Como a ciência explica misteriosa 'paralisia do sono':melhor site de estatísticas futebol

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Legenda da foto, Recentemente, os cientistas começaram a entender os motivos que levam algumas pessoas a acordar sem conseguirem se mover

O quarto parecia quente e limitador, como se as paredes estivessem se fechando.

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Fiqueimelhor site de estatísticas futebolpânico, até que, cercamelhor site de estatísticas futebol15 segundos depois, consegui me mover.

Só mais tarde descobri o nome do que havia acontecido comigo: paralisia do sono.

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É uma condição noturna surpreendentemente comum, na qual parte do seu cérebro acorda, enquanto o seu corpo permanece temporariamente paralisado.

Depois daquele primeiro e assustador episódio, a paralisia tornou-se frequente — um episódio a cada duas ou três noites.

Quanto mais acontecia, menos assustadora ela se tornava, até que passou a ser pouco mais do que um inconveniente.

Mas a paralisia do sono pode ser algo muito mais sério. E, para algumas pessoas, ela é acompanhadamelhor site de estatísticas futebolterríveis alucinações.

Conversei com uma pessoa afetada pela condição, que pediu para ser identificada apenas pelo primeiro nome. Victoria tem 24 anosmelhor site de estatísticas futebolidade e se lembra do que aconteceu com ela certa noite, quando tinha apenas 18 anos.

"Acordei e não conseguia me mover", ela conta. "Vi essa figura parecida com um gremlin escondida atrás da minha cortina. Ela pulou sobre o meu peito. Achei que tivesse entradomelhor site de estatísticas futeboloutra dimensão. E o mais assustador era que eu não conseguia gritar. Era tudo tão vívido, tão real."

Outras pessoas têm alucinações com demônios, fantasmas, alienígenas, intrusos ameaçadores e até parentes mortos.

Elas veem partes dos seus próprios corpos flutuando no ar ou cópias clonadasmelhor site de estatísticas futebolsi próprias,melhor site de estatísticas futebolpé ao lado da cama. Alguns veem anjos e acreditam, mais tarde, que tiveram uma experiência religiosa.

Pesquisadores acreditam que essas alucinações possam ter alimentado a crença nas bruxas na Europa, no início da Idade Moderna, e talvez até expliquem alguns relatos atuaismelhor site de estatísticas futebolabdução por alienígenas.

Os cientistas acreditam que a paralisia do sono provavelmente tenha existido desde o surgimento dos seres humanos.

Existem diversas descrições detalhadasmelhor site de estatísticas futebolepisódios ao longo da história da literatura. Mary Shelley, por exemplo, aparentemente se inspiroumelhor site de estatísticas futeboluma pintura ilustrando um episódiomelhor site de estatísticas futebolparalisia do sono para escrever uma cena no livro Frankenstein.

Mas a paralisia do sono só começou a ser estudada recentemente.

"Foi um fenômeno ignorado... mas, nos últimos 10 anos, o interesse vem aumentando", afirma o pesquisador do sono Baland Jalal, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

Em 2020, Jalal conduziu o que pode ter sido o primeiro teste clínico sobre diferentes formasmelhor site de estatísticas futeboltratamento da paralisia do sono.

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Legenda da foto, A paralisia do sono inspirou obrasmelhor site de estatísticas futebolarte e ficção, incluindo o quadro 'O Pesadelo', do pintor suíço Johann Heinrich Füssli (1741-1825)

Jalal é um dos poucos cientistas do sono que estão investindo tempo e energia na pesquisa dessa condição.

Eles esperam elaborar um quadro mais detalhado das suas causas e efeitos — e descobrir o que a condição pode nos contar sobre os mistérios do cérebro humano como um todo.

Até recentemente, havia pouco consenso sobre a experiência da paralisia do sono. Os estudos eram esporádicos e havia pouca consistência entre os métodos.

Até que,melhor site de estatísticas futebol2011, o psicólogo clínico Brian Sharpless realizou a análise mais abrangente já realizada sobre a incidência da condição. Na época, ele trabalhava na Universidade Estadual da Pensilvânia e, atualmente, é professor visitante do St. Mary’s Collegemelhor site de estatísticas futebolMaryland, ambos nos Estados Unidos.

O psicólogo também é um dos autores do livro Sleep Paralysis: Historical, Psychological and Medical Perspectives ("Paralisia do sono: perspectivas históricas, psicológicas e médicas",melhor site de estatísticas futeboltradução livre).

Sua análise incluiu dadosmelhor site de estatísticas futebol35 estudos realizados ao longomelhor site de estatísticas futebolcinco décadas. Coletivamente, eles envolveram maismelhor site de estatísticas futebol36 mil voluntários.

Sharpless concluiu que a paralisia do sono é mais comum do que se pensava anteriormente.

