Haiti: a brutalidade das gangues que estupram e sequestram no país mais pobre das Américas:roleta números da sorte

Woman cries as people are displaced by gang violence, Cite Soleil, Port-au-Prince, 19 November, 2022

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Woman cries as people are displaced by gang violence, Port-au-Prince, 19 November, 2022

Na prática, o estado não exerce qualquer poder, pois as crises se sucedem. Quase metade da população — 4,7 milhõesroleta números da sortehaitianos — enfrenta fome aguda. Na capital, cercaroleta números da sorte20 mil pessoas enfrentam condições semelhantes à fome, segundo a ONU. É a primeira vez que isso acontece nas Américas. A cólera voltou a assombrar o país. Mas a maior praga são as gangues armadas.

A hora do rush pela manhã — entre 6h e 9h — é o horárioroleta números da sortepico dos sequestros. Muitos são arrancados das ruas a caminho do trabalho. Outros são afetados na hora do rush da noite — das 15h às 18h.

Cercaroleta números da sorte50 funcionários do nosso hotel no centro moram aqui porque é muito perigoso para eles irem para casa. Poucos saem após escurecer. O gerente diz que nunca sai do edifício.

O sequestro é uma indústriaroleta números da sortecrescimento. Foram 1.107 casos notificados entre janeiro e outubro deste ano, segundo a ONU. Para algumas gangues, é uma grande fonteroleta números da sorterenda. Os resgates podem variarroleta números da sorteUS$ 200 (R$ 1.050) a US$ 1 milhão (R$ 5,3 milhões). A maioria das vítimas volta viva — se o resgate for pago — mas não sem sofrimento.

"Os homens são espancados e queimados com materiais como plástico derretido", diz Gedeon Jean, do Centroroleta números da sorteAnálise e Pesquisaroleta números da sorteDireitos Humanos do Haiti. "Mulheres e meninas estão sujeitas a estupros coletivos. Essa situação estimula os parentes a encontrar dinheiro para pagar o resgate. Às vezes, os sequestradores ligam para os parentes para poderem ouvir o estupro sendo realizado pelo telefone".

Policiais fortemente armados
Legenda da foto, Policiais fortemente armados são presença constante nas ruas do Haiti

Manhãroleta números da sorteDelmas

Andamosroleta números da sortecarro blindado. Normalmente reservado às linhasroleta números da sortefrenteroleta números da sortezonasroleta números da sorteguerra como a Ucrânia,roleta números da sortePorto Príncipe tamanha segurança é vital para afastar os sequestradores. É uma proteção que muitos aqui não podem pagar.

O Haiti é o país mais pobre do hemisfério ocidental, propenso a desastres naturais e políticos.

Ao nos deslocarmos para uma entrevistaroleta números da sorteuma manhã no fimroleta números da sortenovembro, nos deparamos com uma cenaroleta números da sortecrime no subúrbioroleta números da sorteclasse médiaroleta números da sorteDelmas 83. Cartuchosroleta números da sortebala espalhados pela calçada, brilhando à luz do sol, e um homem jaz mortoroleta números da sorteum beco, com o rosto no chãoroleta números da sorteuma poçaroleta números da sortesangue.

Tentativaroleta números da sortesequestro
Legenda da foto, Caminhonete cravejadaroleta números da sortebalas

Ao lado dele, uma caminhonete 4x4 cinza batida contra um muro, umroleta números da sorteseus lados cravadoroleta números da sorteburacosroleta números da sortebala. Uma AK-47 encontra-se no chão. Policiais fortemente armados cercam a picape, alguns com rostos cobertos e armasroleta números da sortepunho. Espectadores se aglomeramroleta números da sortevolta. Ninguém faz perguntas, mesmo que as tenha. Quando você vive na sombra das gangues, vale a pena ficar calado.

A polícia nos disse que se envolveuroleta números da sorteum tiroteio com um gruporoleta números da sortesequestradores, que saíram cedo na esperançaroleta números da sortecapturar a próxima vítima. O bando fugiu a pé, um deles deixando um rastroroleta números da sortesangue. O suposto sequestrador foi perseguido até o beco, onde foi morto.

"Houve um tiroteio entre um policial e os bandidos. Um deles morreu", conta um policial veteranoroleta números da sorte27 anos que não quis ser identificado.

Ele diz que a situação na capital nunca esteve pior. Perguntei se as gangues eram imparáveis. "Nós as paramos. Hoje", responde.

