A incrível históriacasino solAna Montes, a 'rainhacasino solCuba' que passava informações secretas dos EUA a Havana:casino sol
"No primeiro diacasino solque entrou na Agênciacasino solInteligênciacasino solDefesa, Montes já era uma agente recrutadacasino soltempo integral pelo Serviçocasino solInteligência cubano. Todos os dias ela ia trabalhar, seu objetivo era memorizar as três coisas mais importantes que ela achava que os cubanos precisavam saber para se proteger dos Estados Unidos", diz à BBC Mundo (serviçocasino solespanhol da BBC) Peter Lapp, um dos dois agentes do FBI encarregados da investigação realizada contra Montes, que levou àcasino solcapturacasino sol2001 e posterior condenação a 25 anoscasino solprisão por espionagem.
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"Ela está entre os espiões mais importantes que o governo dos Estados Unidos prendeu desde a Segunda Guerra Mundial e é uma das que causaram mais danos na história moderna deste país", acrescenta Lapp, que também foi encarregadocasino solentrevistar Montes durante os sete meses que se seguiram àcasino solprisão para entender o alcancecasino solseu trabalho para Havana.
Como resultado dessa experiência e com as investigações posteriores, Lapp escreveu o livro "A Rainhacasino solCuba", cuja publicação está prevista para outubro deste ano, poucos meses após a saídacasino solMontes da prisão sob liberdade condicional, prevista para estes primeiros diascasino soljaneirocasino sol2023.
Mas quem é Ana Montes e como ela conseguiu espionar o governo dos Estados Unidos por tantos anos sem ser descoberta?
De aluna exemplar a espiã
Filhacasino solpais porto-riquenhos, Ana nasceucasino sol1957casino soluma base militar americana na Alemanha, onde seu pai trabalhava como médico. A família então se mudou para Kansas, Iowa e, eventualmente, Maryland, onde Ana terminou o ensino médio com nota máxima.
Enquanto cursava Relações Internacionais na Universidade da Virgínia, fez uma viagemcasino solestudos à Espanhacasino sol1977, onde conheceu um estudantecasino solesquerda argentino que supostamente "abriu seus olhos" para o apoio dado pelo governo dos Estados Unidos aos regimes autoritários da época, segundo disse Ana Colón, ex-colegacasino solclasse, ao jornal "The Washington Post"casino sol2013.
"Depoiscasino solcada protesto, Ana me explicava as 'atrocidades' que o governo dos Estados Unidos cometia contra outros países", conta Colón.
Depoiscasino solobter seu diplomacasino solbacharel, Montes mudou-se para Porto Rico, onde não conseguiu encontrar trabalho. Logo depois acabou aceitando uma ofertacasino solemprego no Departamentocasino solJustiçacasino solWashington.
Enquanto trabalhava lá, ela decidiu fazer um mestrado na Escolacasino solEstudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins, onde a espionagem cubana descobriu seu potencial e decidiu recrutá-la.
"Ela foi descoberta e avaliada por uma colega chamada Marta Rita Velázquez, também porto-riquenha. Ana expressou abertamentecasino solraiva e insatisfação com a política dos EUA na Nicarágua ecasino solEl Salvador. Marta ficou amiga dela e foi assim que ela também soube que ela trabalhava na Departamentocasino solJustiça e que tinha acesso a informações classificadas. Então, alguns meses depois, ela a apresentou a um diplomata que trabalhava na missão cubana na ONU", diz Lapp.
Foi assim que Montes acabou sendo recrutada como espiã cubana.
Dinheiro e ideologia
Montes concordoucasino soltrabalhar para os cubanos, embora tenha dito aos investigadores que nunca havia pensado nessa possibilidade antes.
E, embora fosse um trabalho arriscado ecasino soltempo integral, ela não cobrava por isso.
"Ela não recebeu nenhum pagamento, o que leva as pessoas a pensar que ela era uma espiã por motivos ideológicos. Na verdade, ela nos disse que ficaria ofendida se os cubanos lhe dessem dinheiro para espionar", diz Lapp.
De fato, uma vez descoberta e detida, Montes assegurou que agiu motivada pela necessidadecasino soljustiça, tentando ajudar os cubanos a se protegerem das políticas dos Estados Unidos.
"Acredito que a políticacasino solnosso governocasino solrelação a Cuba é cruel, injusta e profundamente hostil. E me senti moralmente obrigada a ajudar a ilha a se defendercasino solnossos esforços para impor nossos valores e nosso sistema político", disse Montes quando chegoucasino solvezcasino solcomparecer à Justiça,casino soloutubrocasino sol2002.
