'Princesa Mononoke': a obra-prima da animação japonesa que deixou Ocidente boquiaberto:brabet blaze

Cena da animação japonesa 'Princesa Mononoke'

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"Eu não tinha planosbrabet blazefazer aquilo", contou Gaiman à BBC Culture.

"Mas o momento que mudou tudo para mim foi a cenabrabet blazeque você olha para aquelas pedras. E uma gotabrabet blazechuva as atinge. E depois outra gotabrabet blazechuva. E depois mais uma gotabrabet blazechuva."

"E agora está chovendo, e a superfície está molhada e escorregadia. E eu me dou conta: 'Nunca vi nada assim. Isso é fazer cinemabrabet blazeverdade. Isso é cinema do nívelbrabet blazeDavid Lean. Isso é cinema do nívelbrabet blazeAkira Kurosawa. É cinemabrabet blazeverdade'."

Ashitaka, um jovem príncipe embrabet blazemissão para encontrar a cura da maldição que o acometeu, é o protagonistabrabet blazePrincesa Mononoke

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Legenda da foto, Ashitaka, um jovem príncipe embrabet blazemissão para encontrar a cura para a maldição que o acometeu, é o protagonistabrabet blaze'Princesa Mononoke'

Quando Princesa Mononoke estreou no Japãobrabet blaze12brabet blazejulhobrabet blaze1997 (25 anos atrás), representava uma espéciebrabet blazedesvio na carreira do diretor e animador japonês Hayao Miyazaki.

No final dos anos 1980, Miyazaki havia estabelecidobrabet blazereputação (com o sucesso do Studio Ghibli, que ele fundou com seu colega, o diretor Isao Takahata) com animações como Meu Amigo Totoro e O Serviçobrabet blazeEntregas da Kiki. Obras formalmente ambiciosas, tematicamente ricas, mas com tom geralmente positivo ebrabet blazenatureza voltada para toda a família.

Mas algo mudou durante os anos 1990. Primeiro, Miyazaki começou a se incomodar com a ideia popularbrabet blazeque o Studio Ghibli só produzia filmes delicados sobre a grandiosidade da natureza.

"Comecei a ouvir que o Ghibli era 'doce' ou 'terapêutico'", queixou-se no documentáriobrabet blazeseis horas sobre a produção da animação, chamado Princess Mononoke: How the Film was Conceived ("Princesa Mononoke: como o filme foi concebido",brabet blazetradução literal).

"Senti a necessidadebrabet blazedestruir isso."

Ainda mais significativo foi o seu crescente desespero diantebrabet blazeum mundo que ele acreditava cada vez mais estar amaldiçoado.

"Ele costumava ser o que chamavabrabet blazesimpatizante da esquerda, crente no poder do povo", explica Shiro Yoshioka, professorbrabet blazeestudos japoneses da Universidadebrabet blazeNewcastle, no Reino Unido.

"Mas, por razões óbvias [o colapso da União Soviética e a escalada dos conflitos étnicos na Europa], suas convicções políticas foram totalmente abaladas no início dos anos 1990."

O próprio Japão também estava passando por uma espéciebrabet blazecrise existencial. A bolha do períodobrabet blazecrescimento econômico dos anos 1980 estouroubrabet blaze1992, levando o Japão a uma recessão que parecia interminável.

Três anos depois,brabet blaze1995, o país foi atingido pelo terremotobrabet blazeKobe, o pior a sacudir o Japão desde 1922. O tremor deixou 6 mil mortos e destruiu as casasbrabet blazeoutras dezenasbrabet blazemilharesbrabet blazepessoas.

E, apenas dois meses depois, uma seita terrorista chamada Aum Shinrikyo lançou um ataque com gás sarin no metrôbrabet blazeTóquio, capital japonesa, matando 13 pessoas e ferindo milharesbrabet blazeoutras.

Miyazaki, que estava enojado com o materialismo do período da bolha, vivia agorabrabet blazeum país confuso e traumatizado — tanto pelabrabet blazerelação com a natureza, quanto por uma sensação crescentebrabet blazevazio espiritual.

