Como os EUA lucraram com tráficosporting bet é seguroafricanos escravizados para o Brasil:sporting bet é seguro

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Legenda da foto, Entre 1831 e 1850, navios com a bandeira norte-americana corresponderam a 58,2%sporting bet é segurotodas as expedições negreiras com destino ao Brasil

O capitão também morreu na chegada da Mary E. Smith a Salvador, escapando da acusação por tráfico ilegalsporting bet é seguroescravos. No dia 30sporting bet é segurojunhosporting bet é seguro1856, 10 membros da tripulação foram julgados — destes, 5 eram cidadãos norte-americanos. As penas variaramsporting bet é seguro3 a 5 anossporting bet é seguroprisão, além do pagamentosporting bet é segurouma multasporting bet é seguro200 mil réis (algosporting bet é segurotornosporting bet é seguroUS$ 112 mil) para cada africano que teria entrado no Brasil.

Recursos indiretos

A história da Mary E. Smith é simbólica não só por marcar o fim do tráficosporting bet é seguroescravos no país, mas por indicar a participação dos Estados Unidos na atividade ilegal. Entre 1831 e 1850, navios construidos nos EUA corresponderam a 58,2%sporting bet é segurotodas as expedições negreiras com destino ao Brasil. Muitos deles não chegaram a usar a bandeira americana e foram comandados por traficantessporting bet é segurooutras nacionalidades. A estimativa ésporting bet é seguroque tenham transportado quase 430 mil africanos — foi o Camargo, um brigue americano, aliás, quesporting bet é seguro1852 desembarcou com sucesso os últimos escravizados no país.

Ao contrário dos africanos da Mary E. Smith, que foram emancipados e submetidos à tutela do Estado por 14 anos, os cercasporting bet é seguro500 que chegaram ao porto do rio Bracuí, na regiãosporting bet é seguroAngra dos Reis, não tiveram o mesmo destino. "Após desembarcarem, pela proximidade da Serra do Bananal onde havia plantaçõessporting bet é segurocafé, os senhores começaram a escondê-los na senzala", diz a professorasporting bet é seguroHistória Martha Campos Abreu, da Universidade Federal Fluminense (UFF).

As autoridades locais chegaram a tentar reaver os escravizados, decretando pela primeira vez uma busca pelas fazendas,sporting bet é segurouma demonstração do que estaria por vir com a Mary E. Smith. Mas a tentativa foi quasesporting bet é segurovão: segundo a professorasporting bet é seguroHistória Beatriz Mamigonian, da Universidade Federalsporting bet é seguroSanta Catarina (UFSC), somente cercasporting bet é seguro70 foram recuperados. O comandante do brigue, Nathaniel Gordon, porsporting bet é segurovez, conseguiu escapar. Após atear fogo no Camargo, fugiu para os EUA — uma década depois, foi enforcado porsporting bet é seguroparticipação no tráfico, único norte-americano a sofrer pena capital pelo crime.

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Legenda da foto, Navios com bandeiras americanas eram dos poucos imunes à fiscalização inglesa

Em 1896, o sociólogo W.E.B. Du Bois chamou a atenção para as relações entre os EUA e o Brasil no período do tráfico ilegal. "O tráfico americanosporting bet é seguroescravos finalmente passou a ser conduzido principalmente por capital dos Estados Unidos,sporting bet é seguronavios dos Estados Unidos, comandados por cidadãos dos Estados Unidos e sob a bandeira dos Estados Unidos", escreveu Du Bois.

Autorsporting bet é seguroO Sul mais distante: os Estados Unidos, o Brasil e o Tráficosporting bet é seguroEscravos Africanos (Companhia das Letras, 2010), o historiador Gerald Horne engrossa o corosporting bet é segurocríticos americanos ao papel do país na escravidão brasileira. "O governo brasileiro deveria buscar reparação, porque esses traficantessporting bet é seguroescravos estavam violando as leis do Brasil e praticando uma atividade ilegal. O fatosporting bet é seguroque aconteceu 170 anos atrás não diminui a reclamação, não existe um estatutosporting bet é segurolimitação na legislação internacional por crimes contra a humanidade, e o contrabando era um crime contra a humanidade", disse Hornesporting bet é seguroentrevista à BBC News Brasil. "Mas há relutânciasporting bet é segurotrazer justiça para, pelo menos, os brasileiros que são descendentes dos escravos trazidos por navios norte-americanos."

O historiador da UFF Leonardo Marques, um dos maiores pesquisadores brasileiros da participação dos EUA na escravidão brasileira, aponta algumas ressalvas. Para Marques, os recursos norte-americanos estiveram mais presentes a partirsporting bet é seguro1820, massporting bet é seguroforma indireta e ainda muito ligados a grupos específicossporting bet é segurocontrabandistas portugueses. "Por muito tempo, acharam que eram americanos, mas hoje sabemos que muitos eram portugueses que chegaram a adquirir a cidadania para conduzir o tráfico", explica o professor, que teve a tesesporting bet é segurodoutorado sobre o assunto na Universidade Emory, The United States and the Transatlantic Slave Trade to the Americas 1776-1856, transformadasporting bet é seguroum livro publicado pela Yale Presssporting bet é seguro2016.