Kidnap attempt

Do outro lado da cidade, naquela mesma manhã, François Sinclair, um empresárioroleta números da sorte42 anos, ouviu uma rajadaroleta números da sortetiros quando estava no trânsito. Presenciou homens armados assaltando os dois carros àroleta números da sortefrente, então pediu ao motorista que desse meia-volta. Mas ao tentarem fugir, foram avistados.

"Do nada, fui baleado dentro do meu próprio carro e havia sangue por toda parte", ele nos conta, sentadoroleta números da sorteuma cadeiraroleta números da sorterodasroleta números da sorteum hospital gerido pela ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF).

François Sinclair com curativo no braço esquerdo no qual levou disparo

Crédito, BBC / Wietske Burema

Legenda da foto, François Sinclair foi alvejado no braço
François Sinclair com curativo no braço esquerdo no qual levou disparo

"Poderia ter levado um tiro na cabeça", diz ele, "e havia outras pessoas no carro também". Há um curativoroleta números da sorteseu braço, justamente onde foi atingido por um disparo.

Gráfico BBC
Gráfico BBC
Gráfico BBC

Pergunto se ele já pensouroleta números da sortesair do país para fugir da violência. "Dez mil vezes", ele responde. "Não consegui nem ligar para minha mãe para contar o que aconteceu [comigo] porque ela é idosa. Do jeito que as coisas estão aqui, é melhor ir embora se puder."

Essa é uma frase que ouvimos a todo o momento, mas para a maioria dos haitianos, não há para onde ir.

Tentativaroleta números da sortesequestro

As enfermarias do hospitalroleta números da sorteMSF estão cheiasroleta números da sortevítimasroleta números da sortetiros, muitas delas atingidas por balas perdidas. Claudette, que perdeu parte da perna esquerda, me diz que nunca poderá se casar agora que está incapacitada. Deitada por perto está Lelianne,roleta números da sorte15 anos, que está fazendo palavras-cruzadas para passar o tempo. Ela foi baleada no estômago.

Claudette

Crédito, BBC / Wietske Burema

Legenda da foto, Claudette perdeu parte da perna esquerda
Claudette

"Minha mãe e eu saímos para comer alguma coisa", diz ela. "Enquanto estávamos fazendo o pedido, senti algo. Foi quando caí e griteiroleta números da sorteagonia. Não esperava sobreviver. Costumo ouvir tiros mais longe da minha casa. Naquele dia eles chegaram mais perto."

Mesmo o último presidenteroleta números da sorteexercício do Haiti não estava seguro emroleta números da sorteprópria casa. Jovenel Moïse foi morto por pistoleirosroleta números da sortejulhoroleta números da sorte2021. A polícia culpou mercenários colombianos, dos quais cercaroleta números da sorte20 foram presos. Mas, maisroleta números da sorteum ano depois, ninguém foi julgado aqui por puxar o gatilho ou ordenar o assassinato. Ativistasroleta números da sortedireitos humanos dizem que quatro juízes entraram e saíram do caso. Está agora nas mãosroleta números da sorteum quinto.

A morte do presidente criou um vácuoroleta números da sortepoder que as gangues têm competido para preencher — com a ajudaroleta números da sortecomparsas.

Especialistas dizem que os grupos armados têm ligações com figuras políticas corruptas — no poder e na oposição. Eles abastecem as gangues com armas, finanças ou proteção política. Em troca, as gangues fazem seu trabalho sujo, gerando medo, apoio ou instabilidade, conforme necessário.

Empresários ricos também têm ligações com as gangues.

"Sempre houve relações entre políticos e algumas gangues, localizadas principalmenteroleta números da sortebairros pobres com grande númeroroleta números da sorteeleitores. Mas desde a eleiçãoroleta números da sorte2011 essas relações se institucionalizaram", diz James Boyard, especialistaroleta números da sortesegurança e professorroleta números da sorteRelações Internacionais da Universidade Estadual do Haiti. "Elas [as gangues] são contratadas para criar violência política".

Ativistasroleta números da sortedireitos humanos dizem que existem cercaroleta números da sorte200 grupos armadosroleta números da sortetodo o país, mais da metade deles atuando na capital.

Gráfico BBC
Gráfico BBC

Se um membroroleta números da sortegangue for preso, um telefonemaroleta números da sorteseus apoiadores pode libertá-lo sem demora — e com suas armas. Ativistasroleta números da sortedireitos humanos dizem que há muitos crimes, mas nenhuma punição.

"Não há Justiça", diz Marie Rosy Auguste Ducena, da Rede Nacionalroleta números da sorteDefesa dos Direitos Humanos do Haiti (RNDDH).

