O segredo da felicidade dos islandeses:
A taxadesemprego se multiplicou por oito. A confiançainstituições, como bancos e o Parlamento, despencou.
Supus que felicidade do país também iria derreter.
Mas eu estava errado.
"A crise econômica teve um efeito limitado na felicidade",acordo com a cientistasaúde Dora Gudmundsdottir, autoraum estudo publicado na revista científica PesquisasIndicadores Sociais.
Não apenas a felicidade geral da população teve apenas uma pequena oscilação durante a crise como 25% dos islandeses disseram que estavam ainda mais felizes. Como isso ocorreu?
Mandei um e-mail para Karl Blöndal, editorum jornal que eu havia conhecidoReykjavik. "Muitas pessoas foram fortemente atingidas, aposentados perderampoupança. Mas uma característicacomunidades pequenas é que todo mundo que você conhece está a seu alcance", explicou.
"Aqueles que perderam seus empregos não estão isolados, o riscoalienação não é o mesmo que seriasociedades maiores."
Ali estava uma verdade essencial sobre a felicidade islandesa: é majoritariamente um empreendimento coletivo.
A Islândia, apesarter uma capital cosmopolita como Reykjavik, lembra uma pequena cidademuitos aspectos. As pessoas não precisam se preocupar"cair num buraco negro", dizem eles, porque não há buraco negro para cair; sempre há alguém para te pegar.
Como me disse um imigrante americano, se seu carro está preso na neve, sempre (sempre mesmo) alguém vai parar para te ajudar. Os níveisconfiança são tão altos que não é raro ver uma criançaseis anos andando sozinha para a escola na escuridão do inverno.
Em uma declaração tipicamente islandesa e otimista, Blöndal ainda viu uma oportunidade dentro da crise.
"Agora podemos limpar o Estado. Quem sabe isso seja uma oportunidade para forjar uma sociedade mais aberta, onde o poder é mais difuso e os antigos interesses pessoais e barreiras econômicas estejam fora do caminho."
A ideiauma sociedade justa e aberta parece ser a chave.
De acordo com um relatório recente da ONU sobre felicidade global, a felicidade é distribuídaforma equilibrada na Islândia.
Ou seja, a maioria dos islandeses é mais ou menos igualmente feliz, enquantooutros países - principalmente na América Latina e no Oriente Médio - a felicidade varia muito.
Isso é importante porque novas pesquisas mostram que "as pessoas são significativamente mais felizes onde há menos desigualdadefelicidade".
Em outras palavras, não é possível ficar muito feliz se seu vizinho está muito triste - e os islandeses parecem reconhecer intuitivamente essa verdade essencial.
Eles também desenvolveram um forte sensoresiliência com séculosprivação e isolamento.
Pense na escuridão do inverno, erupções vulcânicas e no terreno tão inacreditável que a Nasa enviou os astronautas da missão Apollo,1965, para treinar ali para suas caminhadas lunares.
Você vê esse tipootimismo teimoso todos os dias na Islândia. Você vê no jeito que as pessoas nadampiscinas abertas, o ano todo, oucomo não há nenhum estigma ligado a deixar um emprego ou um relacionamento ruim.
Essa resiliência também pode ser encontrada na rica cultura literária do país, que data das antigas sagas - contos Vikingheroísmo frente à adversidade.
Hoje, a Islândia publica mais livros per capita do que qualquer país do mundo. Alguns psicólogos acreditam que a literatura - e outras fontes culturais - servem como um amortecedortempos difíceis.
As histórias são um veículo para expressar dor, e a dor que se expressa é uma dor menor. Também são um meio para uma cultura expressarenergia criativa.
E os islandeses certamente reconhecem o valor da palavra escrita, atitude refletidaum ditado popular islandês: "Melhor ir descalço do que sem livros".
- Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Travel