Janequeo: guerreira indígena vira símbologrupo do sportingbetprotestos no Chile e 'substitui' Mulher Maravilha:grupo do sportingbet

Gráficogrupo do sportingbetJanequeo

Crédito, Sebastián Castro e Guido Salinas

Legenda da foto, Janequeo apareceugrupo do sportingbetcenagrupo do sportingbet1587, durante guerra, após a mortegrupo do sportingbetseu esposo

Em meio à recente eclosãogrupo do sportingbetmanifestações no Chile, a bandeira Mapuche renasceu como parte do resgate das mulheres egrupo do sportingbetsuas vozes ausentes na história.

E algumas garotas, já há algum tempo, pedem o trajegrupo do sportingbetJanequeogrupo do sportingbetvez do uniforme da heroína americana Mulher Maravilha.

'Matriarca viril'

Mulher jovem usa blusa com desenho que faz alusão a Janequeo e segura um cartazgrupo do sportingbetprotesto

Crédito, Valentina Martínez

Legenda da foto, Jovem usa camisagrupo do sportingbetreferência a Janequeogrupo do sportingbetprotesto no Chile, no ano passado

A versão espanhola sobre a guerragrupo do sportingbetArauco não costuma citar registros do povo mapuche. No entanto, a históriagrupo do sportingbetJanequeo é relatada por dois cronistas: os jesuítas Alonsogrupo do sportingbetOvalle e Diegogrupo do sportingbetRosales.

Entre esses dois historiadores, há controvérsia sobre o nome da indígena. Ovalle a chamagrupo do sportingbetYanequeo e a apresenta como "dignagrupo do sportingbetser contada entre as matriarcas corajosas e viris".

O segundo diz, no entanto, que ela se chama Anuqueupu —grupo do sportingbetmapudungun (a língua mapuche), "pedra negra assentada" — e escreve que ela nunca mostrou sentimentos "de uma mulher dócil, masgrupo do sportingbetum homem duro como pedra".

O tempo e a cultura chilena a transformaramgrupo do sportingbetJanequeo. Apesar da divergência sobre o nome, os dois historiadores contam a mesma versão sobre a história da guerreira.

Segundo eles, a indígena convidou o irmão Guechuntareo a ajudá-la a vingar a morte do marido. "Eu serei a primeiragrupo do sportingbetperigo e a última a me afastar deles. Irei sempre à frente para que as balas acertem meu peito antesgrupo do sportingbetatingirem o seu...".

Assim, segundo os cronistas, começa a missãogrupo do sportingbetJanequeo,grupo do sportingbetum tempogrupo do sportingbetque a guerra vivia entre a tégua e a batalha. Para formar o seu exército, ela utilizou diversas técnicasgrupo do sportingbetpersuasão e recrutamento que revelam o seu espíritogrupo do sportingbetguerreira.

Conhecedora da natureza humana, contam os historiadores, Janequeo estava disposta a usar tanto a lábia como os dotes culinários para conseguir aliados. Rosales conta,grupo do sportingbetseus textos, que ela costumava ameaçar e até incendiar as casasgrupo do sportingbetindígenas que eram amigos dos espanhóis e não queriam segui-la.

Ilustraçãogrupo do sportingbetJanequeo por Lukas Bravo Nicolás

Crédito, Lukas Bravo Nicolás

Legenda da foto, Nos últimos tempos, muitas jovens passaram a adotar fantasiasgrupo do sportingbetJanequeo,grupo do sportingbetvez da Mulher Maravilha

Os historiadores relatam que a indígena era invencível. Para conquistar aliados, percorreu montanhas entre as regiões chilenasgrupo do sportingbetOsorno e Villarrica para convidar as famílias a lutarem com ela.

Durante encontro com possíveis aliados, contam os historiadores, Janequeo "matou uma ovelha negragrupo do sportingbetsinalgrupo do sportingbettristeza na frentegrupo do sportingbettodos, tirou o coração do animal e fez a cerimônia indígena na qual perfuram o bicho com flechas e mancham a lança com sangue. Ela dividiu a ovelhagrupo do sportingbetpequenos pedaços e o distribuiu entre os chefes e capitães".

Mais tarde, segundo os pesquisadores, "com uma lança na mão e um pedaçogrupo do sportingbetcoração na outra, fez um discurso a todos os índios, com grande retóricagrupo do sportingbetpalavras e forçagrupo do sportingbetespírito viril, para movê-los a se vingar dos espanhóis".

Não se sabe quanto tempo demorou para ela reunir os primeiros 1,2 mil combatentes, mas os cronistas contam que quando o contingente foi armado, todos queriam começar a batalha. E ela "prometeu ser a restauradora da pátria e expulsar todosgrupo do sportingbetsuas terras".

