A ameaçabet 360 loginepidemia que surgebet 360 loginnova espéciebet 360 loginmosquito Aedes detectada pela 1ª vez nas Américas:bet 360 login
O perigo adicional é que o Aedes vittatus consegue carregar quase todas as perigosas doenças transmitidas por todos os mosquitos, com exceção da malária.
"Estarbet 360 logincontato próximo com esses mosquitos não é uma boa notícia", diz Yvonne-Marie Linton, pesquisadora-diretora da Walter Reed Biosystematics Unit e curadorabet 360 loginquase 2 milhõesbet 360 loginespécimes na coleçãobet 360 loginmosquitos do Instituto Smithsonian, nos EUA.
O Aedes vittatus é endêmico no subcontinente indiano, na Ásia, e até agora nunca havia sido avistado no continente americano.
Ele é "comprovadamente um vetorbet 360 loginvírusbet 360 loginchikungunya, zika, dengue, febre amarela e muitas outras doenças", segundo a equipe que o identificou.
O mais provável é que as primeiras espécimes tenham viajado para Cuba na formabet 360 loginovosbet 360 loginalgum contêinerbet 360 loginnavio oubet 360 loginuma aeronave. Provavelmente,bet 360 loginproliferação no Caribe e sul dos EUA será também intermediada pelo homem: as mudanças climáticas estão encurtando os invernos da América do Norte, permitindo que os mosquitos procriem muito mais vezesbet 360 loginuma única temporada — consequentemente, espalhando mais vírus.
Mosquitos chamam muito menos atenção do que, por exemplo, as chamadas "vespas assassinas" identificadasbet 360 login2020 na América do Norte. Originárias do Japão, elas se espalharam pela região do Pacífico Noroeste norte-americano, matando colôniasbet 360 loginabelhas.
"Há um paralelo entre as vespas assassinas e o Aedes vittatus no fatobet 360 loginque vierambet 360 loginfora - estãobet 360 loginuma área onde não existiam antes", afirma Ben Pagac, entomologista do Comandobet 360 loginSaúde Pública do Exército americano, que conduz biovigilância na região do Caribe.
O deslocamento do mosquito, diz ele, é uma lição a respeito dos perigos que o comércio e as viagens humanas oferecem à dispersãobet 360 logindoenças zoonóticas pelo planeta.
Doenças transmitidas por mosquitos matam maisbet 360 login1 milhãobet 360 loginpessoas e infectam quase 700 milhões por ano — quase 1bet 360 logincada dez pessoas na Terra.
E seu efeito é historicamente devastador. O historiador Timothy C. Winegard, autor do livro O Mosquito,bet 360 login2019, acredita que esses insetos chegaram a ser usados como arma biológica: na guerra do Peloponeso,bet 360 login415 a 413 a.C., os espartanos atraíram os atenienses a pântanos repletosbet 360 loginmosquitos. "A malária matou ou incapacitou maisbet 360 login70% das tropas (atenienses)", escreve Winegard.
Alguns dos guerreiros mais conhecidos da história foram mortos por doenças transmitida por mosquitos, como Genghis Khan e (segundo uma teoria) Alexandre, o Grande.
E, à medida que as mudanças climáticas deixam os invernos da América do Norte mais curtos e menos frios, Linton e seus colegas advertembet 360 loginseu estudo que mosquitos podem,bet 360 loginbreve, causar "epidemias que seriamente ameaçam a saúde pública".
Uma guerra diferente
Militares americanos já enfrentam mosquitos desde a Segunda Guerra Mundial e pesquisam os insetos desde os anos 1950, afirma Linton.
"Mais soldados morreram na Guerra do Vietnãbet 360 logindoenças transmitidas por mosquitos do quebet 360 logincombate ou por tiros", diz a pesquisadora. Mesmo hoje, "20 das 50 principais doenças que afetam os militares são transmitidas por vetores".
Muitos dos quase 200 mil soldados americanos na ativa alocados no exterior estãobet 360 logináreas tropicais onde nunca haviam estado antes, o que significa que não têm imunidade para os patógenos dessas regiões.
Quinhentos anos atrás, a situação era reversa. Foram Cristóvão Colombo e seus acompanhantes europeus que trouxeram os mosquitos ao chamado Novo Mundo, espalhando novos patógenos entre os nativos do continente americano.
