Por que criar filhos sem ajuda externa é tão difícil para humanos:casa de apostas gusttavo lima
Durante os meses que se seguiram, muitos pais sentiram um peso enorme sobrecasa de apostas gusttavo limasaúde mental e física. Vieram novos confinamentos e fechamentoscasa de apostas gusttavo limaescolas, juntamente com relatoscasa de apostas gusttavo limaum preocupante aumento nos níveiscasa de apostas gusttavo limaestresse, ansiedade e depressãocasa de apostas gusttavo limapais.
Muitos se perguntavam por que isso era tão difícil. Nós não deveríamos ser naturalmente bonscasa de apostas gusttavo limacriar nossos filhos sem ajuda externa? Afinal, nós, seres humanos, não nos virávamos bem sem escolas ou creches no passado?
Como bióloga evolucionista, eu não tenho respostas para todas as crises familiares relacionadas à pandemia, mas eu posso dizer uma coisa com certeza: como espécie, os humanos são espetacularmente mal equipados para lidar com a criação dos filhoscasa de apostas gusttavo limaisolamento.
A partircasa de apostas gusttavo limauma perspectiva evolucionista, não surpreende que muitoscasa de apostas gusttavo limanós tenhamos nos sentido tão sobrecarregados. Apesar da ideia comumcasa de apostas gusttavo limaque uma família moderna consistecasa de apostas gusttavo limaunidades pequenas e independentes, a realidade é que nós frequentemente nos beneficiamos da ajudacasa de apostas gusttavo limaoutros para criar nossos filhos.
Um por todos e todos por um
Durante grande parte da história humana, as chamadas famílias extensas (incluindo avós, tios e primos) ofereciam essa ajuda. Em sociedades industrializadas contemporâneas,casa de apostas gusttavo limaque unidades familiares menores são comuns, professores, babás e outros cuidadores nos permitiram reproduzir aquela antiga redecasa de apostas gusttavo limaapoio.
A forma colaborativacasa de apostas gusttavo limacriar filhos nos torna únicos entre os grandes primatas. Chamadacasa de apostas gusttavo lima"criação cooperativa", ela é mais semelhante à maneira como as formigas ou as suricatas - espécies mais distantes do ser humano - vivem e nos deu vantagens evolutivas cruciais.
Espécies que criamcasa de apostas gusttavo limaprolecasa de apostas gusttavo limaforma cooperativa vivemcasa de apostas gusttavo limagrandes grupos familiares,casa de apostas gusttavo limaque indivíduos trabalham juntos para criar as crianças. Talvez surpreendentemente, outros primatas, como os chimpanzés, não criam seus filhos dessa maneira.
Embora humanos e chimpanzés vivam amboscasa de apostas gusttavo limagrupos sociais complexos, que compreendem parentes e membros sem ligação familiar, uma olhar mais atento revela algumas diferenças gritantes.
As mães chimpanzés criam seus filhos sozinhas, com pouca ou quase nenhuma ajudacasa de apostas gusttavo limamais ninguém, nem mesmo do pai. O mesmo vale para gorilas, orangotangos e bonobos.
Mais: as primatas fêmeas não passam por uma menopausa fisiológica, o que significa que elas continuam férteis por todacasa de apostas gusttavo limavida. Como resultado, é relativamente comum uma mãe e uma filha estarem criando seus filhos ao mesmo tempo. Isso limita o potencial para que as avós ajudem na criaçãocasa de apostas gusttavo limaseus netos.
Nós somos claramente diferentes. Durante a maior parte da nossa existência na Terra, nós humanos vivemoscasa de apostas gusttavo limaunidades familiares extensas,casa de apostas gusttavo limaque as mães recebiam assistênciacasa de apostas gusttavo limamuitos outros integrantes da família. Em muitas sociedades humanas contemporâneas, isso ainda acontece.
Os homens envolvem-se com frequência na criaçãocasa de apostas gusttavo limaseus filhos, embora a extensão da participação paternal varie bastante entre as sociedades. Os filhos pequenos também recebem educaçãocasa de apostas gusttavo limauma variedadecasa de apostas gusttavo limaoutros parentes, incluindo irmãos mais velhos, tias e tios, primos e, claro, avós.
Mesmo crianças pequenas podem assumir um papel vitalcasa de apostas gusttavo limaajudar a sustentar e proteger bebês mais novos. Numa organização desse tipo, é muito raro que o pesocasa de apostas gusttavo limacuidar das crianças caia sobre apenas uma pessoa.
Crianças que ajudam
Abbey Page, uma antropóloga biológica que trabalhou extensivamente com os agta (ou aeta), uma sociedadecasa de apostas gusttavo limacaçadores-coletores das Filipinas, diz que nós estamos apenas começando a entender a verdadeira extensão dessas redescasa de apostas gusttavo limaapoio tão tradicionais. Por exemplo, entre os agta, criançascasa de apostas gusttavo lima4 anoscasa de apostas gusttavo limaidade já são, frequentemente, membros produtivos da família.
