Piora da alimentação na pandemia deixa população mais vulnerável à covid-19, diz ex-chefe da FAO:link f12 bet

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Legenda da foto, Alimentos industrializados duram mais tempo na despensa, mas favorecem obesidade - um dos fatoreslink f12 betrisco à covid-19

O grande númerolink f12 betmortos pela doença nos EUA, onde 42% da população é obesa, reforça a tese. Muitos hospitais americanos têm relatado que grande parte dos adultos internados por covid-19 tem problemaslink f12 betsobrepeso.

Graziano diz ainda que a maior procura por alimentos industrializadoslink f12 betsupermercados tem prejudicado pequenos agricultores, muitos deles dependenteslink f12 betfeiras livres. Com o menor movimento nesses espaços, vários pequenos produtores temem não conseguir manter as atividades e começaram a descartar frutas, verduras e legumes.

"Precisamos valorizar circuitos locaislink f12 betprodução e consumo", defende.

Hoje consultor do Instituto Comida do Amanhã, Graziano tem passado a quarentena emlink f12 betfazenda no interiorlink f12 betSão Paulo.

Entre 2003 e 2004, ele foi ministrolink f12 betSegurança Alimentar e Combate à Fome no governo Lula, quando ajudou a implantar o Programa Fome Zero.

Formadolink f12 betAgronomia pela USP, é doutorlink f12 betEconomia pela Unicamp (Universidade Estaduallink f12 betCampinas), onde foi professor, e pós-doutor pela Universidadelink f12 betLondres e pela Universidade da Califórnia-Santa Cruz.

Na entrevista à BBC News Brasil, Graziano criticou ainda mudanças feitas pelo governo Jair Bolsonaro nas políticaslink f12 betsegurança alimentar e disse que "há uma desorganização completa na resposta" dos órgãos federais aos desafios atuais no setor.

Em resposta às críticas, o Ministério da Cidadania enumerou iniciativas para apoiar a agricultura familiar e cidadãos mais pobres durante a pandemia (veja a nota do órgão ao fim do texto).

Confira os principais trechos da entrevista.

Crédito, ONU

Legenda da foto, José Graziano da Silva chefiou a agência da ONU para a alimentação entre 2012 e 2019

link f12 bet BBC News Brasil - O diretor-executivo do Programalink f12 betAlimentação da ONU disselink f12 betabril que, por causa do novo coronavírus, o númerolink f12 betpessoas sob riscolink f12 betmorrerlink f12 betfome pode passarlink f12 bet130 milhões para 265 milhões. Como combater o problema?

link f12 bet José Graziano - Implementando políticaslink f12 betsegurança alimentar. Não apenas para quem está passando fome, mas também para quem está ameaçadolink f12 betpassar e quem sofrelink f12 betmalnutriçãolink f12 betforma geral.

Temos um número ainda maiorlink f12 betpessoas obesas, 804 milhões, e a obesidade é um dos elementos que podem agravar a covid-19. Pessoas com menoslink f12 bet60 anos obesas têm probabilidadelink f12 betmorte bem maior que as não obesas.

link f12 bet BBC News Brasil - O sr. poderia citar exemploslink f12 betpolíticaslink f12 betsegurança alimentar que poderiam ser aplicadaslink f12 betescala global? Os países mais pobres têm condiçõeslink f12 betimplementá-las sozinhos?

link f12 bet Graziano - Os melhores exemplos são a merenda escolar comprada localmentelink f12 betagricultores familiares, e o Programalink f12 betAquisiçãolink f12 betAlimentos emlink f12 betversãolink f12 betcompra com doação simultânea dos alimentos a pessoaslink f12 betsituaçãolink f12 betrisco alimentar.

É difícil que esses programas possam ser implementados pelos países mais pobres, porque não há apenas a questão dos recursos financeiros que eles demandam, mas principalmente da infraestrutura que precisa ter na área das políticaslink f12 betsegurança alimentar.

