O que é 'globalismo', termo usado pelo novo chanceler brasileiro e por Trump?:voucher bet365
Para esses analistas, o termo se transformouvoucher bet365um "slogan político" ouvoucher bet365uma "caricatura" e representa, na abordagem dos debates recentes, ideias opostas ao nacionalismo e ao patriotismo.
Slogan político
O primeiro aspecto que deve ser destacado, diz o linguista belga Jan Blommaert, professorvoucher bet365Língua, Cultura e Globalização na Universidade Tilburg, na Holanda, é que o termo é "vago, e isso faz partevoucher bet365uma estratégia do discurso político".
Globalismo, por exemplo, não é sinônimovoucher bet365globalização, segundo Blommaert, "mas é exatamente a semelhança com 'globalização' que confunde as pessoas e faz com que elas pensem que sabem do que está sendo falado".
O segundo aspecto é que o termo, diz o professor, é a "munição ideal" para o século 21, "perfeito para as redes sociais". "No mundo do Twitter, é ideal: é uma palavra com vários significados distintos e várias aplicações diferentes. Ideias longas e argumentos são reduzidos a uma palavra ou uma frase."
"Globalismo" é simplesmente um "slogan político", diz à BBC News Brasil, por e-mail, o cientista político americano Joseph Nye, professorvoucher bet365Relações Internacionaisvoucher bet365Harvard e um dos pais do conceitovoucher bet365"soft power" (poder brando, ou a capacidadevoucher bet365um paísvoucher bet365influenciar decisões por seu podervoucher bet365persuasão,voucher bet365contraposição a seu poder militar).
Mas o que "globalismo", como slogan político, quer dizer?
O termo "tem sido usado por líderes nacionalistas-populistas para condenar elites envolvidasvoucher bet365negócios globais, como comércio e instituições internacionais", define Nye.
Esses líderes também se referem à "faltavoucher bet365soberania nacional" sobre questões particulares, como imigração e comércio, diz Heidi Tworek, professoravoucher bet365História Internacional da Universidadevoucher bet365British Columbia, no Canadá.
Para Blommaert, a palavra, como é usada agora, tem três significados: os antiglobalistas são contrários à imigração e à diversidade ("os debates contra a imigração evitam a palavra 'racismo' e a substituem por 'antiglobalismo'", diz), à governança transnacional e, por fim, se opõem também à esquerda ("ela é culpabilizada pela imigração, pela diversidade, a ascensão das mulheres - o que seria uma perda das 'tradições culturais' e valores - e pela construçãovoucher bet365um sistemavoucher bet365governança transnacional").
Por outro lado, as queixas dos líderesvoucher bet365direita contra o "globalismo" podem ter alguma razão, reconhece Gideon Rachman, colunista do jornal britânico Financial Times. Para ele, o uso do termo com esses significados talvez esteja ligado à crise financeira mundialvoucher bet3652008.
"Naquela época, a percepção eravoucher bet365que algo havia dado errado com o 'projetovoucher bet365globalização'. Havia descontentamento, uma estagnação na Europa e nos Estados Unidos, e o sentimentovoucher bet365que as pessoas que haviam criado o sistema eram as que haviam perdido menos." Então, diz ele, Trump e outros capitalizaram sobre isso.
Ou seja, se antes a globalização era vista como um processo econômico e tecnológico, um grupovoucher bet365pessoas passou a defender que, por trás do fenômeno, havia uma ideologia - o "globalismo".
"Dizem que (o globalismo) não era inevitável, não era neutro e é algo que pode ser combatido", afirma Rachman.
E ele concorda: "O mundo globalizado ao qual nos acostumamos foi resultadovoucher bet365decisões conscientes. As ideias não podem ser vistas como puramente tecnocráticas e divorciadas da política. Podem ter acreditado que era técnico,voucher bet365grande parte, mas havia conteúdo político, sim".
'Instrumentos contrários à nação'
Outras declarações do chanceler brasileiro Ernesto Araújo mostram que, para ele, "globalismo" reúne, basicamente, características "contrárias à nação" ou contrárias à "pátria". "O globalismo se constitui no ódio, através das suas várias ramificações ideológicas e seus instrumentos contrários à nação, contrários à natureza humana, e contrários ao próprio nascimento humano", afirmouvoucher bet365seu discursovoucher bet365posse.
O ministro também disse: "Não acreditem no que o globalismo diz quando diz que para ter eficiência econômica é preciso sufocar o coração da pátria e não amar a pátria. Não escutem o globalismo quando ele diz que paz significa não lutar".
O conceitovoucher bet365"amar a pátria"voucher bet365oposição a "globalismo" é compartilhado por Trump. Em seu discurso na Assembleia Geral da ONUvoucher bet3652018, o presidente americano afirmou que os Estados Unidos "rejeitam a ideologia do globalismo e abraçam a doutrina do patriotismo".
O linguista belga Blommaert resume: globalismo significa, basicamente, "o oposto do nacionalismo no século 21". Os "antiglobalistas" seriam os nacionalistasvoucher bet365agora - "mas o termo 'nacionalismo' saiuvoucher bet365moda", diz.