Segurança da bandeira

O interesse nos Estados Unidos se dava por um conjuntosporting bet é segurofatores. O primeiro era a qualidade das embarcações. Desde o período colonial, a região da Nova Inglaterra fortaleceu a tradiçãosporting bet é seguroconstrução naval, competindo com os próprios britânicos, e as guerras contra os colonizadores também contribuíram para o desenvolvimento dos barcos. "A qualidade deles era muito alta, eles eram a vela, mais rápidos, e aos poucos foram desbancando a própria frota britânica", conta Marques. Alémsporting bet é seguroeconomizar tempo nas viagens, as embarcações eram consideradas capazessporting bet é segurodespistar perseguidores da Marinha Britânica e piratas.

A bandeira americana era também uma das poucas imunes a vistorias a bordo. A partirsporting bet é seguro1807, a Inglaterra começou a fechar o cerco contra o tráficosporting bet é seguroescravos — mais do que razões humanitárias, havia diferentes interesses econômicos por trás da pressão, entre os quais criaçãosporting bet é seguromercado consumidor para produtos industrializados. Embora internamente tanto abolicionistas quanto escravistas (que acreditavam já ter uma populaçãosporting bet é seguroafricanos interna suficiente e autossustentável) tenham concordado com as medidas, os EUA se recusaram a autorizar vistoriassporting bet é seguroseus barcos, acusando os britânicossporting bet é seguroferirem a soberania da ex-colônia.

Para os criminosos, a situação era perfeita: navios rápidos e com uma bandeira imune à fiscalização inglesa. Não à toa, conta Marques, no período havia várias companhias dos EUA que vendiam navios para traficantes no Riosporting bet é seguroJaneiro. "No Jornal do Comércio, havia anúnciossporting bet é seguronavios como 'excelentes para transportesporting bet é seguroescravatura'", diz o historiador.

A situação chegou a gerar alguns incidentes diplomáticos, dividindo as autoridades entre as que acreditavam que a venda dos barcos e o uso da bandeira era legítima, e os que achavam que não. Em 1844, Henry Wise foi nomeado ministro dos EUA no Brasil e,sporting bet é seguroconjunto com o cônsul George Gordon, buscou eliminar a bandeira do país do tráfico. Entre as medidas, passaram a enviar envolvidos no tráfico para serem julgados nos EUA e promoveram o desmantelamentosporting bet é seguroesquemassporting bet é segurocidadãos norte-americanos que vendiam ou fretavam embarcações para traficantes brasileiros.

Consumo financiado pela escravidão

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Legenda da foto, Ilustração mostra configuraçãosporting bet é seguroum navio negreiro americano

Um dos esquemas envolvia a companhia Maxwell Wright & Co, que combinava duas atividades que acabaram interligadas ao longo da décadasporting bet é seguro1840:sporting bet é seguroum lado, vendiam os navios para traficantessporting bet é seguroescravos;sporting bet é segurooutro, exportavam o café produzido pelos mesmos escravossporting bet é segurovolta para os Estados Unidos, onde o mercado consumidor crescia. Neste sentido, observa Marques, a participação dos EUA na escravidão brasileira transcende a questão econômica. "A identidade nacional que estava sendo construída no país, do americano tomadorsporting bet é segurocafésporting bet é segurovezsporting bet é segurochá, está amarrada com a escravidão", diz.

A professora Mamigonian, cuja pesquisa se concentra na abolição do tráfico e nas transformações da escravidão no século 19, complementa o raciocínio: "vemos um elemento muito próprio do capitalismo do século 19, quando a ascensão do consumo vai na contramão do abolicionismo." O problema, neste caso, não era restrito aos EUA. O próprio Reino Unido, quesporting bet é seguro1833 aboliu a escravidão, continuou consumindo produtos brasileiros produzidos com mãosporting bet é seguroobra escrava e fornecendo itens industrializados para o comércio ilegal na África.

O crescimento do mercado consumidor para os produtos brasileiros, ao mesmo temposporting bet é seguroque vinculou os americanos ainda mais profundamente à escravidão no Brasil, corrobora a tesesporting bet é seguroque o tráfico existiria com ou sem a presença dos EUA. Em suas pesquisas, Marques observa que, embora uma cláusula no acordo entre EUA e Inglaterra permitindo a revista das embarcações possivelmente diminuiria a presença dos norte-americanos no tráfico, o controle da compra e vendasporting bet é seguronavios permaneceria ambíguo. Não à toa, traficantes portugueses acabaram criando suas próprias redes, principalmentesporting bet é seguroNova York, adquirindo inclusive a cidadania do país.

A conclusão dos especialistas é que, enquanto houvesse demanda pelos produtos do trabalho escravo no mercado mundial e a escravidão se mantivesse um mercado lucrativo (um escravo comprado na África por US$ 40 valiasporting bet é seguroterras brasileiras algo entre US$ 400 a US$ 1.200,sporting bet é segurotornosporting bet é seguroUS$ 48 mil), haveria criminosos dispostos a manter o sistema ativo. Tanto é que, quando a captura do Mary E Smith finalmente sinalizou que o tráfico para Brasil não era mais um bom negócio, muitos traficantes voltaram as atenções para Cuba, que adotou medidas semelhantes somentesporting bet é seguro1862.

O fim do tráfico nas Américas, porsporting bet é segurovez, só ocorreusporting bet é segurofato com a abolição da escravidão no Brasil,sporting bet é seguro1888, último país do Ocidente a libertar africanos escravizados.

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