Um relatório da CIA, citado pelo "The Washington Post", considera que os agentes cubanos a manipularam, apelando a seu narcisismo e fazendo-a acreditar que Havana precisava urgentemente dacasino solajuda.
"Seus manipuladores, comcasino solajuda involuntária, avaliaram suas vulnerabilidades e exploraram suas necessidades psicológicas, ideologia e patologiacasino solpersonalidade para recrutá-la e mantê-la motivada a trabalhar para Havana", disse a CIA.
Ao contráriocasino soloutros, Lapp não acredita que Montes tenha agido motivada por uma ideologiacasino solesquerda, mas sim por uma profunda rejeição ao próprio país.
"Acho que ela era mais antiamericana, que estava muito chateada com o que o governo dos Estados Unidos estava fazendocasino solEl Salvador e na Nicarágua na época, e comcasino solpolíticacasino solrelação a Cuba. Não concordo com quem diz que ela era uma espiã motivada por ideologia. Ela era idealista, mas era mais antiamericana do que pró-cubana", diz.
"Ela estava com muita raivacasino solRonald Reagan e do que estávamos fazendo. E ela realmente odiava nosso país. Até hoje acho que ela ainda odeia nosso país. Tecnicamente ela é americana, mas se considera uma cidadã do mundo, ela é mais uma antiamericana do que alguém que acredita no sistema cubano, no socialismo e no marxismo", acrescenta.
Sucessocasino solWashington e Havana
Em 1985, Montes fez a primeiracasino solvárias viagens a Havana. Ele então realizaria outras, algumas pagas pelo próprio governo dos Estados Unidos, durante as quais seus encontros diurnos com funcionários da Seçãocasino solInteresses dos Estados Unidos na ilha eram seguidos por encontros noturnos com seus chefes cubanos.
Foram os cubanos que aparentemente a incentivaram a se candidatar ao DIA e que mais se beneficiariam comcasino solcarreira ascendente como analista, na qual acabaria apresentando seus relatórios a membros do Estado-Maior Conjunto e do Conselhocasino solSegurança Nacional dos Estados Unidos. E,casino solfato, pouco antescasino solsua prisão, ela estava prestes a ser promovida a um cargo no Conselhocasino solInteligência Nacional, órgão que assessora a diretoria da CIA.
Lapp destaca que Montes era uma analista muito boa, o que na prática acabou favorecendocasino solcarreiracasino solWashington e suas contribuições com Havana.
"Se ela tivesse simplesmente sentado emcasino solmesa e deixado as horas passarem, ela não teria se tornado a 'rainhacasino solCuba'. Ela era uma analista muito boa e quanto melhor fazia seu trabalho, mais portas se abriam para ela e mais acesso ela conseguiu. Portanto, se ela fosse competentecasino solseu trabalho diurno, mais informações poderia obter para seu trabalho noturno", diz ele.
Espionagem clássica
Para evitar ser descoberta, Montes usou uma das ferramentascasino solespionagem mais seguras:casino solprópria memória. Passava horas sentada emcasino solescrivaninha para ler e memorizar as informações sigilosas que considerava interessantes para Havana, que depois transcreveria à noitecasino solum laptop Toshibacasino solcasa e que, por fim, copiariacasino soldisquetes que entregaria aos seus contatos cubanos. Dessa forma, nunca teve que levar nenhum documento do escritório.
Às terças, quintas e sábados, Montes usava um rádiocasino solondas curtas para ouvir uma das chamadas "estações numéricas", uma estaçãocasino solrádiocasino solque às 21h e 22h uma voz dizia coisas como: "Atenção, atenção: três, um, quatro , cinco…". Esses números tinham que ser decifrados por meiocasino soluma folhacasino solcódigo que os cubanos lhe entregaram. O procedimento era feitocasino solum papel solúvelcasino solágua. Em casocasino solemergência, bastava jogá-lo no vaso sanitário para fazê-lo desaparecer como evidência.
Foi assim que ela recebeu suas instruções.
No entanto, ao entregar as informações coletadas, costumava almoçar com seu contato cubanocasino solplena luz do dia.
"Ela simplesmente ia almoçar com eles e entregava o disquete. Simples assim. Sem esconderijos secretos, sem brush passes [breves contatos físicos para trocacasino solobjetos], sem técnicas sofisticadascasino solespionagem, era apenas um homem e uma mulher hispânicos tendo um longo almoçocasino solum restaurante chinêscasino soluma tardecasino soldomingo", diz Lapp.
Para casos urgentes, Montes poderia fazer ligaçõescasino solcabines telefônicas públicas para pagerscasino solseus contatos cubanos. Ele tinha um código para alertá-loscasino solque estavacasino solperigo e outro para alertá-loscasino solque precisava vê-los.
