Por que e como o ser humano perdeu o rabo na evolução?:blazers com aposta
A verdade é que a cauda - no Brasil também chamadablazers com aposta"rabo" - pode ter múltiplos benefícios no mundo animal.
Desde que surgiram nos primeiros seres vivos, há maisblazers com aposta500 milhõesblazers com apostaanos, as caudas - ou os rabos - assumiram vários papéis.
Nos peixes, elas ajudam na propulsão dentro d'água. Nos pássaros, ajudam na realização do voo. Nos mamíferos, colaboram para o equilíbrio dos animais.
Pode ser também uma armablazers com apostadefesa, como no caso dos escorpiões. Ou usado como um sinalblazers com apostaadvertência, como fazem as serpentes do tipo cascavel.
Nos primatas, a cauda adapta-se a uma variedadeblazers com apostaambientes. Os macacos-uivadores, nativos das Américas do Sul e Central, por exemplo, têm uma cauda larga e preênsil (adaptada a prender e segurar coisas) que os ajuda a agarrar galhos ou alimentos quando estão sobre as árvores.
Mas os hominídeos, a famíliablazers com apostaprimatas que inclui os seres humanos e os grandes símios, como orangotangos, chimpanzés e gorilas, não têm caudas.
Por que e como ocorreu o desaparecimento das caudas na evolução dos hominídeos são perguntas que têm intrigado cientistas há décadas.
A resposta parece estarblazers com apostauma mutação genética recém-descoberta que afetoublazers com apostaalguma maneira os genes que davam forma à cauda dos hominídeos, uns 25 milhõesblazers com apostaanos atrás.
A mutação sobreviveu ao longo do tempo e foi passandoblazers com apostageração para geração, mudando a locomoção dos hominídeos, o que pode estar relacionado ao fatoblazers com apostaque nós humanos caminhamos sobre duas pernas.
"Tudo isso parece estar relacionado e ocorreublazers com apostatorno do mesmo período evolutivo. Mas não sabíamos nada da genética que atua nesse processoblazers com apostadesenvolvimento e, logicamente, na evolução", acrescenta Xia.
"Como se pode imaginar, esse é um dos pontos evolutivos cruciais, o que nos faz humanos." E, para comprová-lo, Xia aplicou a mesma mutaçãoblazers com apostacamundongos.
O que se observou foi que os camundongos desenvolveram formas diferentesblazers com apostacaudas. Alguns tinham caudas mais curtas, enquantoblazers com apostaoutros não cresceu cauda alguma.
O enigma humano
Charles Darwin já havia dito isso. O Homo sapiens (a espécie humana atual) tinha parentesco com os macacos com cauda.
O naturalista britânico publicou A Origem do Homem em 1871, obrablazers com apostaque explicava queblazers com apostateoria da evolução era completamente aplicável à espécie humana.
Foi uma grande revelação para a época. Afinal, os humanos sempre estabelecemos uma distância entre a sociedade moderna e o mundo animal: vivemosblazers com apostacasas, nossa pele é diferente, e fazemos uso do nosso cérebro para resolver dilemas complexos.
Darwin já havia balançado as estruturas da ciência da época com a publicaçãoblazers com apostaA Origem das Espécies,blazers com aposta1859. Sua explicação sobre a origem do ser humano foi revolucionária, já que até então a maioria dos cientistas ocidentais compartilhava a ideiablazers com apostaque Deus havia concebido todas as criaturas do planeta.
Entretanto, nós humanos compartilhamos maisblazers com aposta98%blazers com apostanosso DNA com os chimpanzés, com quem temos ancestraisblazers com apostacomum.
Os primeiros hominídeos, surgidos há 20 milhõesblazers com apostaanos, já não tinham caudas. Então, se a cauda está relacionada à evoluçãoblazers com apostasímios e humanos e influenciou na locomoção e na formablazers com apostaandar, cabe a pergunta: o que ocorreu primeiro, o desaparecimento da cauda ou a locomoção sobre duas pernas?
"É como a pregunta do ovo e a galinha", afirma Xia. "E, como pode imaginar, não é uma pergunta fácilblazers com apostaresponder."
A resposta curta éblazers com apostaque é virtualmente impossível conhecer com exatidão os acontecimentos iniciais que fizeram com que nossos antepassados ficassemblazers com apostapé, sobre duas patas, e saber se isso estava relacionado com o fatoblazers com apostaque não tinham cauda.
Ou, ao contrário, se não temos cauda porque ficamosblazers com apostapé, e com isso é mais fácil para nós manter o equilíbrio sobre nossas pernas - e, por isso, não precisamos maisblazers com apostacauda.
"Precisaríamosblazers com apostauma máquina do tempo para saber tudo isso. Poderíamos regressar no tempo e observar os acontecimentos iniciais. Mas, como não a temos, eu poderia dizer que não sabemos, e isso seria o fim da discussão. Então alguém poderia perguntar por que estamos falando disso tudo."
"A verdadeira resposta é que esses dois processos sempre são discutidos conjuntamente ou interferem um no outro."
Ou seja, não podemos falar da evolução humana sem fazer referência à cauda ou à locomoção bípede (sobre duas pernas), independentemente do que veio (ou aconteceu) primeiro.