"Ele começou a pensar: 'Talvez eu não devesse fazer essas coisas leves e divertidas para as crianças. Talvez eu devesse fazer algo substancial'", afirma Yoshioka.

Uma nova ira

Ambientado no século 14 (o período japonês conhecido como Muromachi), Princesa Mononoke conta a históriabrabet blazeAshitaka, um jovem príncipe que foi amaldiçoado pelo ódiobrabet blazeum deus moribundobrabet blazeformabrabet blazejavali, que havia sido corroído por uma bolabrabet blazeferro alojada no seu corpo.

"Ouçam-me, humanos desprezíveis, logo todos vocês sentirão meu ódio e sofrerão o que eu sofri", diz o javali.

Para buscar uma cura para a maldição, Ashitaka viaja pelo mundo, esperando encontrar o Shishigami, o espírito da florestabrabet blazeformabrabet blazecervo, que tem o poderbrabet blazetrazer vida e morte.

Embrabet blazejornada, Ashitaka descobre um mundo desequilibrado. Tatara, a Cidadebrabet blazeFerro, liderada pela enigmática Lady Eboshi, devastava a floresta próximabrabet blazebuscabrabet blazerecursos minerais, causando a irabrabet blazeMoro, a feroz deusabrabet blazeformabrabet blazelobo, ebrabet blazeselvagem filha humana San (que é a personagem-título, Mononoke, cuja tradução aproximada é "espectro", ou "fantasma").

Em meio a tudo isso, Ashitaka precisa descobrir como se orientar por este mundo difícil com os olhos do coração, sem ódio — ou com os "olhos sem sombras".

"Eu sempre adorei [esta expressão]", afirma Gaiman.

"Sem as sombras do mal. Sem as sombras do medo, sem as sombras do ódio. Você só precisa ver o que realmente existe ali."

Em comparação com os trabalhos anterioresbrabet blazeMiyazaki, a animação é intensa e sombria, repletabrabet blazeespetáculos estranhos e cenasbrabet blazeviolência surpreendentes. Mãos são decepadas e cabeças são cortadas. O sangue jorrabrabet blazeanimais ebrabet blazeseres humanos.

"Acredito que violência e agressão são partes essenciaisbrabet blazenós como seres humanos", afirmou Miyazaki ao jornalista americano Roger Ebert.

"A questão que enfrentamos enquanto seres humanos é como controlar esses impulsos. Sei que crianças pequenas podem assistir a esse filme, mas eu preferi intencionalmente não as proteger da violência que reside nos seres humanos."

Na verdade, o deus-javali amaldiçoado, cuja raiva explodebrabet blazedentro dele como um ninhobrabet blazevermes gosmentos se contorcendo, foi inspirado na luta do próprio Miyazaki para controlarbrabet blazeraiva.

As contradições

Hayao Miyazaki é um leque confessobrabet blazecontradições. Basta ler seus textos, ouvir suas entrevistas e assistir ao que ele fala para ter o retratobrabet blazeum artista preso entre o idealismo e o niilismo, o otimismo e o desespero.

Ele é o pacifista com fascinação por aviõesbrabet blazeguerra; o patrão exigente que despreza a autoridade e, como diretor, a exerce impiedosamente; o pai que acredita apaixonadamente no espírito das crianças, mas dificilmente estavabrabet blazecasa para criar suas próprias; e o ambientalista convicto que tem dificuldadebrabet blazeviver uma vida ecologicamente ética.

"Quando vejo o atum sendo arrastadobrabet blazeuma linhabrabet blazepesca, eu penso: 'Uau, os seres humanos são terríveis'", declarou ele ao escritor japonês Tetsuo Yamaoribrabet blaze2002,brabet blazeentrevista republicadabrabet blaze2014 na antologiabrabet blazeensaiosbrabet blazeMiyazaki intitulada Turning Point ("Ponto da Virada",brabet blazetradução livre).

"Mas, quando alguém me oferece sashimibrabet blazeatum, é claro que eu como e acho delicioso."

