Por que pessoas que abominam crueldade com animais comem carne?:esporte da sorte jogo do dado

Mas quando entendemos o motivoesporte da sorte jogo do dadocomermos a carneesporte da sorte jogo do dadoanimais que sabemos terem sido criadosesporte da sorte jogo do dadopéssimas condições, podemos começar a compreender muitas outras formasesporte da sorte jogo do dadocomportamento que entramesporte da sorte jogo do dadoconflito com princípios morais arraigadosesporte da sorte jogo do dadonós.

O 'paradoxo da carne'

De acordo com os psicólogos Brock Bastian e Steve Loughnan, que pesquisam o tema na Austrália, o "paradoxo da carne" é o "conflito psicológico entre a preferência alimentar das pessoas por carne eesporte da sorte jogo do dadoresposta moral ao sofrimento dos animais".

Eles argumentam que "causar dano aos outros é inconsistente com a visão que temosesporte da sorte jogo do dadonós mesmos como pessoas morais. Desta forma, o consumoesporte da sorte jogo do dadocarne tem efeitos negativos para quem come carne, porque estas pessoas são confrontadas com uma visão negativaesporte da sorte jogo do dadosi mesmas: como posso ser uma boa pessoa e também comer carne?".

Esse conflito moral não apenas ameaça nosso prazeresporte da sorte jogo do dadocomer carne mas também nossa identidade. Para nos proteger, criamos hábitos e estruturas sociais que nos fazem sentir melhor.

O consumoesporte da sorte jogo do dadocarne está ligado aos costumes sociais,esporte da sorte jogo do dadomodo que os feriados são definidos como uma épocaesporte da sorte jogo do dadobanquetesesporte da sorte jogo do dadofamília e com amigos. Algumas pessoas também podem interpretar esse comportamento como um sinalesporte da sorte jogo do dadomasculinidade, alegando que isso ajuda a definir que alguém é um "homemesporte da sorte jogo do dadoverdade", ou que os humanos evoluíram como superpredadores destinados a comer carne.

Como costuma ocorrer com muitas decisões que tomamos, inclusive a escolhaesporte da sorte jogo do dadocomer carne, os motivos que apresentamos para isso são muitas vezes elaborados depois - primeiro, fazemos a opção e, depois, justificamos o comportamento e por que não há problemaesporte da sorte jogo do dadofazer isso novamente. E precisamos destes pretextos, ou pensaríamos que somos pessoas más.

A dissonância cognitiva

Quando dizemos uma coisa, mas fazemos outra, ou mantemos crenças inconsistentes, os psicólogos chamam issoesporte da sorte jogo do dadodissonância cognitiva. O termo foi cunhado por Leon Festinger, que o usou pela primeira vezesporte da sorte jogo do dado1957.

O experimento clássico neste campo foi publicado por Festinger e James Carlsmithesporte da sorte jogo do dado1959. Eles se perguntaram: "O que acontece com a opiniãoesporte da sorte jogo do dadouma pessoa se ela é forçada a fazer ou dizer algo contrário a essa opinião?". Em seu experimento, 71 homens tinhamesporte da sorte jogo do dadocompletar duas tarefas. Primeiro, foi pedido que colocassem 12 carretéisesporte da sorte jogo do dadomadeiraesporte da sorte jogo do dadouma bandeja, a esvaziassem e colocassem os carretéisesporte da sorte jogo do dadovolta na bandeja, repetidamente, por meia hora.

Em seguida, os participantes receberam uma placa com 48 pinosesporte da sorte jogo do dadomadeira. Foi solicitado que girassem cada pinoesporte da sorte jogo do dadoum quartoesporte da sorte jogo do dadovolta no sentido horário, depois mais outro quartoesporte da sorte jogo do dadovolta, repetidamente, novamente por meia hora. Enquanto eles faziam isso, um pesquisador observava e tomava notas. Eram tarefas intencionalmente chatas.

Embora os participantes pensassem que seu desempenho estava sendo medido, o que veio a seguir era o que realmente interessava os pesquisadores. Depois das duas tarefas, os participantes foram levadosesporte da sorte jogo do dadovolta para uma salaesporte da sorte jogo do dadoespera e informadosesporte da sorte jogo do dadoque a outra pessoa sentada ali seria o próximo participante. Para um terço dos participantes, foi dito apenas que ficassem sentados. Para os outros dois terços, no entanto, o pesquisador perguntou se eles mentiriam para o próximo participante.

