Como traumas e conviver com compatriotas podem nos fazer esquecer a língua materna no exterior:up bet vip

Menina com celular

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A maioria dos migrantes sabe como é ficar um pouco enferrujado emup bet viplíngua nativa

Não são apenas migrantes que são afetados, mas, até certo ponto, qualquer um que comece a falar uma segunda língua.

"No minutoup bet vipque você começa a aprender outra língua, os dois sistemas passam a competir um com o outro", diz Monika Schmid, linguista da Universidadeup bet vipEssex, no Reino Unido.

Schmid pesquisa o atritoup bet viplinguagem, um crescente campoup bet vipestudo que investiga o que nos leva a esquecer a língua materna. Na infância, o fenômeno é relativamente fácilup bet vipexplicar, já que o cérebro nessa fase é mais flexível e adaptável. Até por volta dos 12 anos, a habilidade linguística é mais suscetível a mudanças. Estudos com pessoas adotadas por estrangeiros mostram que crianças com até 9 anos podem esquecer completamente a primeira língua quando retiradasup bet vipseu paísup bet viporigem.

Homem na janela

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Pessoas mais velhas têm mais propensão a perderup bet viplíngua nativa se passaram por eventos traumáticos

Mas,up bet vipadultos, é pouco provável que a língua nativa desapareça completamente, excetoup bet vipcircunstâncias extremas. Por exemplo, Schmid entrevistou judeus alemães idosos que se refugiaram da Segunda Guerra Mundial no Reino Unido e nos Estados Unidos. O que mais influenciou suas habilidades linguísticas não foi quanto tempo eles passaram no exterior ou a idade com que deixaram seu país, mas sim a intensidade do trauma como vítimas da perseguição nazista.

Aqueles que deixaram a Alemanha no início do regime nazista, portanto antes da pior faseup bet vipatrocidades, tendiam a falar alemão melhor - embora estivessem no exterior há mais tempo. Aqueles que partiram mais tarde, depois do massacreup bet vip1938, conhecido como Reichskristallnacht, tendiam a falar alemão com dificuldade ou a não falar nada da língua.

"Ficou muito claro o resultado relacionado a esse trauma", diz Schmid. Embora o alemão fosse a língua da infância, do país e da família, também era a línguaup bet vipmemórias dolorosas. Os refugiados mais traumatizados a suprimiram. Um deles chegou a falar: "Eu sinto que a Alemanha me traiu. A América é meu país, e o inglês, minha língua".

Interruptorup bet vipidioma

Uma perda tão dramática como essa é exceção. Para a maioria dos migrantes, a língua nativa coexiste com a nova língua. O quanto a primeira língua se mantém tem muito a ver com talento: pessoas que geralmente têm facilidadeup bet vipaprender línguas conseguem preservar melhor a nativa, independentementeup bet vipquanto tempo estiveram fora.

Mas a fluência na língua materna também está fortemente relacionada a como gerenciamos diferentes idiomas no cérebro. "A diferença fundamental entre o cérebro do monolíngue e do bilíngue é que, quando você se torna bilíngue, você tem que criar algum tipoup bet vipmóduloup bet vipcontrole para poder fazer a troca", diz Schmid.

Ela dá um exemplo. Ao mirar um objeto à frente, a mente dela pode escolher entre duas palavras:up bet vipinglês, desk, ouup bet vipalemão, Schreibtisch. Num contextoup bet vipinglês, seu cérebro suprime o Schreibtisch e seleciona o desk - e vice-versa.

Se o mecanismoup bet vipcontrole é fraco, o locutor pode ter dificuldadeup bet vipencontrar a palavra certa ou continuar escorregando para a segunda língua. Misturar-se com outros nativos na língua,up bet vipsituação parecida, pode até piorar a situação, já que há pouco incentivo para permanecer numa única língua se é possível ser compreendidoup bet vipambas. O resultado é, frequentemente, um híbrido linguístico.

Em Londres, uma das cidades mais multilíngues do mundo, esse tipoup bet viphíbrido é tão comum que parece quase um dialeto urbano. Maisup bet vip300 idiomas são falados na capital do Reino Unido, e maisup bet vip20% dos londrinos falam uma língua além do inglês.

Em um passeioup bet vipdomingo pelos parques do norteup bet vipLondres, percebi cercaup bet vipuma dúziaup bet vipcasos assim, do polonês ao coreano, todos misturados,up bet vipdiferentes níveis, com o inglês.

