Giorgia Meloni: os obstáculos que a ultradireitista enfrentará para imporagenda radical na Itália:

Giorgia Meloni, líder do partido Fratelli d'Italia

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"Fartos dos fracassos dos partidos estabelecidos, os eleitores estão optando pelo que não experimentaram", escreveu a revista The Economist.

O novo governo terá pela frente uma sériedificuldades para lançar seu programa — que implica, entre outras coisas, um enorme custo econômicoum país com dívida públicaníveis recordes.

Confronto com o presidente e o Tribunal Constitucional

Meloni, que deve se tornar a primeira mulher primeira-ministra da história da Itália, alcançou a vitória graças a discursosque criticava imigrantessituação irregular e fazia um apelo para proteger a "identidade italiana".

Sergio Mattarella

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Legenda da foto, Meloni terá que lidar com o centrista Sergio Mattarella, presidente da Itália desde 2015

A realidade é que o poder na Itália está limitadomuitas maneiras, sobretudo pelos papéis que desempenham seu presidente eleito indiretamente, atualmente Sergio Mattarella, e a recém-eleita presidente do Tribunal Constitucional italiano, Silvana Sciarra, ambos conhecidos por serem centristas impecáveis, como lembra a revista The Economist.

Um dos principais obstáculos que terá que superar será a eleiçãoseus ministros. Qualquer decisão sobre os membros do conselhoministros temser referendada pelo presidente da República, que costuma impor dificuldades. Não seria a primeira vez que isso derrubaria um candidato.

Da mesma forma, o Tribunal Constitucional pode reverter leis que considere contrárias à Constituição. No entanto, apesar dos temores suscitados pela defesa da família e dos valores católicos da extrema direita, não são esperadas grandes mudanças a nível legislativoquestões sociais.

Nada indica, por exemplo, a regulamentação do aborto será mexida, pelo menos na esfera legal, emboraaplicação possa ser dificultada. Meloni deixou claro que não pretende revogar a lei que autoriza o aborto, que estávigor desde 1978 e conta com forte apoio. Uma tentativarevogá-la foi rejeitadaum referendo1981 por quase 70% dos eleitores.

O mesmo vale para os direitos homossexuais. As uniões civispessoas do mesmo sexo são permitidas desde 2016 e, embora não haja consenso a favor do casamento gay, também não há urgênciaeliminá-las.

Enquanto isso,termosnatalidade, ela poderia tentar lançar um pacoteajuda para famílias com filhos, mas a alta dívida pública da Itália deixa pouca margem para manobra.

Um grupoimigrantes chegando na Itáliabarco

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Legenda da foto, A Itália é um dos países mais afetados pela imigração ilegal na Europa, algo que há anos servebandeira para a extrema direita

O que se espera é uma ofensiva contra a migração ilegal. Defende-se a adequação dos recursos das forçasordem pública às necessidadescontrole do território, assim como a defesa das fronteiras e o bloqueio da chegadabarcos com imigrantes.

No entanto, quando Matteo Salvini esteve pela última vez no governo, entre 2018 e 2019, ele prometeu a mesma coisa, mas esbarrou no direito internacional e nas regras da União Europeia, que impõem limites ao que pode ser feito.

É preciso levarconta que o direito europeu está acima do direito nacional, por isso o Tribunal da União Europeia pode anular qualquer medida que considere contrária ao direito comunitário.

Acordos e relação com a UE

"O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, é um aliado muito importante para Meloni, não só ideologicamente, mas também pelos valores ultraconservadores que defendem. A nível europeu, este pode ser um polodiscussão interessante com a União Europeia", explica à BBC News Mundo, serviçonotícias da BBCespanhol, o analista político Franco Delle Donne, criador do podcast Epidemia Ultra.

"Isso pode criar uma espécieoposição interna dentro da União Europeia, mas ao mesmo tempo vai estar condicionada a todos os fundos que a Itália recebe, especialmente se você levarconta o antecedente da sanção que a Hungria receberá se não permanecer na linha com a União Europeia", acrescenta o especialista.

Na opinião dele, este será um dos principais desafios do novo governo, "principalmente porque ela prometeu muitas coisas que custam muito dinheiro" — e tentará rapidamente desviar o discurso político para outras questões que não são questões econômicas.

Bandeiras da Itália e da União Europeia na frenteum prédio

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Legenda da foto, A Itália é um dos países fundadores da União Europeia e a terceira maior economia do bloco

Em matéria fiscal, os partidos que vão compor o novo governo italiano já propuseram reduçãoimpostos na campanha. Meloni tentará reverter algumas das reformas que o ex-primeiro-ministro Mario Draghi introduziuum esforço para impulsionar o crescimentoum país onerado por problemas estruturais, culturais e demográficos.

Se o novo governo afrouxar a disciplina fiscal e fizer revisões significativas na agendareformas acordada pelo governo anterior, poderá colocarrisco um planogastocerca200 bilhõeseuros dos fundosrecuperação europeus aprovados para fazer frente aos estragos da pandemiacovid-19. Para receber a próxima parcelafundosdezembro, Roma precisa cumprir 55 novas metas.