"Os juízes não querem trabalhar nesses casos. Eles são pagos pelas gangues. E alguns policiais são como um sistemaroleta números da sorteapoio para as gangues, dando-lhes carros blindados e gás lacrimogêneo."

Outros policiais são membrosroleta números da sortegangues, diz o ativistaroleta números da sortedireitos humanos Gedeon Jean. "Sabemos que há pelo menos dois policiaisroleta números da sorteexercício ou ex-policiaisroleta números da sortecada quadrilha. Sabemos que carros com placasroleta números da sortepolícia são usados para sequestros. Se a polícia, como instituição, está envolvida, não sabemos."

Alguns policiais atuais e antigos têmroleta números da sorteprópria gangue, chamada Baz Pilatos. Ativistasroleta números da sortedireitos humanos dizem que ela controla parte da rua principal no centroroleta números da sortePorto Príncipe.

O conluio da polícia não é um mistério. Os policiais ganham cercaroleta números da sorteUS$ 300 (R$ 1,6 mil) por mês, e alguns vivemroleta números da sortebairros controlados por gangues. Para eles, pode ser uma questãoroleta números da sortesobrevivência, nãoroleta números da sorteescolha.

Carro queimado
Legenda da foto, Carro queimadoroleta números da sortePorto Príncipe

'Concursoroleta números da sortebrutalidade'

O que está acontecendo aqui — a cercaroleta números da sorteduas horasroleta números da sortevooroleta números da sorteMiami (EUA) — vai muito além da mera violência. É como se as ganguesroleta números da sortePorto Príncipe estivessem envolvidasroleta números da sorteum concursoroleta números da sortebrutalidade, e qualquer pessoa nesta cidaderoleta números da sortecercaroleta números da sorte1 milhãoroleta números da sortehabitantes possa se tornar a próxima vítima.

Um homem magro na casa dos 30 anos — que não tem ligação com gangues — vem nos contar o que ele eroleta números da sorteesposa sofreram alguns meses atrás. Seu bairro é controlado por uma facções, e rivais começaram uma matança. Pararoleta números da sortesegurança, não vamos mencionar a área ou o grupo armado envolvido.

Quando ele começa a falar, continua por 13 minutos sem parar — como se não pudesse conter suas palavras ouroleta números da sorteangústia.

"Disse a mim mesmo que os tiros estavam muito pertoroleta números da sortenós e que deveríamos tentar sair", diz ele. "Mas eles já estavam invadindo a vizinhança. Voltei para dentroroleta números da sortecasa com minha esposa. Estava com tanto medo que tremia. Não sabia o que fazer. Eles matam principalmente homens jovens. Minha esposa me escondeu debaixo da cama e me cobriu com uma pilharoleta números da sorteroupas. Meu sobrinho estava escondido no guarda-roupa."

Logo os homens entraram na casa, batendo na esposa e exigindo informações sobre os membros da gangue local. Quando o sobrinho tentou fugir, atiraram nele e o mataram. O marido permaneceu escondido e angustiado sem que nada pudesse fazer.

"Queria fugir. Queria gritar. O que mais me dói é que quando estava debaixo da cama, não podia ver, mas podia ouvir aqueles homens estuprando minha esposa. Eles a estavam estuprando, e estava debaixo da cama, e não conseguia dizer nada."

Vista aérearoleta números da sortePorto Príncipe
Legenda da foto, Porto Príncipe foi tomada por gangues

Depois disso,roleta números da sortecasa foi incendiada e ele eroleta números da sorteesposa fugiramroleta números da sortedireções opostas. Eles ainda vivem separados, com amigos e parentes, mas esperam que possam voltar a morar com o filho pequeno.

O que aconteceu "é uma cicatriz que atinge o corpo e a alma", descreve o homem. Sua esposa agora está grávida, e eles não sabem se ele é o pai ou se é um dos agressores. De qualquer forma, nos diz que vai aceitar a criança e dar-lhe o seu nome.

"O que eu suportei não foi nada", diz ele. "Há uma senhora que teve apenas um filho. Eles cortaram a garganta dele na frente dela. O menino não tinha nenhuma ligação com gangues."

Marido e mulher foram roubadosroleta números da sortequase tudo, incluindo o amor pelo país. "O Haiti foi apagadoroleta números da sortenossos corações", diz ele. "Qualquer chance que tivermos, iremos embora."

Após dizer isso, ele desmorona, seu peito arfando enquanto chora.

Os testemunhos que reuni aqui estão entre os piores que já ouviroleta números da sortemaisroleta números da sorte30 anos como correspondente estrangeira, fazendo reportagensroleta números da sortemaisroleta números da sorte80 países. E parece que isso é apenas uma pequena amostra da tragédia que assola esse país.

