Brasileiras desafiam guerra na Síria para cuidarbaixar aplicativo betsulcivis :baixar aplicativo betsul
- Author, Mariana Della Barba
- Role, Da BBC Brasilbaixar aplicativo betsulSão Paulo
baixar aplicativo betsul As brasileiras Bianca Dias Amaral e Letícia Pokorny percorreram durante horas um trajeto perigoso para entrarbaixar aplicativo betsulum paísbaixar aplicativo betsulonde 2 milhõesbaixar aplicativo betsulpessoas já fugiram: a Síria.
Com alguns mesesbaixar aplicativo betsuldiferença, as duas foram ao país com o mesmo objetivo: chegar a dois hospitais na região norte para ajudar civis, vítimas da guerra oubaixar aplicativo betsulproblemas decorrentes dela, como a escassez totalbaixar aplicativo betsulserviços básicosbaixar aplicativo betsulsaúde.
Como os dois hospitais - ambos mantidos pela ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) - ficavambaixar aplicativo betsuláreas controladas pelos rebeldes, as duas tiveram que percorrer áreas arriscadas para chegar até lá.
"Foi muito assustador. Atravessei um descampado por umas três horas e, o tempo todo, ia ouvindo os bombardeios, sem parar. Quando chegueibaixar aplicativo betsuluma rodoviabaixar aplicativo betsulterra, tivebaixar aplicativo betsulcorrer por uns 500 metros, sem olhar para trás", conta Bianca, uma obstetrizbaixar aplicativo betsul30 anos que, para o desesperobaixar aplicativo betsulsua família, foi para Síria embaixar aplicativo betsulprimeira missão no MSF.
Já a fisioterapeuta Letícia,baixar aplicativo betsul37 anos, havia acabadobaixar aplicativo betsulpassar alguns meses na Líbia quando foi chamada para ir para Síria,baixar aplicativo betsul11º missão para a ONG.
Com bagagens diferentes, elas contam à BBC Brasil os desafios que enfrentaram, os medos e também os momentos recompensadores.
Bianca Dias Amaral, obstetriz
baixar aplicativo betsul BBC Brasil - Como você foi chamada para ir à Síria?
baixar aplicativo betsul Bianca Dias Amaral - Quando o pessoal do MSF me ligou perguntando se eu queria ir para a Síria, fiquei muito surpresa, porque normalmente eles mandariam pessoas mais experientes para um local assim. Então pedi um dia para pensar. Após 12 horas, estava convictabaixar aplicativo betsulque não iria. Porque mesmo indo com uma ONG desse porte, há coisas contras as quais você não pode se proteger. Quando liguei para comunicar minha decisão, conversando com a coordenadora, eu aceitei, pois vi que era exatamente isso que eu queria. Embarquei no começobaixar aplicativo betsulabril e fiquei até o fimbaixar aplicativo betsuljunho.
baixar aplicativo betsul BBC Brasil - Como erabaixar aplicativo betsulrotina lá?
baixar aplicativo betsul Bianca - Meu trabalho envolvia justamente a área da saúde básica, algo que ficou totalmente comprometido com a guerra, já que os hospitais foram destruídos e a maioria dos profissionais fugiu. Fazia partos, pré-natal, consultas. O ritmobaixar aplicativo betsultrabalho era intenso, porque além do trabalho durante o dia, também corria para o hospital toda vez que uma grávida chegava para ter o bebê. Em 9 semanas, sóbaixar aplicativo betsul3 noites não fui chamada.
baixar aplicativo betsul BBC Brasil - Você sentia que estavabaixar aplicativo betsulum paísbaixar aplicativo betsulguerra?
baixar aplicativo betsul Bianca - Após um mês e meio, houve um grande ataque. Bombas caíram perto do hospital. As paredes tremiam e o barulho era ensurdecedor. Atendemos dezenasbaixar aplicativo betsulferidos. Depois, ficamos sabendo que as tropas do governo estavam marchandobaixar aplicativo betsulnossa direção. E não sabíamos se iam conseguir nos tirarbaixar aplicativo betsullá ou não. Esse foi meu pior momento. Uma hora, percebi que estava respirando muito ofegante, mas eu não estava correndo nem nada, estava sentada na minha cama, parada. Estavabaixar aplicativo betsulpânico.
baixar aplicativo betsul BBC Brasil - E vocês foram retirados no final? Como foi?
baixar aplicativo betsul Bianca - Sim. Quando saí, senti um mistobaixar aplicativo betsulalívio por deixar aquele lugar, algo bem egoísta, com uma sensação frustração, por estar abandonando as pessoas que já haviam sido abandonadas por todo mundo. Mas a situação melhorou e voltamos depoisbaixar aplicativo betsulalguns dias.
baixar aplicativo betsul BBC Brasil - Como foi trabalharbaixar aplicativo betsulum país muçulmano?
baixar aplicativo betsul Bianca - Eu usava véu e blusa cobrindo os braços, o que às vezes era complicado por causa do calor. Mas nunca sofri nenhum tipobaixar aplicativo betsulpreconceito por ser mulher. Também me fez aprender um poucobaixar aplicativo betsulárabe, principalmente os termos ligados a parto, seja alguma palavra técnica até a saudação que eles fazem quando o bebê nasce. E achei curioso que,baixar aplicativo betsulvez do marido, é a sogra que acompanha a gestante na hora do parto.
baixar aplicativo betsul BBC Brasil - No que essa missão te marcou?
baixar aplicativo betsul Bianca - Fiquei muito impressionada com o comprometimento dos sírios que, apesarbaixar aplicativo betsultudo, decidiram ficar no país e resolveram ajudar, como a minha tradutora, que era estudantebaixar aplicativo betsulliteraturabaixar aplicativo betsulAleppo antesbaixar aplicativo betsula guerra estourar. Meu jeitobaixar aplicativo betsultrabalhar não mudou tanto, mas, pessoalmente, sou outra. Mudou tudo. Minhas preocupações, minhas prioridades.
baixar aplicativo betsul BBC Brasil - Pra onde você vai agora?
baixar aplicativo betsul Bianca - Vou para o Quênia por 14 meses. E estou torcendo para minha mãe ter esquecido sobre o ataque ao shopping da capital. Mas é uma missão mais tranquila,baixar aplicativo betsulque serei a supervisorabaixar aplicativo betsulsaúde da mulher, com serviços como pré-natal, parto, ações relacionadas ao HIV, violência sexual.
