Coronavírus: como os EUA, com maiscreation 22245 mil casos, se tornaram epicentrocreation 22epidemia:creation 22
Um mês e meio depois, a maior economia do mundo se tornou o novo epicentro mundial da pandemiacreation 22covid-19.
Dados da manhã dessa sexta-feira (3) dizem que o país tem maiscreation 22245 mil infectados e maiscreation 226 mil mortos - só na quinta-feira (2), foram 1.168.
O númerocreation 22mortos já é quase o dobro do da China, que teve 3,3 mil mortes por coronavírus.
Foi naquele país asiático que a pandemia surgiu. Alguns dias antes, Itália e Espanha também já haviam superado a China nesse quesito.
A própria Casa Branca agora estima que o novo vírus poderia causar entre 100 mil e 200 mil mortes nos Estados Unidos.
São números amargos, duroscreation 22engolir - e que dificilmente poderão ser vendidos como resultadocreation 22"um bom trabalho".
O que aconteceu
No fimcreation 22janeiro, Trump incumbiu o vice-presidente Mike Pencecreation 22liderar uma força-tarefa para combater a epidemia e,creation 222creation 22fevereiro, o governo tomoucreation 22primeira medida importante, ao decretar a proibiçãocreation 22entrada nos Estados Unidoscreation 22estrangeiros que haviam visitado a China nos 14 dias anteriores.
Uma decisão que, segundo o presidente americano, possibilitou salvar inúmeras vidas e que os especialistas, embora concordem com ela, ressalvam que não foi acompanhadacreation 22outras medidas para preparar o país para a pandemia.
"Demorou muito tempo para as autoridades perceberem que esse era um problema sério", diz Jeremy Youde, especialista globalcreation 22políticascreation 22saúde e reitor da Escolacreation 22Humanidades da Universidadecreation 22Minnesota,creation 22Duluth.
"E o tempo jogou contra tudo o que os Estados Unidos fizeram", acrescenta ele.
Em 12creation 22março, o presidente fez um pronunciamento à nação no Salão Oval da Casa Branca, no qual anunciou que todas as viagens da Europa e até trocas comerciais haviam sido suspensas, informação que seu governo teve que corrigir às pressas: a medida era apenas para estrangeiros não residentes.
Além disso, as declaraçõescreation 22Trump durante essa pandemia geraram confusão devido a seu hábitocreation 22minimizar o risco para o país e o fato de,creation 22inúmeras ocasiões, contradizer as informações passadas por outros integrantescreation 22sua equipe ou pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Uma breve cronologia dos comentários do presidente americano noticiados pela imprensa atesta isso:
"Tudo está sob controle" - 22creation 22janeiro, um dia após o primeiro caso ter sido confirmado no Estadocreation 22Washington.
"Muitas pessoas pensam que desaparecerácreation 22abril com o calor. À medida que o calor chegar. Desaparecerácreation 22abril" - 10creation 22fevereiro, com 11 casos confirmados.
Os Estados Unidos estão "desenvolvendo rapidamente uma vacina " contra o coronavírus - 26creation 22fevereiro. Logo depois, o diretor do Instituto Nacionalcreation 22Alergia e Doenças Infecciosas do governo, Anthony Fauci, reconheceu que um antígeno levará maiscreation 22um ano para ficar pronto.
"Abriremos [o país]creation 22breve ... Gostaria que o país abrisse com energia para a Páscoa" - 25creation 22março, depoiscreation 22anunciar as regrascreation 22confinamento a todos os americanos.
Já estaremos "no caminho da recuperação " entre 30creation 22junho e 30creation 22março, depoiscreation 22estender a recomendação aos americanos até o fimcreation 22abril.
"Quando vemos esse tipocreation 22inconsistência e (declarações) questionando autoridades ou a comunidade científica, é difícil para pessoas normais, como nós, saber quem devemos escutar", diz Youde. "Não sabemos o que devemos fazer. Devo ir ao supermercado ou não? Devo ir ver minha mãe idosa ou devo deixar essa visita para outra hora?".
Um dos rostos mais conhecidos e confiáveis do público americano é o do Dr. Anthony Fauci, quecreation 22várias ocasiões corrigiu Trumpcreation 22suas afirmações sobre o desafio sanitário ou as refutou.
Especialistascreation 22saúde pública reconhecem o valorcreation 22Fauci como chefe da equipe encarregadacreation 22combater a epidemia, mas alertam para as mensagens truncadas dentro do governo.
"É importante ter uma comunicação consistente e transmitir às pessoas a realidade e o que podemos enfrentar", destaca Youde.
Falha nos testes
Além da faltacreation 22liderança clara, uma das grandes falhas dos EUA nesta crise foi o "fracasso"creation 22detectar novos casos no país.