"Cientistas concordam que as Américas passaram milharesbet 360 loginanos livresbet 360 loginmalária até os europeus chegarem", escreve Sonia Shahbet 360 loginseu livro The Fever (A Febre,bet 360 logintradução livre).
Além disso, parasitas trazidos por colonos vindos da Inglaterra aos EUA nos anos 1600 se espalharam das pessoas aos mosquitos — e delesbet 360 loginvolta às pessoas.
Navios que viajavam pelo Caribe carregavam mosquitos que transmitiam a febre amarela e a malária pela costa do Atlântico. Essas doenças foram devastadoras para as comunidades nativas, e também para colonos.
"Antes da Revolução (que levou à independência americana), havia ao menos 30 grandes focosbet 360 loginepidemiabet 360 loginfebre amarela nas colônias britânicas norte-americanas, afetando todos os grandes centros urbanos e portos na costa que vai da Nova Scotia (província do Canadá) à Geórgia (Estado ao sul dos EUA)", escreve Winegard.
Graças a pesticidas e medidas como drenagembet 360 loginpântanos, as doenças transmitidas por mosquitos reduziram consideravelmente no século 20. No entanto, desde 1999, epidemias nas Américas voltam a colocar os mosquitos no centro das atenções.
Primeiro, foi o vírus do Nilo Ocidental, que passoubet 360 loginpássaros infectados a mosquitos e deles a humanos, matando centenasbet 360 loginamericanos entre 1999 e 2003. Até hoje, são registrados centenasbet 360 logincasos por ano da doença.
Depois, temos a dengue, a chikungunya e a zika — este último causou uma epidemiabet 360 login2016, resultando no nascimentobet 360 logincentenasbet 360 loginbebês com síndrome congênita pelo vírus da zika no Brasil. Até o fimbet 360 login2016, segundo a OMS, 48 países e territórios do continente americano registraram maisbet 360 login175 mil casos confirmados da doença transmitida pelo mosquito no continente americano.
E a dengue infectou no Brasil, apenas no ano passado, maisbet 360 login970 mil pessoas, segundo contagem até novembro do Ministério da Saúde.
Eventos como a epidemiabet 360 login2013-14 da chikungunya no Caribe e abet 360 loginzika no Brasil devem se tornar cada vez mais frequentes. E, quando se chega ao nívelbet 360 loginuma epidemia, costuma ser tarde demais para contê-la.
"É algo inesperado. Acontece como foi com a covid-19. Pega todosbet 360 loginsurpresa", afirma Linton. E, quando governos reagem tentando comprar e distribuir insumos e medicamentos, se veem disputando esses itens entre si, ela agrega.
Daí a importância, ressalta a pesquisadora,bet 360 loginestarmos mais preparados, fazendo o que ela chamabet 360 loginbiovigilância: "ativamente procurar por vetores que possam ser problemáticos".
"Se você não conhecer seu inimigo, não conseguirá combatê-lo", diz.
Esse é justamente o trabalhobet 360 loginLinton: identificar, classificar e avaliar os riscos causados por mosquitos a soldados americanos nos EUA e fora.
"E foi assim que descobrimos o (mosquito Aedes vittatus)bet 360 loginCuba", conta.
Aedes vittatus
Desde 2016, especialistasbet 360 loginmedicina preventiva colecionam amostrasbet 360 loginmosquitos encontradas ao redor da basebet 360 loginGuantánamo. A cada semana, é colocada uma armadilha, geralmente perto dos locais onde civis e militares dormem. A armadilha atrai os insetos com luz, e um ventilador os suga a um compartimento. Às vezes, são sugados até 3 mil insetos.
Depoisbet 360 loginuma triagem, os mosquitos são enviados a um laboratório militarbet 360 loginMaryland, nos EUA, onde são analisados por pesquisadores.
Em junhobet 360 login2019, "olhando pelo microscópio, vimos que um deles parecia diferente", explica Pagac.
"Tinha um padrão (de manchas brancas) no tórax que era completamente diferentebet 360 loginqualquer coisa que tivéssemos visto antes."
Era o Aedes vittatus.
"Isso nos deixoubet 360 loginolhos esbugalhados: não era apenas algo estranho, mas que poderia ter sérias implicaçõesbet 360 loginsaúde."
Imediatamente, Pagac alertou Linton.
