‘O Menino Azul’: como pintura do século 18 se tornou símbolo do orgulho gay:casinoestorilsol

Quadro 'O Menino Azul',casinoestorilsolThomas Gainsborough

Crédito, Huntington Library, Art Museum e Botanical Gardens

Legenda da foto, Poucos quadros na história da arte tornaram-se um símbolo tão poderosocasinoestorilsolidentidadecasinoestorilsolgênero não conformista e da atração pelo mesmo sexo quanto 'O Menino Azul',casinoestorilsolThomas Gainsborough

Em janeirocasinoestorilsol2022, o Menino Azul voltou para Londres depoiscasinoestorilsolcem anos e está sendo novamente exibido na Galeria Nacional, onde ficará exposto por cinco meses.

Mas quantos visitantes conhecem hojecasinoestorilsoldia a longa caminhada da pintura como símbolo do orgulho gay?

Quadro 'O Menino Azul',casinoestorilsolThomas Gainsborough

Crédito, Huntington Library, Art Museum e Botanical Gardens

Legenda da foto, 'O Menino Azul' era um símbolo quando foi levado do Reino Unidocasinoestorilsol1922 e assumiu um novo significado um século depois

Valerie Hedquist, professoracasinoestorilsolHistória da Arte da UniversidadecasinoestorilsolMontana, nos Estados Unidos, escreveu extensamente sobre o quadro e seu papel como ícone da comunidade gay.

Em parte, esta é uma históriacasinoestorilsolconsequências imprevistas ecasinoestorilsolcomo os artistas perdem o controle das suas criações depois que elas entram para o imaginário coletivo.

Hedquist contou à BBC que, quando Thomas Gainsborough pintou O Menino Azul,casinoestorilsoltornocasinoestorilsol1770, "ele era mais uma obracasinoestorilsoldemonstração para exibir os seus talentos".

Acredita-se que o menino seja o sobrinho do artista, Gainsborough Dupont,casinoestorilsolvestes aristocráticas do século 17,casinoestorilsolhomenagem a Sir Anthony van Dyck — um artista cujas técnicas e composições eram admiradas por Gainsborough.

Quadro ilustrando Lorde John Stuart e seu irmão, Lorde Bernard Stuart

Crédito, The National Gallery, Londres

Legenda da foto, 'O Menino Azul' foi pintadocasinoestorilsolhomenagem a Sir Anthony van Dyck, autor deste quadro ilustrando Lorde John Stuart e seu irmão, Lorde Bernard Stuart, pintadocasinoestorilsolcercacasinoestorilsol1638

Em 1770, a pose do Menino Azul teria sido interpretada pelas pessoas como nobre, sinalizando um exemplocasinoestorilsolfuturo marido e pai.

Ele estácasinoestorilsolpécasinoestorilsolposiçãocasinoestorilsolautoridade conhecida como contrapposto, muito utilizada na arte clássica.

O cotovelo saliente é outra pose muito empregada nos retratos da arte europeia, descrita pela historiadora Joaneath Spicer como "indicando essencialmente arrojo ou controle — e, portanto, o autodefinido papel masculino".

Escultura clássica

Crédito, The Minneapolis Institute of Art

Legenda da foto, A pose do 'Menino Azul' é a mesmacasinoestorilsolesculturas clássicas — considerada o ápice da elegância masculina no século 18

Mas, para Hedquist, a ideiacasinoestorilsolque o menino da pintura está vestindo uma fantasia e representando é fundamental para suas reavaliações posteriores. Segundo ela, "o Menino Azul é um convite à representação".

Esse processo começou no palco no século 19, com a representação do "Pequeno Menino Azul"casinoestorilsolpeçascasinoestorilsolteatro pantomimas, frequentemente vestido com as sedas, bermudas e colarinhocasinoestorilsolrendas do Menino AzulcasinoestorilsolGainsborough. E esse personagem era frequentemente representado por atrizes.

Este, segundo Hedquist, foi o início da "feminização" do Menino Azul. "No final do século 19", explica ela, "as revistas ficaram repletascasinoestorilsolilustraçõescasinoestorilsolmeninas vestidas como o Menino Azul".