Eles seriam pagos para mentir. Metade receberia US$ 1 pela mentira. A outra metade receberia US$ 20 (um valor expressivo na décadaesporte da sorte jogo do dado1950). Quando concordaram, o pesquisador entregou-lhes um pedaçoesporte da sorte jogo do dadopapel e os instruiu a dizer as frases escritas nele: "Foi muito divertido", "Eu me diverti muito", "Eu me diverti", "Foi muito interessante", "Foi intrigante", "Foi emocionante".

O que os pesquisadores realmente queriam medir era o impacto dessa mentira e a compensação oferecida por ela na avaliação da tarefa pelos participantes. Eles pensariam que gostaramesporte da sorte jogo do dadouma tarefa chata só porque disseram isso a outra pessoa? E como ser pago para fazê-lo influenciaria o resultado?

O grupo controle, que não foi convidado a mentir, disse que a tarefa foi chata e que não a realizaria novamente. Os participantes que receberam US$ 20 também avaliaram negativamente a atividade. No entanto, os participantes que receberam US$ 1 avaliaram o experimento muito mais positivamente do que os outros dois grupos e foram mais propensos a dizer que voltariam a participaresporte da sorte jogo do dadoexperiências semelhantes no futuro. O que aconteceu?

Ser pago US$ 1 provavelmente não foi visto pelos participantes como incentivo suficiente para mentir. Assim, eles tiveram uma dissonância cognitiva. "Por que eu disse que era agradável quando não era? Certamente não foi por um mísero US$ 1?" Então, eles foram forçados a internalizar os juízos que expressaram sobre aquela situação e a convencer a si mesmosesporte da sorte jogo do dadoque a experiência havia sido agradável, porque não haveria uma outra boa justificativa para terem dito isso.

Passar a acreditar que a experiência havia sido interessante ajudou a aliviar o estresse gerado pela contradição entre o que pensavam e o que falaram para o outro participante. Para os que receberam US$ 20, isso não era necessário, porque eles poderiam justificaresporte da sorte jogo do dadomentira como um resultado do incentivo financeiro.

Este foi o primeiroesporte da sorte jogo do dadomuitos experimentos que mostram que muitas vezes mudamos nossas crenças para alinhá-las com nosso comportamento - e que o dinheiro pode nos levar a fazer isso.

Em 1962, Festinger desenvolveu ainda mais seus conceitos. Ele afirmou que, apesaresporte da sorte jogo do dadoacreditarmos que somos geralmente consistentes -esporte da sorte jogo do dadonossos comportamentos, crenças e atitudes -, às vezes, nos comportamosesporte da sorte jogo do dadoforma diferente. Festinger chamou essa inconsistênciaesporte da sorte jogo do dadodissonância e a consistência,esporte da sorte jogo do dadoconsonância. Ele resumiuesporte da sorte jogo do dadoteoria da dissonância cognitiva da seguinte forma:

- A existênciaesporte da sorte jogo do dadodissonância, sendo psicologicamente desconfortável, motivará a pessoa a tentar reduzir a dissonância e alcançar a consonância.

- Quando a dissonância está presente, alémesporte da sorte jogo do dadotentar reduzí-la, a pessoa ativamente evitará situações e informações que provavelmente aumentariam a dissonância.

O papel da publicidade e do marketing

Ele explicou ainda que, assim como a fome nos motiva a encontrar alimento para reduzir nossa fome, a dissonância cognitiva nos motiva a buscar situações que reduzam a dissonância. Para comer carne, há duas formasesporte da sorte jogo do dadofazer isso: podemos mudar nosso comportamento ou mudar nossas crenças. Podemos pararesporte da sorte jogo do dadocomer carne ou criar razões pelas quais comer carne é moralmente correto.

Alémesporte da sorte jogo do dadonossas próprias tentativasesporte da sorte jogo do dadojustificar o consumoesporte da sorte jogo do dadocarne, a publicidade e o marketing podem facilitar esta tarefa. De acordo com pesquisas da socióloga Liz Grauerholz sobre imagensesporte da sorte jogo do dadoanimais na cultura popular, uma maneiraesporte da sorte jogo do dadotornar o consumoesporte da sorte jogo do dadocarne aceitável é dissociá-lo do animal do qual a carne veio.

