Como se formam os 'rastrosjbl bets apostasnuvem' que aviões deixam no céu?:jbl bets apostas

Avião voando e fazendo rastrojbl bets apostasfumaça branca no céu

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Cientistas alertam que a capturajbl bets apostascalor causada pelos 'rastros' dos aviões poderá triplicar até 2050 se nenhuma medida for tomada para restringir as emissões das aeronaves

À medida que a jovem indústria da aviação amadurecia e se expandia pelos céus, os rastrosjbl bets apostasnuvens se tornaram uma visão cada vez mais comum. Sua presença chamativa despertou a atençãojbl bets apostasmuitas pessoas — e até gerou a crença, surpreendentemente comum,jbl bets apostasuma teoria da conspiração sobre os rastros deixados pelos aviões. Mas a real preocupação dos cientistas é o seu impacto climático.

Afinal, o que são esses rastros — e por que deveríamos prestar mais atenção neles?

Soldados olham para o céu cheiojbl bets apostasrastrosjbl bets apostasavião

Crédito, Alamy

Legenda da foto, Os 'rastros' dos aviões foram considerados um problema pela primeira vez na Segunda Guerra Mundial, porque revelavam as posições das aeronaves

As 'trilhasjbl bets apostascondensação'

Após as primeiras observações no início do século 20, a causa exata dos rastrosjbl bets apostasnuvens deixados pelos aviões foi motivojbl bets apostasdebate por décadas, segundo Ulrich Schumann, professorjbl bets apostasfísica atmosférica do Centro Aeroespacial Alemão (DLR, na siglajbl bets apostasalemão).

As primeiras teorias propuseram que os rastros seriam vibrações do motor do avião ou efeitosjbl bets apostascargas elétricas. Outros imaginaram se elas ocorreriam devido ao vapor d'água supersaturado, mas isso foi descartado porque se acreditava que a quantidadejbl bets apostasvapor emitida seria insuficiente.

Descobrir as causas dos rastros dos aviões não foi uma grande preocupação até a Segunda Guerra Mundial, quando eles foram considerados um problema pela primeira vez.

"Eles [os rastros] revelam a posição das aeronaves. Você pode ver o rastrojbl bets apostasum avião durante o voo", afirma Schumann. "Por isso, durante a Segunda Guerra Mundial, os militares tentaram evitar os rastrosjbl bets apostasnuvens porque queriam impedir a visibilidade das suas aeronaves."

As primeiras explicações corretas sobre a formação dessas nuvens foram elaboradas no início dos anos 1940 e 50. Foi quando surgiu o que agora é conhecido como critériojbl bets apostasSchmidt-Appleman, que demonstra que as condições para formação dependem da pressão ambiente, da umidade e da relação entre a água e o calor liberados pelo avião.

Em resumo, os rastros dos aviões — chamadosjbl bets apostasinglêsjbl bets apostascontrails, abreviaçãojbl bets apostas"trilhasjbl bets apostascondensação" — são nuvensjbl bets apostaspartículasjbl bets apostasgelojbl bets apostasformato linear que se formam depois da passagem das aeronaves. Eles podem terjbl bets apostas100 metros a vários quilômetrosjbl bets apostascomprimento.

Três coisas são necessárias para que os rastros se formem: vapor d'água, ar frio e partículas sobre as quais o vapor d'água possa condensar-se.

O vapor d'água é produzido pelos aviões quando o hidrogênio do combustível reage com o oxigênio do ar. Em condições frias (tipicamente, abaixojbl bets apostascercajbl bets apostas-40 °C), ele pode condensar-se, normalmente sobre as partículasjbl bets apostasfuligem também emitidas pelos motores das aeronaves,jbl bets apostasuma nuvemjbl bets apostasgotículas que se congelam para formar partículasjbl bets apostasgelo.

De forma geral, o processo relembra o congelamento da respiraçãojbl bets apostasum dia friojbl bets apostasinverno, segundo Schumann.

