China, Venezuela e ONU: as profundas diferenças entre Bolsonaro e Putin:trixie 4 betano
"Por outro lado, na perspectiva do Putin, no momentotrixie 4 betanoque ele está testando os limites da institucionalidade internacional, aparecer com outro presidente,trixie 4 betanoum país grande como o Brasil, é também conveniente. Putin está tensionando e também está sob tensão", acrescenta o pesquisador, referindo-se à crise da Ucrânia,trixie 4 betanoque potências ocidentais alertam para o riscotrixie 4 betanoinvasão da Rússia ao seu país vizinho.
Professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o cientista político Guilherme Casarões aponta ainda outros ganhos que a viagem à Rússia pode representar para Bolsonaro, ainda maistrixie 4 betanoano eleitoral.
"Ele vai passar uma mensagem para atrixie 4 betanobase eleitoraltrixie 4 betanoque ele tem credibilidade política lá fora. Isso é uma formatrixie 4 betanose contrapor as evidências, que certamente serão usadas na campanha eleitoral contra o Bolsonaro,trixie 4 betanoque ele proporcionou o maior isolamento internacional do Brasil na história. O principal candidato nas eleições desse ano, o Lula, tem um legado diplomático muito consistente para defender", diz Casarões, considerando que pesquisas eleitorais têm mostrado a liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro e segundo turno.
Para o cientista político, a viagem atende também a "grupostrixie 4 betanointeresse organizados que estão sustentando a candidaturatrixie 4 betanoBolsonaro": o agronegócio e os militares, setores que podem ser beneficiados com negociações comerciais e o desenvolvimento tecnológico envolvendo os russos.
Apesar dos frutos que os presidentes do Brasil e da Rússia podem colher do encontro, a política externatrixie 4 betanoseus países têm raízes bastante diferentes.
China, Cuba e Venezuela
O professor Marcos Cordeiro Pires diz que tem grande projeção política mas pouca relevância real no bilateralismo Brasil-Rússia a aproximação entre Bolsonaro e Putintrixie 4 betanoum ultraconservadorismo internacional, algo representado por seus respectivos gurus, Olavotrixie 4 betanoCarvalho (que morreutrixie 4 betanojaneiro) e Alexandr Dugin. Pires aponta também para semelhanças entre os dois presidentestrixie 4 betanotemas como os direitostrixie 4 betanohomossexuais e na intolerância a dissidentes políticos.
Para o pesquisador, importa mais o posicionamento efetivo — e divergente — da Rússia e do Brasil no cenário internacional.
"Qual é a posição do governo brasileiro com relação a intervenções estrangeiras, como por exemplo ocorreu na Síria? Ou ao conflito no Irã? Você vai ver que o governo brasileiro se alinha ao bloco ocidental com os americanos, enquanto a Síria e o próprio Irã estão caminhando para um outro eixo mais próximo à Rússia", aponta Pires.
"O Brasil se alinha com os americanos, não é mais uma forçatrixie 4 betanofavor da multipolaridade como fora antestrixie 4 betano2018. Hoje, o Brasil é uma força do alinhamento praticamente automático (com os EUA)."
Para o especialista, embora Bolsonaro tenha manifestado contrariedade ao atual presidente americano, o democrata Joe Biden, a diplomacia e a defesa brasileira continuam essencialmente alinhadas com os Estados Unidos.
Enquanto isso, a hegemonia americana tem sido há décadas um dos principais alvos da atuação externa da Rússia — e este é um laço que une Moscou a Pequim, segundo lembra Guilherme Casarões, para quem é possível dizer que os dois países são aliados. A China é também o maior parceiro comercial da Rússia.