"Mesmo um governodireita não gostariaincomodar Bruxelas,cujo dinheiro dependemuitas áreas", disse Jörg Krämer, especialista do Commerzbank, ao jornal alemão Der Spiegel.

Draghi, que foi presidente do Banco Central Europeu no auge da crise financeira da Europa há uma década, tem resistido consistentemente à pressão política para aumentar o déficit orçamentário. E este pode ser um dos primeiros dilemas com os quais um governoMeloni teria que lidar.

Seu primeiro teste será o orçamento fiscal, que deve ser aprovadoum cronograma apertado no outono do hemisfério norte. Os banqueiros temem que o novo governo perca o controle da alta dívida da Itália (US$ 2,7 bilhões, ou seja, mais150% do Produto Interno Bruto).

Além disso, o blocodireita também se opôs a reformar um sistema tributário ultrapassado e à liberalização da concorrência, duas reformas importantes prometidas por Draghi para se qualificar para os fundos da União Europeia.

Grande apoio dos italianos à União Europeia e ao euro

Apesartodos os alertas, o grande apoio que ainda existe entre a população italianarelação à União Europeia parece indicar uma posição mais branda da futura primeira-ministraBruxelas.

"Nas últimas etapas da campanha, ela tentou se mostrar um pouco mais moderada,termoseuroceticismo", diz Delle Donne.

É verdade que, assim como Salvini, Meloni já falou no passadoeliminar o euro ou até mesmo deixar o bloco. Mas ambos entenderam que a adesão à União Europeia é popular na Itália, onde 71% da população apoia o euro.

Símbolo do eurofrente à sede do Banco Central EuropeuFrankfurt

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Legenda da foto, Como parte da União Europeia e da Zona do Euro, a Itália temcumprir uma sérieregras fiscais

"A Itália agora faz parte deste grande bloco que é a União Europeia eacordos internacionais que não podem ser simplesmente renegociados da noite para o dia", disse à agêncianotícias Reuters Davide Angelucci, analista político da Universidade Luiss, na Itália.

"Também temos que estar, como país, dentroinstituições como a União Europeia devido aos problemas estruturais que temos. Pensemos na dívida pública deste país etodas as fragilidades dos elementos estruturais da nossa economia. Precisamos da União Europeia, tanto quanto a União Europeia precisa da Itália", acrescentou.

Como resultado, o novo governo estará limitado. Uma ruptura interromperia a ofertadinheiro e significaria que a Itália não seria mais elegível para o apoio do novo mecanismocompratítulos do Banco Central Europeu. Isso provocaria uma crise nos mercados, algo que o novo governo está ciente.

Problema russo

DiferentementeSalvini e Berlusconi, ou até mesmoLe Pen e Orbán, Meloni não apoia o presidente russo, Vladimir Putin. Desde a invasão da Ucrânia, ela tem sido uma voz firme e forteapoio à Ucrânia e à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

"A questãoPutin e da Rússia é interessante, porque é uma contradição que existemuitas formaçõesdireita radical, especialmente na Europa Ocidental", explica Delle Donne.

"Trata-se da questãoter Putin, até o início da guerra, como uma espéciemodelo,um líder que pudesse encarnar ou representar os interesses nacionaisum país independenteuma organização supranacional como a União Europeia, que é pura burocracia e algo negativo para o desenvolvimentocada país e para a identidade. Mas a guerra fez surgir contradições internas", afirma o especialista.

Segundo Delle Donne, um dos problemasMeloni será lidar com a postura pró-Rússiapolíticos como Orbán.

"Se manifestar contra Putin a colocaria contra alguns aliados muito importantes a nível europeu."

Salvini, Berlusconi e Meloni

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Legenda da foto, Salvini, Berlusconi e Meloni vão formar o novo governocoalizão da Itália

Ela também terá que resolver este problema dentrosua coalizão.

"Lembremos que Salvini também era uma espéciealiadoPutin. Acho que aí ela terá uma questão para resolver, assim como acontece com Orbán."

A solução virá por meio dacapacidadeconstruir uma agenda.

"Vamos ver se ela é capazfazer a opinião pública italiana atentar para outras questões que para a direita radical são mais importantes, ou melhor, mais eficientes na horagerar discussões, como a migração e tudo o que deriva daí, como segurança."

"Se ela conseguir colocar as questões relevantes do debate públicotorno disso, pode ser que não precise se posicionar sobre a guerra na Ucrânia. Agora, há uma coisa que ela não será capazcontrolar, e é se a inflação e os preços da energia dispararem e as sanções contra a Rússia aparecerem novamente, aí ela vai ter uma complicação, porque teria que decidirque lado está. Por enquanto, seria do lado do Ocidente e contra a Rússia, mas vai ter que deixar claro, e aí pode decepcionar muita gente entre seus eleitores", avalia Delle Donne.

Línea

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