Janequeo, então, marchou no comandogrupo do sportingbet"um exército, colocando fogo e encorajando os aliados, que ficaram encantados com a coragem e eficácia da mulher, que conseguiu persuadir todos sobre a importância da guerra. Ela estava determinada a morrer ou alcançar a vitória", dizem os textos dos cronistas.

A guerreira

Nessa época, as mulheres nunca eram assunto que ganhava atenção, diz a historiadora María Gabriela Huidobro. Elas aparecemgrupo do sportingbetescassas ocasiões, para trazer algo relacionado ao amor e o emocional ao relato bélico e político.

"Na guerragrupo do sportingbetArauco, há dois modelosgrupo do sportingbetmulher: a donzelagrupo do sportingbetperigo que não entende a guerra e sofre, porque sabe que pode perder o marido. E a outra é a mulher guerreira, que adota atributos considerados comuns aos homens. Por isso, os cronistas descrevem Janequeo como uma mulher viril, uma amazona", diz Huidobro.

Cómic Janequeo

Crédito, Sebastián Castro e Guido Salinas

Legenda da foto, 'Eu serei a primeira nos perigos e a última a me afastar deles. Semprei irei na frente para que as balas atinjam meu peito, antesgrupo do sportingbetatingirem o seu...', teria dito a indígena, segundo cronistas

A indígena passagrupo do sportingbetum estereótipo ao outro. Primeiro, é a que sofre com a mortegrupo do sportingbetseu esposo, mas logo "assume as rédeasgrupo do sportingbetseu próprio destino para comandar o exércitogrupo do sportingbetaliados", escrevem os historiadores. Muitos se perguntam se Janequeo foi uma exceção.

Os historiadores relatam que, do pontogrupo do sportingbetvista espanhol, era impensável que uma mulher manuseasse armas, ao menos que abandonassegrupo do sportingbetcondição feminina. Porém, os cronistas relatam que talvez para a cultura mapuche daquela época, essa situação não fosse algo estranho. O problema, porém, é que os estudiosos não têm fontes diretas que possam confirmar essa questão.

Algumas crônicas relatam que as mulheres mapuche foram para o ladogrupo do sportingbetseus maridos para lutar. "O historiador francês Claudio Gay, do século 19, dizgrupo do sportingbetseus textos que sobre essa visão da mulher mapuche viril, sob o pontogrupo do sportingbetvista ocidental. É uma mulher que sabe mais do que deveria saber", diz a escritora e acadêmica Maribel Mora Curriao, que é Mapuche.

"Ele fala que elas vão à batalha, cavalgam ao lado dos homens. Há uma visão que oscila entre a mulher virilizada e a sensualizada, que é outra crítíca à mapuche da época, que seria muito galanteadora, que não se continha, que dormia com qualquer soldado, o que era muito mal visto na cultura europeia."

Talvez Janequeo já fosse um soldado, que ia com seu marido para a linhagrupo do sportingbetfrente antesgrupo do sportingbetele ser morto. Mas isso não é possível saber ao certo, dizem os pesquisadores, porque não há informações sobre agrupo do sportingbetvida antes dos relatos já descritos.

Em razão das poucas informações sobre a indígena, há quem se pergunte se ela realmente existiu.

A dúvida surge do olhar do historiador Diego Barros Arana, estudioso sobre o século 19, que lembra que Janequeo não aparece nas crônicasgrupo do sportingbetseus contemporâneos, que podem ter sido testemunhasgrupo do sportingbetsuas façanhas. Porém é uma história citada por Ovalle e Rosales, que viveram no século posterior.

Arana sugere que os dois tomaram a história da indígenagrupo do sportingbetoutro texto, um poema épico perdido do conquistador e poeta Fernando Álvarezgrupo do sportingbetToledo, questão que hoje é considerada impossívelgrupo do sportingbetser checada. "Resta apenas imaginar sobre isso, porque há pouca documentação da época", diz a poeta Mapuche Roxana Miranda Rupailaf.

Cómicgrupo do sportingbetJanequeo

Crédito, Sebastián Castro e Guido Salinas

Legenda da foto, Talvez Janequeo já fosse um soldado antes da morte do marido, porém livros não contam sobre a vida dela antes da morte do companheiro

"Em nosso imaginário, sempre existiu e sempre existirá a Janequeo. Ela está instalado nos nossos relatos e isso é bonito, porque todos construímos agrupo do sportingbethistória", acrescenta Rupailaf.

"Gostogrupo do sportingbetchamá-lagrupo do sportingbetlíder ou weichafe (guerreiro na língua mapuche). Ela comanda os exércitosgrupo do sportingbethomens e isso mostra que muito do patriarcal chega com a invasão. Por isso, hoje a Janequeo é vista como uma figura importante para levantar a luta feminista com as nossas próprias identidades", declara a poeta Mapuche.