"A Rússia e China têm vários pontostrixie 4 betanoconvergência, a começar pelo fatotrixie 4 betanoque se opõem à hegemonia norte-americana no mundo. Mas é claro que existem pontostrixie 4 betanotensão, principalmente com relação às questões geopolíticas mais urgentes. Por exemplo, a Rússia tem uma posição muito mais assertiva no Oriente Médio do que a China, que tem muito menos interessetrixie 4 betanocriar situaçõestrixie 4 betanointervenção internacional. A Rússia é muito mais belicista nesse sentido, e também tem uma preocupação enorme com o crescimento da presença chinesa na Ásia Central", diz o professor da FGV.
Na crise da Ucrânia, enquanto Estados Unidos e países da Europa Ocidental criticavam os russos e pediam que Putin recuasse, os presidentes da Rússia e da China divulgaram um comunicado conjunto pedindo o fim da expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Mas poucos países são mais alvostrixie 4 betanocríticas por parte do presidente Bolsonaro do que Cuba, que portrixie 4 betanovez tem uma longa relação com a Rússia. O ex-militar brasileiro é um crítico do regime comunista que comanda o país. Em seus discursos, ele sempre levanta a bandeira do combate à uma suposta ameaça comunista caso a direita perca o poder no Brasil.
Logo que chegou ao poder,trixie 4 betano2019, o governo Bolsonaro reformulou o programa Mais Médicos, que previa o empregotrixie 4 betanomédicostrixie 4 betanodiversos países, mas principalmente cubanos,trixie 4 betanoáreas carentes do Brasil. Mais recentemente, Bolsonaro veio a público para criticar as autoridades cubanas durante protestos anti-regime,trixie 4 betano2021. Na época, Bolsonaro demonstrou apoio aos manifestantes.
"Sabe o que eles tiveram ontem? Borrachada, pancada e prisão. E tem gente aqui no Brasil que apoia quem apoia Cuba, quem apoia Venezuela", disse.
Putin, por outro lado, mantém laços cordiais com os cubanos, numa postura que lembra,trixie 4 betanoalguma medida, a histórica relação entre Cuba e a ex-União Soviética.
Pouco depois da Revolução Cubana,trixie 4 betano1959, Cuba passou a adotar o comunismo. A partir daí, as relações entre os dois países se estreitaram. Os soviéticos sempre viram Cuba como um ponto estratégico no contexto da Guerra Fria, uma vez que o país fica a pouco maistrixie 4 betano100 quilômetros da costa norte-americana. O país chegou a abrigar mísseis russos que, quando descobertos pelos americanos, deram origem à famosa Crise dos Mísseis, que quase levou o mundo a um conflito nuclear.
Além do componente militar, cubanos e russos estabeleceram laçostrixie 4 betanocooperaçãotrixie 4 betanodiferentes áreas, da medicina aos esportes.
Com o colapso da União Soviética, no início dos anos 1990, as relações passaram por um período turbulento, mas os dois nunca romperam totalmente seus laços. A chegadatrixie 4 betanoPutin no poder,trixie 4 betano1999, marcou uma retomada nessas relações, sempre marcadas pelo componente estratégicotrixie 4 betanofunção da proximidade do país com os Estados Unidos.
A Rússia continua como um dos principais parceiros comerciaistrixie 4 betanoCuba e um dos maiores críticos do embargo econômico imposto pelos Estados Unidos ao país. Nos últimos anos, a Rússia enviou ajuda humanitária para Cuba enfrentar a pandemiatrixie 4 betanocovid-19.
Em meio ao aumento das tensões na fronteira entre Rússia e Ucrânia, Sergei Ryiabkov, que chefiou uma delegação russa durante um encontro com os americanos sobre o assunto, disse que se as negociações com os americanos fracassassem, ele não poderia "nem confirmar e nem excluir" o enviotrixie 4 betanotropas russas para Cuba ou Venezuela. No dia 24trixie 4 betanojaneiro, enquanto a crise russo-ucraniana aumentava, Putin e o presidentetrixie 4 betanoCuba, Miguel Diaz Canal Bermudes, tiveram uma conversa por telefone,trixie 4 betanomais uma demonstraçãotrixie 4 betanoproximidade entre os dois.
