta onlinefamília e os seus amigos. O custo psicológico para a família e para a pessoa que precisava fazê-lo seria imenso.”
Para ele, a passagem diz muito sobre a sociedade da época e a brutalidade infligida sobre os afro-americanos, que levava as pessoas a carregar esse fardo.
Meu bisavô não cortou laços com seus entes queridos. Na verdade,site roleta onlinepassagem foi pública, nãosite roleta onlinesegredo. Sua aparência deu a ele a oportunidadesite roleta onlinecomprar terrassite roleta onlineMichigan quando voltou da guerra. Isso moldou a trajetóriasite roleta onlinetoda a minha linhagem.
“[O homem que vendeu a fazenda] era alguém meio preconceituoso e [não iria] vender aquela fazendasite roleta online16 hectares para uma pessoa negra”, conta minha avó. Por isso, Walter “disse que não era negro, que era indígena ou algo assim, qualquer coisa menos negro, é como eram as pessoas preconceituosas”.
Nasite roleta onlinevida privada, meu bisavô viveu com orgulho, como um homem negro. Ele se casou, criousite roleta onlinefamília naquela terra e, depois, passou a fazenda para os seus filhos. A terra sustentou diversas gerações e é a mesma onde minha mãe foi criada.
Na minha família, a históriasite roleta onlineWalter é contada com afeto. Ele fez o que precisava fazer para sobreviver e prosperar contra todas as adversidades. Na verdade, ele também ajudou os seus irmãos a sair da Carolina do Sul.
“Ele chamou seus irmãos do sul para virem para o norte. E foi assim que muitas pessoas negras saíram do sul – um familiar os retirava do sul para longe dali”, conta minha avó.
Embora a escravidão tivesse terminado há muito tempo, “eles precisavam sair à noite para fugir”,site roleta onlineforma que o dono da plantação não soubesse que eles estavam indo embora. “Você não saía, você ficava naquela plantação, isso é o que realmente acontecia.”
Na minha família, é difícil dizer qual foi o verdadeiro impacto da passagemsite roleta onlineWalter e quanto segredo ela envolveu. Pelo menos, Walter não precisou mentir parasite roleta onlineesposa e seus filhos – ao contráriosite roleta onlineoutros, quando se casavam com mulheres brancas.
Seus entes queridos sempre souberam. Mas e a comunidade como um todo? Houve momentossite roleta onlineque ele estevesite roleta onlineperigo,site roleta onlineque teve medosite roleta onlineter analisado mal a situação e pudesse ser descoberto a qualquer momento?
Como acontece com muitas históriassite roleta onlinefamília, existem aspectos que nunca saberemos. Quando falei com minha avó para esta reportagem, descobri que ela se identifica como mestiça, o que eu nunca havia percebido antes.
“Nunca me considereisite roleta onlineuma raça específica, eu sou mestiça”, afirma ela. “Nós somos chamadossite roleta onlineamericanos, um poucosite roleta onlinecada coisa.”
Não sei ao certo quem foi a primeira pessoa a contar o segredosite roleta onlineWalter para alguém fora da família. Mas quem quer que tenha feito devia ter a certezasite roleta onlineque as circunstâncias já haviam mudado o suficiente e que já era seguro contar a história.
Será que este orgulho pela vontadesite roleta onlinesobreviver do meu ancestral afeta o impacto do segredo sobre a minha família, talvez se tornando uma fontesite roleta onlineforça e nãosite roleta onlinedor e trauma?
Cagney Roberts perguntou a renomados especialistassite roleta onlinesegredos sobre o impactosite roleta onlineguardar um segredo a longo prazo e suas respostas foram surpreendentes.
Cagney Roberts: Como os segredos nos afetam
Os pesquisadores descobriram que os segredos são surpreendentemente comuns. Na verdade, muitossite roleta onlinenós chegamos a manter uma coleção inteirasite roleta onlinesegredos.
O psicólogo Michael Slepian é um dos principais especialistas na psicologia dos segredos e autor do livro The Secret Life of Secrets (“A vida secreta dos segredos”,site roleta onlinetradução livre).
Seus estudos concluíram que as pessoas mantêm,site roleta onlinemédia, cercasite roleta online13 segredos simultaneamente - cinco dos quais elas nunca contaram para ninguém.
Outros segredos podem ser mantidossite roleta onlineconfidencialidade, mas revelados para algumas pessoas, dependendo do tiposite roleta onlinesegredo.
Os estudos indicam que experiências como o usosite roleta onlinedrogas ou a insatisfação com o emprego são compartilhados com mais frequência, pelo menos com algumas pessoas, enquanto experiências e sentimentos como o desejo romântico ou o comportamento sexual são “certamente os principais segredos que não são compartilhados com ninguém”.
