Brasil precisa controlar gastos para combater inflação, diz Banco Mundial:
- Author, Pablo Uchoa
- Role, Da BBC BrasilWashington
O Banco Mundial recomendou nesta quarta-feira que o Brasil ajustepolítica fiscal para combater a inflação, que continua alta apesar das baixas taxascrescimento do país.
Em entrevista coletivaWashington, o economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina, Augustola Torre, disse que o país precisa "racionalizar" seus gastos e receitas para não gerar inflação por um lado, e ser obrigado a combater a alta dos preços com aumentosjuros, por outro.
"As perspectivaslongo prazo (para o Brasil) são muito favoráveis. O desafio do Brasil é o curto prazo: a combinação difícilresolver as pressões inflacionárias acompanhadasdesaceleração econômica", disse De la Torre.
O economista notou que esta é uma situação "inusitada", pois normalmente a desaceleração econômica vem acompanhadaredução na inflação.
No Brasil, entretanto, apesar das baixas taxascrescimento, o ÍndicePreços ao Consumidor Amplo (IPCA) registroumarço a maior taxa11 anos: 0,92%, segundo o IBGE.
Mesmo depoissucessivos aumentosjuros, a inflação12 meses chegou a 6,15% - perto do teto da banda inflacionária, que é6,5%.
Em Nova York, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, minimizou o problema, dizendo que a alta é passageira e a metasuperávit primário neste ano será cumprida.
"O governo sempre se preocupa com inflação... O que estamos tendo agora é por causa da seca", disse o ministro, após participarum almoço com investidores.
'Disciplina fiscal'
Em seus relatórios edeclaraçõestécnicos, o Fundo tem dito que considera "apropriada" a política do Banco Central brasileiroelevar as taxasjuros para combater a inflação.
Entretanto, as sucessivas altas também pesam na atividade econômica - dificultando empréstimos por parteempresas e pessoas e diminuindo, assim, o dinheiro movimentando a economia - e explicam a magra projeçãocrescimento1,8% para o país neste ano.
Para o FMI e o Banco Mundial, o país precisa reforçar o controle à inflação não apenas através dos juros, mas também com um controlegastos - apesar das pressões do ano eleitoral,que governos costumam abrir os cofres.
Especificamente, o FMI questionou as "atividades quase-fiscais" do Brasil, uma referência, no caso brasileiro, aos empréstimos do Tesouro aos bancos públicos, como o BNDES.
Ainda nesta quarta-feira, o chefedivisão do DepartamentoAssuntos Fiscais do FMI, Julio Escolano, disse que o país deve manter a "disciplina fiscal"2014 e considerar elevar,2015 e no médio prazo, a economia que faz para pagar suas dívidas, o chamado superávit primário.
"No momento, o governo está expressando intençõesdisciplina fiscal2014. Achamos que isso é importante e que é apropriado fazê-lo neste ano", disse Escolano.
"A partir2015 e no médio prazo, o Brasil precisa estabelecer uma meta mais ambiciosa, voltando ao superávit primário que tinha antes,3%".
"Outros desafios específicos a serem enfrentados são a disciplina dos governos regionais (estados e municípios), que tem sido um fator importantepressão sobre as finanças públicas; conter os empréstimos da União aos bancos públicos, o que é uma importante pressão no Orçamento; e não contar com itens excepcionais (que ajudam no financiamento das contas públicas)."
Desafogar a política monetária
Para De la Torre, se cuidar do seu desempenho fiscal, o governo brasileiro pode dar "mais espaço" e "flexibilidade" para executar uma política monetária que não descuide da inflação e ao mesmo tempo permita maior crescimento econômico.
"É preciso ter políticas fiscais mais ajustadas para abrir espaço e dar maior flexibilidade à política monetária, para que o Banco Central possa reduzir as taxasjuros sem repercussões inflacionárias", disse o economista do Banco Mundial.
Isso implicaria "uma visita cuidadosa a todo o processofinanças públicas, dos gastos e receitas", disse De la Torre.
"Mudar a mesclapolíticas fiscal e monetária é um processo político difícil, mas do pontovista puramente técnico seria conveniente ao Brasil rebalancear as políticas, na direçãouma política fiscal mais ajustada que permita uma política monetária mais frouxa."