O cenáriotrixie 4 betanorelação à Venezuela é parecido com o cubano. Bolsonaro frequentemente usa o país comandado pelo ditador Nicolás Maduro como exemplo (ruim) do que aconteceria com o Brasil caso a esquerda tomasse o poder.
A Venezuela enfrenta uma grave crise econômica e social que fez com que milhõestrixie 4 betanopessoas deixassem o paístrixie 4 betanodireção a nações vizinhas como o Brasil e a Colômbia. Bolsonaro culpa o sistema bolivariano implantado no país durante os governostrixie 4 betanoHugo Chávez e que teve prosseguimento na gestãotrixie 4 betanoMaduro.
Logo no iníciotrixie 4 betanoseu mandato, Bolsonaro reconheceu o líder opositor Juan Guaidó como presidente da Venezuela, acirrando ainda mais as tensões com o país vizinho. Em 2020, o governo tentou expulsar diplomatas do governo venezuelano leais a Maduro, mas a iniciativa foi impedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
À época, Bolsonaro mantinha uma política internacional alinhada com a do então presidente norte-americano Donald Trump.
Putin, por outro lado, adota uma postura totalmente diferente da do colega brasileiro. A Rússia é um importante parceiro comercial da Venezuela e mantém laços estratégicos com o país. Os russos são alguns dos principais fornecedorestrixie 4 betanoequipamentos bélicos para as forças militares venezuelanas, que receberam nos últimos anos caças supersônicos e tanquestrixie 4 betanoguerra.
Além disso, o país também vende grandes quantidadestrixie 4 betanooutras armas, como fuzis. A presençatrixie 4 betanoequipamento militar russotrixie 4 betanoum país dentro da América Latina é vista com preocupação tanto por autoridades norte-americanas como brasileiras.
Em janeirotrixie 4 betano2019, durante protestos contra o regime que acabaramtrixie 4 betanoconfrontos, o presidente Putin demonstrou apoio a Maduro e conversaram por telefone. Um comunicado divulgado pelo Kremlin diz que Putin "enfatizou que a interferência externa destrutiva é uma grande violação das normas fundamentais do direito internacional".
Em uma nova demonstraçãotrixie 4 betanoproximidade, Maduro e Putin voltaram a conversar por telefonetrixie 4 betanoplena crise russo-ucraniana. No comunicado divulgado pelo Kremlin, Putin voltou a defender a soberania da Venezuela: "Vladimir Putin expressou seu inabalável suporte às autoridades venezuelanas para fortalecer a soberania do país e assegurar seu desenvolvimento socioeconômico".
Moscou: defesa do multilateralismo
O comunicado vai ao encontrotrixie 4 betanouma tradicional postura russa, segundo aponta Guilherme Casarões.
"A Rússia defende o multilateralismo, mas tem uma questão muito sensível, que é a da soberania. Ela não abre mão do direito soberano dos paísestrixie 4 betanoresolver seus próprios problemas — algo parecido com a China, ambas são muito pró-soberania nesse sentido", afirma Casarões, doutor e mestretrixie 4 betanociência política pela Universidadetrixie 4 betanoSão Paulo (USP) e mestretrixie 4 betanorelações internacionais pela Universidadetrixie 4 betanoCampinas (Unicamp).
O multilateralismo, uma orientação pela cooperação entre vários países, é, segundo os especialistas, demonstrada pela atuação russa na ONU etrixie 4 betanooutros fóruns internacionais.
"A posição da Rússia histórica foi pró-multilateral. Ela foi uma das fundadoras da ONU, sempre teve uma atuação relativamente propositiva na ONU etrixie 4 betanooutros blocos multilaterais. Até mais construtiva que os EUA nos últimos tempos", diz Casarões.
