A semanablaze investimentosque o Corinthians goleou Pelé:blaze investimentos
- Author, Julio Gomes
- Role, Editor da BBC Brasilblaze investimentosSão Paulo
blaze investimentos Reza a lenda, que os que gostamosblaze investimentosfutebol ouvimos desde crianças, que o Corinthians nunca ganhoublaze investimentosPelé. Foram anos e anos e anos e anosblaze investimentosjogos entre Corinthians e Santos e, com o Reiblaze investimentoscampo, não tinha jeito para o Coringão.
Esse <link type="page"><caption> post</caption><url href="http://canelada.com.br/corinthians/corinthians-e-santos-a-queda-de-um-tabu-que-nao-foi-bem-assim/" platform="highweb"/></link> aqui mostra que não é bem assim. O tabuzãoblaze investimentos11 anos durou "só" no Paulistão. Mas isso é oblaze investimentosmenos. A lenda está aí. Só dava Pelé.
A semana que passou foi histórica. Foi a semanablaze investimentosque o Corinthians deublaze investimentosgoleadablaze investimentosPelé. Ai que bom seria se o ídolo máximo da história do esporte brasileiro falasse menos. Depois daquela acertadablaze investimentoscheio, milésimo gol feito, bolablaze investimentosmãos, o pedido por um olhar para as crianças do Brasil... Nossa. Só desastre.
Pelé <link type="page"><caption> criticou Aranha</caption><url href="http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2014/09/10/pele-diz-que-aranha-se-precipitou-ao-querer-brigar-com-torcedores-racistas.htm" platform="highweb"/></link> por ter parado o jogo e reclamado com o árbitro naquela infame noiteblaze investimentosquarta-feira, quando era xingadoblaze investimentos"macaco" na Arena Grêmio.
Dois dias depois, o Corinthians divulgou este lindo <link type="page"><caption> manifesto contra a homofobia</caption><url href="http://www.corinthians.com.br/site/noticias/2014/09/12/11h40-id23694-manifesto.shtml#.VBbrCMUuJjg" platform="highweb"/></link>.
Somos um país atrasadoblaze investimentosmuitos aspectos. Quem me lê há tempos sabe que, entre as razões, costumo colocar a faltablaze investimentosfronteiras,blaze investimentosintercâmbios, como a grande razão. Somos uma população (maioria absoluta) esmagada entre a floresta e o mar. Afastada até mesmo dos nossos vizinhos, que falam um idioma parecidíssimo com o nosso, mas que somos incapazesblaze investimentosaprender. Quem viaja para fora do país parece que faz questãoblaze investimentosdeixar na alfândega todo o conhecimento adquirido. Discursos religiosos pré-históricos se aproveitamblaze investimentosum déficit educacional latente.
Somos um atraso. Que fica claro quando vemos debates como os que vimos nas últimas semanas, desde o ocorrido na Arena Grêmio.
Ainda temosblaze investimentosouvir Pelé falar o que falou. Pessoas inteligentes, estudadas e influentes argumentarem que "no campoblaze investimentosfutebol vale tudo", que não existe racismo (ou qualquer outro ismo) porque tudo o que o torcedor quer dentroblaze investimentosum estádio é "extravasar, desestabilizar o adversário" e por aí vai.
Eu venhoblaze investimentosum ambiente, não tenho culpa disso,blaze investimentosque o racismo velado, a homofobia não tão velada, o machismo e outros ismos e fobias estavam presentes. E foi só na Espanha, não com amigos espanhóis, mas ingleses e alemães, principalmente, que me toqueiblaze investimentosuma coisa para a qual eu não dava bola.
Percebi o tamanho da importância que tem o que falamos, tão ou muito mais do que o que fazemos.
Ao contar piadas, ao xingar, ao fazer uma brincadeira, podemos não ter a menor intenção. Podemos realmente, no fundo da alma, não ter nada contra aquela minoria, aquela raça, aquele povo. Mas estamos automaticamente contribuindo com a eternização dos preconceitos. A piada será repetida por outros. A brincadeira fica incrustada no cérebro. O xingamento é ouvido por outro, sendo esse outro talvez seja teu filho, que o repetirá no futuro.
Eu sentia,blaze investimentosmuitas pessoas com quem cruzei, que o racismo ainda estava lá. No fundo, no fundo, havia algo ali. Mas essas pessoas haviam sido educadas a não falar. A não brincar. E a dar esporro caso ouvissem. Eu não tenho a menor dúvidablaze investimentosque,blaze investimentospouquíssimas gerações, talvez já a próximablaze investimentoscada um daqueles futuros pais e mães, nem aquele pouquinho existirá.
