Crise no setorenergia influenciou rebaixamentonota do Brasil:
A agência rebaixou na segunda-feira a nota do BrasilBBB para BBB-, a menor classificação do grauinvestimento, citando uma combinaçãofatores que inclui a deterioração das contas públicas e o fraco crescimento.
Ao justificar a decisão, a agência mencionou que "a implementaçãomedidas recentemente anunciadas, voltadas à administraçãoperdas no setor elétrico sem elevar as tarifaseletricidadeum ano eleitoral, pode ser um evento desafiador".
Segundo a avaliação dos economistas da Standard & Poor's, os subsídios ao setor elétrico vão pressionar o orçamento.
A agência afirma que, apesaresforços recentesreprogramação do orçamento "será difícil atingir a metasuperávit primário fiscal (economia do governo para pagamento da dívida pública)1,9% sem que se recorra a 'ajustes pontuais', dados o baixo crescimento e a continuaçãoalgumas isençõesimpostos".
A agência também rebaixou as notas da Petrobras, Eletrobras e Samarco (mineração)BBB para BBB-. Segundo Schineller, nos próximos dias serão feitos testesestresseoutras empresas brasileiras.
Política fiscal
Para a Standard & Poor's, "não há sinais claros" quanto às políticas a serem adotadas para estabilizar a situação fiscal antes das eleiçõesoutubro, nem as perspectivasajustes após as eleições.
Schineller diz esperar alguns ajustes na política fiscal do Brasil após as eleições, mas não uma grande mudança.
"Esses riscos já estão incorporados (na nossa avaliação)", afirma, ao ressaltar que, apesar do rebaixamento da nota, "a agência considera a ampla estrutura da política macroeconômica do país como sendo o sustentáculoseus ratings na categoriagrauinvestimento".
Ao reduzir a nota do Brasil, a agência alterou a perspectivaratingnegativa para estável, o que indica que não está previsto novo rebaixamento nos próximos meses. Uma nova redução faria com que o país perdesse o grauinvestimento.
O Ministério da Fazenda considerou a redução da nota "inconsistente com as condições da economia brasileira" e "contraditória com a solidez e os fundamentos do país".
Nesta terça-feira, o Banco Central dissenota à imprensa que " independentemente da avaliação" da Standard & Poor's "o Brasil tem respondido e continuará respondendoforma clássica e robusta aos desafios que se colocam no novo quadro internacional".
"Essa resposta combina austeridade na condução da política macroeconômica, flexibilidade cambial e utilização dos colchõesproteção acumulados ao longo do tempo (reservasliquidez) para suavizar os movimentos nos preços dos ativos", diz o banco.
"Com isso, o Brasil encontra-se bem posicionado nesta nova fasenormalização das condições financeiras globais e tem plena capacidadeatravessá-las com segurança."
Críticas
As notas atribuídas pelas agênciasclassificaçãorisco são uma espéciechancela sobre o grausegurança dos países para investidores.
O grauinvestimento, conquistado pelo Brasil2008, indica que um país é seguro para investidores e é bom pagadorseus compromissos. Além da Standard & Poor's, a Fitch e a Moody's também conferem grauinvestimento ao Brasil.
Mas as avaliações dessas agências são alvomuitas críticas, principalmente pelo fatonão terem alertado sobre a crise econômica mundial2008.
"Não levo essas avaliações muito a sério, e não sei como alguém pode levar", disse à BBC Brasil o economista Mark Weisbrot, codiretor do Center for Economic and Policy Research, com sedeWashington.
Weisbrot observa que após a crise2008, quando as agências conferiram notas máximas a operaçõesvendashipotecas imobiliárias que acabaram afundando bancos e investidores, não houve grandes reformas para impedir que esse tipoerro voltasse a ocorrer.
"Algumas pessoas, que podem ou não ser ligadas à agência, não gostam das políticas do governo brasileiro. Mas isso não significa que essas políticas façam com que o país seja menos merecedorcrédito", afirma.
"Obviamente há problemas na economia brasileira. Mas a agência deve dar nota à probabilidadeque dívidas sejam pagas, e os problemas mencionados por ela não tornam menos provável que o governo pague suas dívidas", diz Weisbrot.