Como a implosão da URSS está na raiz da guerra na Ucrânia:bônus vaidebet

Mikhail Gorbachev, o último líder da União Soviética, ao lado do ex-presidente russo Boris Yeltsin, o primeiro após o colapso da URSS

Crédito, Georges DeKeerle/Getty Images

Legenda da foto, Mikhail Gorbachev, o último líder da União Soviética, ao lado do ex-presidente russo Boris Yeltsin, o primeiro após o colapso da URSS

"Dito isso, a forma como a Rússia agiu [ao atacar a Ucrânia] é injustificável do pontobônus vaidebetvista das relações internacionais, do direito internacional."

A partir dos anos 1990, a Otan abriu suas portas para países que pertenceram ao bloco comunista (República Tcheca, Eslováquia, Hungria, Polônia, Bulgária, Romênia, Albânia), ex-repúblicas soviéticas (Estônia, Letônia e Lituânia) e países dos Balcãs (Croácia, Eslovênia, Montenegro e Macedônia do Norte), essa uma regiãobônus vaidebetlaços tradicionais com a Rússia.

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Depois começaram as conversas para inclusão na Otanbônus vaidebetUcrânia e Geórgia, duas outras ex-repúblicas soviéticas.

"A diplomacia russa questionava a expansão da Otan no Leste Europeu argumentando que, uma vez que o Pactobônus vaidebetVarsóvia [a aliança militar do bloco comunista] foi extinto no fim da Guerra Fria, a Otan também deveria ter sido extinta", afirma Vicente Ferraro, mestrebônus vaidebetciência política pela Escola Superiorbônus vaidebetEconomiabônus vaidebetMoscou e pesquisador do Laboratóriobônus vaidebetEstudos da Ásia da USP.

"A intervenção da aliançabônus vaidebetKosovobônus vaidebet1999 [na Guerra dos Balcãs] representou um dos primeiros grandes atritos entre EUA e Rússia no período pós-Guerra Fria. Em um discurso emblemáticobônus vaidebet2007, Putin ressaltou o seu incômodo com a presença e atuação da aliança próximo às fronteiras russas, chegando a fazer ameaças concretas", diz Ferraro.

Para Felipe Loureiro, a decisãobônus vaidebetprimeiro manter a Otan e depois expandir para o leste foi resultadobônus vaidebetfatores múltiplos e complexos, não única e exclusivamentebônus vaidebetum projeto hegemônico dos EUA.

"Mas quando você expande uma determinada aliança, quando você se arma no sistema internacional, é compreensível que um outro país, principalmente uma potência aniquilada no pós-Guerra Fria, interpretasse isso como algo que a ameaçasse", analisa.

Em seu livrobônus vaidebetmemórias, Robert M. Gates, ex-secretário norte-americanobônus vaidebetDefesa nas gestões George W. Bush e Barack Obama, disse que "a relação com a Rússia foi muito mal administrada depois que [George] Bush [pai] deixou o governobônus vaidebet1993".

Vicente Ferraro lembra, no entanto, que os países do Leste Europeu e as ex-repúblicas soviéticas tiveram seus próprios motivos para a adesão à Otan.

"Vale salientar que a expansão da Otan e da União Europeia no leste não foi uma simples invasão. Houve a intençãobônus vaidebetpaíses da regiãobônus vaidebetaderir à aliançabônus vaidebetconsideração a fatos históricos, políticos e ideológicos. Havia temorbônus vaidebetum eventual expansionismo russo. A atuação da URSS no Leste Europeu durante a Guerra Fria deixou ressentimentos na região, do mesmo modo que a atuação dos EUA deixou ressentimentos na América Latina", diz.

Interferência na vizinhança

A influência atual da Rússiabônus vaidebetpaíses vizinhos se manifestabônus vaidebetforma política, econômica e militar. Moscou lidera uma aliança militar, a Organização do Tratadobônus vaidebetSegurança Coletiva (OTSC), que inclui Armênia, Belarus, Cazaquistão, Quirguistão e Tajiquistão.

No último dia 6bônus vaidebetjaneiro, enquanto a tensão crescia na Ucrânia, a Rússia mandou milharesbônus vaidebetparaquedistas ao Cazaquistão como "tropasbônus vaidebetmanutençãobônus vaidebetpaz" para controlar as manifestações populares contra o presidente local por causa da alta do combustível.

Ativistas protestambônus vaidebetLondres contra violações dos direitos humanos no Cazaquistão

Crédito, Guy Smallman/Getty Images

Legenda da foto, Ativistas protestambônus vaidebetLondres contra violações dos direitos humanos no Cazaquistão

"Em 2005, Putin declarou que o fim da URSS foi 'a maior catástrofe geopolítica' do século 20, dando indíciosbônus vaidebetsua intençãobônus vaidebetrestabelecer, ao menosbônus vaidebetparte, a influência russa nos países vizinhos", diz Ferraro, do Laboratóriobônus vaidebetEstudos da Ásia da USP.

