Divisão do Fed mantém incertezas sobre fimestímulo à economia:

Dólar / Foto: BBC
Legenda da foto, Após ata do Fed, dólar disparou e fechou na maior cotação frente ao real desde dezembro2008

Aguardada com grande expectativa pelo mercado, a ata da reuniãopolítica monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), divulgada nesta quarta-feira, deu poucas pistas sobre o cronogramaredução dos estímulos à economia americana.

Os membros do Fed disseram estar "amplamente confortáveis" com os planos para interromper o programarecompratítulos do Tesouro dos EUA, mas não indicaram a data exataquando as mudanças vão acontecer.

Desde 2009, o banco central americano recompra mensalmente US$ 85 bilhões (R$ 206 bilhões)títulos do governo americano.

Os títulos públicos são usados pelos governos como formacaptar o dinheiro que necessita para financiar os gastos públicos não cobertos pela arrecadaçãoimpostos. Em linhas gerais, o investidor "empresta" dinheiro ao Tesouro para recebê-lo depois, acrescidojuros.

Ao decidir recomprar esses títulos, o Fed injeta dinheiro no sistema, aumentando a liquidez da economia. Um banco que se desfaça desse ativo pode, por exemplo, usar o dinheiro da venda para conceder empréstimos ao consumidor, estimulando a economia.

Parte desse súbito excedentedinheiro tem sido usado por investidores para aplicarmercados onde pudessem obter maiores retornos – um desses mercados é o Brasil, que pratica uma das taxasjuros mais elevadas do mundo.

Essa é uma das razões para a recente valorização da moeda americana no mundo. No Brasil, influenciado pela ata do Fed, o dólar comercial – usado no comércio exterior – fechou o pregão desta quarta-feira cotado a R$ 2,451, o maior valor desde 2dezembro2008.

Segundo Andrew Walker, correspondenteeconomia do Serviço Mundial da BBC, a indefinição do Fed sobre a redução dos estímulos monetários é explicadaparte devido às diferentes visões dos membros do comitê sobre as perspectivasinflação ecrescimento da economia do país.

Walker diz, no entanto, que a ata sugere que o fim dos incentivos está próximo.

Na ata, a maior parte dos membros disse que uma mudança no programaestímulo "ainda não era apropriada", mas "poucos" apoiaram uma "ação rápida".

As autoridades do Fed afirmaram ainda que os dados econômicos mais recentes mostram sinais "contraditórios" sobre a economia, o que poderia levar a um adiamento do fim do programarecompratítulos.

Os membros do BC americano devem se reunir novamente17setembro durante dois dias. Após a reunião, o presidente do Fed, Ben Bernanke, concederá uma entrevista coletiva.

Incertezas no mercado

A divulgação da ata puxou para baixo os principais índices do mercado americano. O Dow Jones caiu 100 pontos alguns minutos depoisa ata ser publicada, embora tenha rapidamente recuperado as perdas. O S&P 500 e a Nasdaq, a bolsa eletrônica, registraram leve queda.

Para o estrategista-chefe da corretora S&P Capital IQ, Sam Stovall, a ata "aumentou a incerteza sobre quando a redução dos estímulosfato acontecerá".

Depois que Bernanke insinuou planos para o fim da política monetária expansionista do BC americano, os juros da hipoteca aumentaram substancialmente, ameaçando a frágil recuperação do setor.

As autoridades do Fed reconheceram que a reação do mercado sobre a discussãouma eventual redução dos estímulos tem sido volátil.

A próxima reunião do BC,setembro, vai acontecer após uma enxurradadados sobre a economia americana, incluindo um novo relatório sobre o desemprego e estimativas revisadas do crescimento do país no segundo trimestre deste ano.

Os membros do Fed esperam que esses novos dados deem sinais mais claros sobre quando a redução dos estímulos deve começar.

Investidores preveem que a mudança na política monetária dos EUA deve acontecer até o final deste ano.

Bernanke afirmou, entretanto, que o cronograma dependerá da vitalidade da economia do país.