No ano da Copa, racismo é mais um 'fantasma' no futebol brasileiro:888 bets 365
Mas a agressividade no Pacaembu fez com que muitos, nas redes sociais, levantassem a questão: afinal, há tanta diferença assim entre os gritos racistas e outros888 bets 365natureza distinta, mas ainda assim preconceituosos?
888 bets 365 Repúdio
Antes do jogo, uma faixa foi exibida no gramado com a mensagem "O Futebol Paulista repudia o racismo". Em outros lugares do Brasil, o mesmo aconteceu.
A menos888 bets 365100 dias da Copa do Mundo, o chamado "país do futebol" parece parar para pensar no que nunca havia pensado. Os estádios estão sendo palco888 bets 365manifestações que ultrapassam o nível888 bets 365aceitação popular.
Além dos constantes problemas888 bets 365violência, os públicos reduzidos e a ameaça888 bets 365greve por partes dos jogadores, agora o futebol brasileiro ganha um "fantasma" com o qual não esperava ter888 bets 365lidar.
Os dois casos888 bets 365racismo que ocorreram888 bets 365território nacional expuseram só agora algo que é mais frequente do que se imagina.
Jogadores, técnicos ou árbitros negros ouvem constantemente ofensas racistas dentro888 bets 365campo ou na ida ao vestiário, mas, ao contrário do que aconteceu na semana passada, os casos dificilmente tornam-se públicos.
"É frequente. Aqui no Rio Grande do Sul acontece sistematicamente, principalmente na região da serra", contou o árbitro Márcio Chagas à BBC Brasil.
Questionado sobre o motivo que levaria os árbitros ou jogadores a não relatarem as ofensas racistas que recebem, ele explicou: "As pessoas já veem isso com conformismo, acham que vai ser sempre assim. Mas eu sempre relato na súmula, não deixo passar batido."
888 bets 365 Medo
Outro fator que ainda "cala" as vítimas888 bets 365racismo no futebol brasileiro é o medo888 bets 365sofrerem alguma retaliação. "As pessoas ficam com receio888 bets 365ter represália,888 bets 365não ser escalado mais e aí não se pronunciam", disse o juiz gaúcho.
Para o cientista social Marcel Diego Tonini, pesquisador da USP que tem trabalhos888 bets 365mestrado e doutorado sobre o tema "negros no futebol", o fato888 bets 365os negros conviverem com "piadas" e brincadeiras racistas desde crianças acaba levando-os a "se acostumar" com o problema.
"Os negros são desencorajados a enfrentar casos888 bets 365racismo. Esse não foi o primeiro que o Arouca, por exemplo, deve ter sofrido na vida dele", explicou. "Todos esses pequenos episódios que aconteceram na trajetória dos negros no Brasil, as brincadeiras, os pequenos insultos, levam a pessoa a falar: ‘não vai dar nada, então vou me calar’", acrescentou Tonini.
Márcio Chagas ouviu gritos888 bets 365"macaco", "seu lugar é no circo" e "volta pra selva" quando entrou e saiu do campo para apitar a partida entre Esportivo e Veranópolis, pela 12ª rodada do Campeonato Gaúcho, na última quarta-feira. Na hora888 bets 365deixar o estádio, ele encontrou as portas do seu carro amassadas e bananas colocadas no capô.
O árbitro, então, relatou tudo o que aconteceu na súmula, e a procuradoria já denunciou o Esportivo, clube mandante da partida, pelos insultos racistas. O caso será julgado pelo Tribunal888 bets 365Justiça Desportiva nesta semana.
Já o episódio com o volante Arouca aconteceu após a goleada do Santos por 5 a 1 sobre o Mogi Mirim, no estádio Romildão, quando alguns torcedores passaram por ele na saída do gramado e o chamaram888 bets 365"macaco". O estádio foi interditado e o caso também será julgado no Tribunal. O volante soltou um comunicado oficial no dia seguinte, dizendo-se orgulhoso888 bets 365sua origem e cor.
Punição
Para o presidente da Federação Gaúcha, Francisco Noveletto, enquanto não houver uma punição severa para as atitudes racistas no futebol, elas continuarão sendo frequentes nos estádios brasileiros.
