Sensaçãombbs cbet'mal-estar' social contribui para protestos:mbbs cbet
No sábado e domingo, novos protestos voltaram a ocupar o noticiário nacional, dessa vez nas imediações dos estádiosmbbs cbetBrasília (Mané Garrincha) e Riombbs cbetJaneiro (Maracanã) onde foram realizados os primeiros jogos da Copa das Confederações.
Novas manifestações foram marcadas para esta segunda-feira.
Motivações
Em suas interpretações sobre as causas dos protestos, sociólogos e cientistas políticos destacam a insatisfação dos jovens com a administração pública e com as condiçõesmbbs cbetvida nas grandes cidades.
"Existe uma espéciembbs cbetmal-estar difuso, sem um foco claro. Há uma espéciembbs cbetressentimento e frustraçãombbs cbetordem social, alimentados por um estilombbs cbetgestão que não oferece diálogo à população", afirmou à BBC Brasil o sociólogo Gabriel Cohn, ex-diretor da Faculdadembbs cbetFilosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP).
Cohn, porém, acredita que esse mal-estar também reflete "uma insegurança dos jovensmbbs cbetrelação a seu futuro. Nos últimos anos, o Brasil passou por profundas transformações, o que gerou fortes expectativas dessa camada social, e há uma ansiedade justificada por parte deles se isso vai se sustentar ou avançar nos próximos anos", acrescentou.
Para o sociólogo Aldo Fornazieri, diretor acadêmico da Fundação Escolambbs cbetSociologia e Políticambbs cbetSão Paulo (FESPSP), os protestos são uma crítica à mobilidade urbana, sobretudo por parte dos jovens, que se ressentem da faltambbs cbetrepresentatividade nas diferentes esferasmbbs cbetadministração pública.
"As manifestações refletem uma insatisfação sobre o modo sufocantembbs cbetviver nas grandes cidades, cada vez mais hostis à populaçãombbs cbetgeral. Isso cria uma espéciembbs cbetuma anomalia social, uma sensaçãombbs cbetnão pertencimento. Para piorar, o poder público não está conseguindo garantir qualidadembbs cbetvida aos moradores dos grandes centros urbanos", disse Fornazieri, que diz conhecer alguns dos líderes do MPL, aos quais deu aulas.
"A principal bandeira é o transporte público porque o jovem ─ especialmente ombbs cbetclasse média baixa ─ que muitas vezes precisa trabalhar e estudar, é o mais afetado por tudo isso. Essa situação gera uma angústia na juventude, que não se vê representada nem nos sindicatos nem nas associações estudantis, pois estes estão relativamente acomodadosmbbs cbetsuas conquistas", acrescentou.
A socióloga Angela Maria Araújo, da Unicamp, concordambbs cbetparte. Ela vê as manifestação como um protesto dos jovens contra a gestão da cidade e à faltambbs cbetperspectivas geradas por uma educação deficiente.
Para ela, o movimento está principalmente relacionado "a um descontentamento dessa parcela da população mais jovem com as condiçõesmbbs cbetque vivem nos grandes centros urbanos. O transporte émbbs cbetpéssima qualidade e o trânsito, caótico", disse.
"Além disso, as escolas não dão resposta às expectativas desses jovens", acrescentou.
Já o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio, define o protesto como "um movimento social urbano vinculado à qualidade do transporte público".
"É um fenômeno restrito às regiões metropolitanas que revela uma insatisfaçãombbs cbetrelação aos governantes, que deixarammbbs cbetlado as políticas públicas para a melhoria desse setor."
Na avaliação do sociólogo Bolívar Lamounier, os protestos foram incentivados,mbbs cbetparte, por uma "impaciência com a corrupção e com a inflação".
Reação da polícia
De acordo com os analistas, a reação da polícia às manifestações, especialmentembbs cbetSão Paulo, acabou por dar musculatura à mobilização popular, atraindo novos adeptos e também novas causas.
"Inicialmente, os manifestantes protestaram contra o aumento da tarifa dos transportes públicos. Naquela ocasião, nem todos apoiavam a causa. Mas, por causa da truculência da polícia, o movimento ganhou simpatizantes, que se solidarizaram às suas causas e também passaram a reivindicar outras propostas", afirmou Ismael, da PUC-Rio.
"Há um sentimentombbs cbetreivindicação legítima, e a maneira como o governo vem tratando a questão não é a mais adequada no ambiente democrático", acrescentou.
"Apesarmbbs cbetnão vivermosmbbs cbetum regime autoritário, vemos o avanço realmbbs cbetforças truculentamente conservadoras na sociedade", afirmou Cohn, da USP.
Primavera Árabe?
Embora admitam que a convocação dos protestos por meio das redes sociais é similar ao da Primavera Árabe, os especialistas descartaram uma semelhança mais profunda com a ondambbs cbetprotestos que varreu o Oriente Médio e, mais recentemente, a Turquia.
"Diferentemente da Primavera Árabe, as manifestações aqui não são contra o governo instalado", disse Araújo, da Unicamp.
"Eles não querem derrubar o governante, mas serem ouvidos, ou seja, que a política pública exista através do diálogo", defende Ismael, da PUC-Rio.
Entretanto, os analistas ouvidos pela BBC Brasil têm visões diferentes sobre a vocação política das manifestações.
Falando sobre os protestos ocorridosmbbs cbetSão Paulo, Cohn diz que não vê insatisfação política pois, emmbbs cbetopinião, os manifestantes não advogam "grandes causas".
"Quem é o objeto das manifestações?", questiona. "O movimento é fraco politicamente porque é muito reativo, pois não propõe ou defende questões reais. Trata-se apenasmbbs cbetum estímulo para reagir e correr para a rua. Uma ação propositiva faria mais sentido", afirmou.
Ismael, da PUC-Rio, discorda. Para ele, existe um descontentamento "político" pela crítica aos governantes.
"Não é porque as manifestações não pediram a renúnciambbs cbetum determinado governante que não existe vocação política por trás dessas mobilizações populares", afirmou.
"Eu diria até que foi esse apartidarismo que vem unindo mais e mais manifestantes. Caso contrário, se fizesse escolhas políticas, o movimento certamente perderia força", avaliou.
Já Bolívar Lamounier diz acreditar que,mbbs cbetSão Paulo, o protesto foi insuflado por "grupos trotskistas" e que tem como alvo o governador do Estado, Geraldo Alckmin.