BC nega mudançapolítica monetária mesmo após surpresa com Fed:

Alexandre Tombini (Agência Brasil)
Legenda da foto, Para Tombini, o Brasil está preparado para navegar"águas turbulentas"
  • Author, Ruth Costas
  • Role, Da BBC BrasilSão Paulo

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, comemorou nesta segunda-feira a recente decisão do Banco Central dos EUA (Federal Reserve ou Fed)adiar o início da reduçãoseus estímulos monetários, mas disse que tal decisão não afeta os rumos da política monetária brasileira nem seus planosintervenção no mercadocâmbio.

"Essencialmente, isso não terá um efeito na política monetária no Brasil", disse Tombiniuma entrevista à imprensa internacional, na qual ressaltou, porém, que é necessário esperar a próxima reunião do Copom (ComitêPolítica Monetária) para se ter uma confirmação sobre os efeitos do anúncio do Fed nas deliberações das autoridades monetárias brasileiras.

Segundo Tombini, a decisão do Fed foi um alívio para os emergentes e para o Brasil, mas afeta apenas o ritmo - e não a essência -um processotransição que estariacurso na economia global, no qual se estaria passandouma fasecondições financeiras e monetárias mais folgadas para uma fase"normalização" (ou aperto) dessas condições.

Ele também defendeu que o Brasil está "preparado" para novas turbulências na economia global.

"O Brasil tem trabalhado para mitigar os riscos (associados a essa transição)", afirmou Tombini. "Aumentamos a capacidade do país navegar por águas mais turbulentas."

Avanços

Entre os avanços que teriam contribuído para fortalecer a economia brasileira recentemente, segundo o presidente do Banco Central, estariam os "progressos no combate a inflação", impulsionados pela políticaaltajuros iniciadamaio.

Outro avanço importante teria sido conseguido justamente com o programaintervenções diárias do BC no mercadocâmbio, que estaria contribuindo para estabilizar o real,acordo com Tombini.

Tal programa começou a ser implementado para conter a rápida desvalorização da moeda brasileira provocada por especulações sobre a decisão do Fed e prevê o usoUS$ 60 bilhõesintervenções até o final do ano.

"Na nossa perspectiva, o programa é adequado e está funcionando bem. Não temos nenhuma novidade nessa área", respondeu Tombini ao ser questionado sobre a possibilidademudanças.

As afirmações contrariam declarações que teriam sido feitas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para a agêncianotícias Reuters.

Segundo a agência, Mantega disse na última quarta-feira que a decisão do Fedmanter seu programaestímulos monetários poderia levar o Banco Central a cortar suas intervenções no mercadocâmbio.

Contexto

O programaestímulos monetários do Fed envolve a compratítulos do tesouro americano e do mercado imobiliário e foi adotado2008 para ajudar a economia dos EUA a superar os efeitos da crise financeira global.

Com o mesmo propósito, o Banco Central americano também tem mantido taxasjuros próximas a zero.

Nos últimos anos, ambas as políticas ajudaram a inundardólares os mercadospaíses emergentes, que oferecem rendimentos mais altos para capitais estrangeirostrocariscos mais elevados.

Como resultado, até o primeiro semestre deste ano moedas como o real brasileiro, a rúpia indiana e o peso mexicano sofreram grandes valorizações e houve um aumento do fluxoinvestimentos estrangeiros para esses paísesdesenvolvimento.

Tal cenário, porém, começou a mudar radicalmente entre maio e junho, quando o Fed deu indicaçõesque poderia reduzir seu programaestímulos monetários.

Parte dos capitais que haviam migrado para os emergentes começaram a "voltar para casa", derrubando o valor das moedas desses países.

Só o real teve uma queda20%relação ao dólar nessa época e,meio a pressões inflacionárias, o Banco Central começou a aumentar a Selic.

O mercado esperava que os cortes no programa do Fed começassem na semana passada, mas após uma reuniãodois dias, a autoridade monetária americana não só frustrou tais expectativas, mantendo o programa, como ainda deu a entender que poderia manter os juros próximos a zero ao menos até 2016.

Foi tal decisão que deu "alívio" aos paísesdesenvolvimento, reduzindo a pressão sobre suas moedas.

"Quanto mais graduais (os cortes nesse programa), melhor para os emergentes como o Brasil", disse Tombini.

"E essa preocupação (do Fed) com a volatilidade (dos mercados) é bem-vinda e importante não só para os emergentes, mas para toda a economia global."