A dupla então comparou o DNA desse espécime com obet 360 loginoutras populaçõesbet 360 loginmosquitos e concluiu quebet 360 loginprovável origem é a Índia.
"Sabia que isso não era bom", diz Linton. "Sabia que (o mosquito) era invasivo, nunca tinha sido visto nas Américas antes e é um vetor muito eficientebet 360 logindengue, chikungunya, zika e febre amarela."
A descoberta do mosquito levantou uma questão importante: será que esse intrusobet 360 loginGuantánamo ser o culpado pelos surtos recentesbet 360 loginzika, dengue e outras doenças no Caribe?
Viagens globais
Para responder essa pergunta, Linton ebet 360 loginequipe primeiro precisavam entender como o mosquito havia chegado a Guantánamo.
Eventos naturais, como furacões, são conhecidos por transportar mosquitos entre as ilhas caribenhas. Mas humanos, com seus caminhões, navios e aviões, podem inadvertidamente levar pequenos vetoresbet 360 logindoenças como mosquitosbet 360 loginmodo mais rápido e mais longe do que qualquer tempestade.
Linton e Pagac sabiam também que o Aedes vittatus é o que entomologistas chamambet 360 login"reprodutorbet 360 logincontêineres".
"Seus ovos toleram a desidratação, podem ser levadosbet 360 loginum lugar a outro e, assim que chegambet 360 loginuma superfíciebet 360 loginágua, eles emergem", conta Linton. "Se o clima for quente e úmido, eles sobrevivem."
Essa característica fez Linton se recordarbet 360 loginoutra espéciebet 360 loginmosquito que, 40 anos atrás, se espalhou da mesma maneira: o Aedes albopictus, o mosquito tigre asiático. No sul da Ásia, o mosquito havia sido vetorbet 360 logindengue, febre amarela e chikungunya. Daí,bet 360 login1979, algunsbet 360 loginseus ovos foram transportados acidentalmente à Albâniabet 360 loginum carregamentobet 360 loginpneus usados, que costumam ficar largadosbet 360 loginportos acumulando água — e criando um ambiente perfeito para o mosquito proliferar.
"Desde então, ele viajou e se estabeleceubet 360 loginquase todos os países do mundo", conta Linton.
Ela e seus colegas acreditam que possa estar acontecendo o mesmo com o Aedes vittatus. Cuba, afinal, é uma ilha - e contêineresbet 360 loginnavios são perfeitos para transportar não só produtos, como ovosbet 360 loginmosquitos.
Como impedir o vittatusbet 360 loginavançar
Imediatamente após a identificação do mosquito, a Unidadebet 360 loginMedicina Preventiva da Marinha americanabet 360 loginGuantánamo começou a pulverizar inseticidasbet 360 loginduas áreas residenciais perto do local onde os primeiros espécimes foram encontrados. E também passaram a coletar mais amostras dos mosquitos, com a ajudabet 360 loginarmadilhas especiais.
Ainda assim, os mosquitos não pararambet 360 loginaparecer. Em dezembrobet 360 login2019, larvas do Aedes vittatus foram encontradas a menosbet 360 login50 m do local original. Em laboratório, produziram dez espécimes masculinos e sete femininos. Em 24bet 360 loginfevereirobet 360 login2020, outra fêmea do vittatus foi encontrada na armadilha, seguida por outros quatro mosquitosbet 360 login2bet 360 loginmarço, a 1 km do local original.
Em 18bet 360 loginabril, o temor dos cientistasbet 360 loginque o mosquito pudesse se espalhar para alémbet 360 loginCuba se concretizou: o inseto foi identificado na República Dominicana, a 206 kmbet 360 loginCuba. E o mais alarmante é que esses espécimes não tinham a mesma composição molecular dosbet 360 loginGuantánamo, o que significa que parecem ter vindos por conta própria do Sudeste Asiático.
"Parece ter uma rotabet 360 logincomércio global trazendo esses mosquitos ao Caribe", afirma Linton, que teme que outros espécimes do vittatus estejam "se escondendo bem diante dos nossos olhos"bet 360 loginoutras ilhas caribenhas.
"Se ele está na República Dominicana, também com certeza está no Haiti (os dois países compartilham uma ilha)", diz ela. "Presumimos que também esteja na Jamaica, Puerto Rico e pode já estar na Flórida" oubet 360 loginoutros Estados do sul dos EUA.
