Como cidade americana vai usar impostos sobre maconha para financiar reparações a moradores negros:cassino cbet
Cada família receberá subsídioscassino cbetUS$ 25 mil (cercacassino cbetR$ 142,7 mil) para ajudar na compra ou reformacassino cbetimóvel.
Apesarcassino cbettambém aceitar doações, a iniciativa será financiada principalmente com impostos sobre a vendacassino cbetmaconha para uso recreativo, que foi legalizada no Estado no ano passado.
"Isso é justiça poética", diz à Ron Daniels, um dos líderes da National African American Reparations Commission (Comissão Nacional Afro-Americanacassino cbetReparações, ou Naarc, na siglacassino cbetinglês), à BBC News Brasil.
"Porque a guerra às drogas, incluindo a maconha, teve como alvo a população negra", afirma Daniels, cuja organização participou da elaboração do plano.
A legalização da maconha vem avançando nos Estados Unidos, onde 36 dos 50 Estados permitem o uso medicinal e 15 também o uso recreativo. Dados históricos mostram o impacto negativo que a criminalização tevecassino cbetcomunidades negras.
Kamm Howard, um dos líderes da National Coalition of Blacks for Reparations in America (Coalizão Nacionalcassino cbetNegros por Reparações na América, ou N'Cobra, na siglacassino cbetinglês), que também ajudou a elaborar o planocassino cbetEvanston, cita estudos segundo os quais, apesarcassino cbetnegros e brancos usarem maconha na mesma proporção, a probabilidadecassino cbetusuários negros serem detidos é mais alta.
"(Moradores negros) foram mais policiados e mais encarcerados e sofreram todos os prejuízos associados a ter uma ficha policial", diz Howard à BBC News Brasil.
cassino cbet Desigualdades econômicas
O anúncio sobre o programacassino cbetEvanston ocorrecassino cbetum momentocassino cbetque o debate sobre reparações volta a ganhar força no país.
O interesse, que já vinha crescendo, aumentou ainda mais no ano passado,cassino cbetmeio a protestos contra injustiça racial e diante da pandemiacassino cbetcovid-19 e da crise econômica, que afetaram desproporcionalmente a população negra e deixaram claras as disparidades raciais.
Mas a ideiacassino cbetque o governo deveria pagar compensação financeira à população negra pelos danos causados pela escravidão é debatida nos Estados Unidos desde pelo menos o fim da Guerra Civil,cassino cbet1865,cassino cbetalguns períodos com maior ênfase do quecassino cbetoutros.
O impacto cumulativocassino cbetdois séculos e meiocassino cbetescravidão e das décadascassino cbetsegregação, terror racial e políticas discriminatórias que se seguiram é visívelcassino cbetdesigualdadescassino cbetrenda e riqueza que ainda persistem. Apesarcassino cbetos americanos negros atualmente representarem 13% da população, eles detêm apenas 2,6% da riqueza no país.
Enquanto pessoas brancas podiam comprar terras e, assim, deixa-lascassino cbetherança a seus descendentes, a população negra escravizada não tinha esse direito. Mesmo após a abolição, diversas leis impediam ou dificultavam que americanos negros votassem, estudassem, tivessem acesso a bons empregos e a financiamento ou adquirissem propriedade.
Em Evanston, onde cercacassino cbet16% dos 75 mil habitantes são negros, os idealizadores do planocassino cbetreparações decidiram focar inicialmentecassino cbetmoradia após um relatório detalhado sobre as restrições históricas à população negra da cidade nesse setor e depoiscassino cbetconsultas com a comunidade.
"O objetivo é tentar diminuir as desigualdadescassino cbetriqueza", ressalta Daniels.
Assim como outras cidades americanas, Evanston tem um passadocassino cbetpolíticascassino cbetzoneamento e práticas discriminatórias na áreacassino cbethabitação que dificultavam ou até impossibilitavam que moradores negros comprassem imóveis.
A partir do início do século 20, muitas cidades americanas passaram a adotar medidas para impedir que moradores negros se mudassem para determinadas áreas. Era comum a inclusãocassino cbetcláusulascassino cbetrestrição racial nas escriturascassino cbetpropriedades, estabelecendo que pessoas que não fossem brancas não poderiam ser proprietárias ou nem mesmo ocupar o local.