A resposta está na genética
Xia mergulhou no tema da cauda nos seres humanos desde que machucou o cóccix - osso da parte inferior da coluna - numa viagemblazers com apostacarro, dois anos atrás.
O cóccix, do latim coccyx, é a última peça da nossa coluna vertebral, formado por quatro vértebras fundidas, e representa o vestígio do que foi uma cauda milhõesblazers com apostaanos atrás.
Em imagensblazers com apostaembriões humanos, é possível ver uma cauda, que é absorvida pelo embrião após algumas semanas para dar forma à coluna vertebral.
Esse cóccix, que serveblazers com apostasuporte para os glúteos, está localizado no mesmo ponto onde outros animais possuem suas caudas.
"Nós levantamos todos esses temas porque a ciência nos interessa e buscamos respostas nela. Eblazers com apostaciência temos conseguido, nos últimos cem anos, grandes avançosblazers com apostagenética", diz Itai Yanai, pesquisador e diretor do Institutoblazers com apostaMedicina Computacional da Universidadeblazers com apostaNova York.
"Realmente é preciso conhecer muitos conceitos sobre desenvolvimento, sobre emendas alternativas, genômica comparada. E Bo demonstrou que, se você entende esses conceitos, pode mirar o genoma, dar-lhe sentido e ver o que existe nele."
A mutação identificada por Xia consisteblazers com aposta300 letras genéticas no meioblazers com apostaum gene conhecido como TBXT, uma seção do DNA que é praticamente igualblazers com apostahumanos e símios.
Para provar a relação entre essa mutação e a cauda, Xia manipulou geneticamente camundongos com a mesma mutação.
Eureca! Xia e seus colegas observaram que a cauda não crescia nos camundongos manipulados, como aconteceria normalmente com o animal.
Essa descoberta, porém, é apenas a primeirablazers com apostatalvez muitas outras para que se possa entender o papel das mutações genéticasblazers com apostanossos ancestrais. Os cientistas dizem que há maisblazers com aposta30 genes envolvidos na formação da caudablazers com apostaanimais, e os pesquisadoresblazers com apostaNova York estão falandoblazers com apostaapenas um deles.
Como disse Xia, todos nós humanos temos cóccix muito semelhantes entre si, mas no caso dos camundongos do experimento, as caudas tinham tamanhos diferentes ou estavam completamente ausentes.
Sua conclusão é que houve uma sérieblazers com apostamutações, e não apenas uma, que afetou diferentes genes nos hominídeos 25 milhõesblazers com apostaanos atrás - e foi alterando nossa evolução.
"Essa pode ter sido uma mutação crucial, mas cremos que não tenha sido a única responsável", afirma.
Mutações que sobrevivem
Os cientistas sabem como o ancestral do ser humano perdeu a cauda milhõesblazers com apostaanos atrás, mas ainda não estão claras as verdadeiras razões pelas quais essa mutação sobreviveu por tanto tempo.
Para Xia e Yanai, essa é uma pergunta sem resposta, pelo menos por enquanto. "As mutações ocorrem o tempo todo", explica Yanai.
Algumas mutações podem ser positivas, outras negativas, dependendo do ambiente, como diz Xia.
Normalmente, se uma mutação é negativa, ela pode ser prejudicial para o hóspede, fazendo com que este adoeça ou morra. Por isso, essa mutação não sobrevive ao longo do tempo.
Mas, se uma mutação traz vantagens evolutivas, então ela é mantida presente nos indivíduos mais bem adaptados, fazendo com que seja passadablazers com apostageração a geração.
O que Xia quer dizer é que a perdablazers com apostacauda pode ter trazido vantagens evolutivas significativas aos hominídeos, o que explicablazers com apostapermanência ao longo do tempo.
A vantagem pode não ter sido manter o equilíbrio sobre as árvores, mas sim uma melhor locomoção sobre duas pernas ou a utilização das mãos para a manipulaçãoblazers com apostaobjetos.
Isso não quer dizer que a perda da causa tenha trazido apenas coisas boas. Xia eblazers com apostaequipe observaram que os camundongos do experimento exibiram má formações na coluna vertebral muitos semelhantes aos defeitos no tubo neural que afetam umblazers com apostacada mil recém-nascidos humanos.
Essas má formações estão relacionadas com uma espinha dorsal bífica - partidablazers com apostaduas -, o que significa que a coluna vertebral do feto não se fecha completamente, o que traz danos aos nervos e uma possível paralisia.
"Então eu não diria que as mutações são boas ou más. São algo que simplesmente ocorrem", afirma Xia.
"Creio que isto seja muito importante", diz. "Temos que apenas mirar no genoma. E por isso espero que esta seja uma contribuição duradoura."
Yanai indica que esse trabalho pode contribuir para a compreensão, por meio do genoma,blazers com apostaoutros eventos que ocorreram no nosso passado biológico.
"Acredito que isso esteja nos ensinando a usar nossos programasblazers com apostacomputadoresblazers com apostauma forma diferente. Temos o genoma há anos. O que Bo encontrou poderia ter sido encontrado anos atrás", afirma. "Então eu acredito que a comunidade científica se inspirará nesse trabalho."
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