Se não houver ação rápidabet 360 loginequipesbet 360 loginsaúde pública, pode ser apenas uma questãobet 360 logintempo até que o mosquito se espalhe mais. Essa ação tembet 360 loginincluir a destruiçãobet 360 loginambientes onde o mosquito procria, a pulverizaçãobet 360 loginquímicos ou bactériasbet 360 logináguas paradas e o usobet 360 loginarmadilhas.
Mas parte do que torna os mosquitos tão difíceisbet 360 loginserem contidos é que "eles se adaptam ao habitat e aos objetos humanos", explica Linton. "Colocamos fontesbet 360 loginpassarinhos e piscinas infantis nos jardins, e ali o mosquito aparece."
Para dificultar, o vittatus pica durante o dia, o que significa que métodos tradicionais — como fechar portas e janelas e usar mosquiteiros para dormir - são ineficientes.
E apenas pulverizar inseticida não vai resolver o problema, adverte Pagac. É preciso incorporar medidas ao dia a dia, como eliminar todos os locais que possam armazenar água parada.
Mudanças climáticas
A mudança climática acelerada pela ação humana também está ajudando o vittatus — que adora climas quentes e úmidos — a continuar a avançar.
Um mosquito costuma botar ovos 36 horas depoisbet 360 loginpicarbet 360 loginvítima e, se esse hospedeiro estiver infectado, o vírus passará adiante. Em seguida, serão produzidos 100 a 120 ovos infectados, já carregando a doença.
Normalmente, há talvez seis novas geraçõesbet 360 loginmosquito ao longobet 360 loginum ano qualquer. Mas isso está mudando.
"Esses invernos brandos e estações mais longas que estamos tendo significam que mosquitos têm a chancebet 360 loginproduzir dez gerações (no ano),bet 360 loginvezbet 360 loginseis", adverte Linton. "Isso significa que eles têm mais tempobet 360 loginadquirir vírus" antesbet 360 loginserem impedidos pelo frio do inverno.
Os humanos, no entanto, não estão à deriva no combate. Processosbet 360 loginbiovigilância como o sendo feitobet 360 loginGuantánamo podem ajudar a prever (e daí enfrentar) o localbet 360 loginonde as doenças se espalham. Mas a não ser que programas robustos e coordenadosbet 360 loginbiovigilância sejam implementados ao redor do mundo, quandobet 360 loginfato um novo vetor for encontrado, pode já ser tarde demais para contê-lo, diz Linton.
Um bom pontobet 360 loginpartida é focarbet 360 login"hubs"bet 360 loginviagem. Em anos recentes, por exemplo, a Inglaterra registrou casos da chamada "maláriabet 360 loginaeroporto" — casosbet 360 loginmalária causados por mosquitos que chegaram ao país com aviões.
Hoje, aeroportos ao redor do mundo são equipados com armadilhasbet 360 loginluz para esses mosquitos.
Mas, mesmo assim, "atualmente há oito vezes mais pacientesbet 360 loginmaláriabet 360 loginclínicas e hospitais da Europa do que nos anos 1970", escreve Shah.
Já no caso do Aedes vittatus, "pode ser um dos poucos exemplosbet 360 loginque (ainda) estamos na dianteira" para contê-lo, adverte Pagac. E financiamento a pesquisas permitiria monitorar e antecipar o avançobet 360 loginmosquitos, para que então governos nacionais e locais possam pôrbet 360 loginprática campanhas com métodos conhecidos, como pulverização, combate a água parada e ensinamentos a pessoas sob risco (por exemplo, usobet 360 loginrepelentes e roupas que cubram braços e pernas).
Em um mundo abalado pela covid-19, tudo isso pode parecer um desafio complexo. Mas, para Linton e Pagac, não podemos deixar que seja uma oportunidade perdida para impedir a próxima potencial pandemia.
*Esta reportagem é parte da série bet 360 login Stopping the Next One (ou Impedindo a Próxima), que analisa quais doenças têm o potencialbet 360 logincausar a próxima pandemia global e os cientistas que estão tentando impedir que isso aconteça. Para ler todo o materialbet 360 logininglês, clique aqui. Para ler a versão original desta reportagembet 360 logininglês na BBC Future, clique aqui. Esta reportagem foi apoiada com financiamento do Pulitzer Center.
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