Eleições no Equador: quem é Guillermo Lasso, o banqueiro conservador que derrotou oponente esquerdista:
"Vamos receber um paíssituação complicada. O governo nacional não tem liquidez, apenas um saldoUS$ 400 milhões na reserva, que cobre só 20% dos gastos mensais do governo", disse ele à BBC News Mundo (serviço da BBCespanhol) durante a campanha eleitoral.
"É também um governo com uma dívida que chega a 63% do Produto Interno Bruto (somatodas as riquezas produzidas num determinado período), ao qual devemos somar atrasos com municípios, prefeituras, sistemasseguridade social e com o Banco Central. A dívida chega a US$ 80 bilhões."
Ponto-chave para o triunfo do ex-banqueiro e empresário conservador65 anos foi o descontentamentorelação ao ex-presidente Rafael Correa, que apoiou Arauz. Muitos destes eleitores não votaramLasso no primeiro turno7fevereiro2021 e agora mudaramideia.
Mas o partidoLasso, o Movimento Político Criando Oportunidades (Creo), só tem 12 assentos na Assembleia Nacional, além das 19 cadeiras da principal sigla aliada, o Partido Social Cristão.
Eles enfrentarão o correísmo com 48 deputados, o que obrigará o novo presidente a fazer concessões que já começaram na campanha.
"A cada voto que ele obteve ao ampliarplataforma, a governança diminuiu, porque ele passou a distribuir o bolo para muitos que, na horagovernar, vão cobrar seu preço", disse o analista Pedro Donoso à BBC News Mundo.
Donoso acrescenta que o anti-correísmo como força política também não é um grupo homogêneo e que Lasso terá que lidar com interesses conflitantes.
O presidente eleito é um conhecido banqueiro e empresário equatoriano que participadiversos conglomerados financeiros.
Ele costuma se referir a uma origem familiar humilde que o levou a começar a trabalhar aos 15 anos na BolsaValoressua cidade, Guayaquil.
Assim, ele sempre tenta afastar o rótuloum banqueiro rico que "não se importa" com os mais pobres.
Ele foi subindo rapidamenteposição até se tornar presidente do BancoGuayaquil por quase 20 anos. No início dos anos 1990, chegou a liderar a AssociaçãoBancos Privados do Equador.
Em agosto1999, ele foi nomeado ministro da Economia, mas por causadivergências com o então presidente Jamil Mahuad sobre a condução da economia do país, renunciou um mês depois.
Sob o lema "empreendedorismo, inovação e futuro", Lasso disse na campanha que respeitará o acordo do país com o FMI (Fundo Monetário Internacional), com exceçãoum ponto.
"Não vamos ignorar o acordo com o Fundo Monetário Internacional. O que não vamos fazer é aumentar o IVA", disse, referindo-se a uma polêmica medida que visa aumentar a arrecadaçãoimpostosum país que já tem elevados níveisdéficit fiscal e dívida pública.
O que Lasso propõe
Em seu planogoverno, o então candidato se propôs a gerar novos empregos, aumentar o salário mínimo para US$ 500 mensais, acabar com a fomemaisum milhãoequatorianos, atrair investimentos estrangeiros e combater a corrupção.
O último ponto era o argumento central da vitória contra Arauz e o padrinho Correa.
Próximoideias da Opus Dei (uma das mais conservadoras e controversas instituições da Igreja Católica), Lasso é casado, paicinco filhos e causou polêmica ao defender na campanha eleitoral que uma esculturaQuito da popular Virgen del Panecillo fosse girada para não ficarcostas aos cidadãos do sul, região mais pobre.
Ele sempre foi ferrenho opositorqualquer propostalei sobre a descriminalização do aborto, mesmocasosestupro. Mas na campanha, mostrou-se aberto a ouvir os equatorianos e não imporvisão - e até falouuma possível consulta popular sobre o tema.