Esticados sobre uma toalhaup bet vippiquenique, um casal conversaup bet vipitaliano. De repente, um deles exclama: "Esqueciup bet vipfechar la finestra (misturando o inglês com a palavraup bet vipitaliano para janela)!"

Idosos jogando dominó

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Migrantes cubanosup bet vipMiami tiveramup bet viplíngua alterada pela proximidade com mexicanos e colombianos

No parquinho, três mulheres dividem petiscos e conversamup bet vipárabe. Um menino corre ao encontro delas, gritando: "Abdullah está sendo grosseiro comigo!" E então começa a mãeup bet vipinglês: "Escuta…", mas na sequência só se ouve árabe.

Trocarup bet viplíngua não é, obviamente, o mesmo que esquecer. Mas Schmid argumenta que, com o passar do tempo, esse vai e vem informal pode dificultar a permanência do cérebroup bet vipuma única linha linguística quando necessário: "Você se vê numa acelerada espiralup bet vipmudançaup bet viplíngua".

Fale mais

Laura Dominguez, linguista da Universidadeup bet vipSouthampton, notou um efeito semelhante ao comparar dois gruposup bet vipmigrantes: espanhóis no Reino Unido e cubanos nos Estados Unidos. Os cubanos viviamup bet vipMiami, uma cidade com uma grande comunidade latina, e falavam espanhol o tempo todo.

"Claro que os espanhóis no Reino Unidos dizem: 'ah, eu esqueço palavras'. Isso é o que as pessoas costumam dizer: 'Eu tenho dificuldadeup bet vipencontrar a palavra certa, especialmente quando uso um vocabulário que aprendi para o meu trabalho'", diz Dominguez.

Como uma espanhola que passou a maior parteup bet vipsua vida profissional no exterior, ela admite ter essa dificuldade e conta: "Se eu tivesse essa conversaup bet vipespanhol com um nativoup bet vipespanhol, acho que não conseguiria".

Mas ao analisar os testesup bet viplinguagem feitos pelos participantes do estudo, ela percebeu uma diferença marcante. Os espanhóis isolados preservaram a gramática da língua nativa. Mas os cubanos - que constantemente usavam o espanhol - perderam alguns traços nativos.

O fator-chave não foi a influência do inglês, mas das variedadesup bet vipespanholup bet vipMiami. Em outras palavras, os cubanos começaram a falarup bet vipforma mais parecida aos colombianos e mexicanos.

De fato, quando Dominguez voltou para a Espanha apósup bet vipestadia nos Estados Unidos, onde ela tem vários amigos mexicanos, seus amigosup bet vipcasa disseram que ela tinha adquirido um leve sotaque mexicano. Sua teoria é que, quanto mais familiar for a outra língua ou dialeto, mais provável será mudarup bet viplíngua nativa.

E ela enxerga essa adaptabilidade como algo a se celebrar - uma prova da criatividade dos seres humanos.

Pessoas com cadernos e computador

Crédito, PeopleImages

Legenda da foto, Quando você começa a aprender uma nova língua, os dois idiomas começam a competir um com o outro

"O atrito não é ruim. É um processo natural", diz a pesquisadora. "Essas pessoas fizeram mudanças na gramática condizentes com a nova realidade… O que nos permite a aprender línguas também nos permite fazer essas mudanças."

É bom lembrar que,up bet vipum pontoup bet vipvista linguístico, não é possível ser terrível naup bet vipprópria língua. E um atrito com a língua nativa é reversível, pelo menosup bet vipadultos: uma viagemup bet vipvolta para casa geralmente ajuda. Ainda assim, para muitosup bet vipnós, a língua materna está ligada à identidade mais profunda, a memórias e ao sensoup bet vipsi.

É por isso que eu, por exemplo, estava determinada a desvendar o misterioso fremdschämen sem ajuda externa. Para meu alívio, descobri-o rapidamente. Fremdschämen descreve a sensaçãoup bet vipassistir a alguém fazer algo tão constrangedor que você se sente envergonhado pela pessoa - ou, na expressãoup bet vipportuguês, "vergonha alheia".

Aparentemente, é uma palavra popular e que existe há anos. Mas tinha passado despercebida por mim, como inúmeras outras. Depoisup bet vip20 anos no exterior, eu não deveria me surpreender com isso. Mas tenho que admitir que é um pouco triste perceber meu próprio irmão usando palavras que não consigo mais entender; um sinalup bet vipperda, talvez, ouup bet vipdistância inesperada.

Há provavelmente uma palavra alemã para isso também. No entanto, precisareiup bet vipmais tempo para lembrá-la.