'Aos 12 anos, barriga crescia e não entendia por quê': meninas denunciam estupros no Equador:pix bet casa de apostas
O primeiro foi frutopix bet casa de apostasum estupro, os dois do meio são filhospix bet casa de apostasuma relação que terminou recentemente e o último foi dado à luz pela irmã mais novapix bet casa de apostasSarita, estuprada pelo mesmo agressor.
É fácil esquecer que ela não tem maispix bet casa de apostas25 anos, mas deixoupix bet casa de apostashabitar aquele território infantil a que pertence o diminutivo aos 10 anospix bet casa de apostasidade, quando o padrasto dela a estuprou pela primeira vez.
"Hoje tenho muito medo do escuro epix bet casa de apostasser velha", diz ela.
A escuridão foi o cenáriopix bet casa de apostastoda a violência.
"Quando eles me agarravam e queriam fazer coisas comigo, dizia que não. Inclusive, uma vez corri (fugi) sem saber para onde. Eles me encontraram e foi um pesadelo. Tomei umas boas surras".
Falha
Em 28pix bet casa de apostasabril, o Tribunal Constitucional do Equador decidiu descriminalizar o abortopix bet casa de apostastodos os casospix bet casa de apostasestupro e não apenas quando as vítimas eram mulheres com deficiência mental, como até então determinava o Código Penal.
A decisão gerou embate entre defensores e críticos da descriminalização ocorrida nos últimos anospix bet casa de apostasoutros países latino-americanos.
Mas também lembrou ao Equador o sofrimento vividos pelas meninas e adolescentes vítimaspix bet casa de apostasviolência sexual, especialmentepix bet casa de apostasáreas rurais e marginais, cujos agressores são — empix bet casa de apostasmaioria — pais, tios, irmãos, avós, padrastos.
Meninas que, segundo a advogada Ana Vera, da Surkuna, uma organização que defende os direitos sexuais e reprodutivos, "têm uma faltapix bet casa de apostasinformação tão brutal que não sabem que seu corpo vai mudar, então não se dão conta até que a gravidez esteja muito avançada", diz ela à BBC News Mundo, o serviçopix bet casa de apostasnotíciaspix bet casa de apostasespanhol da BBC.
"Nem sabia que estava grávida. Só sabia que minha barriga estava crescendo e não entendia por quê", lembra Sarita.
Após o parto, ela deixou a filha debaixopix bet casa de apostasuma ponte. Mas como ninguém a pegou, ela a levoupix bet casa de apostasvolta com ela.
Quatro por dia
A Pesquisa Nacionalpix bet casa de apostasRelações Familiares e Violênciapix bet casa de apostasGênero contra a Mulher revelou,pix bet casa de apostas2019, que 65pix bet casa de apostascada 100 mulheres sofreram algum tipopix bet casa de apostasviolência no país.
Delas, 32,7% já foram vítimaspix bet casa de apostasviolência sexual, embora Ana Vera considere que existe "uma subnotificação brutal" destas agressões, devido ao estigma da denúncia e à precária resposta do Judiciário.
Quando, como no casopix bet casa de apostasSarita, o estuprador é o homem da casa, as vítimas também não denunciam, porque o agressor costuma ser a única fontepix bet casa de apostasrenda do domicílio. Além disso, muitas vezes, seus relatos são postos à prova.
"Minha mãe preferia ficar quieta", diz Sarita. "Acho que até sentia ciúmes."
"Quando eu contei a ela (o que estava acontecendo), tive a impressãopix bet casa de apostasque ela estava reclamandopix bet casa de apostasalguma coisa (do agressor), mas inclusive disse que era minha culpa." Mais tarde, na entrevista, Sarita diz que tem certezapix bet casa de apostasquepix bet casa de apostasmãe também foi abusada.
Para ter uma ideiapix bet casa de apostasquantos menores são vítimaspix bet casa de apostasagressão sexual, Ana Acosta, autora do relatório "As meninas invisíveis do Equador", recomenda consultar o registropix bet casa de apostasnascimento do Instituto Nacionalpix bet casa de apostasEstatística e Censo (INEC).
"Como são registrados os nascimentospix bet casa de apostascrianças vivas pela idade da mãe, e como qualquer relação sexualpix bet casa de apostasmenorespix bet casa de apostas14 anos é considerada violação do código penal, então não há como errar.
Em 2020, 1.631 meninas entre 10 e 14 anos deram à luz no Equador, quatro por dia. O número não inclui as que não engravidaram, as que abortaram ou as que tiveram complicações obstétricas que as impedirampix bet casa de apostasdar à luz.
O númeropix bet casa de apostas2020 é o mais baixo da última década (10 anospix bet casa de apostasque nasceram 21.165 filhos dessas meninas), mas também foi o primeiro da pandemia que trancou vítimas e abusadores no mesmo lugar.