Grauerholz argumenta que fazemos isso "transformando animais, que são amados,esporte da sorte jogo do dadocarnes, que são consumidas,esporte da sorte jogo do dadomodo que os conceitosesporte da sorte jogo do dado'animais' e 'carnes' parecem distintos e não relacionados". Falamosesporte da sorte jogo do dado"vitela"esporte da sorte jogo do dadovezesporte da sorte jogo do dadocarneesporte da sorte jogo do dadovaca bebê, "presunto"esporte da sorte jogo do dadovezesporte da sorte jogo do dadocarneesporte da sorte jogo do dadoporco, "carneesporte da sorte jogo do dadocaça"esporte da sorte jogo do dadovezesporte da sorte jogo do dadocarneesporte da sorte jogo do dadoanimal selvagem caçado. Nós colocamos embalagens bonitasesporte da sorte jogo do dadoanimais mortos - fisicamente, verbalmente e conceitualmente nos distanciando da verdadeira origemesporte da sorte jogo do dadonossa comida.

Ao analisar as representações comerciaisesporte da sorte jogo do dadocarnes, Grauerholz descobriu que isso é feitoesporte da sorte jogo do dadoduas formas diferentes. A primeira mostra a carne higienizada, embrulhadaesporte da sorte jogo do dadoplástico, cortadaesporte da sorte jogo do dadopedaços - o que dificulta pensar que ela provémesporte da sorte jogo do dadoum animal. A segunda tem a ver comesporte da sorte jogo do dadotransformaçãoesporte da sorte jogo do dado"cortes" - tornando os animais mais atraentes do que eles realmente são.

Mais do queesporte da sorte jogo do dadoqualquer lugar, isso é adotado como estratégiaesporte da sorte jogo do dadopartes da Ásia, como o Japão. As propagandas usam o que o etólogo Konrad Lorenz chamaesporte da sorte jogo do dadoKindchenschema, ou seja, conferir ao animal características que o façam parecer fofo, como olhos grandes e traços delicados e arredondados, comoesporte da sorte jogo do dadoilustraçõesesporte da sorte jogo do dadolivros infantis. É para dar a impressãoesporte da sorte jogo do dadoque esta carne vemesporte da sorte jogo do dadoanimais felizes e imaginários e desviar a atenção da realidade cruel dos bichos.

Isso não é apenas relevante para o consumoesporte da sorte jogo do dadocarne. Quando transformamos animais ou seres humanosesporte da sorte jogo do dadoobjetos e, assim, evitamos o desconforto causado quando tomamos conhecimento do sofrimento por trás destes bensesporte da sorte jogo do dadoconsumo, fica mais fácil sermos cruéis. Vemos os mesmos processos usados com a carne aplicados a outros tiposesporte da sorte jogo do dadocomportamentos humanos moralmente inaceitáveis, que são comuns e relacionados ao dinheiro.

Sabemos que a pobreza causa sofrimento, mas,esporte da sorte jogo do dadovezesporte da sorte jogo do dadocompartilhar nossa riqueza, compramos outro paresporte da sorte jogo do dadosapatos caros. Discordamos fundamentalmente da ideiaesporte da sorte jogo do dadoexploração infantil ouesporte da sorte jogo do dadoadultos trabalhandoesporte da sorte jogo do dadocondições terríveis, mas continuamos a fazer comprasesporte da sorte jogo do dadolojas que oferecem produtos baratos. Preferimos nos manter no escuro, para proteger nossas identidades, ao manter a ilusãoesporte da sorte jogo do dadoque somos pessoas consistentes e eticamente sensíveis.

Neste esforço constante para reduzir a dissonância cognitiva, podemos disseminar um comportamento questionável para outras pessoas. Começamos a moldar as sociedadesesporte da sorte jogo do dadoforma a minimizar nosso desconforto,esporte da sorte jogo do dadovezesporte da sorte jogo do dadoevidenciar nossas inconsistências. Não queremos ser lembrados constantemente delas. E, como Bastian e Loughnan argumentam, "através do processoesporte da sorte jogo do dadoreduçãoesporte da sorte jogo do dadodissonância, a aparente imoralidadeesporte da sorte jogo do dadocertos comportamentos pode desaparecer".

A hipocrisia pode floresceresporte da sorte jogo do dadocertos ambientes sociais e culturais. Os hábitos sociais podem encobrir nossos conflitos morais, normalizando comportamentos e tornando-os invisíveis e resistentes à mudança.

É horaesporte da sorte jogo do dadouma revolução na forma como falamos sobre seres humanos, animais e o planeta, eesporte da sorte jogo do dadoreconhecermos nossas próprias hipocrisias. Em vezesporte da sorte jogo do dadofazer uma ginástica mental para justificar um comportamento antiético, devemos considerar a possibilidadeesporte da sorte jogo do dadorealmente mudá-lo. Identificar e lidar com algumasesporte da sorte jogo do dadonossas incoerências éticas carregadasesporte da sorte jogo do dadoculpa provavelmente faráesporte da sorte jogo do dadonós pessoas mais felizes e do planeta, um lugar melhor.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

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