Sangue no rostobrabet blazepersonagembrabet blaze'Princesa Mononoke'

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Legenda da foto, O sangue explícito é um elemento-chavebrabet blaze'Princesa Mononoke', o que afasta a animação do público infantil

A noçãobrabet blazeum homembrabet blazeguerra consigo mesmo fica clara nos personagens e no mundobrabet blazePrincesa Mononoke — uma animação que, como disse Miyazakibrabet blazeentrevista coletiva no Festivalbrabet blazeCinemabrabet blazeBerlim, na Alemanha,brabet blaze1998, "não foi feita para julgar o bem e o mal".

Lady Eboshi é um exemplo. Sua colônia metalúrgica fabrica um arsenalbrabet blazearmas para uso contra os deuses da floresta. Na maioria dos filmesbrabet blazeanimação, ela seria representada como a vilã gananciosa e inimiga da natureza.

Mas Eboshi é também uma líder generosa, que libertou as mulheres (subentendidas como antigas profissionais do sexo) da opressão feudal e ofereceu um paraíso seguro para as pessoas com lepra que foram banidas, enquanto seu processobrabet blazeindustrialização eleva os padrões da vida humana.

"Teria sido muito fácil fazer uma históriabrabet blaze'a tecnologia má contra as boas feras da floresta'", afirma Susan Napier, professora do programa japonês da Universidade Tufts,brabet blazeMassachusetts, nos EUA, e autora do livro Miyazakiworld: a Life in Art ("O mundobrabet blazeMiyazaki: uma vida na arte",brabet blazetradução livre).

"Mas a indústria ajuda essas pessoas marginalizadas a viver. Ela oferece empregos, uma fontebrabet blazecomunidade e orgulho."

Em entrevista para a revista Cine Furontoshabrabet blaze1997, o próprio Miyazaki chegou a racionalizar Lady Eboshi:

"Muitas vezes, aqueles que estão destruindo a natureza, na verdade, são pessoasbrabet blazebom caráter. Pessoas que não são más tomam ações cuidadosas, pensando que agem para o bem, mas os resultados podem gerar problemas terríveis."

Essa ambiguidade moral não se estende apenas aos personagens humanos do filme. A deusabrabet blazeformabrabet blazelobo Moro é tão suave quanto selvagem, enquanto o próprio mundo natural não é apresentado como uma força puramente virtuosa, mas sim capazbrabet blazedemonstrar horror e estupidez.

A obstinaçãobrabet blazeOkkoto, líder do clã dos javalis na luta contra as forças superiores dos humanos, condenabrabet blazeprópria raça,brabet blazeforma insensata. Enquanto isso, a visão fria e misteriosabrabet blazeShishigami — que, durante o dia, lembra um grande cervo — sugere um lado da natureza que se recusa a ser antropomorfizadobrabet blazealgo reconfortante e prefere ser estranho e perturbador — indiferente se você vive ou morre.

"Com o Studio Ghibli, você tem a sensaçãobrabet blazeque, ao contrário da visão judaico-cristã ocidental, os seres humanos não são, necessariamente, as criaturas dominantes do planeta", afirma Napier.

São valores com raízes discutíveis no histórico japonêsbrabet blazedesastres ecológicos e no xintoísmo, a popular religião animista do Japão, baseada na crençabrabet blazeque existem espíritosbrabet blazetodas as coisas.

No material promocional para um novo curta-metragembrabet blaze2006, Miyazaki afirma: "Tenho muita atração pela ideiabrabet blazepreservar as florestas... não para o bem dos seres humanos, mas porque elas próprias estão vivas".

Nas palavrasbrabet blazeYoshioka, "ele acredita que não devemos proteger a natureza apenas porque ela é útil, nem tentar controlá-la. Na verdade, nós devemos respeitar a natureza como algo que tem vida própria."

Esta crença talvez fique mais clarabrabet blazeuma cenabrabet blazePrincesa Mononoke descrita por Napier como "a Capela Sistina da animação". Trata-se da sequênciabrabet blazeque um grupobrabet blazecaçadores, liderados pelo monge oportunista Jikobo, tem uma rápida visãobrabet blazeShishigami na enorme forma translúcida assumida por ele depois do pôr do sol.

Os filmesbrabet blazeMiyazaki são invariavelmente belos — desenhados e animados com um cuidado obsessivo com cada detalhe e retratados com o tipobrabet blazeluz e profundidade que faz com que você observe o mundo com outros olhos, como se estivesse apaixonado ou perto da morte.