Implementar uma compra local para merenda escolar, por exemplo, faz supor que haja uma redelink f12 betescolas que tenham pelo menos uma cozinha ou um local que possa preparar seus produtos. E essa situação é muito distante da realidade da maioria dos países africanos, por exemplo.

link f12 bet BBC News Brasil - O sr. elogia as políticaslink f12 betsegurança alimentar adotadas no Brasil nas últimas décadas. Porém, uma pesquisa do Ministério da Saúde apontou que o númerolink f12 betobesos no país aumentou 67,8% entre 2006 e 2018. Houve falhas nessas políticas? O que precisa melhorar?

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Legenda da foto, "Há grande problemalink f12 betlogística e distribuição. Precisamos valorizar circuitos locaislink f12 betprodução e consumo. Pensar mais nos produtoslink f12 betproximidade,link f12 betestação, produtos frescos que estão mais próximos da gente e têm mais valor nutritivo, do que aqueles altamente processados"

link f12 bet Graziano - Sem dúvida há muito a melhorar. A dimensão da obesidade foi negligenciada no primeiro momento do Fome Zero,link f12 bet2002. A preocupação era tantalink f12 betfornecer comida que não se perguntou sobre a qualidade dessa comida. Só depois é que passamos a dar prioridade às compras da agricultura familiar para merenda escolar, por exemplo. Essa lei é bastante posterior ao início do programa Fome Zero.

Mas o problema da obesidade tem muito a ver com as inovações da indústria alimentícia. A rapidez com que a indústria consegue produzir novos alimentos ultraprocessados vai muito além da capacidade do poder públicolink f12 betregulamentar essa matéria.

O que acho que falta é uma regulamentação mais ágil, principalmente da Anvisa e dos mecanismoslink f12 betdefesa do consumidor, tipo Procon, para rotulagem dos produtos e para evitar que a população continue a ser literalmente enganada pela propaganda que é feitalink f12 betprodutos alimentícios.

link f12 bet BBC News Brasil - Quais os riscoslink f12 betfaltar alimento no Brasil durante a pandemia? Estamoslink f12 betsituação melhor ou pior que paíseslink f12 betoutras regiões?

link f12 bet Graziano - O Brasil é um tradicional exportadorlink f12 betalimentos. Não vejo risco iminentelink f12 betfaltar alimentos, ainda mais porque estamos entrandolink f12 betplena safra. A não ser uma falta localizada, por algum cortelink f12 betrota, ou problemalink f12 betlogísticalink f12 betabastecimentolink f12 betcidades aqui ou ali.

Estamoslink f12 betsituação muito melhor que outros países que dependemlink f12 betimportaçãolink f12 betalimentos, como a maioria dos países africanos. Esses, sim, têm riscolink f12 betcrise alimentar grave.

link f12 bet BBC News Brasil - Em muitos países, a covid-19 reforçou posturas nacionalistas. Fronteiras foram fechadas, e a exportaçãolink f12 betprodutos médicos foi restringida. Há o riscolink f12 betque essas ações restritivas se estendam para o comérciolink f12 betalimentos? Como isso impactaria o Brasil?

link f12 bet Graziano - Se isso acontecer, aí sim corremos o riscolink f12 betuma crise alimentar global. Foi o que houve no picolink f12 betpreçoslink f12 bet2008 e 2010. Muitos países, como a Argentina e a Austrália, que foram afetadas por uma seca, restringiram a exportaçãolink f12 betgrãos.

Isso provocou uma alta desenfreada dos preços e uma corrida pra comprar. Desregulou completamente o mercado internacional.

Não vejo que a situação seja a mesma, porque na época os estoques mundiais estavam justos. Hoje estão folgados. Mas é sempre uma possibilidade se houver pânico, uma corrida para compra e estocagem.

link f12 bet BBC News Brasil - A Declaração Universal dos Direitos Humanos,link f12 bet1948, estabeleceu o direito humano à alimentação adequada. Porém, nesta crise, temos visto que mesmolink f12 betpaíses ricos, como os EUA, a covid-19 tem matado pessoas que tinham problemaslink f12 betsaúde associados a uma alimentação inadequada, como obesidade. Por que mesmo essas nações não conseguiram efetivar esse direito tantas décadas após a declaração?

link f12 bet Graziano - Muitos países conseguiram, mas infelizmente não saiulink f12 betuma declaração retórica. Não foram tomadas medidas efetivas direcionadas a uma alimentação adequada.