Além disso, devido à crise econômica, o governopix bet casa de apostasLenín Moreno retirou todos os recursos do planopix bet casa de apostasprevenção da gravidezpix bet casa de apostasmenores.
Os números para 2021 ainda não são conhecidos.
Sarita deu à luz aos 13 anos, foi estuprada pela primeira vez aos 10, mas a antecipação do horror ocorreu aos sete, quando suspeitou que o pai dela estava abusandopix bet casa de apostasuma prima.
"Pensando bem, agora sinto que deveria ter percebido, deveria saber. Mas as crianças esquecempix bet casa de apostastudo, quanto mais rápido, melhor", reconhece.
"Quando aconteceu comigo, sabia o que o outro estava sentindo."
Isso não foi, no entanto, um motivo para separação dos pais dela, mas para agressões constantes contrapix bet casa de apostasmãe.
"Lembro-me da minha mãe tremendopix bet casa de apostasmedo quando ele chegava a tarde, porque ela sabia o que ia acontecer: às vezes ele chegava bêbado, fumava e batia nela ali mesmo."
Quando, depois terminarem o relacionamento e reatarem várias vezes, os pais se separaram para sempre, um filho e uma filha ficaram com ele. Duas filhas — Sarita epix bet casa de apostasirmã mais nova — com a mãe, que foi morar com outro homem.
O padrasto estuprou e engravidou as duas filhas.
"Acho que o da minha irmã deve ser muito mais difícil", reflete Sarita, "porque imagine, você o chamapix bet casa de apostaspai todos os dias e o pai faz isso com você. Não é justo."
"Acho que esses homens têm problemas mentais, porque estão prejudicando a pessoa para o resto da vida. Acho que também é porque moram nas montanhas."
Pais
No Equador, o incesto tem sido pouco estudado porque não é classificado como um crime, embora seja considerado um agravante nos delitos contra a integridade sexual e reprodutiva, afirma a psicóloga Fernanda Porras no estudo "Corpos que importam".
Em relação aos fatores que o normalizarampix bet casa de apostasdeterminadas regiões, existe a ideiapix bet casa de apostasque esse é um problema que deve ser enfrentado dentro da família, assim como a dependência econômica e emocional das vítimas epix bet casa de apostassuas mãespix bet casa de apostasrelação ao agressor.
Para Ana Vera, o fatopix bet casa de apostasnem o sistemapix bet casa de apostassaúde, nem o sistemapix bet casa de apostasensino, nem a Justiça detectarem os abusospix bet casa de apostasquatro meninas (Sarita, suas duas irmãs epix bet casa de apostasprima) mostra a ineficácia do Estado na proteçãopix bet casa de apostasmenores, principalmente na zona rural.
Com a adoçãopix bet casa de apostasconvenções e tratados internacionais, o Estado equatoriano começou há 40 anos a tomar medidas para acabar com a violênciapix bet casa de apostastodos os tipos contra mulheres, adolescentes e crianças.
Foram criadas delegacias para mulheres e unidades especializadas no Ministério Público.
Em 2007, a erradicação desta violência foi considerada, por decreto executivo, uma políticapix bet casa de apostasEstado e, 11 anos depois, foi sancionada uma abrangente lei orgânica.
Apesar disso,pix bet casa de apostas2016 a Fundação Desafío, uma das organizações que promoveu a ação que culminou na decisão da Suprema Corte, informou que o Equador ocupava o segundo lugar na região (depois da Venezuela) onde a taxa específicapix bet casa de apostasfecundidade adolescente não havia diminuído nos últimos anos.
Na noitepix bet casa de apostas11pix bet casa de apostasabrilpix bet casa de apostas2021, quando foi eleito presidente, Guillermo Lasso falou diretamente "às meninas que tiveram filhos e que cuidam dos filhos" e garantiu-lhes que ele e a esposa dele seriam seus pais: "Nós as protegeremos, a gente vai cuidarpix bet casa de apostasvocês".
Pierina Correa, irmã do ex-presidente Rafael Correa e presidente da Comissãopix bet casa de apostasProteção Integral a Meninas, Meninos e Adolescentes da Assembleia Nacional, disse na semana passada que a descriminalização do aborto deve ser decididapix bet casa de apostasconsulta popular e participoupix bet casa de apostasum ato contra interrupção da gravidez.
Para Ana Vera, o Equador é um país que idealiza a figura da mãe e, por isso, é difícil optar pelo aborto.
E as que decidem ser mães "encontram muitas dificuldades nas quais o Estado é incapazpix bet casa de apostasacompanhá-las", algo a que o relatório da Fundação Desafío também faz referência, mencionando a faltapix bet casa de apostasalternativas para continuar os estudos, oportunidadespix bet casa de apostastrabalho decentes ou apoio para criançaspix bet casa de apostaspais com guarda compartilhada.