"Você não vai ouvir nenhum discurso da diplomacia, da chancelaria russa, falando mal da ONU, que a ONU não serve para nada, que deveria desaparecer. Coisas que a gente ouve da bocatrixie 4 betanopresidentes republicanos dos EUA e que ouvimos diversas vezestrixie 4 betanodiversas formas no governo Bolsonaro: do Ernesto Araújo (ex-ministrotrixie 4 betanoRelações Exteriores) ao próprio presidente."
Marcos Cordeiro Pires aponta também para as diferentes posturas da Rússia e do Brasiltrixie 4 betanorelação aos BRICS, grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, como indicam suas iniciais; e na própria Organização Mundial do Comércio (OMC).
Segundo o especialista, os BRICS são hoje uma instituição bloqueada pelos presidentes do Brasil e da Índia, enquanto ainda tem o entusiasmo da Rússia.
Ele lembratrixie 4 betanoum tuítetrixie 4 betanojaneirotrixie 4 betano2021 escrito pelo então secretáriotrixie 4 betanoEstado dos EUA, Mike Pompeo, fazendo piada da situação: "Lembram dos BRICS? Bom, graças a @jairbolsonaro e @narendramodi, tanto o B quanto o I avaliam que o C e o R são ameaças aos seus povos".
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Pires diz que, na OMC, e tambémtrixie 4 betanoencontros do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), o governo Bolsonaro tem representado um abandono do blocotrixie 4 betanopaíses que pleiteiam maior podertrixie 4 betanobarganha para os paísestrixie 4 betanodesenvolvimento, postura portrixie 4 betanovez defendida pela Rússia.
"Até 2018, o Brasil tinha um papel ativo na OMC, inclusive (representado pelo) o próprio presidente, o Roberto Azevêdo. Quando entra 2019 (início do governo Bolsonaro), o próprio Brasil ajuda a esvaziar a OMC justamente no momentotrixie 4 betanoque os paísestrixie 4 betanodesenvolvimento tentam avançar a pauta. O Brasil se alinha ao governo Trump (EUA) no sentidotrixie 4 betanobloquear avanços e abre mão do statustrixie 4 betanonaçãotrixie 4 betanodesenvolvimento, supostamente para alcançar alguma vantagem no ingresso à OCDE", recorda o professor da Unesp, mestre e doutortrixie 4 betanohistória econômica pela USP.
Azevêdo deixou a direção-geral da OMCtrixie 4 betano2020.
Janelas para a Rússia no Brasil e na América Latina
Guilherme Casarões aponta que, ao perder espaço geopolítico para a China e ao ser pressionada pela expansão da Otan, a Rússia tem buscado outras áreastrixie 4 betanoinfluência como o Oriente Médio e a América Latina.
"A Rússia se aproximou do MAS (Movimento ao Socialismo, da Bolívia), tem uma relação próspera com Andrés Manuel López Obrador no México e com Alberto Fernández na Argentina — foi inclusive uma das principais patrocinadorastrixie 4 betanoum eventual ingresso da Argentina nos BRICS. O Brasil, dentro desse contexto, é um país importante do pontotrixie 4 betanovista geopolítico para que a Rússia possa firmar atrixie 4 betanoposição", afirma o cientista político.
Para o especialista, ao encontrar Bolsonaro, Putin está pensando mais na relação a médio prazo com o Brasil do que com o atual presidente brasileiro — afinal, este não cultiva relações com países latino-americanos dos quais Moscou está se aproximando.
"O Putin está preocupado com o médio prazo, com o próximo governo. Se for o governo Lula, que é o mais provável, vai ter muito mais proximidade com Venezuela, Bolívia, Argentina, Cuba do que o atual. E vai ser estratégico para a Rússia triangular essas relações", avalia Casarões, para quem Brasil e Rússia cultivaram bons laços nos mandatostrixie 4 betanotodos os presidentes brasileiros recentes, desde pelo menos Fernando Henrique Cardoso.
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