Como ossadasaposta gratis no cadastroobra do metrô reacenderam mitoaposta gratis no cadastrovalasaposta gratis no cadastropeste negraaposta gratis no cadastroLondres:aposta gratis no cadastro
Duzentos anos mais tarde, mais precisamenteaposta gratis no cadastro1863, Londres abriuaposta gratis no cadastroprimeira linhaaposta gratis no cadastrometrô - e também a primeira do mundo. No final do século 19, uma verdadeira teiaaposta gratis no cadastroaranhaaposta gratis no cadastrotrilhos ligava estações tão distantes como Bank e Shepherd's Bush ou Hammersmith e Mansion House.
Quem olha para essas rotas vai perceber algo estranho. Elas não fazem o caminho mais direto entre A e B. Em vez disso, elas serpenteiam. É como se tentassem evitar alguma coisa. Não demorou muito para que se ligassem os pontos.
A história diz que, quando engenheiros começaram a traçar o percurso das linhas férreas subterrâneas, eles tentaram evitar os "poços da praga" - ou porque não queria perturbar os mortos ou porque havia restos mortais demais acumulados para possibilitar a escavaçãoaposta gratis no cadastrotúneis.
Diversas fontesaposta gratis no cadastropesquisa suportam esse argumento. Em seu livro Necrópole: Londres e Seus Mortos, publicadoaposta gratis no cadastro2006, Catharine Arnold diz que escavações para a linha Piccadilly, por exemplo, depararam-se com uma vala comum tão densa que o traçado entre Knightsbridge e South Kensington foi feitoaposta gratis no cadastrocurva,aposta gratis no cadastrovezaposta gratis no cadastroreto.
Um mapa dos "poços da praga" criado pelo grupo Historic UK - bastante usado como referência por jornais britânicos como Daily Mail e Telegraph - diz que uma linhaaposta gratis no cadastrotrilhos para manobrasaposta gratis no cadastroElephant & Castle é bloqueada por um "poço" desses, e que as obras para a linha Victoria Line atravessaram outro sob Green Park.
"O sistemaaposta gratis no cadastrometrô atravessa vários cemitérios e poçosaposta gratis no cadastropraga", disse o conhecido biógrafo e autor Peter Ackroydaposta gratis no cadastroseu livro London Under,aposta gratis no cadastro2012.
Mas será que as ossadas realmente afetaram o desenho do metrô? É provável que não.
Muitos historiadores especializados no sistemaaposta gratis no cadastrotransporteaposta gratis no cadastroLondres dizem nunca ter encontrado menções às valas comuns. "Em todo meu trabalho, jamais encontrei evidênciasaposta gratis no cadastroque os 'poços da praga' tenham influenciado as obras do metrô", diz o historiador Mike Horne.
Scott Wood teve a mesma conclusão. "Entreiaposta gratis no cadastrocontato com os arquivos da Secretariaaposta gratis no cadastroTransporteaposta gratis no cadastroLondres e fui informadoaposta gratis no cadastroque não havia qualquer referência específica às valas comuns", diz Wood, autoraposta gratis no cadastroum livro especializadoaposta gratis no cadastro lendas urbanasaposta gratis no cadastroLondres.
E mais: com exceçãoaposta gratis no cadastrodocumentos ligados à construção da estação ferroviáriaaposta gratis no cadastroSt. Pancras,aposta gratis no cadastro1860, especialistas jamais encontraram menções a restos mortais humanosaposta gratis no cadastropesquisas sobre a construção do metrô. "Nunca me deparei com histórias sobre corpos ou esqueletos", diz o jornalista e pesquisador Christian Wolmar.
Os especialistas explicam que as curvas nos trilhos não são um desvioaposta gratis no cadastro"poçosaposta gratis no cadastropraga", mas resultamaposta gratis no cadastrouma questãoaposta gratis no cadastrocusto. A construção das primeiras linhasaposta gratis no cadastrometrô exigiu uma imensa desapropriação -aposta gratis no cadastro1860, por exemplo, a companhia Metropolitan Railway comprou e demoliu pelo menos mil casas para fazer a ligação entre King's Cross e Farringdon.
Como resultado, sempre que possível, as empreiteiras escavavam terrenos públicos. Isso já serve para esvaziar bastante as teorias mais radicais para explicar o desenho das linhas do metrô. O exemploaposta gratis no cadastroSouth Kensington-Knighstbridge é explicado muito mais pelo traçado da via pública Brompton Road do que possíveis valas comuns.
Mas como explicar as menções feitas por Catharine Arnold? "É anedótica. Foi um ex-namorado que me contou", diz ela.