Em 1922 — anocasinoestorilsolque a pinturacasinoestorilsolGainsborough ganhou um novo lar nos Estados Unidos —, Cole Porter apresentou seu musical Mayfair and Montmartre, com Nelly Taylor vestida como o Menino Azul surgindo teatralmentecasinoestorilsoluma moldura e cantando uma música chamada Blue Boy Blues.

Marlene Dietrich também se vestiu como o Menino Azul para uma comédia teatralcasinoestorilsol1927, enquanto Shirley Temple fez o mesmo para o filme Curly Top (A Pequena Órfã, no Brasil)casinoestorilsol1935.

Shirley Temple vestida como o Menino Azul no filme Curly Top (A Pequena Órfã, no Brasil),casinoestorilsol1935

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Shirley Temple vestida como o Menino Azul no filme Curly Top (A Pequena Órfã, no Brasil),casinoestorilsol1935

A pintura havia criado uma plataforma para ofuscar a identidadecasinoestorilsolgênero. O Menino Azul podia ser masculino ou feminino no mundo fluido das apresentações teatrais.

Para Hedquist, outra dimensão da história envolve o escritor irlandês e líder do Movimento Estético, Oscar Wilde. Wilde vestia-se com roupas extravagantes com inspiração histórica, frequentemente com bermudas, casacoscasinoestorilsolveludo, mantos e chapéuscasinoestorilsolabas largas,casinoestorilsolhomenagem a pintores como Gainsborough.

Em uma fotografia tirada pelo americano Napoleon Saronycasinoestorilsol1882, Wilde apresentou-se na mesma pose do Menino Azul,casinoestorilsolelegantes sapatos com fivelas e calças curtas.

Quando Wilde foi preso por ser homossexual,casinoestorilsol1895, ele se tornou o mais famoso homem assumidamente gay do mundo — e suas fotografias, tiradas por Sarony, foram proibidas.

Segundo Hedquist, "elas acabaram nos primeiros livros médicos que ensinavam às pessoas como reconhecer a homossexualidade".

Estava enraizada uma visão brutal e intolerante da atração pelo mesmo sexo, com base,casinoestorilsolparte, nas "indicações" visuais estereotipadas do Menino Azul.

Oscar Wilde

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, As roupas usadas por Oscar Wilde parecem ser derivadas da estética do 'Menino Azul'

Depois que o Menino Azul chegou aos Estados Unidos, ele ficou famoso e apareceucasinoestorilsolcerâmicas, tecidos e milharescasinoestorilsolreproduções impressas. A forma como ele foi interpretado no seu novo país também ficou sujeita aos ventos das mudanças culturais.

Hedquist conta que um episódio formador dessa interpretação foi o chamado "terror lilás", nos anos 1950, que fez com que homens e mulheres gays fossem considerados ameaças à segurança nacional e perseguidos nos órgãos governamentais.

Estereótipos comunscasinoestorilsolcomportamento gay — que hoje são motivoscasinoestorilsolrisadas pelacasinoestorilsolignorância — como punhos com rendas e sapatos extravagantes eram mencionados como indicadores dos "inimigos internos".

Os arquétipos

Surgiram na cultura popular paródias cômicas grotescascasinoestorilsolcomportamento considerado gay, comocasinoestorilsoltirascasinoestorilsolquadrinhos.

Na revista Madcasinoestorilsolsetembrocasinoestorilsol1970, uma históriacasinoestorilsolquadrinhos apresentava um personagem chamado Prissy Percy, que é zombado por rapazes esportistas americanos. A cena final revela que Percy é o Menino Azul.

A sensação e mensagem velada da história é homofóbica. Hedquist considera essa história o primeiro "passeio" do Menino Azul. Em 1976, uma históriacasinoestorilsolDennis, o Pimentinha, também apresentou o Menino Azul, que novamente foi rotulado como "afeminado".

"As ideias emergentes sobre como as pessoas veem os homens gays é muito importante para a forma como o Menino Azul se tornou um ícone", afirma Hedquist, "primeiro como fontecasinoestorilsolridicularização e depois como reapropriação".

A reapropriação veio na formacasinoestorilsoluma revista gay publicada pela primeira vezcasinoestorilsol1974, chamada Blue Boy (Menino Azul,casinoestorilsolinglês).

