As fascinantes históriasnúmeros da roleta7 dinossauros encontrados no Brasil:números da roleta

Com esse questionamento, nasceu a ideianúmeros da roletaescrever um livro sobre os grandes répteis do passado que viveram onde identificamos hoje o território brasileiro.

Porém, passados alguns anos da primeira edição do texto, a obra já estava obsoleta.

"Nesses últimos 15 anos, o númeronúmeros da roletadinossauros identificados no Brasil se multiplicou e eu precisava fazer uma atualização", conta o pesquisador, que também é diretor da Estação Ciência da Universidadenúmeros da roletaSão Paulo (USP).

Surgiu, assim, o livro Novo Guia Completo dos Dinossauros do Brasil, lançado recentemente pela Editora da USP (Edusp) e pela Editora Peirópolis.

A obra traz detalhes sobre 54 espécies catalogadasnúmeros da roletadinos "brasileiros" e explica todas as evidências sobre o surgimento do planeta e da vida ao longonúmeros da roletamilhõesnúmeros da roletaanos. As ilustrações que acompanham o texto foram feitas pelo paleoartista Julio Lacerda.

Vale lembrar, como mostra a escala abaixo, que os dinossauros foram os seres dominantes durante a Era Mesozoica, que compreende um período que vainúmeros da roleta252 milhões a 65,5 milhõesnúmeros da roletaanos atrás.

Em entrevista à BBC News Brasil, Anelli destacou sete espécies descritas no Brasil com características interessantes e curiosas, como você confere ao longo da reportagem.

1. Staurikosaurus, o ancião

Há um motivo para o Staurikosaurus pricei ser a estrela da capa do livro: ele é considerado o dinossauro mais antigo já encontrado no mundo.

As dataçõesnúmeros da roletarochas próximas revelam que esse animal viveu há 233 milhõesnúmeros da roletaanos. Com isso, ele é cercanúmeros da roleta1,8 milhãonúmeros da roletaanos mais antigo que alguns outros dinos descobertos na Argentina, como o Eoraptor e o Herrerasaurus.

"No que hoje conhecemos como Rio Grande do Sul possivelmente nasceram as primeiras linhagensnúmeros da roletadinossauros que iriam colonizar e dominar o mundo ao longo dos próximos 170 milhõesnúmeros da roletaanos", estima Anelli.

Atualmente, o único fóssil conhecido do Staurikosaurus está no Museunúmeros da roletaAnatomia Comparada da Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

2. Buriolestes, o precurssor

Anelli destacou o Buriolestes schultzi por causanúmeros da roletauma aparente contradição.

"A comunidade científica ficou um tanto chocada ao saber que o Buriolestes era um bípede carnívoro/faunívoro que deu origem às linhagens posteriores dos dinossauros quadrúpedes herbívoros", resume.

Os especialistas tiveram a sortenúmeros da roletaencontrar dois esqueletos praticamente completos dessa espécie. Elas estavam com o crânio preservado, inclusive com as massas do que foram os cérebros desses animais no passado.

"Com isso, foi possível obter imagensnúmeros da roletatomografia para conhecer todas as formas, protuberâncias e características do cérebro dessa espécie", diz.

"“Descobrimos assim o 'tataravô' dos dinossauros pescoçudos, então esse é um patrimônio da biologia e da história natural", classifica o paleontólogo.

3. Ubirajara, o polêmico

Catalogadonúmeros da roleta2020, o Ubirajara jubatus também é considerado uma peça rara.

"Ele é o primeiro dinossauro não voador encontrado na região do Crato, no Ceará, e possui uma penugem, ou penas", descreve Anelli.

"Além disso, o Ubirajara tinha dois paresnúmeros da roletapenas longas no dorso, muito parecidas com aquelas que são observadas hoje nas aves-do-paraíso [típicas da Oceania]", complementa.

De acordo com o cientista, uma possibilidade é que essas estruturas servissem para vibrar e chacoalhar durante os ritosnúmeros da roletaacasalamento — característica que, diga-se, algumas aves mantêm até os dias atuais.

E esse não é o único comportamento que aproxima aves e dinossauros: ambos dormem (ou dormiam) com o pescoço enrolado no corpo, constroem (ou construíam) ninhos e botam (ou botavam) ovos com características similares.

Infelizmente, o Ubirajara está envolvido numa polêmica. "Ele foi levado para a Alemanhanúmeros da roletamodo suspeito e os pesquisadores, bem como o museu que hoje o hospeda, se recusam a devolvê-lo", informa o livro.