Inteligência comprometida
Na opiniãocasino solLapp, as atividadescasino solespionagemcasino solMontes causaram grandes danos à inteligência dos EUA.
"Cada um dos indivíduos que ela conheceu e que trabalhavam para o governo dos Estados Unidos, independentementecasino solo fazerem abertamente ou secretamente, foram identificados por ela antescasino solHavana, e com isso os cubanos conheciam todos os que trabalhavam na ilha para o governo dos EUA", diz.
"Ela comprometeu grandes quantidadescasino solinformações classificadas que encontramoscasino solseu computador. Ela também identificou quatro agentescasino solinteligência dos Estados Unidos que foram trabalharcasino solCuba secretamente como partecasino soloutras agências e sob outros nomes", acrescenta.
No entanto, Lapp considera que provavelmente o maior dano causado foi a transferência para Cubacasino solinformações sobre um programacasino solsatélite altamente sensível que pertencia ao Escritório Nacionalcasino solReconhecimento e que era tão secreto que não foi incorporado à acusação contra Montes perante os tribunais para impedir que fosse conhecido publicamente.
O ex-agente do FBI também acredita ser possível que Montes tenha participado do assassinatocasino solum Boina Verde (agente das Forças Especiais das Forças Armadas dos Estados Unidos) ocorridocasino solEl Salvador.
"Não podemos provar, mas acredito fortemente que ela provavelmente informou aos cubanos sobre quem ele era, onde estava, o que estava fazendo e qual eracasino solmissão. Eu sei o que ela nos disse sobre essa hipótese e ela realmente não se importava se ele morreu ou não como resultado disso", diz Lapp.
"Não posso provar, mas acho que ela tem sangue nas mãos", acrescenta.
Outro episódio polêmicocasino solque Montes participou ocorreu quando aviõescasino solguerra cubanos abateramcasino solfevereirocasino sol1996 dois aviões pertencentes à organização Hermanos al Rescate, que se dedicava a ajudar os cubanos a escaparcasino soljangadas da ilha, causando a mortecasino solquatro pessoas.
Naquela época, Montes participava da equipecasino solresposta do governo dos Estados Unidos a essa crise e, ao mesmo tempo, era muito ativa na colaboração com o governo cubano.
"Na noite seguinte, depois que ela voltou do Pentágono, ela se encontrou com os cubanos e contou a eles como estávamos reagindo. E ela se encontrou com eles todas as noites, depois que mataram quatro cidadãos americanos. Então, não estou dizendo que ela puxou o gatilho e quatro americanos foram mortos, mas ela se sentou com as pessoas que fizeram isso - com o governo e os serviçoscasino solinteligência que ajudaram a fazer isso acontecer - e cooperou com eles, deixando-os saber como os EUA iriam reagir. Isso é horrendo", diz Lapp.
Paradoxalmente, pouco antescasino solser presa, Montes estava a caminhocasino solse colocarcasino soluma posiçãocasino solque poderia ter causado muitos danos aos Estados Unidos, já que teria acesso aos planos militares americanos para a guerra no Afeganistão. Algo que, segundo os analistas, forneceria ao governo cubano informações muito valiosas que poderiam ser repassadas ao Talibã ou ao governo afegão.
O que impediu que isso acontecesse foi que naquela época as investigações contra Montes já duravam 11 meses e, após os atentadoscasino sol11casino solSetembro, decidiu-se acelerarcasino solprisão para evitar maiores riscos.
Uma vez detida,casino sol21casino solsetembrocasino sol2001, Montes negociou um acordo com as autoridades dos Estados Unidos no qual cooperaria plenamente com os investigadores sob a condiçãocasino solnão receber uma sentença superior a 25 anoscasino solprisão.
Essa colaboração plena resultoucasino solinterrogatórios aos quais Montes se submeteu duas ou três vezes por semana durante sete meses para fornecer ao FBI todos os detalhes necessários.
Lapp acredita que isso pode ter influenciado o fatocasino solHavana aparentemente não ter demonstrado muito interesse emcasino sollibertação.
"Eu especulo que eles não estão muito entusiasmados com o fatocasino solela se declarar culpada ao governo dos Estados Unidos e depois se sentar para um interrogatório completo. Tenho a sensaçãocasino solque ela causou muitos danos aos cubanos quando falou. Eu me pergunto se os cubanos estão um pouco bravos com ela", diz ele.
Se assim for, Ana Montes não seria mais considerada "a rainhacasino solCuba" nemcasino solWashington nemcasino solHavana.