Históriasgrupo do sportingbetquadrinhos

O artista Sebatian Calfuqueo, que trabalha com ícones do processogrupo do sportingbetconquista e colonização, conheceu Janequeo há cercagrupo do sportingbetuma década. Para ele, pouco importa se a guerreira existiu: seu foco estágrupo do sportingbet"como ela foi socializada e por que se tornou invisível para muitos". Ele a descreve como uma fera.

Segundo o artista, ela "questiona a masculinidade, a força dos ferozes, todos os conceitos associados à guerra e à resistência; ela rompe com tudo isso".

"Ao contrário dos homens, Janequeo carecegrupo do sportingbetmorfologia. Sabemos que Caupolicán (líder mapuche) era grande e destemido, enquanto ela é vista como a louca. A ideiagrupo do sportingbetamor que tem agrupo do sportingbethistória é complexa. Ela decide se vingar porque matam seu marido e isso parece plausível, mas é também uma explicação reducionistagrupo do sportingbetrelação àgrupo do sportingbetfiguragrupo do sportingbetlíder, porque provavelmente não foi somente isso. Foi também pela desapropriaçãogrupo do sportingbetseu território (por parte dos opositores). Ela tem o podergrupo do sportingbetreescrever a históriagrupo do sportingbetlugares que foram esquecidos na história oficial", diz o artista.

Como não existe uma descrição físicagrupo do sportingbetJanequeo, todos podem imaginá-la como quiserem.

Duasgrupo do sportingbetsuas imagens recentes foram criadas pelo desenhista Lukas Bravo Nicolás, que a incluiu emgrupo do sportingbetrevista 'Grandes Mulheres da História do Chile'.

"Quando a desenhei, a primeira coisa que veio à minha cabeça foi o fatogrupo do sportingbetque ela buscava vingança. Mas à medidagrupo do sportingbetque fui estudando sobre ela, entendi que vai muito além disso. Ela queria dar um tratamento digno para o seu povo. Primeiro, a desenhei sobre um cavalo,grupo do sportingbetposiçãogrupo do sportingbetliderança, egrupo do sportingbetconstrução é uma mesclagrupo do sportingbetvárias fotosgrupo do sportingbetmulheres mapuche, para que,grupo do sportingbetalguma maneira, ela represente a todas. Queria uma líder puramente nativa, sem joias ou qualquer influência ocidental", diz Nicolás.

Janequeo desenhada por Lukas Bravo Nicolás

Crédito, Lukas Bravo Nicolás

Legenda da foto, `Quando a montei, a primeira coisa que me veio à cabeça foi a busca por vingança. Mas à medidagrupo do sportingbetque a estudava, compreendi que ia mais longe. Ela queria um tratamento digno para agrupo do sportingbetgente`, diz o desenhista Lukas Bravo Nicolás

"No segundo desenho, dedicado ao público jovem, mudei a estética, tirei o cavalo, mas mantive a lança e acrescentei o detalhe da pedra verde, que geralmente usavam como sinalgrupo do sportingbetforça e comando", detalha.

Ela também ganhou corpo e alma como super-heroína do roteirista Sebastián Castro e do cartunista Guido Salinas, criadores dos Guardiões do Sul, uma sagagrupo do sportingbetsuper-heróis do povo mapuche que lutam no "Mapuverso".

Os artistas haviam feito lideranças masculinas. Quando notaram que as lutas das mulheres estão cada vez mais fortes, também desenharam Janequeo. "Ela está intimamente ligada com a questão que vivemos agora, nessa luta contra o machismo que está impregnado na sociedade", diz Guido Salinas. "E temos que aprender com esse novo despertar das mulheres."

"Agrupo do sportingbetcapa é uma bandeira mapuche, ela carrega uma faca, uma lança e atrás um kultrún (instrumentogrupo do sportingbetpercussão usado pelos Mapuche)", explica Salinas.

Maisgrupo do sportingbet3 mil pessoas compareceram ao lançamento dos quadrinhosgrupo do sportingbetque Janequeo enfrenta Inés Suarez, a implacável conquistadora espanhola, companheiragrupo do sportingbetPedrogrupo do sportingbetValdivia (também conquistador espanhol).

A publicação superou as expectativas e está indicada para os prêmios mais importantes das históriasgrupo do sportingbetquadrinhos no Chile. A obra disputa nas categoriasgrupo do sportingbetmelhor cartunista, melhor roteirista, melhor capa e quadrinhos do ano.