Slepian e seus colaboradores desenvolveram uma listasite roleta online38 categorias comuns, nas quais se enquadram os segredos. Elas cobrem uma ampla variedadesite roleta onlineassuntos: crenças, família, finanças, ambições, hábitos, hobbies, usosite roleta onlinedrogas, dificuldadessite roleta onlinesaúde mental, mentiras, trabalho, relacionamentos, sexo e muito mais.
Os mais comuns, pela ordem, estão relacionados a ouvir uma mentira significativa (e manter o segredo); ter um desejo romântico enquanto solteiro; e segredos referentes ao dinheiro e finanças pessoais.
Em casos como o da passagemsite roleta onlineWalter, que era conhecida da família, mas não do mundo exterior, a distinção entre a privacidade e o segredo nem sempre é tão perceptível.
“Pode haver algumas áreas cinza entre a privacidade e o segredo”, afirma Slepian. Algumas pessoas podem não querer falar sobre sexo e dinheiro, por exemplo, por motivossite roleta onlineprivacidade.
“Mas, quando se torna um segredo, não é apenas porque ninguém sabe daquilo sobre você, mas porque você pretende que as pessoas não fiquem sabendo daquela informação”, explica ele.
Apesarsite roleta onlineserem tão comuns, os segredos podem trazer um custo.
“As pessoas mantêm segredos por todo tiposite roleta onlinemotivos, mas principalmente para proteger relacionamentos, a si próprios ou a outras pessoas. Os segredos causam prejuízo quando um relacionamento é afetado ou quando ele assombra o dono do segredo”, afirma Evan Imber-Black, professorasite roleta onlinecasamento e terapia familiar do Mercy College,site roleta onlineNova York, nos Estados Unidos.
As evidências dos estudossite roleta onlineSlepian também indicam que os segredos podem prejudicar seus donos. Manter um segredo foi associado a menor satisfação na vida, redução da qualidade dos relacionamentos e sintomassite roleta onlineproblemassite roleta onlinesaúde física e psicológica.
Pode-se pensar que isso se deve ao estresse e à ansiedadesite roleta onlineprecisar esconder algo das pessoas, mas Slepian afirma que as razões reais são mais complexas.
“A ideiasite roleta onlineque os nossos segredos nos prejudicam porque é difícil e estressante escondê-los, na verdade, está errada”, afirma ele. “Nossos segredos realmente nos machucam, mas, muitas vezes, por outros motivos, associados à sensaçãosite roleta onlinevergonha, isolamento e inautenticidade.”
“Estas experiências podem nos causar sensaçãosite roleta onlineimpotência e manter um segredo durante uma conversa é apenas uma pequena parte da dor e do estresse causados pelos segredos”, afirma Slepian.
No caso da famíliasite roleta onlineAlex, deve ter havido ocasiõessite roleta onlineque manter o segredo realmente causou dor e estresse. Mas o impacto terá sido diferente porque era um mecanismosite roleta onlinesobrevivência?
Lowery sugere que o impacto da passagem pode atravessar gerações, mas o contexto mais amplo da opressão pode ter um impacto ainda maior.
“Existem boas possibilidadessite roleta onlineque haja algum trauma agudo ou que tenha acontecido alguma tragédia que molde os indivíduossite roleta onlinefamílias que sofreram a passagem racial, afetando como as pessoas se comportam hojesite roleta onlinedia”, afirma ele. “Pode causar faltasite roleta onlineidentidade entre diversas gerações que não pode ser rastreada.”
“Mas esse trauma, na verdade, é reflexo das incríveis degradaçõessite roleta onlinetodo o sistema estatal a que toda a comunidade negra foi submetidasite roleta onlinealguma forma”, ressalta Lowery.
E o impacto individualsite roleta onlineum segredo pode variar. Alex conta que se sente empoderada pela história oculta dasite roleta onlinefamília e pela coragem do seu ancestral. A história faz com que ela se sinta corajosa e segura, por ela própria e pelasite roleta onlinelinhagem.
Para aqueles que têm sentimentos menos positivos sobre o segredo dasite roleta onlinefamília, Slepian tem um conselho: pensarsite roleta onlinecomo manter o segredo faz você se sentir.
Se a resposta for “culpado”, pode estar na horasite roleta onlineaprender com o passado e tomar decisões diferentes no presente – incluindo, talvez, uma maior abertura.
“Quando as pessoas se sentem culpadas, elas ficam motivadas a fazer alguma coisa”, segundo Slepian.
“Você não pode mudar o passado, não importa o quanto quiser que isso aconteça. Mas você pode tomar a direção correta hoje e continuar a fazer o mesmo amanhã.”
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) na seção Family Tree do site BBC Future.
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