Indicadores polarizam debate sobre desemprego no Brasil:360bet
- Author, Ruth Costas
- Role, Da BBC Brasil360betSão Paulo
360bet Em meio a uma desaceleração do PIB e às incertezas sobre a inflação, o mercado360bettrabalho tornou-se hoje uma das poucas áreas da economia360betque os brasileiros ainda recebem boas notícias. Ou não.
Diferenças na metodologia das pesquisas que procuram identificar as tendências desse mercado e na interpretação dos indicadores faz com que eles venham sendo usados para justificar previsões econômicas quase contraditórias entre si.
De um lado, alguns analistas defendem que, apesar360beto desemprego realmente estar baixo, não apenas há indícios360betdesaquecimento no mercado360bettrabalho, como eles seriam uma espécie360betbomba-relógio, pronta para estourar360bet2015.
A divulgação, nesta terça-feira, da Pesquisa Nacional por Amostra360betDomicílios (PNAD Contínua) do IBGE, feita trimestralmente360bet3,5 mil municípios brasileiros, reforçaria esses argumentos.
Ela registrou que o desemprego atingiu 7,1% no último trimestre, 0,9 pontos percentuais a mais do que no último trimestre do ano passado.
"Há muita incerteza entre os empresários sobre os rumos da economia, e depois das eleições, se predominar a percepção360betque não serão implementadas políticas para acelerar o crescimento, é provável que eles comecem a demitir", diz o economista da FGV Samy Dana, para quem no médio prazo não se pode descartar um retorno do desemprego na casa dos 10%.
Entre os indícios apontados pelos que veem um desaquecimento também estão dados do Cadastro Geral360betEmpregados e Desempregados (Caged), segundo o qual o país abriu só 105.384 vagas formais360betabril - pior resultado para o mês desde 1999.
Recentes demissões da indústria automobilística - mais360bet1,5 mil pessoas foram dispensadas no ABC Paulista - seriam outra evidência dessa perda360betfôlego, bem como alguns indicadores360betqueda dos salários.
Otimismo
Do outro lado do debate, o governo diz que o desemprego não preocupa e o mercado360bettrabalho nunca esteve tão bem, como explicou à BBC Brasil na sexta-feira Márcio Holland, secretário360betPolítica Econômica do Ministério da Fazenda.
Uma evidência seria, por exemplo, a Pesquisa Mensal360betEmprego (PME), também do IBGE, que360betabril registrou 4,9%360betdesemprego nas seis regiões metropolitanas pesquisadas - o menor resultado desde 2002.
Em abril360bet2013, o índice era360bet5,8%. "E na época, cansei360betouvir previsões360betque a taxa começaria a aumentar", diz Holland.
A própria PNAD Contínua, divulgada na segunda-feira, também mostrou que, se o desemprego subiu no último trimestre, ainda está menor que no mesmo período do ano passado, quando era360bet8% - uma comparação que evita efeitos360betsazonalidade.
"E no caso dos dados do Caged, é preciso destacar que o saldo (de contratações) ainda é positivo", ressalta Holland.
É verdade que mesmo os economistas que veem indícios360betdesaceleração no mercado360bettrabalho não esperam uma enxurrada360betdemissões no médio prazo.
As previsões são360betuma reversão na tendência geral360betqueda do desemprego e uma estabilização360betpatamares pouco acima dos atuais – o que significa que ficaria mais difícil mudar360betemprego e negociar salários.
Mas chama a atenção o fato360betos indicadores realmente darem margem a diferentes cenários. Como pode o desemprego medido pela PME e pela PNAD Contínua ter caído360betrelação a 2013 se as empresas estão contratando menos, como aponta o Caged?
Metodologia
Parte da explicação estaria ligada a questões metodológicas.
Os dados do Caged usam os registros360betcarteiras assinadas do Ministério360betTrabalho. Portanto, dizem respeito apenas ao mercado formal e ao regime CLT.
Já os índices do IBGE são calculados com pesquisas domiciliares. Eles consideram desocupados os entrevistados que procuraram emprego no último mês e ocupados aqueles que trabalharam mais360betuma hora na semana anterior a pesquisa – o que inclui também trabalhadores informais ou eventuais, por exemplo.
Além disso, o fato360beto desemprego manter-se360betpatamares baixos360betmeio a uma perda360betdinamismo das contratações também poderia ser explicado por uma diminuição na quantidade360betpessoas que estão entrando no mercado360bettrabalho, explica o economista Luiz Gonzaga Belluzzo.
"Isso tem ocorrido primeiro por uma questão demográfica, ligada a redução do ritmo360betcrescimento da população", diz Belluzzo. "Depois,360betfunção360betum fenômeno ligado ao aumento dos níveis360betescolaridade dos brasileiros."
Muitos jovens360betbaixa renda estariam retardando360betentrada no mercado para estudar, segundo o economista.
Dana, da FGV, acrescenta um terceiro fator para explicar a queda da chamada população economicamente ativa: o aumento da renda.
"As pessoas podem estar desistindo360betentrar no mercado porque têm fontes alternativas360betrenda – que pode ser o salário mais alto360betum integrante da família ou um benefício social recebido do governo", diz.
Tema eleitoral
Para o economista Luiz Carlos Mendonça360betBarros, a polarização do discurso sobre o mercado360bettrabalho deve-se360betparte à proximidade das eleições – nas quais esse será um tema-chave.
Belluzzo concorda com a avaliação e explica por que acredita que manter o bom desempenho nessa área é crucial para o governo,360betmeio à onda360betmás notícias econômicas: "Todo mundo fala da preocupação do eleitor com a inflação porque a alta360betpreços corrói a renda dos trabalhadores. Mas se o desemprego aumenta, muitas famílias perdem totalmente essa renda – a frustração é muito maior", diz ele.
Há uma década a taxa360betdesemprego medida pela PME do IBGE era360bet12%.
O fato360betnos últimos dois anos o índice ter resistido no patamar dos 5% ou 6%360betmeio à freada do PIB costuma ser atribuído a questões como a falta360betflexibilidade do mercado360bettrabalho brasileiro e a carência360bettrabalhadores qualificados no país.
Como os custos360betcontratação e demissão são altos, os empresários teriam mais cautela ao mudar seu quadro360betfuncionários.
Além disso, muitas empresas hesitariam360betdemitir pensando que teriam dificuldade para contratar ou treinar determinados profissionais se tivessem360betampliar a produção360betum futuro próximo.
"Por enquanto, o que preocupa realmente é que a taxa360betdesemprego esteja muito baixa - porque a falta360bettrabalhadores tornou-se um gargalo360betnossa economia", opina Mendonça360betBarros.
"Mas já há sinais claros360betesgotamento do modelo360betcrescimento baseado360betconsumo, o que certamente terá um impacto também no nível360betemprego."
"Não acho que haja razões para ser catastrofista, mas também não dá para pensar que o mercado360bettrabalho não sofrerá360betalgum momento com a desaceleração, queda dos investimentos e redução da confiança dos empresários", concorda o economista da Unesp Elton Casagrande.