"Mas há rumoresnúmeros da roletaque o Ubirajara está voltando para casanúmeros da roletabreve", completa.

4. Oxalaia, o pescador

Esse gigante foi caracterizado a partirnúmeros da roletadois fragmentos: a extremidade superior do focinho e um pedaço da maxila esquerda.

Isso porque as rochas onde estavam esses fósseis, numa ilha no Estado do Maranhão, sofrem com os efeitos das ondas e das marés — daí boa parte do material se degradou.

Anelli chama a atenção para o fatonúmeros da roletaque, à épocanúmeros da roletaque o Oxalaia quilombensis existiu, a América do Sul e a África tinham acabadonúmeros da roletase separar (antes, elas integravam um supercontinente conhecido como Gondwana).

Por isso, há muitas similaridades entre esse dino brasileiro e alguns outros que foram descobertos na costa africana.

"Ao que tudo indica, o Oxalaia era um dinossauro pescador", complementa o antropólogo.

O nome científico da espécie faz uma referência à divindade afro-brasileira Oxalá e aos assentamentos quilombolas maranhenses.

5. Ibirania, o nanico

Há 85 milhõesnúmeros da roletaanos, a região que hoje conhecemos como o interiornúmeros da roletaSão Paulo não era um dos lugares mais fáceis para se viver.

Recursos como água e comida eram escassos — e os poucos animais que se aventuravam por essas terras precisaram se adaptar.

Um exemplo desse processo é o Ibirania parva, um dinossauro pescoçudo nanico.

"Ele muito provavelmente reflete um momento do cretáceo que tinha um clima muito seco, com pouca disponibilidadenúmeros da roletaalimentos", avalia Anelli.

Por uma estratégia evolutivanúmeros da roletaum temponúmeros da roletavacas magras, o Ibirania era pequenino, ainda mais quando comparado a outros dinossauros que surgiramnúmeros da roletaépocas posteriores.

6. Berthasaura, a banguela

O nome Berthasaura leopoldinae faz uma homenagem tripla.

Primeiro, à cientista e ativista brasileira Bertha Lutz. Segundo, à imperatriz Leopoldina, esposanúmeros da roletaD. Pedro 1º. Terceiro, à escolanúmeros da roletasamba carioca Imperatriz Leopoldinense, que fez uma homenagem ao Museu Nacional no carnavalnúmeros da roleta2018.

Anelli descreve a Berthasaura no livro como uma "gema preciosa".

"Ela era um dinossauro caçador, mas sem dentes", resume.

"Ainda temos muito a descobrir sobre essa espécie, que tinha hábitosnúmeros da roletavida enúmeros da roletacaça muito diferentes dos dinossauros tradicionais, cheiosnúmeros da roletadentes duros", complementa.

É provável que a boca da Berthasaura fosse revestidanúmeros da roletaum "bico córneonúmeros da roletabordas afiadas semelhante ao das tartarugas".

7. Uberabatitan, o colosso

Eis o maior dinossauro já encontradonúmeros da roletaterritório brasileiro.

"O Uberabatitan ribeiroi era enorme, chegava a 26 metrosnúmeros da roletacomprimento", estima Anelli.

"Isso dá quase o tamanhonúmeros da roletadois ônibus grandes enfileirados."

Ele é um dos titanossauros mais completos conhecidosnúmeros da roletatodo o Brasil e superounúmeros da roletaum metro o Austroposeidon magnificus, que antes era considerado o maior do país.

Argentina na dianteira

Como mencionado no início da reportagem, Anelli ficou intrigado com a disparidade no númeronúmeros da roletaespéciesnúmeros da roletadinossauros descritas no Brasil e na Argentina.

O paleontólogo destaca três razões principais para essa diferença.

"A primeira delas é que, durante o Mesozoico [a era dos dinossauros], o território da atual Argentina sempre esteve colado ao oceano, com acesso à umidade e aos recursos básicos para a sobrevivência", contextualiza.

"O Brasil, pornúmeros da roletavez, ficava na parte interna do supercontinente Gondwana. Normalmente, essas regiões centrais são tomadas por desertos, com déficitnúmeros da roletaágua e pouca biodiversidade", completa.

Segundo ponto: com o passar dos milhõesnúmeros da roletaanos e a separaçãonúmeros da roletaAmérica do Sul e África, a situação se inverteu. O território brasileiro passou a receber toda a umidade que vinha do novíssimo Oceano Atlântico e virou uma espécienúmeros da roletaoásis super tropical.

