Economia do Brasil não está tão ruim como pensam, diz criador do Bric:

JIm O'Neil (foto: BBC)
Legenda da foto, Economista criador da sigla BRIC diz acreditar na economia brasileira.
  • Author, Paula Adamo Idoeta
  • Role, Enviada especial da BBC Brasil a Campos do Jordão

O futuro econômico do Brasil é melhor do que o clima atual indica e o crescimento pode voltar ao patamar4% ao ano, opina o economista britânico Jim O'Neill, ex-executivo do bancoinvestimentos Goldman Sachs e conhecido por ter criado a sigla Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) para englobar as principais economias emergentes.

O tom otimista da palestraO'Neill, nesta sexta-feira,um congresso da BM&FBovespaCampos do Jordão (SP), contrastou com a percepção predominante entre analistas brasileirosque o crescimento do PIB –1,5% no segundo trimestre – não resultaráuma retomada econômica mais robusta.

"Suspeito que o futuro (do Brasil) não seja tão sombrio quanto o que tenho ouvido aqui", disse o economista, alegando que a médiacrescimento do país é hoje superior à do início da década passada, quando criou o acrônimo Bric. "O Brasil está melhor, e não pior."

Ele diz que o país tem apresentado indicadores melhores no que chama"notaambientecrescimento" - como estabilidade política, expectativavida, índicescorrupção e até usocomputadores e smartphones.

O economista diz ainda que o comércio sul-sul (realizado sobretudo entre países emergentes) está próximoalcançar o comércio norte-norte (entre os países desenvolvidos).

"(Mas) para o Brasil melhorar precisamais investimentos do setor privado. É preciso aumentar a oferta (econômica), mas não com mais gastos do governo, e sim com o governo saindo do caminho e facilitando a iniciativa privada", declarou.

'E o país precisa ser parte maior da economia global – o país ainda é visto como muito fechado e precisa se relacionar mais com os demais 7 bilhõespessoas do mundo."

China

A falaO'Neill ocorre no momentoque países ricos, como os EUA, apresentam sinaisrecuperação, enquanto emergentes – até recentemente fortes motores da economia global – vivem uma desaceleração.

A China,especial, deixoucrescer a taxasdois dígitos e tem como meta para 2013 crescer 7,5%.

O'Neill, porém, diz acreditar que o governo chinês escolheu crescer a taxas mais baixas para se manter sustentável.

"E esses 7,5% são equivalentes a um crescimento3,75% na economia dos EUA, porque seu impacto econômico está cada vez maior."

O'Neill ressalva que não adianta países emergentes como o Brasil tentarem repetir as taxascrescimento econômico chinesas – algo, segundo ele, só permitido pela situação demográfica da China, país mais populoso do mundo.

Bric e câmbio

Questionado a respeito do anúncio do Ministro da Fazenda, Guido Mantega,que os Brics (incluindo a África do Sul) trabalham na criaçãoum bancodesenvolvimento conjunto, O'Neill disse que até agora o grupoemergentes "falou muito mas não fez nada juntos politicamente".

"Não é fácil fazer coisas juntos quando se é tão diferente entre si. O fatoterem concordado nisso é muito interessante".

Quanto à desvalorização do real – que ocorre ao mesmo tempoque outras moedas internacionais perdem força perante o dólar -, O'Neill vê a flutuação como natural e até positiva para o Brasil.

"Mas se querem reduzirvolatilidade (à moeda americana), têmaumentar o usosua própria moeda no comércio mundial."