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Como a investigaçãobetesporte baixarum crime brutal marcou uma policial ebetesporte baixarfilha:betesporte baixar
Neste texto, a BBC Brasil mostra como um crime brutal tem, muitas vezes, um impacto que vai além das famílias diretamente envolvidas.
São duas vozesbetesporte baixarum mesmo trauma, que só vieram à tona graças ao alcance e ao diálogo direto entre redação e leitores permitido pelas mídias sociais:
'Minha mãe ficou inconsolável' com a brutalidade do crime - Amanda Marilise, via Facebook
"Eu nunca vou esquecer esse caso. Certo dia, minha mãe, que é policial civil, chegoubetesporte baixarcasa com a fisionomia muito abatida. Eu, na época, com pouco maisbetesporte baixar10 anosbetesporte baixaridade, sabia que tinha sido mais um daqueles 'dias difíceis' no trabalho.
No meio da noite, quando levantei pra usar o banheiro, ela estava chorando inconsolável na cozinhabetesporte baixarcasa, e, quando me viu, me puxou pra ela e chorou ainda mais... Ela dormiu comigo e com meu irmão caçula naquela noite. Depois, eu soube que ela foi uma dos policiais que encontrou Marielma, e eu lembro o quanto aquele caso tirou o sono da minha mãe...
Ela sofreu com tamanha brutalidade do que viu, se perguntou várias vezes como o ser humano era capazbetesporte baixartanta maldade assim com uma criança. Eu sei que esse foi sem dúvida um dos casos mais marcantes da carreira da minha mãe como PC/PA (Polícia Civil do Pará), daqueles que marcam a alma.
Aquilo me chocou e sempre me vejo pensandobetesporte baixaralguns flashs. Eu conhecia meninas que trabalhavambetesporte baixarcasabetesporte baixarfamília naquela idade. Alguns pais dão os filhos na melhor das intenções, para que eles tenham roupa e se alimentem bem, mas não é isso o que acontece.
(Minha mãe) continua trabalhando como policial civil, agora na área administrativa. Ela contribuiu durante pelo menos 15 anos ativamente nas ruas. Já viu e passou por tantas coisas... Mas acho que esse caso a inquietou bastante pelo estadobetesporte baixarque a menina estava - pelo que sei foi realmente uma cena chocante, ela estava cheiabetesporte baixarmarcas pelo corpo e o abuso sexual era evidente,betesporte baixartal forma que não acho nem correto escrever detalhes aqui pra vocês...
O que mais dói é ler que um desses assassinos agora está solto por aí! Muito triste e revoltante que isso ainda aconteça, o sentimentobetesporte baixarimpunidade é inevitável."
'Eu olhava a minha filha dormindo e pensava naquela criança no IML' - Marilene Freitas, policial civil
"Eu tinha 11 anosbetesporte baixarexperiência como policial civil na época do crime. Mas jamais tinha visto uma criança naquela situação.
Eu estava no plantão quando chegou a denúnciabetesporte baixarque uma criança teria morrido após cair no banheiro enquanto tomava banho e bater a cabeçabetesporte baixaruma pedra. A mulher que se apresentou como mãe da vítima e fez a denúncia chorava muito. Fomos averiguar.
Assim que eu entrei na casa, senti um cheirobetesporte baixarsangue. O cheiro me perseguiu desde a entrada, passando pelo corredor até o banheiro, o último cômodo.
A pedra estava lá, naquele cômodo pequeno, ao lado do chuveiro. Quando vimos a menina, percebemos que tinha algo mais alémbetesporte baixarapenas uma queda. Mas não falamos nada porque não cabe a nós dizer nada. Quem diz é a perícia.
Mas, à primeira vista, era possível perceber alguns hematomas na criança, um indíciobetesporte baixarque ela não morreu sozinha. Um médico amigo da família chegou ao local e disse que a garota estava morta. Eu perguntei, então, porque a família não prestou socorro. Mesmo que a criança esteja morta, a gente ainda corre com a criança para o médico.
Em seguida, a mulher que se dizia mãe da garota foi descoberta como a pessoa que 'pegou' a menina para trabalhar na casa dela. Eu falei para a delegada que achei aquilo muito estranho. O resultado da primeira perícia foibetesporte baixarque a vítima tinha sido estuprada várias vezes.
Eu tinha percebido sinaisbetesporte baixarmuita violência quando o corpo foi removido, mas me contive e fiquei fria. Foi uma cena deplorável. Me veio à mente o comportamento maldoso quando vi que ela estava sóbetesporte baixarcalcinha. Quem toma banhobetesporte baixarcalcinha?
Fiquei imaginando como um ser humano poderia fazer aquilo com outro ser humano, uma criança. Desde o início havia essa suspeita e eu fui a mais veemente contra o casal que morava na casa. Eu disse para a delegada que tinha alguma coisa estranha e pedi para não deixarem eles irem embora. Se não fosse isso, eles teriam fugido, mas foram presos na mesma hora e negaram o crime a vida inteira.