Nem todas as aeronaves produzem rastrosjbl bets apostasnuvens. Estima-se que eles ocorramjbl bets apostascercajbl bets apostas18% dos voos. É preciso que o ar esteja suficientemente frio para que a água congele e, por isso, eles normalmente aparecem apenas acimajbl bets apostascertas altitudes — tipicamente, 6 km, ou 20 mil pés.

E a quantidadejbl bets apostasvoos que produz os rastrosjbl bets apostasnuvens mais persistentes é ainda menor. Quando o ar é limpo e sem nuvens, os rastros desaparecem rapidamente, pois o ar seco ambiente causa a sublimação das partículasjbl bets apostasgelo (elas passam do estado sólido diretamente para o gasoso).

Mas se a atmosfera estiver úmida, as partículasjbl bets apostasgelo não conseguem sublimar-se e os rastros podem durar por muito mais tempo.

"Os rastros podem durar apenas alguns minutos se o ar àjbl bets apostasvolta for seco, mas, quando for úmido, eles podem persistir e espalhar-se para aumentar a formaçãojbl bets apostascirros", afirma Tim Johnson, diretor da organização sem fins lucrativos Aviation Environment Federation (AEF), com sede no Reino Unido.

Ele acrescenta que isso é importante porque os rastrosjbl bets apostasnuvens e o aumento da captura do calor irradiado pela Terra nas nuvens contribuem com o aquecimento do nosso planeta. E esse aquecimento é somado ao outro importante impacto climático da aviação — o CO2 lançadojbl bets apostasimensas quantidades pelo escapamento dos aviões, que representa cercajbl bets apostas2,5% das emissões globaisjbl bets apostasgás carbônico.

Mas o impacto climático dos rastros dos aviões é muito mais complicado que o das emissõesjbl bets apostasCO2.

Avião

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Legenda da foto, Pesquisas indicam que ajustes relativamente pequenos das altitudes dos aviões poderiam reduzir enormemente o efeitojbl bets apostasaquecimento dos rastrosjbl bets apostasnuvens

O efeito sobre o aquecimento global

Nos anos 1960, começaram a surgir os primeiros estudos observando que os rastros dos aviões poderiam ter um efeito sobre a Terra, masjbl bets apostasresfriamento, segundo Schumann.

Isso ocorre porque o tomjbl bets apostasbranco das nuvens induzidas pelos rastros dos aviões reflete a luz solar para longe da superfície da Terra durante o dia,jbl bets apostasforma similar aos cirros, que são nuvens naturais também compostasjbl bets apostascristaisjbl bets apostasgelo.

Mas os cientistas logo perceberam que os rastrosjbl bets apostasnuvens dos aviões também podem ter efeitojbl bets apostasaquecimento da Terra, por meiojbl bets apostasum efeito "estufa"jbl bets apostascaptura da luz infravermelha. "Eles capturam o calor emitido pela superfície da Terra e emitem parte delejbl bets apostasvolta para a superfície", afirma Schumann.

Este processo é similar à forma como os céus nublados produzem nuvens mais quentes.

Dependendo das condições exatas, um desses efeitos opostos pode sair vencedor. Rastrosjbl bets apostasnuvens formados sobre um cenário cobertojbl bets apostasneve, por exemplo, não aumentam o resfriamento com a reflexão da luz solar, pois a superfície já é branca e refletora. Os rastros dos aviões também aquecem mais à noite, pois não há luz solar para ser refletida por eles. Por isso, o único efeito que ocorre é ojbl bets apostasaquecimento.

Tudo isso, aliado à dificuldadejbl bets apostascompreensão das condições atmosféricas exatas que formam os rastros dos aviões ejbl bets apostasdiferenciação dos cirros naturais depois que eles se espalham pelo céu, faz com que a definiçãojbl bets apostasnúmeros exatos sobre o impacto climático dos rastrosjbl bets apostasnuvens dos aviões seja algo complicado.

Mas a compreensão atual éjbl bets apostasque "em média,jbl bets apostastodos os países do mundo, ao longojbl bets apostasum ano, os rastros dos aviões aquecem", segundo Schumann.

O último estudo importante sobre o impacto climático dos rastrosjbl bets apostasnuvens, publicadojbl bets apostas2020, estimou que os impactos da aviação não relacionados ao CO2 — basicamente, os rastrosjbl bets apostasnuvens — triplicam a "promoção radiativa" das emissõesjbl bets apostasCO2 isoladamente.