Proprietárioscassino cbetáreas onde a maioria da população era branca também costumavam se recusar a vender imóveis a compradores negros. Além disso, a população negra não tinha o mesmo acesso a financiamento habitacional disponível a pessoas brancas.
Com essas e outras restrições, moradores negros acabavam impedidoscassino cbetadquirir propriedade nas áreas mais valorizadas e, assim,cassino cbetacumular riqueza por meio da possecassino cbetimóveis. Décadas após o fim dessas leis, o valor das casascassino cbetbairroscassino cbetmaioria branca ao redor do país ainda é maior do que nas áreascassino cbetmaioria negra.
Em Evanston, o relatório elaborado a pedido das autoridades revelou que, apesar da leicassino cbet1968 proibindo discriminação no setorcassino cbethabitação, até pelo menos meados dos anos 1980 corretorescassino cbetimóveis ainda tentavam fazer com que compradores e inquilinos negros ficassem concentradoscassino cbetbairroscassino cbetmaioria negra.
O patrimônio líquido das famílias negras nos Estados Unidos representa hoje menoscassino cbet15% do patrimônio líquido das famílias brancas. Segundo dados do censo relativos a 2020, enquanto 74% das famílias brancas têm casa própria, essa taxa écassino cbetapenas 44% entre as famílias negras.
Críticas
O programacassino cbetEvanston seria uma formacassino cbetreparar os danos provocados por essas políticas discriminatórias no setorcassino cbethabitação, ajudando a preservar e aumentar o número proprietárioscassino cbetimóveis negros e a gerar riqueza nessa comunidade por meiocassino cbetmoradia. Mas a iniciativa também sofreu críticas.
A proposta foi aprovada por oito votos contra um. Ao justificar seu voto contrário, a vereadora Cicely Fleming ressaltou que apoia as reparações, mas não o programa proposto, que descreveu como um "planocassino cbethabitação disfarçadocassino cbetreparações".
Uma das críticas é o fatocassino cbetos beneficiados não poderem escolher como querem gastar o dinheiro, que é distribuído sob a formacassino cbetsubsídios para investimentoscassino cbethabitação. Outros criticam o alcance ainda pequeno, com apenas 16 famílias contempladas inicialmentecassino cbetum universocassino cbet12 mil moradores negros na cidade.
O economista William Darity Jr., professor da Duke University, na Carolina do Norte, e coautor do livro From Here to Equality: Reparations for Black Americans in the Twenty-First Century ("Daqui à Igualdade: Reparações para Americanos Negros no Século 21",cassino cbettradução livre), critica o uso do termo "reparações"cassino cbetiniciativas locais como acassino cbetEvanston.
Segundo Darity, medidascassino cbetnível local e estadual não constituem um plano amplo e verdadeirocassino cbetreparações, que deve ter alcance nacional. Em artigo no jornal The Washington Post, ele disse que o uso do termo "reparações" pode gerar confusão sobre "a extensão do que é necessário para uma restituição genuína".
"Esta é uma boa medida para a cidade adotar, mas sejamos claros: é um programacassino cbetvouchers para habitação, nãocassino cbetreparação, e chamá-lo assim prejudica mais do que ajuda", afirmou.
Daniels rejeita essas críticas e ressalta que o programacassino cbetEvanston foi certificado pela Naarc como um modelocassino cbetreparações. Ele destaca que foi a própria comunidade, após vários encontros públicos, que escolheu o foco inicialcassino cbethabitação, e lembra que outros setores serão contemplados ao longo dos próximos dez anos.
Para Daniels, iniciativas locais, como acassino cbetEvanston, não afetam a criação e implementaçãocassino cbetum plano nacionalcassino cbetreparações. "Uma não exclui a outra. Pelo contrário, são complementares", afirma.
Howard, da N'Cobra, lembra que não apenas o governo federal, mas também Estados e municípios foram responsáveis no passado por políticas discriminatórias que tiveram impacto negativo sobre a população negra. Portanto, os três níveiscassino cbetgoverno deveriam adotar medidas para remediar os danos causados.
"Todas as jurisdições neste país que foram cúmplices nos crimes contra a nossa humanidade devem ser responsabilizadas", afirma Howard.