Analistas dizem ainda que seria estranho que a Piccadilly Line fosse encontrar algum "poço da praga". Uma das últimas linhas a serem construídas, ela foi escavada mais fundo que as primeiras, percorrendo trechosaposta gratis no cadastropelo menos 12 m a 25 maposta gratis no cadastroprofundidade. Isso ficaaposta gratis no cadastrouma profundidade bem maior que muitas supostas valas comuns.
"A noçãoaposta gratis no cadastroque uma linha seria desviada por causaaposta gratis no cadastrouma vala comum me parece um pouco idealista demais. O mais provável é que as obras simplesmente tivessem passado por cimaaposta gratis no cadastrotudo", afirma o historiador especializadoaposta gratis no cadastroarquitetura urbana David Long.
Em uma análise dos arquivos do Museu do Transporteaposta gratis no cadastroLondres, é possível encontrar menções sobre descobertasaposta gratis no cadastrorestos humanos, mas nãoaposta gratis no cadastrovítimas da praga. Em 1992, 160 esqueletos, a maioria delesaposta gratis no cadastromulheres e bebês, foram removidosaposta gratis no cadastroum cemitério do século 19 durante as obrasaposta gratis no cadastroextensão da linha Jubilee.
Dois anos mais tarde, 647 túmulos foram escavados quando obras para a construçãoaposta gratis no cadastroum depósitoaposta gratis no cadastrotrensaposta gratis no cadastroStratford toparam com o cemitério da Abadiaaposta gratis no cadastroSaint Mary, que tinha sido demolida no século 16.
Mas o que dizer dos primeiros dias do metrô? Em um livroaposta gratis no cadastro328 páginas sobre os debates parlamentares envolvendo as obras do metrô no século 19, há um trecho que se refere à descobertaaposta gratis no cadastrorestos mortais durante a construção do trecho da linha Metropolitan entre Paddington e King's Cross,aposta gratis no cadastro1862.
"Muito da escavação foi feitoaposta gratis no cadastromeio a poeira e detritosaposta gratis no cadastroeras passadas, que,aposta gratis no cadastroalguns pontos, estão a 8 maposta gratis no cadastroprofundidade. Restos mortais humanos foram encontrados e o pagamento foi feito à London Necropolis Company paraaposta gratis no cadastroremoção e sepultamento. Ossosaposta gratis no cadastrogente que morreu antes da invenção da ferrovia viajaramaposta gratis no cadastrotrem", diz o texto.
Jornais do século 19 mencionam cartasaposta gratis no cadastroleitores pedindo explicações às companhiasaposta gratis no cadastrotrem sobre o tratamento a restos mortais encontrados, com as empresas prometendo enterros dignos. Mas isso se referia aos vários cemitériosaposta gratis no cadastroigrejas "invadidos" pelas companhiasaposta gratis no cadastrotrem para as obras.
Diante do fatoaposta gratis no cadastroque inúmeras igrejasaposta gratis no cadastroLondres foram destruídas pelo Grande Incêndioaposta gratis no cadastro1666, não seria algo completamente extraordinário que operários se deparassem com ossosaposta gratis no cadastroescavações na cidade - igrejas foram por séculos os principais cemitérios britânicos.
Mas as linhasaposta gratis no cadastrotrem não parecem até agora ter atingido os "poços da praga". Isso porque essas valas comuns eram mais raras do que muita gente pensa: vítimas da peste eram enterradasaposta gratis no cadastrocemitérios quando havia disponibilidade, usualmenteaposta gratis no cadastropátiosaposta gratis no cadastroigreja, assim como pessoas mortasaposta gratis no cadastrooutras causas.
"A praga foi uma experiência terrível para os londrinos, masaposta gratis no cadastrocerta maneira eles se ativeram aos hábitos que lhe traziam estabilidade e conforto. Uma delas era dar um enterro adequado aos mortos", explica Vanessa Harding, historiadora da Universidadeaposta gratis no cadastroLondres.
Harding diz não haver muitas valas comuns fugindo a essas características. "As pessoas pensam que, toda vez que se encontram corposaposta gratis no cadastroescavações, é porque se trataaposta gratis no cadastroum 'poço da praga'. Mas o problema é que eles não eram tão disseminadosaposta gratis no cadastroLondres assim como se pensa. As valas comuns se concentravam perto do centro financeiro e do West End. E a maioria delas tinhaaposta gratis no cadastrolocalização conhecida".
Isso significa que uma grande númeroaposta gratis no cadastro"famosos poços da praga" não têm base histórica ou mesmo arqueológica. Houve rumores, mas não há provasaposta gratis no cadastroque existiram.
Ainda não está claro como foi que a lenda acabou ganhando força, mas não ajuda muito que autores conhecidos como Catharine Arnold se baseassem nesses rumores. Até porque o livro dela costuma ser recomendado como fonte para artigos sobre a históriaaposta gratis no cadastroLondres e seus mortos.