Mas Shishigami é muito diferente. Ele surge sobre a floresta andando pelo céu noturno, inspirando ao mesmo tempo horror e admiração.

"Ele não é bonitinho e fofo", afirma Napier.

"Parece diferente e assustador. E então ele começa a se transformar, e você vê aquelas pequenas criaturas, os Kodamas [pequenos espíritos das árvores, com seus imutáveis sorrisos curiosos], observando maravilhados. É um momento sublime que não tem nada a ver com seres humanos."

Recepções bem diferentes

Princesa Mononoke foi uma sensação no Japão. A animação arrecadou maisbrabet blaze19 bilhõesbrabet blazeienes (US$ 160 milhões, ou cercabrabet blazeR$ 860 milhões)brabet blazebilheteria, ultrapassandobrabet blazemuito o recordista anterior do país, E. T. - O Extraterrestre,brabet blazeSteven Spielberg.

O desenho alçou Miyazaki a novos patamaresbrabet blazefama e influência.

Os temas turbulentos do filme, que o próprio Miyazaki havia duvidado que se transformariabrabet blazeentretenimento, claramente tocaram muito a sociedade japonesa — embora seu sucesso também possa ser atribuído a uma habilidosa campanhabrabet blazemarketing elaborada pelo produtor Toshio Suzuki, que fez ainda um acordo com a Walt Disney Corporation para distribuir os filmes do Studio Ghiblibrabet blazetodo o mundo, incluindo uma versão dubladabrabet blazePrincesa Mononoke nos Estados Unidos.

A animação foi considerada adulta demais para ser lançada com o selo da Disney. Por isso, ela foi transferida para a Miramax, subsidiária da Disney, chefiada pelo então produtor Harvey Weinstein, agora preso por estupro e agressão sexual, que tinha a reputaçãobrabet blazepegar filmesbrabet blazearte estrangeiros e cortá-losbrabet blazeforma a agradar o mercado doméstico (pelo menos, nabrabet blazevisão).

Mas o contrato assinado entre o Studio Ghibli e a Disney tinha uma condição: o filme Princesa Mononoke, que tem duraçãobrabet blazepouco maisbrabet blazeduas horas, não poderia ser cortado,brabet blazenenhuma forma. E esta cláusula acabaria sendo questionada.

No livro intitulado Sharing a House with the Never-Ending Man, sobre o tempobrabet blazeque trabalhou no Studio Ghibli ajudando a vender animações para o Ocidente, o executivo cinematográfico Steve Alpert relembra um momentobrabet blazeque Suzuki presenteou Weinstein com uma réplica perfeitabrabet blazeuma espada samurai japonesa.

Em seguida, diantebrabet blazeuma salabrabet blazereunião lotadabrabet blazefuncionários da Miramax "horrorizados", ele "gritou alto ebrabet blazeinglês: 'Princesa Mononoke, SEM CORTES!'"

Lady Eboshi (no centro) com outros personagens do filme

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Legenda da foto, A caracterizaçãobrabet blazeLady Eboshi (ao centro), que é ao mesmo tempo uma líder generosa e destruidora do meio ambiente, é um exemplo da complexidade do filme

O processobrabet blazecriaçãobrabet blazeuma versãobrabet blazeinglêsbrabet blazePrincesa Mononoke que agradasse a todos foi conturbado. Neil Gaiman, que adaptou o roteiro japonês, relembra ter ficadobrabet blazeuma "corda bamba singular" entre as exigências da Miramax e do Studio Ghibli.

"Você estava lidando com uma companhia cinematográfica nos Estados Unidos onde todos eram muito literais, e uma companhia cinematográfica no Japão, onde ser literal era a última coisa que passava na mente das pessoas", diz ele.

Gaiman relembra uma reunião específica com a Miramax,brabet blazeque pareciam ter dificuldade para lidar com o conceitobrabet blazeum filmebrabet blazeanimação que não conduzisse a audiência pela mão. Eles queriam saber se Lady Eboshi era do bem ou do mal e se Shishigami era um deus bom ou mau.