De certa forma, esta é uma comparação capciosa, já que os efeitosjbl bets apostasaquecimento dos rastros dos aviões e do CO2 ocorremjbl bets apostashorizontes temporais muito diferentes. "Os rastrosjbl bets apostasnuvens têm um esforço promotor muito forte, muito mais forte que o CO2. Mas os rastros têm vida curta e desaparecem após cercajbl bets apostasuma hora. Já o CO2 permanece por muito tempo — ele pode permanecer por 100 anos", explica Schumann.

A solução

Ainda assim, os cientistas alertaram que o efeitojbl bets apostascapturajbl bets apostascalor dos rastrosjbl bets apostasnuvens poderá triplicar até 2050, se nenhuma medida for tomada.

A boa notícia é que esta pode ser, na verdade, uma ação razoavelmente simples. Pesquisadores demonstraram que apenas 2,2% dos voos contribuem com 80% dessa promoção e ajustes relativamente pequenos das altitudes desses voos — com baixo custojbl bets apostascombustível — poderão reduzir enormemente o efeitojbl bets apostasaquecimento dos rastrosjbl bets apostasnuvens.

Pesquisas indicaram ainda que a formaçãojbl bets apostasrastrosjbl bets apostasnuvens pode também ser reduzida diminuindo-se a quantidadejbl bets apostaspartículasjbl bets apostasfuligem emitidas pelos voos, pois elas fornecem os núcleos onde se formam os cristaisjbl bets apostasgelo.

Evitar voar atravésjbl bets apostasar muito úmido, onde podem formar-se rastrosjbl bets apostasnuvens persistentes, é a medida mais importante neste processo, segundo Schumann, passando-se a voar acima, abaixo oujbl bets apostasvolta dessas regiões. Mas ele afirma que são necessárias melhores previsões do tempo para possibilitar esta medida.

"As previsões meteorológicas que temos hojejbl bets apostasdia não são suficientemente precisas para este propósito", segundo ele.

Em carta à revista Naturejbl bets apostas2021, dois pesquisadores argumentaram que o ajuste das altitudesjbl bets apostasvoo para minimizar a formaçãojbl bets apostasrastrosjbl bets apostasnuvens poderá ser uma das medidas climáticas mais econômicas que podem ser tomadas.

Eles calculam que evitar os rastrosjbl bets apostasnuvens mais prejudiciais custaria US$ 1 bilhão (cercajbl bets apostasR$ 5,1 bilhões) por ano, com benefíciojbl bets apostasmaisjbl bets apostasmil vezes este valor. "Não conhecemos nenhum investimento climático comparável com probabilidade tão altajbl bets apostassucesso", escreveram eles.

Mas, embora os governos reconheçam os desafios climáticos impostos pelos rastros dos aviões, poucas ações políticas foram tomadas até agora, segundo Tim Johnson.

"Todos os objetivos climáticos definidos para o setor pela indústria, pelos países e pelas Nações Unidas referem-se apenas ao CO2", explica ele. "O debate sobre a incerteza científica e medições apropriadas é frequentemente mencionado como razão para dedicar maiores pesquisasjbl bets apostasvezjbl bets apostasações."

No Reino Unido, os consultores governamentais sobre mudanças climáticas afirmaram que efeitos não relativos ao CO2, como os dos rastrosjbl bets apostasnuvens dos aviões, precisam ser objetojbl bets apostasmaior atenção.

Observar esses efeitos agora é essencial, especialmente considerando como as tecnologias do futuro, como o hidrogênio, podem reduzir as emissões do setor, segundo Johnson.

Céu cortado por rastrosjbl bets apostasavião

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Legenda da foto, Nem todas as aeronaves produzem rastrosjbl bets apostasnuvens. Estima-se que eles ocorramjbl bets apostascercajbl bets apostas18% dos voos

A teoria da conspiração

Apesar das complicações, os impactosjbl bets apostasaquecimento e resfriamento dos rastrosjbl bets apostasnuvens são bem estabelecidos dentro da ciência.