"Tal paradigma causou apreensãobônus vaidebetpaíses vizinhos, como a Ucrânia."

Em 2008, o presidente russo Dmitry Medvedev (Putin foi designado premiê à época) afirmou que o país tinha poderbônus vaidebetveto sobre a política interna dessas nações por contabônus vaidebet"interesses privilegiados" da esfera russa.

"A partirbônus vaidebet2008, a Rússia passou a recorrer ao uso da força para resguardar abônus vaidebethegemonia no espaço pós-soviético. Naquele período, invadiu a Geórgia para repelir um ataque do governo local contra uma região separatista. Durante a crise ucranianabônus vaidebet2014, incorporou a Crimeia ao seu território e deu suporte militar e econômico às lideranças separatistas do leste", afirma Ferraro.

Mitologia e identidade russa

A consolidaçãobônus vaidebetPutin no poder também marcou a construçãobônus vaidebetum projeto que resgata as conquistas do passado russo e uma ideiabônus vaidebet"homem forte".

"A gente pode dizer que esse conflito na Ucrânia faz partebônus vaidebetum projetobônus vaidebetlongo prazo do Putin. Ele tem uma concepçãobônus vaidebetnacionalismo russo que a gente pode dizer que é bem próxima à concepção do czarismo no final do século 19", diz Loureiro, do departamentobônus vaidebetrelações internacionais da USP.

"É a ideiabônus vaidebetuma nação pan-russa que, apesar das diferenças étnicas, tem uma língua comum, uma religião comum (o cristianismo ortodoxo) e a centralidade na figura do czar, que no caso da Rússia contemporânea é o próprio Putin."

Na concepçãobônus vaidebetGrande Rússia, há dois países cruciais: a Bielo-Rússia (pequena Rússia, a atual Belarus, aliado mais próximobônus vaidebetPutin) e a Ucrânia.

"No século 9, vikings que utilizavam o rio Dnieper para comercializar madeira e âmbar entre o mar Báltico e o Mar Negro se estabeleceram nas cercaniasbônus vaidebetKiev", explica Fabiano P. Mielniczuk, coordenadorbônus vaidebetciência política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,

"O líder era chamado Rurik. Ele e seu filho são considerados os primeiros governantes dos Russos (chamados na épocabônus vaidebetKievan Rus). Com o tempo, os Rus se espalharam para alémbônus vaidebetKiev [atual capital da Ucrânia] e chegaram até Moscou. Com o tempo também, eles se dividirambônus vaidebetprincipados e passaram a disputar o poder."

Por isso, observa Loureiro, "a Ucrânia tem espaço importante no imaginário da identidade nacional".

Esse nacionalismo está no cerne do conservadorismo russo, que defende "valores tradicionais"bônus vaidebetoposição ao que chamambônus vaidebet"valores liberais ocidentais decadentes" - aprovação do casamento gay, diminuição do protagonismo masculino e faltabônus vaidebetcentralidade no papel da família.

Aliança com a China

Mielniczuk analisa que "Putin representa o que restou aos russos na busca pela redefinição das suas identidades após o fim da guerra fria. O Ocidente fechou as portas para negociações sérias sobre o papel dos russos na ordem pós-Guerra Fria, tratando-os como perdedores".

"O processobônus vaidebetreconstrução da identidade russa se desenvolveu tendo o Ocidente como antagonista", complementa.

Vladimir Putin e Xi Jinping anunciaram parceria 'sem limites'

Crédito, ALEXEI DRUZHININ/Getty Images

Legenda da foto, Vladimir Putin e Xi Jinping anunciaram parceria 'sem limites'

É um interesse comum com o líder chinês Xi Jinping, com quem Putin anunciou uma "parceria sem limites".

"A ordem será marcadamente multipolar novamente. Por ser uma invenção ocidental, o aumentobônus vaidebetpoderbônus vaidebetpolos não ocidentais vai necessariamente se refletirbônus vaidebetuma crítica às instituições do ocidente, como a democracia liberal", diz Mielniczuk.

Loureiro diz que "Putin vem transformando o estado russobônus vaidebetum estado crescentemente autocrático e centrado na personalidade dele. Ele e Xi Jinping sustentam que os regimes que eles comandam garantem maior centralização, maior coerência, uma suposta maior unidade coletiva que representa mais eficiência, rapidez e coerência para lidar com os desafios do século 21".

"Esse me parece que vai ser um embate importante, ideologicamente falando, das relações internacionais no século 21."

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