"As contribuições das crianças sempre foram negligenciadas", diz Page. No passado, devido a conceitos estritos do que constitui trabalho e brincadeira, pesquisadores tendiam a não perceber que uma criança poderia estar brincando num momento e logo depois estar colhendo frutas na mata.
"As crianças estão claramente subsidiando a si mesmas [nessas sociedadescasa de apostas gusttavo limacaçadores-coletores]", afirma ela.
As crianças agta também ajudam ao proteger seus irmãos mais novoscasa de apostas gusttavo limaperigos. Page lembra quando estava sentadacasa de apostas gusttavo limauma cabanacasa de apostas gusttavo limauma família agta com um meninocasa de apostas gusttavo lima4 anos ecasa de apostas gusttavo limairmã, ainda bebê.
Os três estavam sentados no chão quando entrou um escorpião. Page admite que ela ficou atordoada: "Eu não consegui ajudarcasa de apostas gusttavo limaforma alguma". Felizmente, o menino sabia o que fazer: "Ele imediatamente pulou, pegou um pau da fogueira e esmagou o escorpião ecasa de apostas gusttavo limaseguida pulou sobre ele algumas vezes". Esse simples ato potencialmente salvou a vidacasa de apostas gusttavo limasua irmã.
A experiência fez com que Page refletisse sobre o que pode ser considerado como cuidarcasa de apostas gusttavo limacriança. No Ocidente, o cuidado infantil tipicamente significa que um adulto responsável, geralmente um dos pais, não apenas presta atenção na criança, mas proporciona intensivos engajamento e simulações.
Quando os pais não podem fazer isso, porque estão ocupados trabalhando, por exemplo, eles podem se sentir culpados ou inadequados. Mas a pesquisacasa de apostas gusttavo limaPage revelou muitas outras formas com que crianças podem ser assistidas e prosperar, sem um foco intenso apenas nos pais.
De fato, a assistênciacasa de apostas gusttavo limairmãos, com os mais velhos ajudando a criar os mais novos, é uma característica marcante das espécies que praticam a criação cooperativa. As suricatas procuram comida que pode ser compartilhada com os mais novos e servemcasa de apostas gusttavo limababáscasa de apostas gusttavo limarecém-nascidos na toca. Elas ensinam filhotes a operar perigosos itenscasa de apostas gusttavo limacaça.
As fêmeas até produzem leite para alimentar seus irmãos mais novos. Assim como o menino que salvoucasa de apostas gusttavo limairmã do escorpião, algumas das formas mais importantescasa de apostas gusttavo limacuidado nessas sociedades cooperativas também envolvem proteger indivíduos mais jovens: mantê-los a salvocasa de apostas gusttavo limapredadores e foracasa de apostas gusttavo limaperigo.
Espécie resiliente
A criação cooperativa tem uma vantagem crucial sobre formas mais solitáriascasa de apostas gusttavo limacriação dos filhos: pode tornar uma espécie mais resiliente - e provavelmente evoluiu como uma maneiracasa de apostas gusttavo limaafastar adversidades.
Muitas espécies que praticam a criação cooperativa são encontradas nas regiões mais quentes e secas do planeta. Os primeiros humanos também habitavam regiões difíceis, onde não era fácil encontrar comida, que precisava ser encontrada, tiradacasa de apostas gusttavo limarestos ou obtida com a mortecasa de apostas gusttavo limaoutro animal.
A colaboração era um pré-requisito para a sobrevivência numa forma que não é para grandes primatas contemporâneos.
Nossos primos primatas todos habitam ambientes relativamente estáveis e benignos - essencialmente, pratos gigantescasa de apostas gusttavo limasalada -, onde a comidacasa de apostas gusttavo limaque eles precisam para sustentar a prole e eles mesmos é muito mais fácilcasa de apostas gusttavo limaser obtida.
Os seres humanos foram, aparentemente, os únicos primatas que sobreviveram nas regiões mais difíceis - não há registrocasa de apostas gusttavo limafósseiscasa de apostas gusttavo limaoutros grandes primatas nessas regiões.
Paradoxalmente, nossa tendência cooperativa, que nos permitiu sobreviver e prosperar por tanto tempo, pode ter tornado a atual crise da pandemiacasa de apostas gusttavo limacovid muito mais dura, dos pontoscasa de apostas gusttavo limavista psicológico e prático.
Durante os confinamentos, nós fomos separados das nossas redescasa de apostas gusttavo limaapoio: os avós, tias e tios, mas também as escolas, creches e gruposcasa de apostas gusttavo limabrincadeiras que nos ajudavam a reproduzir nossas antigas estruturas humanascasa de apostas gusttavo limagrupo.