"Miyazaki produziu um filmebrabet blazeque não havia personagens do mal", afirma.

"Só havia consequências. Lady Eboshi oferece abrigo para profissionais do sexo e pessoas com lepra, mas os resultados do que ela está fazendo desequilibram tudo. Você tem tudo isso e, ao mesmo tempo, a Miramax pergunta: 'Como vamos saber que Ashitaka é um príncipe? Ele não morabrabet blazeum palácio'. E eu respondo: 'Porque ele é o Príncipe Ashitaka'."

E os conflitos não paravam por aí. O livrobrabet blazeAlpert detalha que a Miramax queria acrescentar seus próprios efeitos sonoros ao filme, defendendo que havia momentos calmos demais e que o público americano iria pensar que o som do cinema estava com defeito.

Estes efeitos incluíam borboletas que emitiam sons cintilantes enquanto batiam suas asas e, nas palavrasbrabet blazeAlpert, "o sombrabet blazeuma nuvem passando". Foram vetados.

Enquanto isso, o roteirobrabet blazeGaiman passou por diversas revisões, mas a versão que acabou sendo gravada primeiro — por um elencobrabet blazevozes americanas que incluía os atores Claire Danes e Billy Bob Thornton — foi feita por alguém cujo trabalho era garantir que as palavras se alinhassem com os movimentos da boca dos personagens.

"Em vez disso, ele se encarregoubrabet blazereescrever todo o roteiro. E esta foi a versão apresentada para um públicobrabet blazeteste — e vaiada", conta Gaiman.

Quando o erro foi descoberto, o diretorbrabet blazevozes Jack Fletcher só conseguiu gravar novamente pouco mais da metade do roteiro.

As diferenças culturais e comerciais

Princesa Mononoke não teve muito sucesso nos Estados Unidos, onde arrecadou apenas US$ 2,3 milhões (cercabrabet blazeR$ 12,3 milhões)brabet blazebilheteria. Existe a noção popularbrabet blazeque o público americano, criado com as animações da Disney — feitas para o grande público e repletasbrabet blazemúsicas e danças — simplesmente não estava pronto para uma animação como esta.

O próprio Miyazaki provavelmente defende esta opinião. Em 1988,brabet blazeuma palestra sobre animação japonesa, ele afirmou: "Há poucas barreiras para entrarbrabet blazefilmes [de animação] — eles convidam a todos —, mas as barreiras para sair devem ser altas e refinadas... a barreira para a entrada e a saída dos filmes da Disney é muito baixa e muito larga. Para mim, eles não mostram nada — apenas desprezo pela audiência."

"Os Estados Unidos ainda têm um sistemabrabet blazevalores binários muito maniqueísta — bom, mau, branco, preto — e que é incorporado à fórmula da Disney", avalia Napier.

"Eles normalmente terminam com um romance, todos vivem felizes para sempre e isso é uma parte fundamental do sonho americano."

"Mas a cultura japonesa é mais baseada no sentidobrabet blazeimpermanência. Existe um ciclo e uma sensaçãobrabet blazeque você precisa usufruir do que tem. Este não é necessariamente um mundo ruim, mas é um mundo complicado", explica.

Yoshioka acrescenta que "este sempre foi um problema quando tentamos exportar animações japonesas para os Estados Unidos. Eles têm essa mentalidadebrabet blazeque a animação é para crianças — possivelmente criada porbrabet blazeassociação com os desenhos animados das manhãsbrabet blazesábado — e precisa ser nivelada por baixo."

Ele relembra que, "nos anos 1980, quando a animação Nausicaä do Vale do Vento,brabet blazeMiyazaki, foi exportada para os Estados Unidos, ela foi transformadabrabet blazeuma história muito simples do bem contra o mal, o que deixou Miyazaki enfurecido. É por isso que agora ele insiste que nada deve ser alterado quando exportado para os Estados Unidos."

Mas Gaiman não está totalmente convencido destes argumentos.

"Não acho que saí pensando: 'OK! [Existe um] fosso enorme entre os Estados Unidos e o Japão'. O que eu concluí foi que existe um fosso enorme entre o que Miyazaki está fazendo e o cinema comercial americano."