"Grande parte da culpa pela situação se deve ao atraso dos testes nos Estados Unidos. Ficamos assistindo a pandemia se desenrolar sem capacidadecreation 22testar e identificar casos. E isso resultou na propagação maciçacreation 22covid-19 nos EUA", diz Thomas Tsai, cirurgião e pesquisadorcreation 22políticascreation 22saúde da Universidade Harvard (EUA).
Acesso limitado a testes ou mesmo testes defeituosos estão entre os problemas citados por especialistas, que atrasaram a resposta da primeira potência mundial ao avanço da doença.
Sistema federal
Paralelamente aos problemas com os testes e ao gerenciamento da crise pela Casa Branca, vários governadorescreation 22Estados dos EUA começaram a tomar rédeas da situação.
A Califórnia, segundo Tsai,creation 22Harvard, "um bom exemplocreation 22que esforços coordenados ajudaram a conter a propagação da infecção", foi um dos que adotou medidas, como distanciamento social e fechamentocreation 22comércios não essenciais,creation 2219creation 22março.
Além disso, outra dificuldade é que os EUA não têm um balançocreation 22de infectados e mortos a nível nacional, apontam especialistas. Essa estatística é divulgada por cada Estado individualmente.
Nos EUA, maiscreation 22180 mil casos foram registrados até 31creation 22março, um número bem maior que os 105 mil registrados oficialmente na Itália e os quase 95 mil na Espanha.
E Nova York é a área mais atingida: 76 mil infectados e 1,5 mil mortos, segundo dados da Universidade Johns Hopkins.
Ali, tanto o sistemacreation 22saúde quanto os necrotérios estão operandocreation 22capacidade máxima, e as medidas tomadas pelo governador refletem o drama vivido pelo Estado: a chegadacreation 22um navio militar à ilhacreation 22Manhattan com 1 mil novos leitos e a construçãocreation 22um hospitalcreation 22campanha no Central Park.
Embora o país tenha agências nacionais, como o Centrocreation 22Controle e Prevençãocreation 22Doenças (CDC, na siglacreation 22inglês), cada Estado, temcreation 22própria infraestruturacreation 22saúde pública e "parte do desafio ocorre quando não há uma estratégia nacional coordenada no país e cada um dos Estados deve pensarcreation 22uma estratégia individualmente", diz Tsai.
Assim, enquanto alguns Estados impuseram restrições precocemente e declararam estadocreation 22emegência antes da explosão dos casos, outros optaram por não fazê-lo, o que, segundo especialistas, também pode ter contribuído para a escaladacreation 22infecções.
Aproximadamente, trêscreation 22cada quatro americanos foram colocados sob alguma formacreation 22confinamento, cercacreation 22245 milhõescreation 22pessoascreation 22uma populaçãocreation 22cercacreation 22327 milhões, e quase dois terços dos Estados emitiram diretrizes nesse sentido a nível estadual.
Em geral, as medidascreation 22"confinamento" apenas permitem que os cidadãos saiam para comprar remédios ou bens essenciais, ou para formas limitadascreation 22exercício.
"Quanto mais inconsistência houver entre os Estados, mais oportunidades haverá para o vírus se espalharcreation 22outras comunidades, porque os vírus não respeitam fronteiras", alerta Youde.
Mais medidas?
Em meio à crise, especialistas defendem um planocreation 22ação mais rigoroso.
A epidemiologista Jennifer Nuzzo detalhou ao site Politico um plano para acabar com o distanciamento social, o que implicaria na colaboraçãocreation 22diferentes organizações - do Pentágono ao Corpocreation 22Paz (programa voluntário que leva jovens recém-formados para ajudar a desenvolver projetos no exterior).
Mas, para colocar tal estratégiacreation 22prática, seriam necessários, segundo ela, "mais e melhores dados" sobre os casos confirmados, assim como ferramentas para analisá-los.
Nuzzo, diretora do Observatóriocreation 22Surtos no Centrocreation 22Segurança da Saúde da Universidade Johns Hopkins, faz alusão ao sucessocreation 22países como a Alemanha e a Coreia do Sul, também considerados exemplos no combate ao vírus por outros especialistas.
Em um artigo publicado no jornal americano The New York Times, a epidemiologista Melissa A. Marx e o médico Joshua M. Sharfstein enfatizam que o êxito da Coreia do Sulcreation 22conter a propagação da doença "dependia não apenas da ampliação da capacidadecreation 22testagem, mas tambémcreation 22uma abordagem abrangente para acompanhar os casos".
"Os testes são apenas o começo da batalha contra o covid-19", destacaram os especialistas.
No momento, os Estados Unidos parecem distantes disso, à medida que a curva do vírus continua aumentando.
"Vamos ter duas semanas muito difíceis", alertou Trump durante entrevista a jornalistas na terça-feira, na qual demonstrou grande preocupação com a covid-19 e pediu aos americanos que se preparassem para o que está por vir.
Deixandocreation 22lado a comparação que havia feito com a gripe, o presidente concluiu que o vírus "é o pior que o país já viu".
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