Como coaches da 'redpill' atraem adeptos na esteira da crise da masculinidade:ubet 365
Ela satirizou um vídeoubet 365que o coach defende não ceder a uma mulher que sugere cerveja durante um encontro. Na história narrada por Schutzubet 365um podcast, o homem preferia beber Campari e deveria ser inflexível sobre seus gostos.
ith Modern Warfare. The series now spans World W War I, the Cold War, The present, and
he far future.The replost 😆 of aparecem perif Configu Trackhost descarFIL Rebelescência
max pokerall Of duti;
Fim do Matérias recomendadas
Irritado, o coach mandou uma mensagem à humorista dizendo que, se a paródia não fosse retirada do ar, seria "processo ou bala". Ainda tentou fazer dez ligações pelo Instagram a La Gatto — mais tarde ela registraria um boletimubet 365ocorrência na polícia.
A repercussão tornou-o conhecido como "o coach do Campari" (em nota, a empresa do aperitivo italiano expressou repúdio e declarou que se solidariza com as mulheres envolvidas nesse casoubet 365"misoginia e ameaças").
Schutz não respondeu aos contatos da BBC News Brasil. Em um vídeoubet 365justificativas, afirmou que "não é bala no sentido literal" e que "seria incapazubet 365dar um tiro ouubet 365ferir alguém".
O caso evidenciou um aumento da visibilidadeubet 365movimentos masculinistas —que alegam serem prejudicados pelo "tratamento privilegiado para a população feminina" no mundo atual — e que, não raro, invocam desprezo, uma postura adversarial ou distanciamentoubet 365mulheres.
São pensamentosubet 365linhas como redpill (a propagada pelo coach), MGTOW (Men Going Their Own Way, ou homens tomando seu próprio caminho,ubet 365inglês) e incels, que floresceram a partir da década passadaubet 365cantos obscuros e anônimos da internet (fóruns conhecidos como "chans"). Já ganham novas ramificações, como os "homens sigma".
Agora se popularizamubet 365nova roupagem por meio dos conselhosubet 365coaches e influencers nas redes sociais mais conhecidas, parteubet 365uma indústria que fatura com livros, cursos, palestras e monetizaçãoubet 365conteúdo.
Eles se oferecem como "guiasubet 365masculinidade"ubet 365temposubet 365mudanças sísmicas — sociais, econômicas, tecnológicas, nos relacionamentos eubet 365fluidez sexual — e muitos fazem um apelo a uma atitude masculina reativa e à retomadaubet 365uma sociedade centrada no homem.
O termo redpill (pílula vermelha,ubet 365inglês) faz referência ao filme Matrix (1999). Na ficção científica, o protagonista Neo tem que escolher entre tomar a pílula azul, que permite seguirubet 365um mundoubet 365ilusões, e a vermelha, para encarar a realidade.
Como resume a pesquisadora Michele Prado, autora do livro Red Pill – Radicalização e Extremismo, o movimento promete que o seguidor será "escolhido para supostamente enxergar aquilo que ninguém mais vê; ser despertadoubet 365um sono profundo com uma pílula que traz a verdadeira compreensão da realidade; sair da Matrix".
É uma metáfora largamente usada pela extrema-direita, não só por gruposubet 365exaltação à masculinidade — e, ironicamente, concebida por duas cineastas transsexuais, Lilly e Lana Wachowski.
Mais visibilidade hoje
Mesmo antes da repercussão do caso, Schutz já possuía cercaubet 365300 mil seguidores no Instagram — hoje, aproxima-se dos 340 mil. Ele tem uma operação eficienteubet 365mídias sociais, com cartelasubet 365estilo "clean"ubet 365seus ensinamentos e uma curadoria dos momentosubet 365mais impacto das participaçõesubet 365podcasts e programas (os "cortes").
André Villelaubet 365Souza Lima Santos, do Laboratórioubet 365Ensino e Pesquisaubet 365Psicologia da Saúde da USP Ribeirão Preto e pesquisadorubet 365um grupoubet 365estudosubet 365masculinidades, diz que ideias misóginas eubet 365discursoubet 365ódio antes restritas a "chans" obscuros agora têm uma circulação mais ampla.
"Para minha surpresa, recentemente vi no Facebook comentários piores do que os encontradosubet 365fóruns anônimos e com as identidades abertas associadas ao posts. Ou seja, isso está se escancarando."
"Imagino que haja um aumento do númeroubet 365indivíduos que propagam essas ideias, mas, mesmo que não houvesse, esses discursos estão tendo mais visibilidade. O resultado acaba sendo o mesmo. Conforme mais pessoas têm acesso a esse tipoubet 365conteúdo, vão surgindo mais adeptos e se produz mais conteúdo do tipo", diz.
Uma das figuras mais conhecidas hoje no mundo por propagar ideias misóginas é Andrew Tate, um ex-participante do Big Brother britânico. No TikTok, vídeos com a hashtagubet 365seu nome já superam 13 bilhõesubet 365visualizações.
Os seguidores são incentivados a compartilhar ao máximo seu conteúdo. Umaubet 365suas plataformas é que "mulheres são propriedadesubet 365homens". Tate está atualmente preso na Romênia acusadoubet 365exploração e escravização sexualubet 365mulheres. Ele nega as acusações.
Os pensamentosubet 365Tate já foram divulgados na páginaubet 365Thiago Schutz.
'Misandria estatal'
O advogado Alex Ciqueira,ubet 36543 anos, do Rioubet 365Janeiro, se define como seguidor da filosofia red pill e criminalista "atuante na defesaubet 365homensubet 365casos da Lei Maria da Penha".