Não apenas isso, mas houve uma expectativacasa de apostas gusttavo limaque nós retornássemos a nossas pequenas unidades familiares como se isso fosse uma coisa instintiva. Para muitoscasa de apostas gusttavo limanós, a sensação eracasa de apostas gusttavo limaque isso era quase impossível, e não havia uma explicação verdadeiracasa de apostas gusttavo limapor que a gente via a situação dessa forma.
Afinal, nossa noção ocidentalcasa de apostas gusttavo limafamília coloca muita ênfase no cuidado maternal e muito pouca nas contribuiçõescasa de apostas gusttavo limaoutros membros da família. A expectativa eracasa de apostas gusttavo limaque as mães e os pais, ou mesmo apenas as mães, sozinhas, seriam amplamente suficientes para cuidar dos filhos.
Entretanto, Segundo Rebecca Sear, professoracasa de apostas gusttavo limademografia evolucionária na London School of Hygiene and Tropical Medicine, no Reino Unido, essa ideia da família nuclear autossuficiente reflete as experiências e visõescasa de apostas gusttavo limamundocasa de apostas gusttavo limapesquisadores ocidentais,casa de apostas gusttavo limavezcasa de apostas gusttavo limauma realidade histórica.
A ideia da família nuclear, sustentada por um homem provedor dos recursos, tornou-se particularmente enraizada durante o período pós-Segunda Guerra Mundial, uma épocacasa de apostas gusttavo limaque "o ambiente acadêmico estava cheiocasa de apostas gusttavo limahomens ricos, brancos, ocidentais que olhavamcasa de apostas gusttavo limavolta, para suas próprias famílias, e simplesmente pensavam que sempre havia sido assim", afirma Sear.
Modelo recente
O termo "família nuclear" surgiu apenas nos anos 1920. Essa estrutura familiarcasa de apostas gusttavo limasi, porém, centrada nos pais e um número relativamente pequenocasa de apostas gusttavo limafilhos, é mais antiga e pode estar ligada à Revolução Industrial, quando a mudança do trabalho no campo para a indústria permitiu a adoçãocasa de apostas gusttavo limaestiloscasa de apostas gusttavo limavida mais independentes.
Uma explicação alternativa é que políticas da igreja ocidental durante a Idade Média, que proibiram o casamento entre primos e outros membros da família extensa, fez com que as famílias encolhessem. Mas, embora a família nuclear seja um conceito tão onipresente na pesquisa e na cultura do Ocidente no século 20, incluindo inúmeros romances, filmes e programascasa de apostas gusttavo limaTV, Sear explica que ela pode ser considerada mais uma anomalia, mesmo no Ocidente.
"A coabitaçãocasa de apostas gusttavo limaapenas os pais e seus filhos é algo relativamente raro mundo afora", afirma Sear. "Há muita variação nas estruturas familiares pelo mundo, mas o que é comum é que os pais recebem ajuda na criação dos filhos, e isso é verdade até mesmo nas classes médias ocidentais."
O arranjo típico para seres humanos não é um casal criando suas criançascasa de apostas gusttavo limaforma isolada, explica ela. Pelo contrário, nós geralmente precisamos e recebemos ajuda quando se tratacasa de apostas gusttavo limacriar os filhos.
Tampouco a ideia das mulheres como mães e donas-de-casa é tão tradicional como às vezes muitos fazem parecer. Em sociedadescasa de apostas gusttavo limasubsistência, históricas e contemporâneas, as mulheres exercem um papel significativo na produção do sustento das suas famílias. As mulheres também são provedoras.
Com essa perspectiva diferente da família humana, talvez nossas expectativas sobre como cuidar das crianças durante a pandemia tivessem sido diferentes. Em vezcasa de apostas gusttavo limasupor que os pais, especialmente as mães, deveriam carregar (e carregariam) o peso, nós poderíamos ter reconhecido o papel crucialcasa de apostas gusttavo limaoutros membros da família ecasa de apostas gusttavo limacuidadores.
Com uma compreensão do quanto nós contamos uns com os outros para criar filhos, nós poderíamos ter sido mais pacientes com os outros - e com nós mesmos - quando enfrentamos dificuldades.
Esperar que os humanos criem filhos como os chimpanzés é um pouco como isolar uma formigacasa de apostas gusttavo limasua colônia: nós não somos necessariamente feitos para isso - e, com frequência, isso não dá certo. Admitir que nós precisamoscasa de apostas gusttavo limaoutras pessoas não é um sinalcasa de apostas gusttavo limafracasso. É exatamente o que nos torna humanos.
* Nichola Raihani é professoracasa de apostas gusttavo limaevolução e comportamento no University College London e autoracasa de apostas gusttavo limaThe Social Instinct: How Cooperation Shaped the World (O Instinto Social: Como a Cooperação Moldou o Mundo. Ela é @nicholaraihani no Twitter.
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