"O Equador sabe que um dos meus princípios é a defesa da vida desde a concepção até a morte natural. Agora, sendo um presidenteum Estado laico, me comprometo absolutamente a respeitar pontosvista diferentes do meu, e se houver decisão da maioria, reconhecerei que esta é a maneiraver a vida da maioria dos equatorianos", disse o presidente eleito.
Popularmente conhecido como "candidato eterno", esta foi a terceira vez que concorreu à Presidência. Ele perdeu para Correa2013 e Lenín Moreno2017.
Carlos Ferrín, consultorcomunicação política, disse à BBC News Mundo que Lasso se transformou nos últimos anos.
"Quem concorreu2013 foi um empresário que tentava ser político; o2017 liderou o momento mais crítico do anti-correísmo e quase conquistou a Presidência."
Naquela eleição, Lasso inicialmente se recusou a aceitar os resultados sob alegaçõesfraude eleitoral. No entanto, a virada política que Moreno deu ao longoseu governo o levou a se aproximar do atual presidente, embora tenham se distanciado na campanha eleitoral.
"Esta versão do Lasso 2021 para mim é a melhor, com seus pequenos problemassaúde, a queda que o obrigou a portar uma bengala, um candidato mais humano, mais cercadosua família, seus filhos, como parteum clã", avalia Ferrín.
Lasso, que se define como um liberal que "acredita nas boas ideias e não nas ideologias", prometeu acabar com as políticasesquerda promovidas durante o governo Correa.
Nesse sentido, disse que votar no seu adversário Arauz era sinônimo"volta ao correísmo" e que isso poderia levar o Equador a tornar-se uma "nova Venezuela".
Os desafios
Se a tarefaderrotar Arauz foi um grande desafio, maior ainda será administrar a economia do Equador, paísquase 17 milhõeshabitantes que necessita acelerar a vacinação contra o coronavírus (que matou 17 mil pessoas no país).
Menos2% da população receberam pelo menos uma dose do imunizante contra a doença — o Brasil vacinou pouco mais10%.
Por causa da pandemia, a economia equatoriana recuou 7,8%2020, mas deve crescer 3,5% neste ano, segundo autoridades locais. Em um ambientemercadotrabalho amplamente informal, apenas 34% dos empregos no país cumprem pelo menos o mínimo previstoleihoras ou salários.
Lasso prometeu estimular a economia atraindo mais investimentos estrangeiros e impulsionando a produçãopetróleo, o produtoexportação mais importante do país sul-americano.
Também promete criar 2 milhõesempregos, expandir o setor agrícola por meioempréstimos a juros baixos e reduzir progressivamente os impostos.
Lasso se gaba do passado como banqueiro, algo que o afastoualguns eleitores, ao defender que sabe criar empregos e financiar empresas através do setor privado e que agora fará o mesmo com o público.
Nesse sentido, promete gerar riqueza a partirrecursos petrolíferos, minerais e energéticos por meio da participação do setor privadosubstituição ao financiamento estatal.
Talvez sejam esses dotesempresário e especialistafinanças que o motivaram a ser eleito pelo eleitorado equatoriano diante do jovem candidatoCorrea,um momentocrise econômica por conta da pandemia e da dívida.
Isso levou Moreno a buscar financiamento com o FMI, que injetou US$ 7,4 bilhões no país.
"Não queremos mexer com coisas perigosas como eliminar a dolarização (da economia equatoriana); não acreditamosideias derivadas da inépcia. Não queremos improvisos e vamos mostrar que temos capacidade, vontade e experiência", disse Lasso durante a campanha, quando exploravaexperiência e solvência empresarial contra o jovem rival.
Lasso é defensor ferrenho da dolarização, que rege a economia do país há mais20 anos e é muito popular entre a população.
Como se a missãocriar empregos, reduzir a pobreza, que aumentou com a pandemia, e lidar com a dívida não fosse complicada o suficiente, Lasso terá que lidar com a Assembleia Nacional dominada pela oposição, o que tornará difícil para um presidente que agora busca implementar no setor público seu sucesso no setor privado.
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