Crise na Venezuela: o que é o GrupoLima, que reúne representantes14 países:
"O GrupoLima tem tido a tendênciabuscar saídas que passem por ajuda humanitária, mecanismosisolamento diplomático e sanções econômicas. Não tem sido um foro no qual apareceram sugestões ou articulações na esfera militar", explica Fernanda Magnotta, coordenadora do cursoRelações Internacionais da FAAP.
"Porém, muita gente entendeu que a participaçãoMike Pence [vice-presidente dos EUA] e o agravamento da situação da Venezuela, com protestos no fimsemana, aproximam o GrupoLimauma saída mais na base da força", continua Magnotta.
"O GrupoLima, que foi criado para buscar uma solução pacífica para a Venezuela, tem se tornado uma espéciecoalização daqueles que querem resolver o problema por qualquer que seja o meio", afirma Dawisson Belém Lopes, professorpolítica internacional da UFMG.
"A diplomacia na América Latina sempre teve uma preocupação muito grande na manutenção da soberania territorial dos países. Tanto que nos últimos 150 anos, desde a Guerra do Paraguai, não houve um conflito na região envolvendo maisdois Estados. Um enfrentamento entre Estados é alheio a nossa tradição. O problema é que, nos últimos dias, parece estar havendo uma reversãocurso", avalia Lopes.
Solução pacífica ou ação militar?
Durante a abertura do encontro, o ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Carlos Holmes Trujillo, disse que é responsabilidade do GrupoLima aumentar o apoio para que os venezuelanos "retomem a condução do seu destino nacional, do qual foram usurpados pela ditadura".
Há uma alta expectativatorno da reunião. Em entrevista à FolhaS. Paulo no domingo, o venezuelano Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente interino da Venezuela no finaljaneiro e foi reconhecido por dezenaslíderestodo o mundo, disse que todas as opções devem ser consideradas pela comunidade internacional na Venezuela - inclusive uma invasão.
O próprio Guaidó participa do encontroBogotá, pela primeira vez. Proibido pelo governo Madurosair da Venezuela, o opositor diz que contou com apoiomilitares para chegar até a Colômbia.
Outra presença que chama atenção no encontro é a do vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence. Uma vez que os Estados Unidos não são um membro oficial do GrupoLima, a participação dele é vista como um sinal da importância que a questão venezuelana ganhou para o governoDonald Trump.
O governo Trump também tem repetido que é preciso considerar todas as opções, inclusive as militares, como saída para a crise venezuelana.
Pelo lado brasileiro, estão presentes no encontro do GrupoLima o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Em discurso durante o evento, Mourão posicionou o Brasil ao ladouma solução pacífica, "sem qualquer medida extrema" que coloque os países na categoria"agressores, invasores e violadoressoberanias nacionais".
"(É preciso) uma vigorosa mobilização dos países irmãosfavor do povo venezuelano, (por meio de) sançõesforma legal e legítima sobre o regime e seus dirigentes, colocando-os na categoriapárias internacionais, diante suas reiteradas violações dos direitos humanos que cometeram e insistemcometer, negando ajuda humanitária", declarou o vice-presidente.
EnvioMourão pode representar moderação
Em entrevista para a BBC News Brasil na quinta-feira, após o anúncio do fechamento da fronteira da Venezuela com o Brasil, o vice-presidente Mourão afirmou que não acreditava que a situação no país vizinho poderia resvalar para um conflito regional.
"Da nossa parte nós jamais entraremosuma situação bélica com a Venezuela, a não ser que sejamos atacados, aí é diferente, mas eu acho que o Maduro não é tão louco a esse ponto, né", declarou Mourão.
A escalaçãoMourão para participar do encontro do GrupoLima - um fórumministros das relações exteriores, nãovices-presidentes - está sendo vista por especialistas como uma possível moderação na postura do governoJair Bolsonaro a respeito da Venezuela.
O motivo é que Mourão, que já foi adido militar na Embaixada do BrasilCaracas, é alinhado com o pensamentonão intervençãoassuntos externos, clássico entre os militares e o corpo diplomático brasileiros.
Já o chanceler é visto como uma figura mais aferrada à ideologia. Em postagem no Twitter no iníciofevereiro, por exemplo, Araújo declarou: "Se a esquerda conseguir a perpetuação da tirania na Venezuela apesartoda a pressão internacional pela democracia, se conseguir continuar matando o povo venezuelanofome apesar do anseiotodo o continenteprestar ajuda humanitária, o que não conseguirá?"
"Há mais afinidade entre militares e diplomatas brasileiros do que possa parecer. Eles são um bastiãoresistência (da postura não intervencionista nas relações exteriores do Brasil). Quero crer que a política brasileira para a reuniãohoje do GrupoLima tenha sido desenhada conjuntamente por Mourão e pelos diplomatas do Itamaraty. Ernesto é um ponto fora da curva", acredita Lopes, da UFMG.
"Por isso, o Brasil pode ser uma vozmoderação na reuniãohoje, onde já deve haver uma articulação no sentidoações que possam significar quebra da soberania venezuelana sob pretexto humanitário", continua Lopes, se referindo à pressão para envio forçadoajuda humanitária ao país vizinho.
Também espera-se que o México se posicione contra uma ação militar na Venezuela. O país, governado por Andrés Manuel López Obrador, foi um dos poucos latino-americanos a não reconhecer a presidência interinaGuaidó. México e Brasil são as duas principais economias latino-americanas, o que pode aumentar o peso da posiçãoambos.
Estados Unidos podem influenciar encontro
Essa é a primeira vez que um representante do alto escalão do governo Trump participa do GrupoLima. Ainda que os EUA não façam parte do fórum formalmente, espera-se que a posição americana, contrária a Maduro e mais disposta a uma solução intervencionista, tenha grande peso no encontro desta segunda-feira.
"O GrupoLima serve a um propósito maisarticulação política do quedeliberação jurídica. Então, no fundo, não faz tanta diferença se o país faz parte do grupo ou não. O que interessa é se o país tem poder político,articulação, barganha, para fazer com que seus interesses se façam valer. E os EUA são um dos países mais importantes nesse jogo", explica Magnotta, da FAAP.
"Existem sinaisque americanos querem se envolver mais diretamente na situação venezuelana e estejam interessadosuma saída mais dura. Por um lado, a saída diplomática não logrou o êxito que o GrupoLima queria, já que Maduro continua no poder. Por outro lado, se for tomada uma saída pela força, não há muito otimismo que possa dar certo, tendovista que outras intervenções militares não foram capazesproduzir estabilidade", opina a especialista.
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