Castro e Salinas contam que foram convidados a dar palestrasgrupo do sportingbetescolas e muitos professores têm usado a históriagrupo do sportingbetquadrinhosgrupo do sportingbetsuas aulas. Nas convençõesgrupo do sportingbetquadrinhos, há muitas meninas caracterizadas como Janequeo ou com camisetas da guerreira. Cada vez mais, a figura da indígena aparecegrupo do sportingbetmanifestações nas ruas do Chile, quegrupo do sportingbetmenosgrupo do sportingbetum mês terá uma votação para definir se haverá uma mudança constitucional no país.

Janequeogrupo do sportingbetdesenho

Crédito, Sebastián Castro e Guido Salinas

Legenda da foto, Em eventogrupo do sportingbetanimação, há muitas garotas vestidas como Janequeo

O final da guerreira

Em umgrupo do sportingbetseus principais confrontos, contou o historiador Diegogrupo do sportingbetRosales, Janequeo e seus aliados derrubaram um capitão espanhol no chão e o mataram. "Temos a cabeça do nosso adversário no chão. Vamos cortá-la e me entreguem, porque quero levantá-la como um troféu para comemorar as minhas glórias", disse Janequeo, segundo os historiadores.

Aindagrupo do sportingbetacordo com a história sobre a guerreira, ela pregou a cabeça do capitão espanhol na pontagrupo do sportingbetsua lança e, se aproximandogrupo do sportingbetseus soldados, começou a levantar a parte do adversário. Assim, os aliados dela se encorajaram a lutar com mais confiança. A partirgrupo do sportingbetentão, segundo o relato, os indígenas atacaram "como uns leões lançados sobre os espanhóis."

A poeta Roxana Miranda Rupailaf acredita que Janequeo, durante a guerra, tenha cortado a cabeça da conquistadora Inés Suarez egrupo do sportingbetoutros adversários. Rupailaf também supõe que a indígena "comeu alguns coraçõesgrupo do sportingbetadversários", prática que, contam os historiadores, era comum durante o confronto, para adquirir a força do inimigo.

O espíritogrupo do sportingbetJanequeo segue vivo na comunidade mapuche. Um exemplo disso foram as irmãs Berta e Nicolasa Quintremán, que defenderam o Alto Bio Bio (uma região no Chile, perto da Argentina) para impedir a construçãogrupo do sportingbetuma hidrelétrica.

"Elas eram vistas como ñañas (avós)", conta Roxana Miranda Rupailaf, "e as pessoas não imaginavam que elas fossem tão guerreiras, defendendo essa causa por tantos anos."

Cómicgrupo do sportingbetJanequeo

Crédito, Sebastián Castro e Guido Salinas

Legenda da foto, Maisgrupo do sportingbet3 mil pessoas foram ao lançamento da históriagrupo do sportingbetquadrinhos da indígena que enfrenta os conquistadores espanhóis

"A figuragrupo do sportingbetJanequeo para o Chile é importante, principalmente para as garotas", afirma Maribel Mora Curriao, porque "as mulheres mapuche seguem sendo consideradas exóticas, folclorizadas e minimizadas."

Por isso, diz Curriao, "o papel da heroína,grupo do sportingbetalguma forma, cura duas feridas ao mesmo tempo: a do patriarcado e a do racismo. Veremos o impacto disso no futuro."

No final da históriagrupo do sportingbetJanequeo, os historiadores relatam que, comogrupo do sportingbetcostume, os conquistadores receberam reforços bélicos necessários para atacar os moradores da região, que tentavam permanecer no território. Janequeo e o irmão, Guechuntareo, conseguiram fugir após um embate feroz.

No entanto, segundo os historiadores, o irmão dela foi capturado pelos inimigos e, "humilhando-se diante do capitão", pediu que o perdoassem e quegrupo do sportingbetvida fosse poupada,grupo do sportingbettroca da assinatura da paz.

De Janequeo, nada se sabe ao certo. "Ela desapareceu como se tivesse sido engolida pela terra", comenta a historiadora María Gabriela Huidobro.

"Acredito que ela voltou ao seu povo, se casou com outro homem, teve filhos e seguiu vivendo como queria. A guerra era o que importava para elagrupo do sportingbetum momento, masgrupo do sportingbetoutro isso não importava mais. Me parece incrível terminar a história dela assim, sem que se saiba o que,grupo do sportingbetfato, aconteceu, mas que ela tenha continuado livre", diz Curriao.

"Há duas opções: ela morreu, pois não era tão forte ou valente como nos diziam; ou ela pode ter se rendido, junto com seu irmão,grupo do sportingbetuma atitude covarde. Nenhuma dessas alternativas convenceu sobre o retratogrupo do sportingbetuma heroína. Por não haver informações sobregrupo do sportingbetmorte, ela meio que se tornou algo sagrado e imortal", comenta Huidobro.

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