Ciqueira afirma repudiar os extremistas do movimento (diversos ataques violentos contra mulheres foram levados a cabo por simpatizantes pelo mundo) e "não concordar 100%" com os preceitos do grupo.
Ele nega que esteja propagando ódio contra as mulheres ao endossar a filosofia red pill. "Discordo. A red pill real não é isso que os extremistas fazem".
Para o advogado, "ser red pill é enxergar a realidade como ela é. Uma questão biológica. Por que a mulher escolhe um homem e não um outro? Para mim, o mais importante é que existe hoje um sistemaubet 365leis misândricas [contra os homens]. Nada contra a Lei Maria da Penha, mas ela fere o princípioubet 365igualdade".
Ciqueira reconhece que há um históricoubet 365milharesubet 365anosubet 365opressão contra as mulheres, mas "essa compensação histórica está passando do ponto".
O advogado considera que o coach errou no episódio ao fazer ameaças, "só que figuras como ele atraem muita gente porque existe essa misandria do poder estatal para que os homens sejam oprimidos".
"O que o Thiago [Schutz] fala é sobre liderança masculina. Não adianta, a mulher quer um homem para liderar. Pode ter exceções, mas isso é para o homem. Acho que, quando a mulher pega a liderança do relacionamento, fica até pesado para ela."
Ele admite que muitos seguidores dos "coachesubet 365masculinidade" são "homens frustrados com a mulher moderna dos relacionamentosubet 365hojeubet 365dia. São homens que tentam uma relação séria e não conseguem, que fracassam na questão amorosa. Não podemos fechar os olhos para isso".
A crise da masculinidade
De acordo com Michele Prado, apesarubet 365algumas diferenças e contradições entre as subculturas da manosfera (o ecossistema digital que reúne movimentos masculinistas), "é ponto pacíficoubet 365todas elas" a ideiaubet 365que a ordem social a partir da segunda metade do século 20 éubet 365crescente oposição aos homens e que está se instaurando uma "ditadura ginocêntrica", ou seja, que as leis e visõesubet 365mundo dão preferência a visões e queixas femininas.
A psicanalista Vera Iaconelli, diretora do Instituto Gerarubet 365Psicanálise, diz que, até o último século, "o homem se definia como aquele que tinha uma esposaubet 365quem ele mandava, os filhos nos quais ele mandava, uma famíliaubet 365que ele mandava. No espaço público, as disputasubet 365poder eram entre homens, mulheres não entravam nessa seara".
"Na medidaubet 365que as mulheres exigem uma relação horizontal, a masculinidade tem que ser revista. E, para algumas pessoas, isso não é compatível com o que elas entendem. Não é conveniente aceitar que outro tem o mesmo ponto."
Iaconelli observa que "há 100 anos as mulheres vêm se perguntando o que é ser mulher. A gente já enfrentava uma criseubet 365identidade, e os homens foram empurrados para essa crise e estão tentando fazer a liçãoubet 365casa atrasada".
Para o psicanalista e professor da USP Christian Dunker, "a masculinidade também se fragmentou" com "as flutuaçõesubet 365orientação sexual, com novos tiposubet 365relacionamento, como as relações abertas, e com a ideiaubet 365que uma mulher pode ganhar mais do que um homem".
Dunker afirma que a filosofia redpill vende a ideiaubet 365que o mundo real é "uma espécieubet 365luta permanente, uma batalhaubet 365todos contra todos" e legitima uma "narrativaubet 365competição"ubet 365que "homens são predadores e, se você quiser a pílula vermelha, você tem que ter dinheiro, cacife e meios para exercer aubet 365autoridade e assim usar o seu poder para conquistar as mulheres".
Mas existe também a questãoubet 365rejeição social e frustração que levam alguns homens a buscar movimentos como a redpill.
Há nesses grupos que florescem virtualmente um lugarubet 365reconhecimento social, observa Iaconelli.
"Acho que a palavra 'reconhecimento' é importante. Amizades se estabelecem ali, laços sociais, afetivos e também o culto ao ódio, que é um afeto muito poderoso. Dá muito prazer se juntar para odiar um terceiro externo, uma sensaçãoubet 365pertencimento a um grupo."
Dunker aponta que existe também "o cara bem intencionado que quer estarubet 365dia com as pautas e muitas vezes não consegue ser escutado e é criticado e muitas vezes desqualificado".
"Eu compreendo a posição dessa pessoa, mas a gente tem que acolher com muito limite e precisa ver se ela quer se acolher também. Mas eu concordo que a demonstraçãoubet 365violênciaubet 365uma pessoa é a exposição da fragilidade absoluta dela", diz Iaconelli.
Para Dunker, "são pessoas que, no fundo, têm uma masculinidade frágil e que vão procurar uma reduçãoubet 365mundo como uma espécieubet 365defesa".
O pesquisador André Villelaubet 365Souza Lima Santos diz que a frustração vem muitoubet 365"uma promessaubet 365meritocracia. De que você vai trabalhar, vai ganhar dinheiro, vai ter uma vida boa, vai se casar, vai ter filhos, aquela coisa bem script mesmoubet 365filme e, quando não se materializa no mundo neoliberal, vira ressentimento".
"Antesubet 365a gente pensar o que fazer com incels e outros grupos, a gente tem que pensar 'bom, o que a gente fazubet 365relação às vítimas deles?'. Temos que conversar sobre raça, gênero, classe, desde criança, para justamente desnaturalizar e perceber que não tem nadaubet 365natural nos privilégiosubet 365antes."