A semanaafiliado lampionsbetque o Corinthians goleou Pelé:afiliado lampionsbet

Torcedores exibem cartaz criticando o racismo no futebol

Crédito, AFP

Legenda da foto, Júlio Gomes: Que ruim é ouvir Pelé minimizar o ocorrido. Perpetuar o racismo invisível e institucionalizado

Dois dias depois, o Corinthians divulgou este lindo <link type="page"><caption> manifesto contra a homofobia</caption><url href="http://www.corinthians.com.br/site/noticias/2014/09/12/11h40-id23694-manifesto.shtml#.VBbrCMUuJjg" platform="highweb"/></link>.

Somos um país atrasadoafiliado lampionsbetmuitos aspectos. Quem me lê há tempos sabe que, entre as razões, costumo colocar a faltaafiliado lampionsbetfronteiras,afiliado lampionsbetintercâmbios, como a grande razão. Somos uma população (maioria absoluta) esmagada entre a floresta e o mar. Afastada até mesmo dos nossos vizinhos, que falam um idioma parecidíssimo com o nosso, mas que somos incapazesafiliado lampionsbetaprender. Quem viaja para fora do país parece que faz questãoafiliado lampionsbetdeixar na alfândega todo o conhecimento adquirido. Discursos religiosos pré-históricos se aproveitamafiliado lampionsbetum déficit educacional latente.

Somos um atraso. Que fica claro quando vemos debates como os que vimos nas últimas semanas, desde o ocorrido na Arena Grêmio.

Ainda temosafiliado lampionsbetouvir Pelé falar o que falou. Pessoas inteligentes, estudadas e influentes argumentarem que "no campoafiliado lampionsbetfutebol vale tudo", que não existe racismo (ou qualquer outro ismo) porque tudo o que o torcedor quer dentroafiliado lampionsbetum estádio é "extravasar, desestabilizar o adversário" e por aí vai.

Eu venhoafiliado lampionsbetum ambiente, não tenho culpa disso,afiliado lampionsbetque o racismo velado, a homofobia não tão velada, o machismo e outros ismos e fobias estavam presentes. E foi só na Espanha, não com amigos espanhóis, mas ingleses e alemães, principalmente, que me toqueiafiliado lampionsbetuma coisa para a qual eu não dava bola.

Percebi o tamanho da importância que tem o que falamos, tão ou muito mais do que o que fazemos.

Ao contar piadas, ao xingar, ao fazer uma brincadeira, podemos não ter a menor intenção. Podemos realmente, no fundo da alma, não ter nada contra aquela minoria, aquela raça, aquele povo. Mas estamos automaticamente contribuindo com a eternização dos preconceitos. A piada será repetida por outros. A brincadeira fica incrustada no cérebro. O xingamento é ouvido por outro, sendo esse outro talvez seja teu filho, que o repetirá no futuro.

Eu sentia,afiliado lampionsbetmuitas pessoas com quem cruzei, que o racismo ainda estava lá. No fundo, no fundo, havia algo ali. Mas essas pessoas haviam sido educadas a não falar. A não brincar. E a dar esporro caso ouvissem. Eu não tenho a menor dúvidaafiliado lampionsbetque,afiliado lampionsbetpouquíssimas gerações, talvez já a próximaafiliado lampionsbetcada um daqueles futuros pais e mães, nem aquele pouquinho existirá.

O Brasil está vivendo agora um momento que outras sociedades já viveram. O da tentativaafiliado lampionsbettolerância zero. Oafiliado lampionsbetmudar,afiliado lampionsbetum dia para o outro, o que se perpetuou por gerações. Estamos vivendo o momentoafiliado lampionsbetabrir os olhosafiliado lampionsbetpessoas já formadas e vividas. O momentoafiliado lampionsbetensinar que "atacar" o outro usando certas características é o mesmo que considerar tais características algo ruim, menor, pior. Portanto, perpetuá-las como algo ruim, menor, pior.

