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Foi 'batalha' convencer indústria a apoiar filme sobre aborto, diz cineasta francesa:
"Li o livro logo depoisfazer um aborto", diz Diwan. "Eu queria ler sobre o assunto, e me recomendaram."
"Foi especial para mim encontrar esse livro, porque meu aborto foi feito pelas vias legais. Não sabia o que era realmente um aborto clandestino - a jornada, a violência, a complexidade e a solidão".
Diwan, que também é jornalista, acrescenta: "Fiquei hipnotizada com a históriauma personagem muito corajosa, que foi atrás do que queria. Mas fiquei furiosa com a jornadaum aborto ilegal."
"É um livro especial, mas foi o únicoAnnie [Ernaux] que passou despercebido pelos jornalistas na época. O aborto é um tema silenciosoalguma forma. Acho que há medo - nós tememos o corpouma mulher e seus segredos."
Mas o tema não está passando despercebido entre os filmes dos últimos anos. AlémO Acontecimento, a produção Call Jane,Phyllis Nagy, foi exibida nos festivaiscinemaSundance e Berlim neste ano.
É estrelado por Sigourney Weaver e Elizabeth Banksuma versão ficcionalizada da história real do Coletivo Jane, um grupo que oferecia abortos clandestinos seguros, mas ilegais, na Chicago da década1960. O nome Jane era usado para todas que buscavam o grupo para o procedimento.
Essa história também é o focoum documentário, The Janes, que está sendo lançado pela HBO.
Call Jane foi filmado23 dias, usando apenas uma câmera. Nagy afirma que o tema do aborto é "agora um guarda-chuva para todas as discussões sobre os direitos das mulheres". Ela diz: "Mesmopartes da Europa, e certamenteoutras partes do mundo, os direitos das mulheres são deixadoslado".
Nos EUA, as leis que permitem o aborto foram restritasvários estados.
No início deste mês, o EstadoOklahoma impôs uma proibição quase total. O congressista autor do projeto disse que poderia salvar "a vidamuitos bebês".
Na semana passada, a Flórida diminuiu o prazo para a realizaçãoum aborto24 para 15 semanas. O governador do Estado disse que "defenderia aqueles que não podem se defender".
A cineasta norte-americana argumenta que essas mudanças podem terminartragédia se algumas mulheres não tiverem uma via segura para realizar um aborto.
"A maneira como nos comunicamos agora com as mídias sociais é muito diferente da épocaCall Jane", diz Nagy. "Então é mais fácil conseguir informações sobre um aborto do que nas décadas1960 e 1970.
"Mas mesmo que você possa fazer um aborto na Califórnia, por exemplo, vai ser possível chegar até lá? E no Texas será preciso vencer grandes distâncias para encontrar um médico que aceite realizar o procedimentoum Estado vizinho".
No lançamento do filme no FestivalSundancejaneiro, Sigourney Weaver, que interpreta uma ativista do Coletivo Jane, lembrou a experiência dos tempos do histórico caso judicial Roe versus Wad, que tornou o aborto legal nos EUA1973.
"Foi um alerta para mim porque é uma questão que vem sendo politizada", disse Weaver. "Este filme levará vocêvolta a essa experiência. É uma história sobre mulheres resgatando outras mulheres. Tendo vivido nesse tempo, pode acreditar, não queremos voltar para isso. Você pode não concordar comigo, e a escolha é sua."
Nesta semana, protestos pró e contra o direito ao aborto foram organizados nos Estados Unidos após documentos vazados sugerirem que a Suprema Corte do país pode reverter uma decisão histórica sobre o tema.
No rascunhoum documento publicado pelo site Politico, o juiz conservador Samuel Alito diz que a decisão1973, conhecida como Roe versus Wade, é "flagrantemente errada" e deve ser anulada.
Se a Suprema Corte derrubar a decisão1973, o aborto se tornaria instantaneamente ilegal22 estados. A decisão está prevista para sair no mêsjulho.
Outro filmedestaque que teve o aborto clandestino como tema foi Vera Drake,Mike Leigh,2004. Imelda Staunton foi indicada ao Oscar por interpretar uma mulher que foi presa por tentar ajudar mulheres a fazer abortos ilegais na Grã-Bretanha dos anos 1950.
Em 2020, o filmeEliza Hittman, Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre ganhou elogios da crítica ao retratar a solidão e a vulnerabilidadeuma adolescente que vai para Nova York na década1970 para tentar fazer um aborto.
Enquanto isso, experiências com aborto legal hoje foram mostradasfilmes como Saint Frances,Alex Thompson, sobre uma gravidez acidental, ouséries como Friends, Crazy Ex-Girlfriend e TribunalFamília.
'Impacto ruim'
Louise McCudden, consultora judicial e assuntos públicos da organização MSI Reproductive Choices, no Reino Unido, diz que produções sobre o aborto podem ter um impacto positivo nas mulheres que passam pela experiência.
"Por outro lado, às vezes a forma como o aborto é retratado pode ter um impacto ruim", diz ela.
"Temos clientes que ficam surpresas com uma equipe [de aborto legal] solidária e amigável, por exemplo, e que os locais do procedimento sejam bem iluminados e limpos, sem que precise sair pela porta dos fundos."
"Muitas vezes, o aborto é mostrado como uma cirurgia, mas o mais comum no Reino Unido, por exemplo, é tomar pílulas. E às vezes o aborto é mostrado como o pontocrise ou conflitoum drama. Na realidade, os clientes geralmente são claros sobre o que querem e não há uma maneira certa ou erradase sentir depois, mas isso ainda raramente foi retratado".
Audrey Diwan diz que O Acontecimento "foi um filme difícilfazer, uma batalha o tempo todo para convencer a indústria [do cinema] a apoiá-lo".
Ela continua: "Onde quer que eu mostre o filme pelo mundo, encontro muitas mulheres que podem falar sobre suas próprias experiências, às vezes pela primeira vez."
A diretora acrescenta que as históriasaborto ilegal e a solidão vivida pelas mulheres devem levantar outra discussão - sobre as responsabilidades do homem.
"Por que uma mulher parece ter mais responsabilidade nessas situações?" ela diz.
"Fazemos a mesma pergunta no filme. Queremos uma resposta, então espero que a reação e o debate que geramos com o filme nos dê algumas respostas. Então saberemos o porquê."
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