E as lendas só têm crescido:aposta gratis no cadastrojunho deste ano, quando um passageiro do metrô publicou o vídeoaposta gratis no cadastrouma "aparição" na Piccadilly Line entre Knightsbridge e South Kensington, o tabloide Daily Express publicou uma reportagemaposta gratis no cadastroque médiuns falavamaposta gratis no cadastroum "espíritoaposta gratis no cadastrouma vítima da peste negra".
É justamente o tal trechoaposta gratis no cadastroque a linha faz uma curva para evitar uma vala comum, e que no artigo do Express, serve como exemploaposta gratis no cadastrocomo "a direçãoaposta gratis no cadastromuitos túneis do metrôaposta gratis no cadastroLondres foram influenciados pelas vítimas da doença".
Mas a culpa não pode somente ser atribuída a escritores contemporâneos como Arnold. Parte da confusão se deve a escritores do século 17.
Até Daniel Defoe - celebrado autoraposta gratis no cadastroRobinson Crusoé - lista,aposta gratis no cadastroDiárioaposta gratis no cadastroUm Anoaposta gratis no cadastroPeste, um grande númeroaposta gratis no cadastrovalas. Mas Defoe era uma criançaaposta gratis no cadastro1665 e muitos hoje consideram seu relato uma obraaposta gratis no cadastroficção histórica.
Jay Carver, arqueólogo a serviço das obras do Crossrail, uma imensa extensão ferroviária-metroviária que está sendo construídaaposta gratis no cadastroLondres e no sudeste britânico, chama a atenção para o fatoaposta gratis no cadastroque alguns relatos sobre a epidemiaaposta gratis no cadastropeste bubônicaaposta gratis no cadastro1347-48 teria resultado no enterroaposta gratis no cadastro50 mil vítimasaposta gratis no cadastroCharterhouse Square.
Há dois anos,aposta gratis no cadastroequipe escavou lá. "Claramente, trata-seaposta gratis no cadastroum grande exagero, pelo que vimos. Para nós, parece mais que 5 mil foram enterrados lá", explica.
Isso, porém, não quer dizer que as histórias sejam totalmente inverídicas.
Os túneis do Crossrail estão sendo escavadosaposta gratis no cadastrograndes profundidades, e evitam grande parte da arqueologiaaposta gratis no cadastroLondres. As exceções são os locaisaposta gratis no cadastroque os túneis entram no solo, além dos poçosaposta gratis no cadastroelevadores e as estações. Carver diz que essas exceções respondem por 40 locais na cidade, todos devidamente investigados.
Apenasaposta gratis no cadastrodois deles - Charterhouse Square,aposta gratis no cadastro2013, e a estação ferroviária aposta gratis no cadastroLiverpool Street -, foram encontrados restos humanos.
E nenhum deles foi uma surpresa. Em Charterhouse Square, por exemplo, ossos tinham sido encontrados durante obras na redeaposta gratis no cadastroesgotosaposta gratis no cadastro1834 e 1861, bem comoaposta gratis no cadastroobras ferroviáriasaposta gratis no cadastro1865 e 1885.
A primeira descoberta arqueológicaaposta gratis no cadastrovítimas da pragaaposta gratis no cadastro1665 ocorreu no ano passado, durante as obras do Crossrail. Cercaaposta gratis no cadastro3,5 mil esqueletos foram escavados no local do Bedlam Cemetery, um cemitério dos séculos 16 e 17 hoje embaixoaposta gratis no cadastroLiverpool Street.
Todos estavam enterrados separadamente, exceto 42 indivíduos que pareciam estaraposta gratis no cadastrouma vala comum. Mas eles tinham sido colocadosaposta gratis no cadastrocaixões empilhados e dispostos umaposta gratis no cadastrocima do outro, e só passaram a impressãoaposta gratis no cadastroterem sido enterradosaposta gratis no cadastrouma vala após o apodrecimento da madeira.
É como se tivessem ido para abaixo da terra às pressas e no mesmo dia. Examesaposta gratis no cadastroDNA recentes velaram que todas essas 42 ossadas tinham indícios das bactérias que causam a peste bubônica. Tratam-se das únicas vítimas confirmadas da pragaaposta gratis no cadastro1665aposta gratis no cadastrotodo o Reino Unido.
Os mortos podem não ter alterado o formato da malha ferroviáriaaposta gratis no cadastroLondres, mas ossosaposta gratis no cadastroquem ainda estáaposta gratis no cadastroseus locaisaposta gratis no cadastrorepousos são testemunhas silenciosas do intenso tráfego subterrâneo da cidade.
aposta gratis no cadastro Leia a versão original dessa reportagem aposta gratis no cadastro (em inglês) no site BBC Auto aposta gratis no cadastro .