Para as ganguesroleta números da sortePorto Príncipe, não há limites.

Em poucos dias, conheci três vítimasroleta números da sorteestupro coletivo — a mais nova tinha apenas 16 anos. Ela e uma parente foram estupradas pelos mesmos agressores, que depois ameaçaram queimá-las vivas dentroroleta números da sortecasa. A outra mulher estava grávidaroleta números da sorteseis meses na épocaroleta números da sorteque foi atacada. Enquanto era abusada, seu marido foi executado. Meses depois, ela segue buscando o corpo dele.

Cada vez mais, o estupro é usado como arma pelas gangues. Eles têm como alvo mulheres e meninas que vivemroleta números da sorteáreas controladas por seus rivais. Durante uma guerra territorialroleta números da sortejulho no bairro mais pobre do Haiti, o Cité Soleil, ativistas dizem que maisroleta números da sorte300 pessoas foram assassinadas — a maioria dos corpos foi carbonizada — e pelo menos 50 mulheres e meninas estupradas por gangues.

A ONG Rede Nacionalroleta números da sorteDefesa dos Direitos Humanos do Haiti (RNDDH), que documentou os estuprosroleta números da sorteCité Soleil, diz que muitas sobreviventes "se arrependemroleta números da sorteestarem vivas". Vinte delas foram estupradas na frenteroleta números da sorteseus filhos. Seis viram seus cônjuges serem mortos antesroleta números da sorteserem estupradas por vários homens.

A maior parteroleta números da sorteCité Soleil é controlada pela mais poderosa facçãoroleta números da sortePorto Príncipe — a G-9 e seus aliados. Fontes locais dizem que a gangue tinha laços estreitos com o presidente assassinado e seu partido no poder. Sua especialidade é a extorsão.

O G-9 bloqueou o principal terminalroleta números da sortecombustíveis da cidaderoleta números da sortesetembro, paralisando o país por quase dois meses e desencadeando uma crise humanitária.

Jimmy Cherizier

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Jimmy Cherizier conhecido como 'Churrasco'
Jimmy Cherizier

Crédito, Reuters

Legenda da foto, "Churrasco" dá ocasionalmente entrevistas a jornalistas, mas tem estadoroleta números da sortesilêncio

Seu líder é um ex-policial chamado Jimmy Cherizier, apelidadoroleta números da sorte"Churrasco", que dá ocasionalmente entrevistas a jornalistas. Solicitamos uma entrevista por intermediários, mas não tivemos resposta. Ele pode querer falar menos hojeroleta números da sortedia porque foi recentemente submetido a sanções pelo Conselhoroleta números da sorteSegurança da ONU, acusadoroleta números da sorteameaçar a paz e a estabilidade do Haiti.

Os Estados Unidos e o Canadá recentemente sancionaram dois políticos haitianos, incluindo o atual presidente do Senado, Joseph Lambert, por supostamente colaborar com as gangues.

Fontes dizem que as sanções estão gerando algum impacto, porque os políticos que usam as gangues agora querem se esconder.

Jean Simson Desanclos with his wife and two daughters
Legenda da foto, Jean Simson Desanclos with his wife and two daughters

'Criminosos tomaram país como refém'

Quando Jean Simson Desanclos chegou à rua deserta na periferiaroleta números da sorteum subúrbio repletoroleta números da sortefacções, ele não encontrou nadaroleta números da sortesua família exceto a carroçaria queimada da Suzuki preta da família. Os restos mortais carbonizadosroleta números da sortesua esposa e duas filhas já haviam sido levados para o necrotério.

Burning car

Josette Fils Desanclos,roleta números da sorte56 anos, estava levando umaroleta números da sortesuas filhas Sarhadjie,roleta números da sorte24, para a universidade, e a outra, Sherwood Sondje, fazia compras para seu aniversário. Estava prestes a completar 29 anos. As duas meninas estudaram Direito como o pai. Eram suas "princesas".

"No dia 20roleta números da sorteagosto, perdi tudo", diz ele. "E não foi só minha família. Ao todo, oito pessoas foram mortas naquele dia. Um massacre."

Filhasroleta números da sorteDesanclos foram mortas
Legenda da foto, Filhasroleta números da sorteDesanclos foram mortas, assim comoroleta números da sortemulher

Desanclos acredita queroleta números da sorteesposa e filhas resistiram a uma tentativaroleta números da sortesequestro e foram baleadas por uma famosa facção chamada 400 Mawazo, que estava expandindo seu território.