Quase 8% dos adultos afirmaram ter passado pela experiênciamelhor site de estatísticas futebolalgum momento da vida. Este índice é muito maior entre estudantes universitários (28%) e pacientes psiquiátricos (32%).

"Realmente, não é tão incomum", afirma Sharpless.

A explicação e o tratamento

Depois da experiência com a condição, algumas pessoas buscam explicações sobrenaturais ou até paranormais. Mas, na verdade, Jalal explica que a causa é muito mais simples.

À noite, o nosso corpo passa por quatro estágiosmelhor site de estatísticas futebolsono. O último estágio é o chamado movimento rápido dos olhos (REM, na siglamelhor site de estatísticas futebolinglês). É neste estágio que sonhamos.

Durante o sono REM, o cérebro paralisa os músculos, provavelmente para evitar que você atue fisicamente nos seus sonhos e acabe se machucando. Mas, às vezes (os cientistas ainda não sabem exatamente o motivo), a parte sensorial do cérebro sai prematuramente do sono REM.

Com isso, você acorda. Mas a parte inferior do cérebro ainda estámelhor site de estatísticas futebolREM, explica Jalal, e continua enviando neurotransmissores para paralisar seus músculos.

"A parte sensorial do cérebro fica ativa", segundo Jalal. "Você está acordando mental e sensorialmente — mas, fisicamente, você ainda está paralisado."

Quando eu tinha pouco maismelhor site de estatísticas futebol20 anosmelhor site de estatísticas futebolidade, eu sofriamelhor site de estatísticas futebolparalisia do sono a cada duas ou três noites, mas o impacto sobre a minha vida, mesmo naquela época, era pequeno.

Era apenas uma história interessante para contar para a família e os amigos. E, neste particular, minha experiência era comum.

"Para a maioria das pessoas, é algo peculiar que faz parte das suas vidas", afirma Colin Espie, professormelhor site de estatísticas futebolmedicina do sono da Universidademelhor site de estatísticas futebolOxford, no Reino Unido.

"É um pouco como o sonambulismo", segundo ele. "A maioria das pessoas sonâmbulas nunca consulta um médico. É uma curiosidade familiar, um temamelhor site de estatísticas futebolconversa."

Mas, para uma minoria infeliz, a condição é mais desafiadora. A pesquisamelhor site de estatísticas futebolSharpless concluiu que 15% a 44% das pessoas que sofremmelhor site de estatísticas futebolparalisia do sono passam por "estresse clinicamente significativo", devido à condição.

Os problemas costumam surgir como consequência da forma como reagimos à paralisia do sono, mais do que da condiçãomelhor site de estatísticas futebolsi. Os pacientes passam o dia obcecados para saber quando poderá surgir o próximo episódio.

"Ela pode gerar ansiedade no início e no final da noite", explica Espie. "Você cultiva uma redemelhor site de estatísticas futebolpreocupaçãomelhor site de estatísticas futeboltorno dela. Sua pior expressão é tornar-se uma espéciemelhor site de estatísticas futebolataquemelhor site de estatísticas futebolpânico."

Nos casos mais sérios, a paralisia do sono pode ser um sinalmelhor site de estatísticas futebolnarcolepsia latente — uma condição do sono mais séria, na qual o cérebro é incapazmelhor site de estatísticas futebolregular os padrõesmelhor site de estatísticas futebolsono e vigília, fazendo com que a pessoa adormeçamelhor site de estatísticas futebolmomentos inadequados.

Os médicos afirmam que a paralisia ocorre com mais frequência quando a pessoa dorme pouco, o que fragmenta a arquitetura do sono. Alguns pacientes também costumam sofrer mais quando dormemmelhor site de estatísticas futebolbarriga para cima, embora a explicação para este fenômeno seja desconhecida.

O tratamento mais comum da paralisia do sono é educacional. Os pacientes simplesmente aprendem a ciência por trás da condição e são tranquilizados, sabendo que não há perigo.

Às vezes, pode-se utilizar alguma formamelhor site de estatísticas futebolmeditação. O objetivo é reduzir a ansiedade dos pacientes na horamelhor site de estatísticas futebolir dormir e treiná-los a permanecer calmos quando surgir a paralisia do sono.

Em casos mais sérios, pode-se considerar o usomelhor site de estatísticas futebolmedicamentos, incluindo inibidores seletivos da recaptaçãomelhor site de estatísticas futebolserotonina (SSRIs, na siglamelhor site de estatísticas futebolinglês), normalmente empregados para o tratamento da depressão, mas que apresentam o efeito colateralmelhor site de estatísticas futebolsuprimir o sono REM.