Falhasbrabet blazemarketing

Gaiman acredita que tudo o que saiu errado com Princesa Mononoke "se resumiu à mesquinhariabrabet blazeHarvey Weinstein". Ele conta como, depois da primeira apresentação oficial do filme no Festivalbrabet blazeCinemabrabet blazeNova York, Weinstein informou a Gaiman que planejava não cumprir o acordo feito com a Disneybrabet blazenão cortar o filme.

Os pequenos espíritos livres (os Kodamas) aparecem na cena mais sublimebrabet blazenaturezabrabet blazeação do filme

Crédito, Alamy

Legenda da foto, Os pequenos espíritos livres (os Kodamas) aparecem na cena mais sublimebrabet blazenaturezabrabet blazeação do filme

"Ele disse: 'precisamos cortar 40 minutos'. Eu respondi: 'Harvey, você perdeu esta batalha antes do filme chegar até você. Contratualmente, você não pode cortar um quadro sequer.' E ele respondeu: 'Sim, mas precisamos que tenha 90 minutos. Vou falar com Miyazaki esta noite, e ele vai concordar.'"

Isso aconteceu durante um jantar comemorativobrabet blazeum restaurante cubano. Gaiman relembra que Weinstein deu a notícia a Miyazaki e Suzuki enquanto eles fumavam do ladobrabet blazefora.

"Miyazaki e Suzuki não voltaram", diz Gaiman.

"Eu perguntei a Harvey o que eles haviam dito. Ele respondeu: 'Bem, disseram não, mas vão mudarbrabet blazeideia. Amanhã sai a crítica do New York Times dizendo que é longo demais. E então eles vão me ouvir.'"

A crítica do jornal americano The New York Times, assinada pela experiente jornalista Janet Maslin, classificou Princesa Mononokebrabet blaze"feito histórico da animação japonesa", com imagens, como a das flores e plantas que brotam sob os cascosbrabet blazeShishigami, que são "simples, significativas e apresentadasbrabet blazeforma arrebatadora".

Nenhuma menção foi feita à longa duração do filme.

"De repente, a próxima coisa que ouço é que o pomposo lançamento e a campanha gigantebrabet blazemarketing que haviam sido planejados para Princesa Mononoke não iriam acontecer. A animação seria apresentadabrabet blaze10 cidades sem publicidade específica. Harvey nem sequer compareceu à estreiabrabet blazeHollywood", conta Gaiman.

"Não vejo nenhuma razão para que Princesa Mononoke não pudesse ter sido lançado com desempenho muito bom", acrescenta.

"Mas você teria que ter enviado pessoas para explicar o que era aquilo."

Neil Gaiman cita a campanhabrabet blazemarketingbrabet blazeCoraline e o Mundo Secreto, a adaptação do seu próprio livro infantil para o cinema. A projeção erabrabet blazeque a animação arrecadaria US$ 6 milhões (cercabrabet blazeR$ 32 milhões) no primeiro fimbrabet blazesemana, mas arrecadou US$ 16 milhões (aproximadamente R$ 86 milhões).

"E a razão para isso é que tivemos uma empresabrabet blazerelações públicas que decidiu divulgar para vários pequenos grupos, não apenas pais e filhos. Eu olho para Mononoke e acho que, se tivessem buscado as pessoas que gostambrabet blazefilmes estrangeiros, que gostam da cultura japonesa, fãsbrabet blazeanimação ebrabet blazeterror, poderia ter se tornado um fenômeno."

Novas animações — e o Oscar

O relativo fracasso do lançamentobrabet blazePrincesa Mononoke fez com que a Disney perdesse a confiança no sucessobrabet blazefuturos lançamentos do Studio Ghibli. Mas o então chefe da Pixar, John Lasseter, discordava e assumiu o lançamento nos Estados Unidos da animação seguintebrabet blazeMiyazaki: A Viagembrabet blazeChihiro (2001).

Lasseter defendia Miyazaki há muito tempo e, certa vez, escreveu como ele o havia inspirado a "reduzir a velocidade da ação"brabet blazeanimações como Vidabrabet blazeInseto e Toy Story 2.

