O país que virou polotráficoarmas pesadas na Europa:
<link type="page"><caption> Leia também: AtaquesParis aumentam pressão para que EUA rejeitem refugiados sírios</caption><url href="http://vesser.net/noticias/2015/11/151119_pressao_eua_refugiados_ac_rb.shtml" platform="highweb"/></link>
Permissividade
"O tráficoarmas existetoda grande cidade com um grande nívelcriminalidade. Mas a Bélgica aparece como um centroabastecimentoterroristas,parte por causasuas características geográficas", explicou à BBC Brasil Nils Duquet, pesquisador do InstitutoFlandres pela Paz.
O organismo registra uma média5,7 mil casosposse ilegalarmas tratados a cada ano pela polícia belga, mas observa que o volume traficado deve ser muito maior.
"Somos um país pequeno, com fronteiras abertas, no centro da Europa. É muito fácil para um criminoso com conexões vir aqui, comprar um fuzil e desaparecerduas horas."
Além disso, a longa tradição belgaproduçãoarmas, associada a uma legislação permissiva até 2006, tornaram o país popular entre as organizações criminosas.
"Nos anos 70, o governo era reticente à ideiafrear as vendasarmas, que tinham um importante peso econômico para o país. Por isso, qualquer um podia comprar uma arma legalmente, só apresentando a carteiraidentidade", analisa Brice De Ruyver, diretor do Instituto InternacionalPesquisa sobre Política Criminal na UniversidadeGante, na Bélgica.
A legislação seria modificada2006,resposta ao assassinatouma criança ebabáorigem africana por um jovemextrema-direitaAntuérpia.
<link type="page"><caption> Leia também: AtaquesParis: por que a Bélgica não monitorou irmãos fichados como radicais?</caption><url href="http://vesser.net/noticias/2015/11/151119_belgica_falhas_mb.shtml" platform="highweb"/></link>
Conexões
Mas a introduçãonovas exigências para a compra legalarmas não rompeu as sólidas redesabastecimento criadas anos antes pelos criminosos e aproveitadas pelos jihadistashojedia.
De Ruyver observa que a maioria dos europeus que se juntaram às filas do grupo extremista autodenominado "Estado Islâmico" ("EI") na Síria cumpriram penasprisão.
A grande proporçãocombatentes belgas no país explicaria a preferências dos extremistas pela Bélgica na horamontar os arsenais usadosatentados.
Sabe-se que pelo menos parte das armas usadas por Amédy Coulibaly no ataque a um supermercado judeuParis,janeiro, foram adquiridas na Bélgica, assim como a Kalashnikov usada por Ayoub El-Kahzzani no atentado frustrado a um tremalta velocidade entre Amsterdã e Paris,agosto.
Também há suspeitasque Mehdi Nemmouche, autor do atentado ao Museu JudaicoBruxelas,maio2014, teria adquirido suas armas na capital belga.
<link type="page"><caption> Leia também: AtaquesParis: Pais enfrentam o desafioexplicar os atentados a crianças</caption><url href="http://vesser.net/noticias/2015/11/151118_criancas_atentado_lab.shtml" platform="highweb"/></link>
Balcãs
Segundo Duquet, a maioria das armas pesadas comercializadas ilegalmente na Bélgica eram originárias dos países comunistas no começo dos anos 90, principalmente a Bulgária.
Depois da guerra na antiga Iugoslávia, os países balcânicos se tornaram os principais fornecedores.
"Muitos civis guardaram as armas que usaram durante a guerra para defender suas famílias ou que encontraram junto a corpossoldados e agora, com dificuldades financeiras, vendem por até 500 euros (cercaR$ 2 mil)", afirma o pesquisador.
Esses equipamentos entram na Bélgicapequenas quantidades, escondidoscarros particulares.
"Estamos falandoduas ou três peças por viagem. Uma vez que entram no Espaço Schengen (de livre circulação interna na UE), não há mais controle", diz Duquet.
Algumas armas entram nos países europeusmaneira legal, depoisserem manipuladas para não funcionar, o que se chamadesmilitarização, e encontram na Bélgica um grande númeroespecialistas capazesreabilitá-las.
"Justamente pelo histórico do país na produçãoarmas, há muitos conhecedores, gente que sabe como reativar um fuzil desmilitarizado e até que fabrica suas próprias armas a partirpeças compradas pela internet", afirma Duquet.
A prática é ilegal, mas praticamente impossíveldetectar.
Uma das armas utilizadas no atentado contra o jornal satírico Charlie HebdoParis,janeiro passado, foi uma Kalashnikov desmilitarizada adquirida na Eslováquia e reabilitada na Bélgica.
Segundo os especialistas ouvidos pela BBC Brasil, uma arma desse tipo pode ser comprada no mercado ilegal belga por a partirmil euros (cercaR$ 4 mil).
<link type="page"><caption> Leia também: AtaquesParis: 'Estavam prontos para agir', diz promotor sobre operaçãoSaint-Denis</caption><url href="http://vesser.net/noticias/2015/11/151116_paris_ataques_investigacoes_hb.shtml" platform="highweb"/></link>
Resposta europeia
Apesar da maioria dos países europeus possuir regras específicas para a desativaçãoarmas militares, a Comissão Europeia (CE) reconhece que o controle não é efetivomuitos deles e que os diferentes parâmetrosum país para outro facilitam a atuação das redes criminosas.
Por isso, a União Europeia adotou esta semana um protocolo comumdesmilitarização, que entrarávigor dentrotrês meses, e proíbe o comércio online entre particularesarmas ou peças relacionadas.
"Armas desativadas deverão continuar a ser consideradas como armas. As mais perigosas deverão ser banidas e destruídas. As demais, as autoridades deverão ser capazeslocalizar", explicou a comissária europeiaJustiça, Elzbieta Bienkowska.
As duas medidas são parteum amplo pacoteiniciativas propostoresposta aos atentadosParis.