A vereadora Robin Rue Simmons, autora da propostacassino cbetEvanston, descreveu a iniciativa como "um primeiro passo" e observou que o plano sozinho não é suficiente e que são necessários muitos programas e mais financiamento até que se possa reparar as injustiças raciais.
Modelo
Apesar do interesse renovado nos últimos anos, o tema das reparações financeiras a americanos negros ainda é polêmico.
Pesquisa Ipsos do ano passado indica que só 33% dos entrevistados concordam que o governo deveria fazer pagamentoscassino cbetdinheiro a pessoas negras cujos antepassados foram escravizados. Mesmo entre a população negra, 20% são contra.
Entre os especialistas que apoiam a ideia, não há consenso sobre como e quanto pagar ou como definir quem teria direito. Alguns propõem pagamentos diretoscassino cbetdinheiro, para que os beneficiados usem como desejarem.
Muitos citam como exemplo as reparações pagas às vítimas do Holocausto pela Alemanha ou aos nipo-americanos enviados ilegalmente a camposcassino cbetconcentração durante a Segunda Guerra Mundial pelos Estados Unidos.
Darity diz que reparações "verdadeiras" devem ter como objetivo acabar com a desigualdadecassino cbetriqueza entre a população negra e branca e calcula que seriam necessários US$ 14 trilhões (cercacassino cbetR$ 79,9 trilhões), distribuídos pelo governo federal sob a formacassino cbetpagamentos diretos a cada americano negro descendentecassino cbetpessoas escravizadas nos Estados Unidos.
Outros defendem reparações por meiocassino cbetinvestimentoscassino cbetprogramascassino cbetsaúde, educação, emprego, habitação e outras áreas com grandes disparidades. Algumas cidades, como Asheville, na Carolina do Norte, já aprovaram a criaçãocassino cbetcomissões para estudar medidas do tipo, que descartam pagamentoscassino cbetdinheiro a beneficiados.
Outras cidades e instituições privadas também vêm anunciando diferentes planoscassino cbetreparação recentemente. No ano passado, a Califórnia se tornou o primeiro Estado a sancionar uma lei que abre caminho para reparações pela escravidão, determinando a criaçãocassino cbetuma força-tarefa para estudar e desenvolver propostas sobre o tema.
Apesarcassino cbeto programacassino cbetEvanston ter recebido algumas críticas, especialistas ressaltam a importânciacassino cbetuma cidade reconhecer seu papelcassino cbetpolíticas discriminatórias que prejudicaram a população negra e afirmam que a iniciativa pode inspirar e servircassino cbetmodelo para outros governos.
"Cada propostacassino cbetreparações precisa tratar das necessidades (específicas) daquela comunidade", diz à BBC News Brasil, a vice-diretora do programacassino cbetEstados Unidos da organizaçãocassino cbetdireitos humanos Human Rights Watch, Laura Pitter.
"Essas necessidades vão variarcassino cbetacordo com os danos feitos e com o que precisa ser reparado (em cada comunidade), mas a iniciativacassino cbetEvanston pode ser um modelo para outras ao redor do país."
Desde 1989, o projetocassino cbetcriar uma comissão federal para estudar o legado da escravidão e elaborar propostascassino cbetreparação é apresentada todos os anos ao Congresso, mas até hoje nunca foi adiante. Em 2019, pela primeira vez, a Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados) realizou audiência para discutir o tema.
Em janeiro deste ano, a proposta foi reapresentada pela deputada Sheila Jackson Lee e já tem o apoiocassino cbetmaiscassino cbet170 congressistas, além da presidente da Casa, Nancy Pelosi, e do líder do Senado, Chuck Schumer. O próprio presidente Joe Biden disse, quando ainda era candidato, que apoiaria a realizaçãocassino cbetestudos sobre o assunto.
Daniels e outros defensorescassino cbetreparações demonstram otimismo com o aumento no apoio a um projetocassino cbetlei nacional e acreditam que o cenário atual é mais propício a uma proposta do tipo.
"É preciso entender que (os debatescassino cbettornocassino cbetreparações) não são sobre simplesmente dar um cheque para cada um e encerrar o assunto, mas sim sobre forjar uma nova América", afirma Daniels. "São sobre fazer esta nação enfrentar acassino cbethistória, e reparar acassino cbethistória."
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