Na contramão, o surgimento da Cordilheira dos Andes bloqueou a entradanúmeros da roletaumidade para a Argentina a partir do oceano. Com isso, a região se transformounúmeros da roletaum deserto.

E essa trocanúmeros da roletapapéis também facilitou a preservaçãonúmeros da roletafósseis do lado argentino. "Se você viajar pela Patagônia, poderá ver diversas rochas expostas. O deserto preserva esse material", explica Anelli.

"Agora, ao pegar um carro e cruzar o interiornúmeros da roletaSão Paulo, é possível se deparar com quilômetrosnúmeros da roletacanavial e matagal. Isso porque a camadanúmeros da roletasolo com material orgânico é muito espessa, o que dificulta a preservação e a descoberta dos fósseis."

"Para completar, o interesse pela paleontologia começou muito antes entre os argentinos. Temos dinossauros descritos por lá desde o final do século 19", diz o pesquisador.

No Brasil, pornúmeros da roletavez, essa área da ciência começou a ganhar mais fôlego a partir dos anos 1970, e muitas das espécies descritas no novo livronúmeros da roletaAnelli foram descobertas apenas na última década.

Poucos representantes do jurássico

Outro aspecto que levanta a curiosidade dos cientistas é a baixa quantidadenúmeros da roletarepresentantes "brasileiros" no Período Jurássico (que vainúmeros da roleta201 milhões a 145 milhõesnúmeros da roletaanos atrás).

"O Jurássico é um intervalonúmeros da roletamaisnúmeros da roleta50 milhõesnúmeros da roletaanosnúmeros da roletaque os dinossauros explodiramnúmeros da roletadiversidade no mundo inteiro. Enúmeros da roletanosso país, só conhecemos duas ou três espécies", conta Anelli.

A primeira delas é um nodossaurídeo, do qual se encontrou uma trilhanúmeros da roletapegadas no Rio Grande do Sul.

Os outros dois, que ainda são objetonúmeros da roletadebates entre os paleontólogos e têm evidências muito escassas, são o carcarodontossauro e um dilofossaurídeo, detectados na divisa entre Pernambuco e Bahia.

As mudanças geológicas estão mais uma vez por trás desse "sumiço".

"Os fósseis só ficam 'registrados' nas rochas quando as regiões dos continentes estão afundando. Isso abre espaço para o acúmulonúmeros da roletasedimentos por cima do terreno", explica o paleontólogo.

"Mas esses movimentos geológicos também acontecem no modo contrário: as rochas podem emergir. Quando isso acontece, as camadas mais antigas são expostas às intempéries, à chuva, ao calor, ao frio e à erosão. Com isso, o registro fóssil é apagado."

E era justamente isso o que estava acontecendo no jurássico "brasileiro": as rochas estavamnúmeros da roletamovimentonúmeros da roletasubida.

"Ou seja, os dinossauros viveram no Brasil durante esse período, mas a geologia não 'escreveu' essa história nas rochas", completa.

Já no momento posterior, durante o Cretáceo (de 145 a 65,5 milhõesnúmeros da roletaanos atrás), a plataforma do território brasileiro começou a ceder — por causa da separação do supercontinente Gondwana e uma sérienúmeros da roletaoutros fenômenos.

Com isso, os sedimentos se acumularam, ficaram "registrados" nas rochas e podem ser encontrados pelos seres humanosnúmeros da roletaanos mais recentes.

Uma oportunidade perdida

Por fim, Anelli lamenta a pouca atenção dada aos dinossauros brasileiros.

"Deveríamos ter à venda bonecosnúmeros da roletatodas essas espécies", acredita.

"Os dinossauros são um dos temas da ciência que mais atrai a atenção das pessoas. Conseguimos montar exposições e levar centenasnúmeros da roletamilhares aos museus e espaços públicos", relata.

Anelli lembra que todas as grandes cidades da América do Norte e da Europa possuem "um grande museu lotadonúmeros da roletadinossauros".

O pesquisador, que tem planosnúmeros da roletacriar a "rota dos dinossauros do Estadonúmeros da roletaSão Paulo", entende que é possível explorar e popularizar todos esses conhecimentos paleontológicos para a população.

"Nós precisamos aprender a tirar proveito da nossa pré-história, que é fascinante. Temos descobertas super legais, mas não ensinamos nada disso nas escolas", conclui.