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Legenda da foto, "Maislink f12 bettrês semanas são suficientes para mudar o hábito alimentar. Se deixarmoslink f12 betcomer frutas, verduras e legumes nesse período, será certamente mais difícil recuperar esse hábito após a pandemia"

Poucos países, entre os quais o Brasil, tomaram ações para implementar políticalink f12 betsegurança alimentar permanente, que garanta a todos uma alimentação saudável.

Infelizmente, os últimos governos,link f12 betparticular o atual, iniciou um desmonte da políticalink f12 betsegurança alimentar, começando pela extinção do Consea (Conselho Nacionallink f12 betSegurança Alimentar), e culminando com tentativalink f12 betcompra da Conab (Companhia Nacionallink f12 betAbastecimento), o que inviabilizaria o programalink f12 betcompralink f12 betalimentoslink f12 betagricultores familiares, que é um dos pontos altos da políticalink f12 betsegurança alimentar do Brasil.

link f12 bet BBC News Brasil - Quais os impactos práticos que essas mudanças trazem no cenário atual?

link f12 bet Graziano - O impacto mais evidente é a demoralink f12 betresponder à situaçãolink f12 betcrise alimentar que estamos entrando. Estamos vendo pequenos agricultores não terem mercado para seus produtos, começarem a jogar produto fora porque não têm como comercializá-los.

E estamos vendo aumentar o númerolink f12 betpessoas nas filas do pão, dos restaurantes populares, que estão fechando gradativamente. Enfim, há uma desorganização completa na resposta do governo na área da segurança alimentar. Isso é o reflexo do desmonte da políticalink f12 betsegurança alimentar que começou com a extinção do Consea.

link f12 bet BBC News Brasil - Pequenos agricultores dizem que as políticas agrícolas do Brasil favorecem os grandes produtoreslink f12 betcommodities. A crítica procede?

link f12 bet Graziano - Sim. E acho que ela tem muito a ver com o setor exportador. Os grandes produtoreslink f12 betcommodities são os que fornecem os produtos exportados pelo Brasil e que são fundamentais para a entradalink f12 betdólareslink f12 betque país tanto precisa.

Um jeitolink f12 betequilibrar isso é a reativação do programalink f12 betaquisição da agricultura familiar, o PAA, que garante mercado para os pequenos produtoreslink f12 betnão commodities também. Nós não comemos só commodities.

Nós comemos muita fruta, verdura, legumes, ovos, aves. Produtos animais que são criados localmente. Não são commoditieslink f12 betexportação.

link f12 bet BBC News Brasil - Qual categorialink f12 betprodutores deve ser priorizada no atual cenário?

Crédito, AFP

Legenda da foto, Umlink f12 betcada cinco brasileiros é obeso, diz Ministério da Saúde

link f12 bet Graziano - Sem dúvida, os pequenos produtores, os agricultores familiares. Não apenas porque produzem a maior parte dos alimentos que consumimos, mas porque são os mais frágeis e precisamlink f12 betapoio creditício elink f12 betpolíticaslink f12 betcompralink f12 betalimentos da agricultura familiar.

link f12 bet BBC News Brasil - Embora a ciência associada à agropecuária pareça avançarlink f12 betvelocidade, temos assistido à eclosãolink f12 betgrandes e repetidas epidemias entre animaislink f12 betcriação - a última delas, a peste suína africana -, que obrigam produtores a sacrificar milhõeslink f12 betanimais e impactam a oferta globallink f12 betalimentos. Esse modelolink f12 betcriação animal deve ser repensado?

link f12 bet Graziano - Não acho que essa epidemia tenha a ver com modelo industriallink f12 betcriaçãolink f12 betanimais. Acho que tem muito a ver com o íntimo contato que tem o homem com os animais (selvagens) e a faltalink f12 betequipamentoslink f12 betproteção e medidaslink f12 bethigiene.