"Minha suspeita é que foram eles", diz. Os assassinatos aconteceram nos arredoresroleta números da sorteuma área chamada Croix des Bouquet, que já estava sob o controle da quadrilha.

Desanclos,roleta números da sortefala mansa e roupas elegantes, é advogado e ativistaroleta números da sortedireitos humanos. Ele agora é um homem desolado — ansiando pelas vozes que nunca mais ouvirá.

"Você está sempre esperando uma ligaçãoroleta números da sortesua filha dizendo 'papai isso' ou 'papai aquilo'. Perdi o amor da minha vida e as duas filhas que criamos neste país difícil. É como se você fosse um multimilionário eroleta números da sorterepente, você perde tudo."

Desanclos
Legenda da foto, Desanclos quer justiça pararoleta números da sortefamília

Apesar do risco para si mesmo, ele busca justiça pararoleta números da sorteesposa e filhas.

"A família é uma coisa sagrada. Não lutar por justiça seria traí-los", diz ele. "Minhas filhas sabem que seu pai é um lutador, que nunca abandona ninguém, muito menos a própria família. O risco é enorme, mas o que mais posso perder agora?"

Ele quer que o mundo entenda uma coisa sobre o Haitiroleta números da sortehoje — que as gangues não têm limites.

"Criminosos tomaram um país como refém", diz ele. "Eles fazem suas próprias leis. Eles matam. Eles estupram. Eles destroem. Gostaria que minhas filhas fossem o último sacrifício, as últimas mulheres jovens mortas."

Ele fala com dignidade e convicção, mas sabe que seu desejo pode não ser atendido.

No Haiti, são as gangues que detêm o poder, e não o Estado. O primeiro-ministro Ariel Henry não consegue nem chegar ao seu escritório porque grupos armados controlam a área. Fizemos vários pedidosroleta números da sorteentrevista com ele, mas todos foram negados.

Centroroleta números da sortetratamentoroleta números da sortecólera
Enfermeirasroleta números da sorteum centroroleta números da sortetratamento para cólera
Legenda da foto, Cólera é endêmica no Haiti
Meninaroleta números da sorteum centroroleta números da sortetratamentoroleta números da sortecólera

'Pedidoroleta números da sortesocorro'

O governo do Haiti — ou o que sobrou dele — emitiu "um pedidoroleta números da sortesocorro" para uma força internacional para ajudar a restaurar a ordem.

Fala-se nas Nações Unidas sobre a necessidaderoleta números da sorteuma força armada não pertencente à ONU, mas ninguém parece ter pressaroleta números da sorteliderá-la, ou mesmoroleta números da sorteparticipar.

Intervenções estrangeiras têm má fama e um histórico ruim aqui. A última missão da ONU é lembrada por alegaçõesroleta números da sorteabuso sexual e por trazer cólera para o Haiti, por meioroleta números da sorteforçasroleta números da sortepaz da ONU do Nepal. A epidemia matou cercaroleta números da sorte10 mil pessoas.

Existem opiniões distintas aqui sobre a ideiaroleta números da sortesoldados estrangeiros atuando no país. Há apoioroleta números da sortealguns empresários — que usaram grupos armados, mas agora querem que eles sejam controlados — e daqueles presosroleta números da sorteáreas controladas por gangues. Por outro lado, há oposiçãoroleta números da sortelíderes da sociedade civil que dizem que o Haiti precisa agir sozinho.

Enquanto a comunidade internacional debate o futuro do Haiti, massacres continuam acontecendo.

Fontes locais dizem que grupos armados estão expandindo brutalmente seu território porque não houve eleições. Quando os políticos vêmroleta números da sortebuscaroleta números da sortevotos —roleta números da sorteáreas controladas por gangues — têm que subornar os pistoleiros.

A última ondaroleta números da sorteviolência ocorreu na entrada norteroleta números da sortePorto Prínciperoleta números da sorte30roleta números da sortenovembro. Segundo a imprensa local, testemunhas oculares dizem ter visto homens armados —roleta números da sorteuma gangueroleta números da sorteascensão — tentando se firmar e informaram a polícia.

Os pistoleiros retaliaram à noite, matando pelo menos 11 pessoas. Alguns dos corpos foram carbonizados.

Os limites aqui são mais uma vez redesenhadosroleta números da sortesangue. Quem mora na cidade precisa atualizar o mapa mental, pois mais uma área está passando do verde para o vermelho.

Colaboraram com esta reportagem Wietske Burema, Göktay Koraltan e André Paultre

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