Tworek, professoravoucher bet365British Columbia, acrescenta: com o sufixo "ismo", que indica ideologia, a palavra serve para se opor a "nacionalismo".
Projeto ideológico e conspiratório
Embora dê certa razão aos líderes que protestam contra os conceitos que incutem no termo "globalismo", Gideon Rachman, do Financial Times, ressalta que o fatovoucher bet365que houve uma ideologia por trás da formação do mundo com economia global integrada como conhecemos hoje não significa, no entanto, que tenha havido alguma conspiração para tanto. E a direita, segundo diz, destaca esse suposto aspecto "conspiratório".
"Putin, a China, a Comissão Europeia, Tony Blair e Bill Clinton tinham uma visão similar,voucher bet365livre comércio, comprometidos com a ideiavoucher bet365uma economia global integrada", afirma. "O triunfo da ideologia foi que não percebemos que era uma ideologia - parecia só bom senso."
E houve oposição - avoucher bet365agora não é novidade. Ele cita, por exemplo, as manifestaçõesvoucher bet365Seattlevoucher bet3651999, quando milharesvoucher bet365pessoas protestaram contra o encontro da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Ou mesmo a independência dos Bancos Centrais: "todo mundo que era sensato dizia que a administraçãovoucher bet365dinheiro deveria ser feita por tecnocratas. Mas agora há embates contra essa ideia, como osvoucher bet365Trump nos EUA".
A professoravoucher bet365História Moderna da City Universityvoucher bet365Londres e autora do livro The Emergence of Globalism (O surgimento do globalismo,voucher bet365tradução livre), Or Rosenboim, diz que Trump e outros líderes "fingem" protestar exatamente contra esse "globalismo neoliberal".
Para ela, globalismo é "a ideiavoucher bet365que a política deve se ajustar à globalização, ou às condições culturais e econômicasvoucher bet365um mundo interconectado".
Não significa, diz ela, que todos os "globalistas" tenham os mesmos valores ou objetivos dentro dessa ordem global. Trump e outros líderes,voucher bet365acordo com Rosenboim, usam a retórica para parecer protestar contra um tipo específicovoucher bet365"globalismo", o "globalismo neoliberal", ou um que prioriza interesses econômicos globais sobre outros interesses.
A questão, diz ela, é que embora usem essa retórica, os líderesvoucher bet365direita não estão falandovoucher bet365verdade sobre "globalismo". "É mais como uma versão falsa ou uma caricaturavoucher bet365'globalismo'. Eles dizem atacar a ideiavoucher bet365que 1%voucher bet365pessoas ricas no mundo lucraram com essa nova condiçãovoucher bet365interconexão", afirma. "Mas há muita retórica e um certo truque para apelar para as pessoas ignoradas pelo mercado neoliberal."
"O 'globalismo neoliberal' existe, mas eles não protestam contra issovoucher bet365fato. Protestam contra uma elite liberal cosmopolita, não necessariamente contra as pessoas ou instituições responsáveis por estabelecer esse tipovoucher bet365mercado."
'Globalismo'voucher bet365agora, antes 'cosmopolitismo'
O termo "globalismo" não é novo, e tinha outros significados.
Na virada do século 19 para o 20, diz o linguista belga Jan Blommaert, surgiu uma nova cultura ligada à urbanização. "Houve um sentimentovoucher bet365que estávamos perdendo nossas tradições,voucher bet365que havia uma nova mentalidade blasé,voucher bet365que éramos afetados pelo consumo."
O que definiam pessoas com essa nova mentalidade era o termo cosmopolitan,voucher bet365inglês. A revista americana Cosmopolitan, por exemplo, foi lançadavoucher bet3651886. Já naquela época, afirma o professor, o termo globalist era usadovoucher bet365alternância com cosmopolitan.
Or Rosenboim, da City Universityvoucher bet365Londres, diz que nos anos 1940, depois da Segunda Guerra Mundial, "pensadores e intelectuais do Ocidente tentaram pensarvoucher bet365um mundo pós-guerra, preocupados com a volta do totalistarismo e militarismo e reconhecendo a interconexão do mundo, facilitada por tecnologiasvoucher bet365transporte e comunicação".
Ela diz que pensaramvoucher bet365como a política poderia ser feita "globalmente" evoucher bet365como valores como o "bem-estar e a igualdade" eram globais, não ligados a um só país. E assim teria surgido o "globalismo" na acepção que ela estudou, da política que deve adaptar-se à globalização.
Para Blommaert, foi mais nos anos 1960, com o fim das colônias no mundo e com grandes eventos midiáticos, como o pouso na Lua e a Guerra do Vietnã, que mudou a maneira como se imaginava o mundo.
"Foi ali que passamos a ver o mundo como um sistema interconectado. O 'global', como uma noção, surgiu. Passamos a sentir que vivíamosvoucher bet365um mundo global, formado por zonas e Estados com pessoas iguais", diz ele, citando também "líderes e ícones globais" que se tornaram conhecidos no mundo todo pouco antes, como Gandhi, Mao Tsé Tung e Fidel Castro.