Mas acho que esse modelo industrial pode ser melhorado se maiores cuidadoslink f12 bethigiene forem tomados principalmente pelos seres humanos que fazem o processamento desses animais.

link f12 bet BBC News Brasil - O biólogo americano Rob Wallace, que pesquisa esse tema, diz que a frequência e o poder destrutivolink f12 betepidemias recentes - como a peste suína africana, a Sars e a gripe aviária - se devem à progressiva redução da diversidade genéticalink f12 betrebanhos e ao avanço da produção agropecuárialink f12 betgrande escala sobre áreaslink f12 betfloresta, o que amplia a interface entre pragas selvagens e atividades humanas. O que o sr. acha?

link f12 bet Graziano - Não sou especialista, mas partilho da preocupação sobre a redução da diversidade genética e sobre a destruiçãolink f12 betáreaslink f12 betfloresta. Não é o primeiro vírus que provémlink f12 betáreaslink f12 betfloresta ou animais selvagens. O caso do ebola e do zika são exemplos recentes disso.

link f12 bet BBC News Brasil - Muitos acadêmicos têm especulado sobre legados positivos que a covid-19 pode nos deixar. Há algo benéfico que poderia acontecer no campo da agricultura e alimentação?

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, "Estoques mundiais (de alimentos) estão folgados. Mas é sempre uma possibilidade, se houver pânico, (de haver) uma corrida para compra e estocagem"

link f12 bet Graziano - Ainda é cedo para dizer sobre efeitos positivos. Ressaltaria dois pontoslink f12 betpreocupação. Primeiro, a qualidade nutricional dos produtos que consumimos na pandemia.

A tendência é consumir produtos não perecíveis, já que temoslink f12 betreduzir idas ao supermercado ou feiras. Isso pode acentuar os problemaslink f12 betsobrepeso e obesidade da nossa população, principalmente das crianças e mulheres.

Maislink f12 bettrês semanas são suficientes para mudar o hábito alimentar. Se deixarmoslink f12 betcomer frutas, verduras e legumes nesse período, será certamente mais difícil recuperar esse hábito após a pandemia.

A segunda preocupação é o fatolink f12 betnos fiarmoslink f12 betum supermercado global que não existe. Pensamos que, o mundo estando abastecido, nossa despensa estará. Não é assim.

Há grande problemalink f12 betlogística e distribuição. Precisamos valorizar circuitos locaislink f12 betprodução e consumo. Pensar mais nos produtoslink f12 betproximidade,link f12 betestação, produtos frescos que estão mais próximos da gente e têm mais valor nutritivo, do que aqueles altamente processados como salsichas, embutidos, que nem sabemos o que têm dentro e têm quantia enormelink f12 betpreservativos que não fazem bem à saude.

Temoslink f12 betvalorizar alimentação mais saudável, a alimentação mais natural. Espero que essa seja a grande lição que a gente aprenda nessa pandemia.

Resposta do Ministério da Cidadania às críticaslink f12 betJosé Graziano:

"É importante destacar que o Consea, bem como os demais conselhos vinculados à Presidência da República, foi extinto. No entanto, todas as competências que havia nesses órgãos foram distribuídas entre várias Pastas do Governo Federal. Com essa formalink f12 betorganização administrativa, as ações governamentais tornam-se mais céleres e eficientes.

Como exemplo disso, é possível citar a edição da Medida Provisória nº 953,link f12 bet15link f12 betabrillink f12 bet2020, que liberou R$ 500 milhões serão utilizados para o fortalecimento do Programalink f12 betAquisiçãolink f12 betAlimentos (PAA). Os recursos beneficiarão cercalink f12 bet85 mil famíliaslink f12 betagricultores familiares, alémlink f12 bet12,5 mil entidades e 11 milhõeslink f12 betfamíliaslink f12 betvulnerabilidade social que receberão os alimentos, muitas delas ribeirinhas. Estes recursos começam a ser empenhados a partir desta semana e seguirão pelos próximos meses."

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