Grupo convoca protesto também do ladodentroestádios da Copa:

Castelão,Fortaleza,treino da seleção (Getty)
Legenda da foto, Manifestantes organizam protesto no estádio do Castelão (acima, durante treino da Seleção)
  • Author, Rogerio Wassermann
  • Role, Enviado especial da BBC Brasil a Fortaleza

Organizadoresum protesto contra os gastos públicos para a Copa do MundoFortaleza - palco do segundo jogo do Brasil na Copa das Confederações, na quarta-feira - querem levar para dentro do estádio o que até agora vem ficando do ladofora.

Em uma página no Facebook criada para convocar a manifestação desta quarta-feira, os organizadores sugerem aos torcedores que compraram ingressos para as partidas da Copa das Confederações que não deixemir aos estádios, mas que se vistampreto, pintem as mãosvermelho e levemcartazes para protestar.

"Não ir ao jogo não muda nada, os ingressos já estão pagos", diz texto publicado na página, mantida pelo Comitê Popular da CopaFortaleza.

"Toda formaprotesto está valendo", afirma à BBC Brasil o professor André Lima Souza,31 anos, integrante do Comitê Popular da CopaFortaleza. Segundo ele, tem havido uma conscientização da população brasileira sobre os custosse sediar o evento.

"Antes era só oba-oba, mas agora a situação se reverteu. As pessoas estão revoltadas com a situação, com os gastos públicos, com a remoção forçadapessoas para as obras da Copa", diz. "As pessoas estão aderindo aos protestos. Vejo que até a quantidadebandeirinhas do Brasil por aí é pequena."

Feriado

Na segunda-feira, uma pequena manifestação reuniu centenaspessoas entre o bairroBenfica, próximo ao estádio Presidente Vargas, onde a seleção treinou à tarde, e o hotel Marina Park, onde a equipe está hospedada.

Mas os organizadores esperam um contingente bem maiorpessoas nesta quarta-feira, ao lado do estádio Castelão, onde o Brasil enfrenta o México a partir das 16h.

Até o início da tarde desta terça-feira, quase 30 mil pessoas haviam declarado na página do Facebook a intençãoir ao protesto do dia seguinte. Outras 6,4 mil diziam que "talvez" compareçam.

Indiretamente, as autoridades municipais podem ter contribuído para aumentar a participação no protesto. Isso porque a Câmara MunicipalFortaleza determinou feriado na cidade nos diasjogo da Copa das Confederações no Castelão.

André Souza Lima afirma que o protesto deve ser pacífico e que não há a intençãoimpedir a entradatorcedores no estádio. "Esperamos que a polícia tenha bom senso, comoBelo Horizonte, e não parta para o confronto", diz.

A SecretariaSegurança Pública do Ceará afirma que haverá 7 mil agentessegurança nas ruasFortaleza durante a Copa das Confederações para proteger os torcedores.

'Para Copa, basta estádio'

Panfleto produzido por ativistas
Legenda da foto, Ativistas não concordam com gastos públicosobras da Copa do Mundo

Para o comunicador social Roger Pires,23 anos, membro do Comitê Popular da Copa, o protesto não é contra a realização dos eventos esportivossi. Mas sim contra os gastos públicos que, segundo ele, atenderiam aos interesses da Fifa, organizadora dos torneios, e não às necessidades da população.

"Gostofutebol, quero ver futebol e não teria problema nenhum com a realização da Copa aqui, mas para isso bastaria um estádio", afirma. "O que não aceito são obras que não vão resolver os problemas da população e que vão consumir bilhõesverbas públicas. O que acontece fora do campo é o que me incomoda", diz.

O comitê questiona, entre outras coisas, os projetosmobilidade urbana relacionados à Copa. Eles privilegiam principalmente o transporte entre o centro e a orla da cidade até a região do estádio do Castelão, na periferiaFortaleza.

O principal desses projetos, o VLT (veículo leve sobre trilhos) - uma espéciemetrôsuperfície, que deve ligar Mucuripe, na orlaFortaleza, ao bairroParangaba, a poucos quilômetros do estádio Castelão - deve provocar a remoção forçada5 mil famílias, segundo o comitê.

A SecretariaInfraestrutura do governo do Ceará, responsável pela obra, afirma que mudanças nos projetos reduziram o númerodesapropriações necessárias e que serão cerca2 mil os imóveis desapropriados para a construção do VLT.

De acordo com a secretaria, os proprietários receberão uma indenização, alémuma unidade habitacional do programa "Minha Casa, Minha Vida", no casoimóveis com valor abaixoR$ 40 mil.

O governo do Estado contesta o argumentoque as obrasmobilidade urbana atendem somente aos interesses da Fifa, afirmando que a ligação entre Mucuripe e Parangaba deverá atender diariamente cerca100 mil pessoas, com integração a outros meiostransporte da cidade.

Visibilidade

Além das questões ligadas às obrastransporte, o Comitê Popular da Copa também afirma que a Copa do Mundo pode aumentar o turismo sexual na cidade. O evento atrairia muitos estrangeiros com o perfil dos exploradores identificado na recente CPI da Exploração Sexual da Criança e do Adolescente, da Câmara dos Deputados.

Segundo seus organizadores, a manifestação aproveita a Copa das Confederações para ganhar visibilidade. "O fatoo evento chegar à cidade oferece a oportunidade para nós nos manifestarmos sobre o que não consideramos correto", afirma Roger Pires.

Para ele, os bilhõesreaisgastos públicos para as obras da Copa levarão ao aumento da dívida do Estado e do Município, que terá que ser compensado com aumentoimpostos etarifas, como as dos transportes.

"Isso vai ter um impacto direto no nosso custovida", afirma. "Tudo isso me faz querer me mobilizar e, por que não, levar ao cancelamento do evento."

Além do protesto programado para a quarta-feira, próximo ao estádio Castelão, há ainda pelo menos dois outros grandes protestos convocados nos próximos diasFortaleza: um na quinta-feira, para pedir melhorias e preços mais baixos nos transportes públicos e outro na sexta-feira, por mais investimentoseducação.

Após o jogo desta quarta-feira, entre Brasil e México, o Castelão sediará também a partida entre Nigéria e Espanha, no dia 23, e uma das semifinais, no dia 27, que poderá incluir o Brasil caso a seleção fiquesegundo no seu grupo na primeira fase.