Passamos a noite inteira no caso, mas quando chegamos no dia seguinte à delegacia e vimos as fotos da perícia feita pelo Instituto Médico Legal (IML), não teve como aguentar.
Quando eu chegueibetesporte baixarcasa, não falei nada. Mas minha filha acordoubetesporte baixarmadrugada e, quando a gente se abraçou, eu chorei. Então, comecei a relatar o caso com se eu estivesse conversando com um adulto.
Apesarbetesporte baixarela ter apenas 11 anos na época, a mesma idade da vítima, ela sempre se inteiroubetesporte baixartudo. Ela era muito inteligente e eu me confidenciava com ela porque eu não era casada e a Amanda era minha companhia.
No dia seguinte, ela estava almoçando e, com as lágrimas caindo, me perguntou: 'Mamãe, será que a Marielma está no céu?'. Respondi: 'Com certeza'. Esse momento ficou dentrobetesporte baixarmim. Nunca vou esquecer.
Dias depois, ela disse: 'Mãe, o relato tocou tanto dentrobetesporte baixarmim que eu já orei para essa menina muitas vezes.'
Semelhanças
Com o passar dos dias, eu olhava a minha filha dormindo e pensava naquela criança no IML. Mesma idade, mesmo tamanho e até o rostinho era muito parecido com o da Amanda. Fora o meu outro filho, que também tinha 8 anos na época.
Eu me senti muito incapaz diante daquilo. Por que não cheguei meia hora mais cedo? Por que nenhum vizinho ligou para a polícia e disse que tinha uma criança gritando? A menina tinha cortes na orelha, feitos com tesoura ou faca. Será que ela não gritou?
No dia do crime, os vizinhos disseram à polícia que ouviam gritos durante sessõesbetesporte baixarmaus tratos contra a menina. A vizinhança inteira ouvia que a menina era torturada e ninguém tomava uma atitude. Isso é muito triste. Saber que as pessoas percebem esse tipobetesporte baixarcoisa e não tomam nenhuma atitude.
Me recordo que a casa onde a vítima foi encontrada tinha até um quarto destinado à tortura. No chão desse cômodo havia uma sériebetesporte baixarobjetos que foram sido usados para torturar aquela criança. Cabosbetesporte baixarvassouras quebrados, calcinhas com sangue e outras coisas. Roupas rasgadas. Parece que o fetiche dos criminosos era rasgar as roupas da pessoa.
A gente pensa: que defesa tem um humano desse? Eu já vi muitas mulheres pós-estupro, muitas mortas, mas houve uma tentativabetesporte baixardefesa. Agora, a criança não tinha o menor sinalbetesporte baixarque tentou se defender, nenhuma unha quebrada, nem arranhou segurando alguma coisa. Isso é muito triste e você compara com os filhos dentro dabetesporte baixarcasa e desaba no choro.
Na época do crime, eu fiquei lembrandobetesporte baixarmim mesma quando fui abusada por um dentista quando tinha 13 anos. Minha mãe mandou eu ir sozinha ao consultório e ele tentou pegar nos meus seios. Eu era esperta e percebi, mas isso não ocorre com todas as crianças.
Jamais me esqueci daquilo e nunca deixei meus filhos irem ao médico sozinhos. Até o motivobetesporte baixareu continuar solteira pode ter sido por isso. Eu nunca admiti padrastro para eles porque a gente fica apavorada. Isso mexe com a gente.
Depois do caso Marielma, todos esses fatos voltaram à minha mente. Foi um marco na minha vida.
Investigações
Desde então, eu entro na internet com frequência para acompanhar casosbetesporte baixarestupro infantil, morte infantil. Eu tenho quatro ou cinco nomesbetesporte baixarforagidos por cometer esses crimes, inclusive ele (Ronivaldo), que eu jogo sempre na internet,betesporte baixartodas as redes sociais, para ver se reencontro.
Como uma pessoa que cometeu um crime hediondo desse está solta? Será que ele está cometendobetesporte baixarnovo? Eu tenho esse prazerbetesporte baixarpegar esse tipobetesporte baixargente. Eu não deixobetesporte baixarmão. Se ele fugir mil vezes, a gente vai prender.
A sociedade tem que ajudar a acabar com esses crimes também. Os vizinhos ouviram a menina ser torturada. Que sociedade é essa que se cala, que não denunciou?
Poderiam ter falado: 'Olha, acho que tem uma menina ali perto da minha casa gritando'. Nós temos que cultivar essa atitude nas pessoas. Temos que nos imaginar no lugar do outro. Eu falo sempre isso para os meus filhos.
Se alguém me diz que tem uma suspeitabetesporte baixaralguma coisa, eu digo: 'Epa! Vamos ver o que é isso'. Não existe suspeita que vai ficar ilesa. Eu sou uma agentebetesporte baixarsegurança e tenho o deverbetesporte baixarfazer valer a vontade do Judiciário, que disse que esse homem deveria estar na prisão. E não é difícil achar.
Eu fico preocupada porque as crianças são muito frágeis e não pedem socorro. Quem garante que essas pessoas não estão fazendo novas vítimas?"
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