"Não é a primeira vez que a gente fica sabendo888 bets 365casos assim, mas não fizeram relato oficial. Ouço888 bets 365terceiros ou até das pessoas que sofreram, mas elas falam ‘nem dei bola, são dois ou três abobados’ e aí fica por isso mesmo”, disse Noveletto à BBC Brasil.
"Teria888 bets 365colocar uma punição específica no regulamento para dar mais força. Tem que tirar ponto, rebaixar, aí os caras vão pensar dez vezes antes888 bets 365fazer uma coisa dessas. É só a CBF pôr no regulamento. Tem que vir888 bets 365cima, presidente da Federação não pode fazer muita coisa", relatou.
Até agora, a CBF ainda não se manifestou oficialmente sobre os casos. Ao contrário do que fez888 bets 365fevereiro, quando o meio-campista Tinga sofreu ofensas racistas jogando pelo Cruzeiro uma partida da Libertadores contra o Real Garcilaso, no Peru. Na ocasião, a entidade lançou rapidamente uma campanha pela rede social Instagram postando uma imagem do símbolo da seleção brasileira metade preto e a outra metade branca contendo a frase: "Brasil, somos iguais".
O país todo se revoltou diante do incidente no Peru. A torcida do Atlético Mineiro, arquirrival do Cruzeiro, chegou a cantar palavras888 bets 365apoio a Tinga. Agora, com o problema escancarado no quintal888 bets 365casa, parece haver um misto888 bets 365desprezo e surpresa.
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, chegou a entrar888 bets 365contato com as autoridades888 bets 365São Paulo e do Rio Grande do Sul para pedir punições aos casos envolvendo Arouca e Márcio Chagas e repudiou as atitudes racistas dos torcedores. "A Justiça deve punir exemplarmente esse comportamento inaceitável. Não são torcedores, são criminosos", disse.
Para o cientista social Marcel Diego, os dois casos recentes seriam uma boa oportunidade para o Brasil dar o exemplo para o mundo na luta contra o racismo no futebol. Para ele, é o momento888 bets 365o país acabar com o mito888 bets 365ser uma "democracia racial" e tomar uma atitude efetiva para coibir as ofensas racistas nos estádios.
"A sociedade brasileira acha que isso é um problema estrangeiro, mas isso sempre aconteceu, no mínimo todo mês acontece. É um problema maior, social, mas, dentro da esfera esportiva, se o Brasil quiser se destacar do resto do mundo, tem que punir, não ficar só no discurso."
Homofobia
Se o racismo ainda é "velado" nos estádios brasileiros, outro tipo888 bets 365preconceito - menos frequente na Europa - tem se tornado cada vez mais explícito nas arquibancadas: o da homofobia. É comum ouvir as torcidas "atacarem" jogadores888 bets 365times adversários durante o jogo com os gritos888 bets 365"veado" ou "bicha". E esse tipo888 bets 365manifestação, ao contrário do que ocorre com o racismo, nem mesmo aparece nas discussões. É simplesmente considerado "normal".
Os gritos homofóbicos têm se tornado cada vez mais comuns nos estádios.
Para o cientista social e pesquisador da USP, Marcel Diego, há uma explicação para o fato888 bets 365a homofobia ser "escancarada" nos estádios888 bets 365futebol e o racismo ser "escondido".
"O racismo é menos aceitável do que a homofobia. Nenhum dos dois é aceitável, mas o racismo é menos aceitável, então a homofobia acontece888 bets 365forma mais explícita. O futebol é um espaço extremamente masculinizado e não se permite nada fora disso ali", explicou.
"Mas era assim também com relação ao racismo no passado. Era extremamente comum ouvir gritos ofensivos. Aí quando os negros ‘invadiram’ o espaço que era só888 bets 365brancos no futebol, o racismo virou velado, escondido."
Até hoje, ainda não houve nenhuma denúncia feita por jogadores888 bets 365futebol ou árbitros relatando insultos homofóbicos ouvidos na profissão.
Mas888 bets 365outro esporte nacional já houve um caso888 bets 365homofobia que acabou888 bets 365punição. No vôlei, o Sada Cruzeiro teve888 bets 365pagar uma multa888 bets 365R$ 50 mil888 bets 3652011 pelas manifestações homofóbicas da888 bets 365torcida contra o central Michael, do Vôlei Futuro,888 bets 365uma partida da Superliga (principal competição nacional) daquele ano.