O Brasil está vivendo agora um momento que outras sociedades já viveram. O da tentativablaze investimentostolerância zero. Oblaze investimentosmudar,blaze investimentosum dia para o outro, o que se perpetuou por gerações. Estamos vivendo o momentoblaze investimentosabrir os olhosblaze investimentospessoas já formadas e vividas. O momentoblaze investimentosensinar que "atacar" o outro usando certas características é o mesmo que considerar tais características algo ruim, menor, pior. Portanto, perpetuá-las como algo ruim, menor, pior.
O momentoblaze investimentosmostrar que não, não é normal chamar um negroblaze investimentosmacaco. Não é normal chamar alguémblaze investimentosveado, nanico, manco, retardado ou o que seja. Não é normal xingar. Ponto.
Não é normal xingar e ofender.
"Ah, Julio, o mundo está ficando muito chato".
Esse argumento (dá para chamarblaze investimentosargumento?) é daquelesblaze investimentosquem não tem mais o que falar. Eu não tenho a menor dúvida que frases parecidas, com as adaptaçõesblaze investimentostempo e idioma, foram ditas quando os reis deixaramblaze investimentosfazer o que queriam; quando os negros não puderam mais ser usados como escravos; quando mulheres passaram a votar e trabalhar; quando o casamento deixoublaze investimentosser imposto pelas famílias. Que mundo chato!
O mundo pode até estar chato dentroblaze investimentosalgumas cabecinhas. Já eu digo que o mundo está ficando mais justo. Mais limpo. Mais igual.
Eu acredito que o Brasil seja um país mais classista do que racista. Mas, <link type="page"><caption> como apontou a ONU</caption><url href="http://www.bbc.co.ukhttp://vesser.net/noticias/2014/09/140911_eleicoes2014_onu_racismo_rs.shtml" platform="highweb"/></link>, o racismo é, sim, institucionalizado aqui. Os dados mostram isso. O dia a dia da favela mostra isso.
A suspensão do Grêmio da Copa do Brasil é uma pena que poderia ser aplaudida pela sociedade brasileira. Porque ela é um símbolo. Estamos falando aquiblaze investimentosalgo muito, mas muito mais importante do que o esporte. A "justiça" esportiva é o que menos importa. O que importa é a mensagem passada. Tenho amigos, fora do Brasil, estupefatos com o fatoblaze investimentoso Grêmio ter recorrido da pena.
Que grande teria sido, por parte do clube, encaixar o golpe e entender que essa instituição tão relevante na sociedade gaúcha pode ser parteblaze investimentosum momento históricoblaze investimentosinversão do processo.
Que ruim é ouvir Pelé minimizar o ocorrido. Perpetuar o racismo invisível e institucionalizado. Implorar pelo "deixa pra lá".
É a cara do Brasil, a bem da verdade. O país do "deixa pra lá".
O Corinthians deu um passo importante ao ir além e, uma semana antes do jogo contra o São Paulo, que ficou com essa alcunhablaze investimentos"bambi", soltar o manifesto contra a homofobia e pedir para não haver o corinhoblaze investimentos"biiicha" quando Rogério Ceni bater tirosblaze investimentosmeta.
Tem uma doseblaze investimentoshipocrisia. Tem uma doseblaze investimentosnão querer ser suspenso ou punido ou o que seja. Mas é preferível a hipocrisia do que a perpetuaçãoblaze investimentospreconceitos históricos.
É sempre melhor um racista calado e envergonhado do que um não racista proferindo absurdos "inocentes" pelas ruas e estádios do Brasil. Com o primeiro, o racismo morre. Com o segundo, ele passa para frente.
Tenho certeza. Viverei para ver esse país dar dois passos à frente e passar da faseblaze investimentosdebater se isso ou aquilo é ou não é homofobia, racismo, preconceito. Viverei para ver os "xingamentos"blaze investimentosmacaco e veado serem tão bestas quanto seria, hoje, "xingar" alguémblaze investimentosmédico, branco, cabeludo. Viverei para ver a palavra "macho" não ser mais usada como um adjetivo positivo e que seja sinônimoblaze investimentos"corajoso".
Enquanto isso não acontece, fica apenas a constatação. O Corinthians goleou Pelé. Avançamos uma casa.