Mas essas linhas finas que pairam acimajbl bets apostasnós no céu também inspiraram uma teoria que não é sustentada pela ciência: que elas são rastrosjbl bets apostassubstâncias químicas tóxicas pulverizadasjbl bets apostasforma intencional na atmosfera por dezenasjbl bets apostasmilharesjbl bets apostasaeronaves comerciais.

"As pessoas que acreditam na teoria da conspiração acham que os rastrosjbl bets apostasnuvens dos aviões são pulverizados deliberadamente para fins malignos", afirma Amy Bruckman, pesquisadorajbl bets apostascomputação social do Institutojbl bets apostasTecnologia da Geórgia, nos Estados Unidos. Em 2021, Bruckman foi uma das autorasjbl bets apostasum estudo observando como as pessoas passaram a acreditar na teoria da conspiração dos rastrosjbl bets apostasnuvens dos aviões.

"Elas têm diferentes opiniões sobre os seus propósitos. Alguns acreditam que seja controle populacional ou controle da mente", segundo ela. "Diversas pessoas acreditam que seus problemasjbl bets apostassaúde são causados pela pulverização."

A teoria da conspiração dos rastrosjbl bets apostasnuvens dos aviões é uma crença inacreditavelmente disseminada. Uma pesquisa concluiujbl bets apostas2016 que 10% dos americanos acreditam que a teoria da conspiração é "totalmente verdadeira", enquanto outros 20-30% a consideram "um pouco" verdadeira.

A crença não apresenta divisões entre filiações partidárias e, ao contráriojbl bets apostasoutras teorias da conspiração, homens e mulheres parecem acreditar igualmente nos rastros dos aviões, segundo Bruckman.

No Reino Unido, os rastrosjbl bets apostasnuvens deixados pelos aviões viraram tendência nas redes sociais por diversas vezes no último verão do hemisfério norte. O sitejbl bets apostasverificação Full Fact desmente regularmente fotos e outras afirmações sobre supostos rastrosjbl bets apostasnuvens.

A crença, muitas vezes, é relacionada a preocupaçõesjbl bets apostasque os governos ou as empresas estão implementando modificações climáticas secretasjbl bets apostaslarga escala. Cercajbl bets apostas61% das postagensjbl bets apostasinglês nas redes sociais sobre geoengenharia entre 2008 e 2017 estavam relacionadas à teoria da conspiração dos rastros dos aviões.

Defensores da geoengenharia solar queixam-sejbl bets apostasque a teoria da conspiração é tão grande que prejudica o debate público real sobre a geoengenharia.

A teoria da conspiração dos rastrosjbl bets apostasnuvens dos aviões começou nos anos 1990, mas irrompeujbl bets apostasforma generalizada no início dos anos 2000, quando se espalhou pela internet.

"Em 2001, muitas pessoas falavam sobre os rastros dos aviões, eles apareceramjbl bets apostasrepente", afirma Schumann. Ele ressalta que a teoria é "totalmente ilógica". Seu instituto mede as emissões causadas pelas aeronaves e não encontrou nenhuma substância química artificial.

"Tudo são coisas que você compreende facilmente a partir da combustãojbl bets apostasquerosene", segundo ele. "Não há nenhuma evidênciajbl bets apostasque existam rastros químicos."

Mas estas provas são regularmente desmentidas pelos teóricos da conspiração. Um colegajbl bets apostasSchumann que citou seu trabalho para alguém que acreditava nos rastros químicos ouviu rapidamente que Ulrich Schumann era um "cientista inventado" que não existe — segundo o relato do próprio Schumann.

Não é difícil entender por que as pessoas vêm refletindo sobre o efeito dessas linhas finas feitas pelo homem no céu há maisjbl bets apostasum século. Mas a necessidade real agora é concentrar-nos najbl bets apostasmelhor compreensão e na tomadajbl bets apostasações sobre os seus impactos climáticos.

Jocelyn Timperley é jornalista sênior da BBC Future. Sua conta no Twitter é @jloistf.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

- Este texto foi publicadojbl bets apostashttp://vesser.net/vert-fut-62753292

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