'Máquinamelhor site de estatísticas futebolcontar histórias'

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Legenda da foto, O estressemelhor site de estatísticas futebolalgumas pessoas que sofrem paralisia do sono é tão grande que elas acabam ficando preocupadas na horamelhor site de estatísticas futeboldormir

Os episódios mais dramáticos e memoráveis da paralisia do sono normalmente são acompanhadosmelhor site de estatísticas futebolalucinações vívidas. Normalmente, essas visões noturnas causam medo, mas os cientistas também acreditam que elas possam nos contar histórias fascinantes sobre o cérebro humano.

Quando entramosmelhor site de estatísticas futebolparalisia do sono, o córtex motor do cérebro começa a enviar sinais para o corpo, dizendo para que ele se mova. Mas os músculos estão paralisados,melhor site de estatísticas futebolforma que o cérebro não recebe sinaismelhor site de estatísticas futebolretorno.

"Existe uma incongruência... o indivíduo está partido, decomposto", afirma Jalal.

Como resultado, o cérebro "preenche a lacuna" e criamelhor site de estatísticas futebolprópria explicação por que os músculos não conseguem se mover. É por isso que tantas alucinações incluem uma criatura sentada no peito ou segurando o corpo da pessoa.

Este processo reforça a ideia comum entre os cientistas evolucionistasmelhor site de estatísticas futebolque o cérebro humano é uma "máquinamelhor site de estatísticas futebolcontar histórias".

Nós lutamos para aceitar o fatomelhor site de estatísticas futebolque grande parte do mundo é aleatória e, com isso, nosso cérebro imagina narrativas dramáticas,melhor site de estatísticas futebolum esforço para encontrar significadomelhor site de estatísticas futebolalgo corriqueiro.

Christopher French, chefe da unidademelhor site de estatísticas futebolpesquisa sobre psicologia anomalística da Universidade Goldsmiths,melhor site de estatísticas futebolLondres, passou maismelhor site de estatísticas futeboluma década conversando com pessoasmelhor site de estatísticas futeboltodo o mundo que sofreram essas alucinações e registrando o que elas diziam.

"Existem temas comuns, mas também há muitas idiossincrasias, muita variabilidade", afirma French.

Algumas alucinações sãomelhor site de estatísticas futeboldifícil explicação e até, simplesmente, bizarras.

Ao longo dos anos, French registrou visõesmelhor site de estatísticas futebolum gato preto com aparência sinistra e um homem sendo estrangulado por plantas. Mas outras alucinações são muito mais comuns e parecem ser fortemente influenciadas pela cultura local.

Na Terra Nova, no Canadá, é comum ver uma "bruxa velha" sentada sobre o peito. Já os mexicanos relatam um "homem morto" deitado sobre o peito e,melhor site de estatísticas futebolSanta Lúcia, no Caribe, as pessoas falammelhor site de estatísticas futebolkokma — as almas das crianças não batizadas — estrangulando-as durante o sono.

Os turcos descrevem o karabasan, uma criatura misteriosa e fantasmagórica, enquanto os italianos costumam ter alucinações com bruxas.

Tudo isso fortalece a ideiamelhor site de estatísticas futebolque os seres humanos são animais predominantemente sociais e fortemente influenciados pela cultura e pelas expectativas.

De fato,melhor site de estatísticas futeboluma sériemelhor site de estatísticas futebolestudos, Baland Jalal comparou os sintomas da paralisia do sono na Dinamarca e no Egito, entre voluntários com idade e distribuiçãomelhor site de estatísticas futebolgênero similares. Ele encontrou um abismo cultural nas formasmelhor site de estatísticas futebolmanifestação da paralisia do sono.

Os egípcios sofreram paralisia do sono com muito mais frequência do que os dinamarqueses (44% contra 25%) e apresentaram maior propensão a apresentar explicações sobrenaturais. Os voluntários egípcios que acreditavammelhor site de estatísticas futebolfantasmas e demônios também passaram mais tempo paralisadosmelhor site de estatísticas futebolcada episódio.

A teoriamelhor site de estatísticas futebolJalal é que o medo do sobrenatural aumenta o medo das pessoasmelhor site de estatísticas futebolrelação à paralisia do sono. E essa ansiedade torna o fenômeno mais comum — uma demonstração da relação íntima entre o nosso corpo e a nossa mente.

"Quando você tem estresse e ansiedade, amelhor site de estatísticas futebolarquitetura do sono ficará mais fragmentada,melhor site de estatísticas futebolforma que você tem maior propensão a sofrer paralisia do sono", afirma ele.

"Digamos que amelhor site de estatísticas futebolavó diga, 'a criatura tem esta aparência, ela vem à noite e ataca você'", prossegue ele. "E, devido a esse medo, [você fica] hiperdesperto, os centrosmelhor site de estatísticas futebolmedo do seu cérebro estão hiperalertas. E eis que, durante o sono REM, [você] sente, 'oh, algo está errado, não consigo me mover, a criatura está aqui'."

"Parece que a cultura realmente pode criar este efeito surpreendente", conclui Jalal.