'Quero devolver algo à minha comunidade', diz jovem índio que virou advogado:estrela bet grupo telegram
estrela bet grupo telegram Luiz Henrique Eloy Amado tem 25 anos e é um dos poucos advogados no Brasil dedicados exclusivamente à demarcação e à reintegraçãoestrela bet grupo telegramterras indígenas. Em depoimento à BBC Brasil, o índio terena - que se formouestrela bet grupo telegramDireito, fez mestrado na Universidade Católica Dom Bosco (MS) e se prepara para fazer doutoradoestrela bet grupo telegramAntropologia - relata a resistência enfrentada por lideranças jovens dentro e foraestrela bet grupo telegramsuas comunidades.
estrela bet grupo telegram Confira aqui os principais trechos do depoimento à repórter Paula Adamo Idoeta.
<bold><italic>E participe da discussão sobre o tema no nosso <link type="page"><caption> Facebook.</caption><url href="https://www.facebook.com/bbcbrasil/photos/a.305083412815.158425.303522857815/10152329250772816/?type=1" platform="highweb"/></link></italic> </bold>
"Deixei a aldeia Ipegui,estrela bet grupo telegramAquidauana (MS), para cursar o ensino superior já pensandoestrela bet grupo telegramdevolver algo à minha comunidade. Fiz parte das primeiras levasestrela bet grupo telegramindígenas que tiveram acesso à universidade entre 2005 e 2006.
Ali eu convivia com vários indígenas, e vi que o problema deixouestrela bet grupo telegramser o acesso à universidade, passou a ser a permanência - os índios têm dificuldades financeiras, (se comunicamestrela bet grupo telegramsua) língua materna, ficam longe da comunidade, sofrem preconceito.
Nos cinco anos do cursoestrela bet grupo telegramDireito,estrela bet grupo telegramnenhum momento, os direitos dos povos indígenas foram abordados. Então fizemos um grupoestrela bet grupo telegramestudo sobre o tema, com acadêmicos e índios.
Depoisestrela bet grupo telegramme formar, comecei a atuar exclusivamente na áreaestrela bet grupo telegramquestões coletivas e na demarcaçãoestrela bet grupo telegramterras, porque as comunidades indígenas têm uma carência muito grande (de advogados).
Faço oficinas nas comunidades sobre os direitos do povo indígena e atuoestrela bet grupo telegramprocessosestrela bet grupo telegramdemarcaçãoestrela bet grupo telegramterra e reintegraçãoestrela bet grupo telegramposse. Na esfera criminal, defendo lideranças criminalizadas pela luta pela terra. Não atuoestrela bet grupo telegramcasosestrela bet grupo telegramcrime comum, apenasestrela bet grupo telegramíndios que respondem processos por seu ativismo.
Um dos casosestrela bet grupo telegrammaior destaque foi o do 'leilão da resistência',estrela bet grupo telegramdezembro, quando fazendeiros organizaram um leilão para arrecadar fundos para contratar empresas privadas para a segurança das fazendas.
Só que na maior parte dos casosestrela bet grupo telegramlideranças indígenas mortas, tem sempre uma empresaestrela bet grupo telegramsegurança ou um pistoleiro envolvido.
Entramos com recurso e a Justiça Federal suspendeu o leilão; os fazendeiros recorreram e fizeram o leilão, mas conseguimos bloquear o dinheiro (cercaestrela bet grupo telegramR$ 1 milhão). O processo está correndo.
(Nota: À época, os fazendeiros afirmaram que a contrataçãoestrela bet grupo telegramseguranças serviria para garantirestrela bet grupo telegramintegridade física eestrela bet grupo telegramsuas propriedades. O caso ainda está sendo discutido pela Justiça)
O interessante é que foi a primeira vez que a própria comunidade indígena (entrou com a ação) para defender seus direitos, não a Funai ou o Ministério Público Federal (MPF).
Também conseguimos o fechamentoestrela bet grupo telegramuma empresaestrela bet grupo telegramsegurança privada envolvida na morteestrela bet grupo telegramum indígena. Nesse caso, sou assistenteestrela bet grupo telegramacusação da família.
Nunca sofri ameaça direta (pela atuação como advogado), mas vários amigos dizem ter ouvido rumores e me alertam para que eu tome cuidado. Já fui perseguido por caminhonetes e tive que me esconder no mato. Hoje tomo vários cuidados e restrinjo minha rotina.
A causa mais urgente para os índios hoje é, com certeza, a questão territorial. Um terço das terras indígenas do Brasil ainda não foi demarcado, e as que foram estão ameaçadas, seja pelas atividades mineradora e madereira ou pelas hidrelétricas.
O Brasil adotou um modeloestrela bet grupo telegramdesenvolvimento que não contempla os povos indígenas, vistos como empecilho. Passam por cima dos nossos direitos, e o Brasil é cobrado lá fora por isso.
Nas minhas andanças pelo Estado, escuto muito das lideranças (indígenas) e dos fazendeiros uma revolta pela omissão do governo federal na questão. A percepção éestrela bet grupo telegramque o governo estáestrela bet grupo telegrambraços cruzados assistindo aos conflitos. As comunidades fazem retomadas (de terras) por conta própria, e o fazendeiro se vê no direitoestrela bet grupo telegramse armar.
<bold>No nosso <link type="page"><caption> Facebook</caption><url href="https://www.facebook.com/bbcbrasil/photos/a.305083412815.158425.303522857815/10152329250772816/?type=1" platform="highweb"/></link>, a trajetóriaestrela bet grupo telegramLuiz Henrique Eloy Amado rendeu debates com as mais diferentes visões sobre o papel dos índios na sociedade brasileira. Participe você também!</bold>
Esse era o fundamento do leilão da resistência: 'o governo não está fazendo nossa segurança'. Isso tem crescido, a violência está crescendo. E nessa disputa os povos indigenas são as maiores vítimas.
Vejo que as lideranças jovens sofrem muita resistência aqui. Uma vez, fazendeiros questionaram na Assembleia Legislativa do Estado (do Mato Grosso do Sul) se eu tinha (registro na) OAB para advogarestrela bet grupo telegramnome da causa terena, por eu ser jovem. Já cheguei a entrarestrela bet grupo telegramcartórios do fórum para pedir processos e me dizerem: 'Estagiário não pode pegar o processo'. Daí tenho que provar que sou advogado.
Já vi até lideranças indígenas tradicionais fazerem críticas à juventude. Pessoas que estão há 20 ou 30 anos lutando veem o jovem falando e resistem. Falo não por mim, mas num contexto geral. Mas temos quebrado essa resistência quando começamos a dialogar, mostrando que não estamos substituindo ou concorrendo (com os mais velhos) - estamos a serviço da comunidade.
Há jovens trabalhando pelas comunidades indígenasestrela bet grupo telegramvárias áreas: estudantes brigando junto ao Ministério da Educação pela permanência dos índios no ensino superior, jornalistas dando visibilidade aos problemas e práticas culturais, antropólogos fazendo registros orais e contribuindoestrela bet grupo telegramlaudos judiciais, algo que é fundamentalestrela bet grupo telegrammuitas causas.
Ainda quero, nos próximos anos, prestar concurso para o MPF (Ministério Público Federal), na defesa das populações tradicionais (indígenas e quilombolas).
Acho perfeitamente possível conciliar (as tradições indígenas) com a vida acadêmica. A pessoa tem que saber que está ocupando novos espaços, mas sem esquecerestrela bet grupo telegramsuas raízes. Vivoestrela bet grupo telegramCampo Grande, mas com um pé na minha aldeia."