A capa da primeira edição apresentou uma fotocasinoestorilsolDale, um boxeadorcasinoestorilsolOhio, nos Estados Unidos,casinoestorilsolhomenagem à obra-primacasinoestorilsolGainsborough, mas sem calças e com um chapéu convenientemente reposicionado.

A revista, que foi criação do empresário Don N. Embinder, foi publicada até dezembrocasinoestorilsol2007 e anunciava produtos e serviços com o Menino Azul como símbolo recorrente.

"A primeira agênciacasinoestorilsolviagens gay chamou-se 'Blue Boy'", segundo Hedquist. "Eles tinham navios e hotéis onde os homens podiam ser abertamente gays, vestindo camisetas do Menino Azul e carregando malascasinoestorilsolviagem com o personagem. Foi uma reapropriação completa e uma celebraçãocasinoestorilsolque o Menino Azul era gay".

No período após a RebeliãocasinoestorilsolStonewall,casinoestorilsolSão Francisco (Estados Unidos),casinoestorilsol1969, o Menino Azul foi um símbolocasinoestorilsolmotivação e deixou um legadocasinoestorilsoldiversos bares gays chamados "Blue Boy"casinoestorilsolvárias partes do mundo.

Retratocasinoestorilsolum Jovem, do artista norte-americano Kehinde Wiley, 2021

Crédito, Huntington Library, Art Museum e Botanical Gardens

Legenda da foto, Retratocasinoestorilsolum Jovem, do artista norte-americano Kehinde Wiley, 2021

O Menino Azul também causou efeitos sobre as artes visuais.

O artista norte-americano Robert Lambert criou colagenscasinoestorilsolimagens fotocopiadas e as enviou pelo correio para seus amigos. Algumas dessa imagens incluíam o Menino Azul como símbolo dacasinoestorilsolsexualidade.

O Menino Azul também foi frequentemente apropriado pelo ceramista norte-americano Howard Kottler, como opção para expressar "referências homossexuais explícitas", segundo a historiadora da arte Vicki Halper.

Mas as referências mais explícitas ao Menino Azul vieram no trabalhocasinoestorilsoloutro ceramista norte-americano, Léopold Foulem.

Segundo Hedquist, ele "transformou as tímidas alusões ao teor gay encontradas no trabalhocasinoestorilsolLambert e Kottlercasinoestorilsolum dilúvio totalmente desenvolvidocasinoestorilsolsignificado homossexual", com suas cenas altamente provocadoras do Menino Azul com personagens como o Papai Noel e o Coronel Sanders.

Outros artistas identificados como homossexuais, como Robert Rauschenberg e Kehinde Wiley, mencionaram o Menino Azul como influência importante sobrecasinoestorilsolprodução posterior.

Wiley criou recentemente uma homenagem direta ao quadro, que se encontracasinoestorilsolexibição no MuseucasinoestorilsolArte Huntington, na Califórnia (Estados Unidos) — já que,casinoestorilsol1921, Henry e Arabella Huntington compraram o Menino Azul do comerciantecasinoestorilsolarte Joseph Duveen, que o havia adquirido do DuquecasinoestorilsolWestminster.

A pinturacasinoestorilsolWiley, que mostra um Menino Azul do século 21 com tranças rastafári tingidascasinoestorilsolloiro, relógio da Apple e bonécasinoestorilsolbaseball, marca o ápice da longa jornadacasinoestorilsoldois séculos do originalcasinoestorilsolGainsborough, desde quando era um pilar dos valores culturais tradicionais até tornar-se um ícone gay.

Para Valerie Hedquist, O Menino Azul é um símbolo revolucionário na história dos direitos dos homossexuais. Além do seu apelo para os artistas gays, o seu uso como marca na revista Blue Boy nos anos 1970 pareceu ter um significado histórico fabuloso.

"Foi a primeira oportunidade para uma vida aberta e aceitável", afirma ela. "Ele forneceu um meiocasinoestorilsollevar uma existência totalmente pública para os homens homossexuais — e tudo veio através do Menino Azul."

casinoestorilsol Leia a íntegra desta reportagem casinoestorilsol (em inglês) no site BBC Culture casinoestorilsol .

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