Aborto
Sarita não pôde continuar estudando depois do parto e agora a BBC News Mundo a encontra abrindo uma contapix bet casa de apostasbanco pela primeira vez na vida, porque é a única formapix bet casa de apostasreceber a pensão do ex-companheiro.
Portanto, a situação econômica surge como parte da resposta quando questionada sobrepix bet casa de apostasopinião sobre o aborto.
"Não penseipix bet casa de apostasaborto. Em jogá-lo fora sim, mas nãopix bet casa de apostasaborto."
"Nas montanhas, você ouve muita gente que come ervas (para interromper a gravidez), mas não só intoxica o bebê, mas também a gestante e ambos morrem", diz.
E deixa clarapix bet casa de apostasposição.
"A menina tem o direitopix bet casa de apostastomar a decisão. Às vezes, a família não quer e ela, mesmo com tudo o que aconteceu, quer ficar com ele (o bebê). Então, deixe-a decidir".
E acrescenta: "Se ainda houver tempo, não creio que seja uma obrigação que ela tenha a criança, porque a marcará para o resto da vida".
"Além disso, se ela é pobre, como vai alimentá-la?"
Campo-cidade
Na sequência da decisão do Tribunal Constitucional, a Defensoria do Povo (órgão equivalente à Defensoria Pública no Brasil) apresentou segunda-feira (5/07) à Assembleia Nacional o projetopix bet casa de apostaslei que regulamenta a interrupção voluntária da gravidezpix bet casa de apostascrianças, adolescentes e mulheres vítimaspix bet casa de apostasviolência sexual.
Mas enquanto as instituições debatempix bet casa de apostasQuito, Ana Vera enxerga outra realidade, desconhecida pelo Estado, nas áreas mais rurais e da Floresta Amazônica, onde é difícil até mesmo fazer uma denúnciapix bet casa de apostasestupro,pix bet casa de apostasparte porque não há Ministério Público. Epix bet casa de apostasmuitos outros casos porque, ao fazê-la, a comunidade se volta contra a denunciante.
E as diferenças entre campo e cidade não estão presentes apenas no início da gravidez das adolescentes, mas também no final.
Os centrospix bet casa de apostassaúde da zona rural muitas vezes não têm capacidade para realizar cesáreas, método recomendado para esses partos devido ao tamanho do corpo das mães.
Para a antropóloga Lisset Cobas,pix bet casa de apostasáreas remotas — onde se misturam violênciapix bet casa de apostasgênero, desigualdade social, racismo e religião — não é apenas mais difícil o acesso à Justiça e aos serviçospix bet casa de apostassaúde, mas também à informação, algo com que Sarita concorda.
"Se você comparar uma garota das montanhas com uma da cidade, a garota das montanhas será mil vezes (mais) inocente", diz ela.
"A menina da cidade sabe tudo, inclusive já explicaram para ela. A menina das montanhas não sabe o que é bom nem o que é mau, e se ela falar alguma coisa vão bater nela com força, então é melhor ela se calar."
"Acho que os pais nas montanhas deveriam mudar um pouco. Já está na hora."
Fale e acredite
Ao final da entrevista, Sarita conta que vai se mudar e que quer morarpix bet casa de apostasum lugar ainda mais solitário.
Ela diz que prefere os filhos por perto e os vizinhos distantes.
"Às vezes fico olhando para a mais velha. Ela, ainda inocente, às vezes conversa com meninos mais velhos. E eu digo para ela vir para cá, não quero que eles cheguem perto."
"É um pensamento ruim", reconhece ela. "Sei que pode não ser igual, mas a desconfiança continua. Olho para ela e digo: 'Assim, desse tamanho, ainda menor, aconteceu o que aconteceu comigo.'
Como quebrar esse ciclopix bet casa de apostasviolência? Para ela, tudo passa por acreditar no que seus filhos dizem e por conversar com eles.
"A única coisa que disse às crianças é que ninguém pode tocá-las e, se acontecer, têmpix bet casa de apostasme avisar", explica.
"Disse à mais velha que a menstruação dela logo diminuirá e que ela não deve ter medo porque é normal e que ninguém pode tocá-la ou dizer nada a ela", continua.
"Até agora já avancei, mas é horapix bet casa de apostasavançar um pouco mais."
"Tenho que dizer que os homens,pix bet casa de apostasqualquer idade, estão sempre procurando relacionamentos e indo desistindo. Eles só querem machucá-las e ir embora. E isso não está certo."
"Que ela tenha seu companheiro, seus filhos, mas que seja por bem, não por mal. Que seja a decisão dela, mas nãopix bet casa de apostasmais ninguém."
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Ela se cala, olha para os filhos, que não parampix bet casa de apostasfazer barulho, e depois para as montanhas, que estão sempre caladas.