Então, para Blommaert, "globalismo" substituiu o termo "cosmopolitanismo", representando "a nova tendênciavoucher bet365se livrarvoucher bet365uma visãovoucher bet365mundo antiga, que era eurocêntrica, metropolitana, como a visão imperial do mundo por parte do Reino Unido". Era,voucher bet365acordo com o professor, visto como uma coisa boa. "Havia uma ideiavoucher bet365que podíamos aprendervoucher bet365outras regiões e culturasvoucher bet365modo igualitário e com respeito."
Para Rosenboim, "globalismo não era visto como algo bom ou ruim. Era visto como algo necessário para responder à nova realidade. Era mais como: 'Precisamosvoucher bet365globalismo, se não vamos ficar para trás'".
Antissemitismo
Mas a mesma palavra, cosmopolitan, foi usada como algo negativo e antissemita antes dos anos 1960. Foi assim na Alemanha nazista e na União Soviéticavoucher bet365Stálin, segundo Blommaert. Era usada para descrever características "inatas"voucher bet365judeus, que não teriam raízes germânicas, no caso da Alemanha. Para Stálin, "o cosmopolitanismo sem raízes", ou os judeus, representava um perigo à soberania soviética.
Há quem veja ecos dessa acepção antissemitavoucher bet365cosmopolitan no novo significadovoucher bet365"globalismo" no século 21. O maior símbolo do "globalismo", para quem se diz "antiglobalista", é George Soros, um empreendedor húngaro-americano judeuvoucher bet36588 anos. Nascido na Hungria ocupada por nazistas durantevoucher bet365adolescência, emigrou para o Reino Unido. Hoje, é um investidor e filantropo que investevoucher bet365causas progressistas e liberais pelo mundo todo.
"Ele não tem raízes e é ligado a ONGs internacionais. Por isso, é um típico 'globalista'", diz Blommaert. "Ele é um judeu que novamente é visto como perigoso."
Em 2018, o jornal The New York Times fez uma reportagem sobre como a vilanizaçãovoucher bet365Soros "saiu das beiradas para o mainstream" - chamado até por republicanosvoucher bet365"globalista".
voucher bet365 Globalismo no Brasil
"Globalismo" também já teve acepções usadas no Brasil, segundo Mariana Kalil, professoravoucher bet365Relações Internacionais da Escola Superiorvoucher bet365Guerra, no Brasil.
Tudo começou, afirma, com o "grande fundador da política externa brasileira", o Barãovoucher bet365Rio Branco. No começo do século 20, ele entendeu "o momentovoucher bet365mudar a política externa brasileira da Europa para os Estados Unidos". Fundou a Embaixada brasileiravoucher bet365Washington,voucher bet3651905, para onde foi Joaquim Nabuco. Recebeu a Conferência Panamericana no Riovoucher bet365Janeirovoucher bet3651906. Era o chamado "americanismo pragmático".
O "americanismo pragmático" passou para "equidistância pragmática" sob Getúlio Vargas e depois se transformouvoucher bet365"globalismo" na décadavoucher bet3651960, quando o mundo "passou a ter muitos polos", segundo diz.
Então, "o Brasil começou a exercer 'globalismo'". Não esse "globalismo"voucher bet365que se fala agora, que ela define como um "político-partidário", mas um "da tradição da política externa brasileira".
E o que era exatamente esse "globalismo" brasileiro? Segundo Kalil, era equivalente a um "pragmatismo na política externa no sentidovoucher bet365diversificar parcerias para ampliar seus ganhos". E isso, afirma, "nada tem a ver com uma conspiração global".
Na época das gestões dos presidentes Jânio Quadros e João Goulart, nos anos 1960, já se falavavoucher bet365"globalismo", diz ela. E, depois disso, "globalismo foi a base da política externa dos governos militares". "O governo Geisel tinha como política principal o chamado 'pragmatismo responsável e ecumênico'", que significava lidar com todo mundo, basicamente.
No entanto, esse "globalismo" brasileiro do século 20 não é ligado ao "globalismo"voucher bet365que fala o ministro das Relações Exteriores brasileiro hojevoucher bet365dia, que ela define como "uma ameaça ao interesse e à identidade nacional" - e que ela diz não ser necessariamente ligada a ideias anti-imigração, por exemplo, como afirma o professor Blommaert.
E, diz Kalil, "o 'globalismo' da política externa é uma coisa, o globalismo da retórica é outra" - ou seja, não se sabe se o chanceler vai concretizar o que falavoucher bet365discursos. "O Brasil não vai rechaçar as organizações internacionais, não é assim", prevê.
Os discursosvoucher bet365Araújo,voucher bet365que fala sobre "globalismo", não têm necessariamente a ver com uma mudança radical na política externa brasileira e são positivos, na visãovoucher bet365Kalil, porque promovem "sua democratização".
"Refletem as urnas. Nunca tivemos uma política externa tão democrática no sentidovoucher bet365dar voz à opinião pública. E a política externa é uma política pública como outra qualquer", opina.
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