O momentoafiliado lampionsbetmostrar que não, não é normal chamar um negroafiliado lampionsbetmacaco. Não é normal chamar alguémafiliado lampionsbetveado, nanico, manco, retardado ou o que seja. Não é normal xingar. Ponto.

Não é normal xingar e ofender.

"Ah, Julio, o mundo está ficando muito chato".

Aranha | Foto: AFP

Crédito, AFP

Legenda da foto, Casoafiliado lampionsbetracismo contra goleiro Aranha reacendeu debate sobre preconceito no futebol

Esse argumento (dá para chamarafiliado lampionsbetargumento?) é daquelesafiliado lampionsbetquem não tem mais o que falar. Eu não tenho a menor dúvida que frases parecidas, com as adaptaçõesafiliado lampionsbettempo e idioma, foram ditas quando os reis deixaramafiliado lampionsbetfazer o que queriam; quando os negros não puderam mais ser usados como escravos; quando mulheres passaram a votar e trabalhar; quando o casamento deixouafiliado lampionsbetser imposto pelas famílias. Que mundo chato!

O mundo pode até estar chato dentroafiliado lampionsbetalgumas cabecinhas. Já eu digo que o mundo está ficando mais justo. Mais limpo. Mais igual.

Eu acredito que o Brasil seja um país mais classista do que racista. Mas, <link type="page"><caption> como apontou a ONU</caption><url href="http://www.bbc.co.ukhttp://vesser.net/noticias/2014/09/140911_eleicoes2014_onu_racismo_rs.shtml" platform="highweb"/></link>, o racismo é, sim, institucionalizado aqui. Os dados mostram isso. O dia a dia da favela mostra isso.

A suspensão do Grêmio da Copa do Brasil é uma pena que poderia ser aplaudida pela sociedade brasileira. Porque ela é um símbolo. Estamos falando aquiafiliado lampionsbetalgo muito, mas muito mais importante do que o esporte. A "justiça" esportiva é o que menos importa. O que importa é a mensagem passada. Tenho amigos, fora do Brasil, estupefatos com o fatoafiliado lampionsbeto Grêmio ter recorrido da pena.

Que grande teria sido, por parte do clube, encaixar o golpe e entender que essa instituição tão relevante na sociedade gaúcha pode ser parteafiliado lampionsbetum momento históricoafiliado lampionsbetinversão do processo.

Que ruim é ouvir Pelé minimizar o ocorrido. Perpetuar o racismo invisível e institucionalizado. Implorar pelo "deixa pra lá".

É a cara do Brasil, a bem da verdade. O país do "deixa pra lá".

O Corinthians deu um passo importante ao ir além e, uma semana antes do jogo contra o São Paulo, que ficou com essa alcunhaafiliado lampionsbet"bambi", soltar o manifesto contra a homofobia e pedir para não haver o corinhoafiliado lampionsbet"biiicha" quando Rogério Ceni bater tirosafiliado lampionsbetmeta.

Tem uma doseafiliado lampionsbethipocrisia. Tem uma doseafiliado lampionsbetnão querer ser suspenso ou punido ou o que seja. Mas é preferível a hipocrisia do que a perpetuaçãoafiliado lampionsbetpreconceitos históricos.

É sempre melhor um racista calado e envergonhado do que um não racista proferindo absurdos "inocentes" pelas ruas e estádios do Brasil. Com o primeiro, o racismo morre. Com o segundo, ele passa para frente.

Tenho certeza. Viverei para ver esse país dar dois passos à frente e passar da faseafiliado lampionsbetdebater se isso ou aquilo é ou não é homofobia, racismo, preconceito. Viverei para ver os "xingamentos"afiliado lampionsbetmacaco e veado serem tão bestas quanto seria, hoje, "xingar" alguémafiliado lampionsbetmédico, branco, cabeludo. Viverei para ver a palavra "macho" não ser mais usada como um adjetivo positivo e que seja sinônimoafiliado lampionsbet"corajoso".

Enquanto isso não acontece, fica apenas a constatação. O Corinthians goleou Pelé. Avançamos uma casa.