Ainda assim, mais uma vez, apesar do novo recordebrabet blazebilheteria no Japão (arrecadando US$ 304 milhões, ou cercabrabet blazeR$ 1,63 bilhão), a versãobrabet blazeinglês — dirigida por Kirk Wise,brabet blazeA Bela e a Fera — arrecadou apenas US$ 10 milhões (aproximadamente R$ 54 milhões) nos Estados Unidos.

Mas A Viagembrabet blazeChihiro ganhou o segundo Oscarbrabet blazemelhor filmebrabet blazeanimação concedido pela Academia (Shrek foi o primeiro vencedor), embora Miyazaki tenha se recusado a comparecer à cerimônia,brabet blazeprotesto contra a Guerra do Iraque.

Princesa Mononoke abriu um capítulo emaranhado,brabet blazemaior consciência social, na carreirabrabet blazeHayao Miyazaki. Um exemplo foi O Castelo Animado,brabet blaze2004, produzido com base no protestobrabet blazeMiyazaki no Oscar, com uma história pacifista inspirada pelas invasões do Iraque e do Afeganistão.

Já o seu longabrabet blazeanimação mais recente, Vidas ao Vento,brabet blaze2013, foi uma biografia,brabet blazegrande parte fictícia, do engenheiro japonês Jiro Horikoshi, que vê seu novo projetobrabet blazeaeronave transformado no aviãobrabet blazecombate Mitsubishi A5M, usado pelo Japão na Segunda Guerra Mundial.

Desafiando ostensivamente o mercado da Disney, cada uma destas duas animações arrecadou cercabrabet blazeUS$ 5 milhões (aproximadamente R$ 27 milhões) nos Estados Unidos.

Shishigami

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Legenda da foto, Shishigami, o espírito da floresta, representa o ciclo da vida e da morte, central para a visão do filme

Por que é mais relevante do que nunca

"Princesa Mononoke é agora mais relevante do que nunca", diz Neil Gaiman.

"Nós passamos anos com as pessoas dizendo: 'Esse negóciobrabet blazeclima vai ser um enorme problema'. E, agora, estamos começando a ver o resultado e dizer: 'OK, perdemos realmente o controle por aqui e só vai piorar'. E o que fazemos agora? Como sobrevivemos?"

"Estamos como as pessoas na Cidade do Ferro, tentando descobrir. Exceto que, na verdade, não estamos cuidando tanto das profissionais do sexo e das pessoas com lepra", explica.

Mas o que faz com que Princesa Mononoke seja uma obrabrabet blazearte tão profunda e duradoura é que Miyazaki, mesmo com seu desgosto incontestável com o curso da humanidade, vêbrabet blazemisantropia dar lugar a uma sincera crença na resiliência da natureza e do espírito humano.

É possível ver isso no final ambíguo do filme, quando Shishigami — manifestação viva do ciclobrabet blazevida e morte — ameaça envolver a terra nas trevas depois que Lady Eboshi cortabrabet blazecabeça. Mas, da morte, surge uma nova vida: plantas brotam novamente, Ashitaka é curado e um único Kodama sobrevive — um lembretebrabet blazeque a natureza estava aqui antesbrabet blazenós e vai perseverar por muito tempo depois que não estivermos mais por aqui.

"Shishigami não pode morrer", diz Ashitaka a San. "Ele é a própria vida. Ele é a vida e a morte. E está nos dizendo que devemos viver."

É reflexobrabet blazeum tema recorrente nas obras posterioresbrabet blazeMiyazaki: um sinalbrabet blazealerta para as crianças, e talvez para si próprio, que, não importa o quanto o mundo fique ruim, não importa o quanto seja tentador cair no fatalismo ou no desespero, é preciso continuar.

"A vida é sofrimento e dor", diz para Ashitaka um homem com lepra, com seu rosto envoltobrabet blazeataduras.

"O mundo e as pessoas estão amaldiçoados. Mesmo assim, desejamos viver."

brabet blaze Leia a versão original desta reportagem (em inglês) brabet blaze no site BBC Culture brabet blaze .

brabet blaze Este texto foi originalmente publicadobrabet blazehttp://vesser.net/vert-cul-62306990

Línea

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