Ambiente 'hostil e opressor' afasta torcidas gays dos estádios:aposta de time online

Torcida do Grêmio (EPA)

Crédito, EPA

Legenda da foto, No retorno do goleiro santista à Arena, ele ouviu gritosaposta de time online"Aranha veado"

"O gritoaposta de time online'bicha' ou 'veado' é para diminuir o outro, tentar ofender, porque pra as torcidas ser gay é inferior a ser heterossexual", disse William, um dos fundadores da Palmeiras Livre, movimentoaposta de time onlinetorcedores palmeirense a favor da diversidade no futebol, à BBC Brasil.

"Gritar isso dentro do estádio é tão homofóbico quanto gritar fora, na sociedade", endossou Mara, torcedora do Atlético-MG e organizadora da Galo Queer, outro movimento anti-homofobia e antissexismo no futebol.

Medo

Galo Queer (Arquivo pessoal)
Legenda da foto, Presençaaposta de time onlinetorcedores gays nos estádios ainda é tímida por causa do medoaposta de time onlineserem agredidos

A diferença da homofobia que percebem fora e dentro do estádio, eles explicam, está na intensidade.

"Um jogoaposta de time onlinefutebol mexe com emoção, então tem uma demonstração amplificadaaposta de time onlinemachismo, racismo, homofobia", explicou William.

"É extremamente opressor. Sou muito bem resolvido e não tenho problema nenhumaposta de time onlinedemonstrar que sou gayaposta de time onlinelugar nenhum. Mas, no estádio, a gente corre o riscoaposta de time onlineser agredidoaposta de time onlineverdade."

A torcida Palmeiras Livre surgiuaposta de time onlineabril do ano passado, logo depois que a Galo Queer, do Atlético-MG, inovou criando o movimento anti-homofobia no futebolaposta de time onlineMinas Gerais. A Bambi Tricolor, do São Paulo, surgiu também nesta época.

As páginas tiveram um sucesso imediato. "Era uma demanda reprimida", disse Nathália, fundadora da Galo Queer.

Hoje, cada uma das torcidas tem milharesaposta de time onlinecurtidasaposta de time onlinesuas páginas. São maisaposta de time online7,5 mil na da Galo Queer e quase 3 mil nas da Palmeiras Livre e da Bambi Tricolor - e o númeroaposta de time onlineadeptos segue crescendo.

Torcidas gays (Arquivo pessoal)

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Torcedores da Bambi Tricolor e da Palmeiras Livre ainda temem ir ao estádio

No entanto, uma ida ao estádio para defender a causa gayaposta de time onlinecima das arquibancadas ainda é pouco cogitada.

"Isso não é possível. Ainda é muito aparecer no estádio com esses símbolos. Se na internet a gente já recebe ameaça, imagina se fôssemos ao jogo", diz Nathália.

Ela explica que as pequenas manifestações já tentadas foram coibidas. "Uma menina viu nossa página e levou para o Mineirão um cartaz onde estava escrito 'Galo Queer, cartão vermelho para o preconceito', mas seguranças não deixaram ela entrar com o cartaz. Disseram que era inadequado."

"Nós vamos ao estádio, juntos e com outros amigos, mas nunca como Bambi Tricolor. Não seria seguro, infelizmente", diz uma das fundadoras do grupo.

No casoaposta de time onlineWilliam, ele mesmo sentiu na pele a necessidadeaposta de time onlinese policiar para não demonstrar afeto pelo namorado, que foi com ele a um jogo do Palmeiras.

"Fomos com dois amigos heterossexuais, porque sabíamos do riscoaposta de time onlinesermos agredidos. E, no perímetro do estádio, a gente não demonstrava nenhum afetoaposta de time onlineforma clara. A gente se abraçou na hora do gol, mas sabíamos que havia um limite", pontuou.

Ele afirma que a Palmeiras Livre já pensaaposta de time onlineir ao estádio, mas ainda há um muito receio quanto à possibilidadeaposta de time onlineagressão. A intenção é contatar o próprio time para tentar obter um apoio do clube.

Fora do armário

Campanha (Arquivo pessoal)
Legenda da foto, Conscientização e punições estão entre as medidas necessárias para dar fim à homofobia nos estádios

Apesar das torcidas gaysaposta de time onlinehoje ainda terem medoaposta de time onlinefrequentarem o estádio, surgiu na décadaaposta de time online1970 um movimento ainda mais desafiador para a época e que cavou espaço para gays nas arquibancadas brasileiras.

A Coligay, primeira torcida organizada gayaposta de time onlineque se tem registro no país, foi fundadaaposta de time online1977 por torcedores do Grêmio e,aposta de time onlinepleno períodoaposta de time onlineditadura militar e conservadorismo, conseguiu até mesmo conquistar o apoio dos gremistas no estádio.

"Eles chegaram pedindo licença. Foram falar com o Grêmio e disseram que queriam apoiar o time. O Grêmio caiuaposta de time onlinepaixão pelos caras. Eles tinham até espaço reservado no Olímpico para guardar as bandeiras", conta o jornalista Leo Gerchmann, autoraposta de time onlineColigay, tricolor eaposta de time onlinetodas as cores (Libretos, 2014), à BBC Brasil.

"Eles tiveram sensibilidade, sabiam que era uma época muito conservadora. Acho que, se for preparado o terreno, dá para acontecer a mesma coisa agora. E seria fantástico para toda sociedade."

Como a homofobia ainda não é plenamente reconhecida como um problema – é vista como um "xingamento que faz parte do contexto do futebol" –, esse comportamento ainda não tem sido combatido formalmente no futebol brasileiro.

Na Europa, principalmente desde o ano passado, federações e clubes se uniramaposta de time onlinecampanhas contra a homofobia, como a "Rainbow Laces" (Cadarços Arco-íris, numa tradução livre), lançada na Inglaterra.

Nesta campanha, jogadores dos clubes da principal liga do futebol inglês usaram cadarços coloridos nas chuteiras para conscientizar as pessoas sobre o problema. Outras iniciativas parecidas já ocorreram na Alemanha e na Espanha.

No Brasil, o Corinthians foi o primeiro clube a se posicionar sobre o tema no manifesto que divulgou na semana passada.

Silvio Ricardo da Silva, coordenador do Grupoaposta de time onlineEstudos sobre Futebol e Torcida da Universidade Federalaposta de time onlineMinas Gerais (UFMG), acredita que há dois caminhos para o combate à homofobia no futebol brasileiro.

"Por um lado, há um trabalho educacional mesmo, com campanhasaposta de time onlineconscientização feitas por clubes. Por outro, são necessárias punições, assim como está havendo com o racismo."

As torcidas gays concordam que a punição é necessária para coibir o problema. "Se não fizer isso, as coisas não mudam", disse Mara, da Galo Queer.

Os fundadores destes grupos elogiam a atitude do Corinthians e esperam que mais clubes façam o mesmo para mudar a realidade atual, tornando comum também para eles algo que já é corriqueiro para torcedores heterossexuais.

"Meu sonho é ir com meu namoradoaposta de time onlinequalquer lugar do estádioaposta de time onlineum jogo do meu time e poder dar um beijo na boca", diz William, da Palmeiras Livre.

*Os sobrenomes dos membros dos movimentos pela diversidade no futebol foram preservados para evitar represálias.