Letícia Pokorny, fisioterapeuta
baixar aplicativo betsul BBC Brasil - Como você foi parar na Síria?
baixar aplicativo betsul Letícia - Eu tinha acabado uma missãobaixar aplicativo betsulcinco meses na Líbia e já tinha dito que queria ir para Síria. De repente, me ligaram perguntando: Quer ir semana que vem? Topei na hora. Fui no finalbaixar aplicativo betsuljunho, e fiquei 6 semanas.
baixar aplicativo betsul BBC Brasil - O quebaixar aplicativo betsulfamília disse quando você contou para onde estava indo?
baixar aplicativo betsul Letícia - Ah, essa já era minha 11ª missão, então eles já estavam acostumados. Na verdade, todos me acham meio louca, mas também me admiram. O meu trabalho acabou incentivando meu pai - que é urologista - a se inscrever no MSF e a ir a uma missão na África. Quando ele voltou, após seis semanas, disse: "Agora eu consigo conversar contigo, filha". E ele já está louco para irbaixar aplicativo betsulnovo.
baixar aplicativo betsul BBC Brasil - Qual erabaixar aplicativo betsulfunção lá na Síria?
baixar aplicativo betsul Letícia - Fui escalada para montar o serviçobaixar aplicativo betsulfisioterapia local para tratar especialmente pacientes vítimasbaixar aplicativo betsulqueimaduras. Isso porque, diante do conflito, não há combustível para vender e as pessoas começam a "destilar" no quintalbaixar aplicativo betsulcasa, para consumo próprio ou para conseguir um dinheiro extra. E, claro, há muitos acidentes. Maisbaixar aplicativo betsul50% dos queimados lá são vítimas desse tipobaixar aplicativo betsulacidente doméstico. A fisioterapia ajuda a evitar complicações após queimaduras, com impedir a fraqueza muscular e "descolar" tecidos colados (como na região das axilas).
baixar aplicativo betsul BBC Brasil - Qual foi foi a parte mais difícil?
baixar aplicativo betsul Letícia - Sem dúvida, trabalhar com crianças. Elas não entendem que aquele exercício tão dolorido para quem está com a pele queimada vai ser recompensador. Os pais, no começo, tampouco entendem. Imploram para a gente parar. "Por favor, parebaixar aplicativo betsulmachucar meu filho", me pedem. Mas depois veem o quanto ajuda, e são super gratos. Algumas famílias são mais duras e conseguem aguentar ver as crianças com dor. Mas às vezes é você quem precisa ser mais dura.
baixar aplicativo betsul BBC Brasil - Algum caso te marcou?
baixar aplicativo betsul Letícia - Lembrobaixar aplicativo betsulum meninobaixar aplicativo betsul9 anos, que sofreu queimadurasbaixar aplicativo betsulcombustível nas pernas. O caso dele não era tão grave, mas ele simplesmente não caminhava porque a família não o incentivava a andar, já que isso causaria dor e eles queriam poupá-lo. Fiquei muito chocada. Uma criança simplesmente desaprendendo a andar. Chamei a mãe da criança, expliquei, mas não adiantou. Na semana seguinte, chamei o pai e endureci a conversa, ameacei internar o menino. Funcionou. Ebaixar aplicativo betsul15 dias, ele estava andando normalmente. Nesses casos, é preciso firmeza, tendo um cuidadobaixar aplicativo betsulrespeitar a cultura deles, claro.
baixar aplicativo betsul BBC Brasil - E com adultos?
baixar aplicativo betsul Letícia - Nesse hospital sírio, trateibaixar aplicativo betsulum homem que havia sido arremessado a 40 metrosbaixar aplicativo betsuldistância após a explosãobaixar aplicativo betsulum tanquebaixar aplicativo betsulcombustível. Ele tinha perdido a esperança. Mas depoisbaixar aplicativo betsuldiasbaixar aplicativo betsultratamento, lembro do filho dele gritando pelo hospital: "Meu pai melhorou! Ele conseguiu sentar na cama!". Quando ele saiu do hospital foi incrível. Sóbaixar aplicativo betsulver os olhos e o sorriso dele, me bastou.
baixar aplicativo betsul BBC Brasil - Você sofreu algum tipobaixar aplicativo betsulpreconceito?
baixar aplicativo betsul Letícia - Nenhum, foi mais fácil do que eu esperava. Na Líbia por exemplo, eu não podia tocar homens, então, tinhabaixar aplicativo betsultrabalhar junto com um fisioterapeuta homem.
baixar aplicativo betsul BBC Brasil - Como o brasileiro é visto lá na Síria?
baixar aplicativo betsul Letícia - É sempre muito bem-vindo. O brasileiro se adapta melhor e tem mais imaginação. É preciso saber lidar com situações assim, adversas - e o brasileiro faz isso bem.
baixar aplicativo betsul BBC Brasil - Como se preparar para uma missão dessas?
baixar aplicativo betsul Letícia - Meses depois desses anos, ainda me choco, vejo coisasbaixar aplicativo betsulcair o queixo. Mas simplesmente não tem como se preparar para isso.