O soropositivo que salvou milharesbayern rb leipzigpessoasbayern rb leipzigserem infectadas pelo HIV:bayern rb leipzig

Greg Owen
Legenda da foto, Greg Owen lutou pelo acesso no sistemabayern rb leipzigsaúde britânico à Prep (Profilaxia Pré-Exposição ao HIV), um novo métodobayern rb leipzigprevenção à infecção pelo HIV

Os anos se passaram. Em 2015, Owen trabalhavabayern rb leipzigbares e boates, e dormiabayern rb leipzigsofás na casabayern rb leipzigamigosbayern rb leipzigLondres.

Foi quando Owen encontrou Alex Craddock. "Ele era fofo, um pouco atrevido. E eu tive uma quedinha por ele", conta.

Craddock tinha voltadobayern rb leipzigNova York e estava testando a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), uma pílula que combina dois medicamentos (tenofovir + entricitabina) que bloqueiam alguns "caminhos" que o HIV usa para infectar o organismo.

Se você toma PrEP diariamente e faz sexo com uma pessoa com HIV, a combinação é quase 100% efetiva para prevenir que você se torne HIV positivo, mesmo se não houve usobayern rb leipzigcamisinha na relação.

Há quem o tome dias antes e depois do ato sexual. Há quem o tome diariamente. Segundo o Ministério da Saúde, a PrEP começa a fazer efeito sete dias depois do uso do comprimidobayern rb leipzigcasosbayern rb leipzigrelação anal e 20 dias para relação vaginal.

Ela é indicada para pessoas que tenham maior chancebayern rb leipzigentrarbayern rb leipzigcontato com o HIV, como gruposbayern rb leipzigrisco - homens que transam com outros homens, trans e trabalhadores e trabalhadoras do sexo.

Greg Owen na infância
Legenda da foto, Greg Owen nasceu na Irlanda do Norte e, segundo ele, sempre foi 'muito gay'

Owen queria muito um tratamento similar ao do amigo. "Eu estava tentando achar a PrEP, e Alex já estava usando o medicamento, que ele conseguira nos EUA". Naquela época, o tratamento não estava disponível no serviço públicobayern rb leipzigsaúde do Reino Unido. No entanto, os diagnósticosbayern rb leipzigHIV para gruposbayern rb leipzigrisco estavam crescendo. Umbayern rb leipzigoito homens gaysbayern rb leipzigLondres têm HIV.

A PrEP previne; não cura a Aids, doença crônica que atinge o sistema imunológico, podendo levar à morte quando não tratada.

Antesbayern rb leipzigtomar a PrEP, a pessoa precisa se certificar que não foi infectada com o HIV.

Owen teve acesso a uma pequena dose do medicamento e foi fazer o teste para saber se poderia adotar o método preventivo.

Prep anti HIV pill

Ele não estava preocupado. Fazia testes para DST com regularidade. Mas dessa vez, o teste deu, pela primeira vez, o outro resultado: positivo para HIV.

"Foi como uma bomba", recorda Owen, que se sentiu paralisado e sozinho, como se estivesse preso numa armadilha. "Eu via as pessoas passando e me senti como se estivesse numa bolha, como se algo estivesse me separando do resto do mundo", relata.

Foi quando tomou a decisão que mudoubayern rb leipzigvida e, provavelmente, asbayern rb leipzigmilharesbayern rb leipzigoutros homens gays. Ele decidiu revelar seu segredo. Postou no Facebook que era HIV positivo. Falou da PrEP, essa droga que poucos tinham ouvido falar mas que poderia ter evitadobayern rb leipzigcontaminação.

A primeira reação das pessoas foibayern rb leipzigchoque pela revelação, mas logo começaram a perguntar o que era a PrEP e por que ela impediria que ele se contaminasse com o HIV. Owen respondia explicando como funcionava a profilaxia. E a próxima pergunta, inevitavelmente, era: como conseguir a PrEP?

Diante do interesse das pessoas, Owen e Craddock decidiram que algo precisaria ser feito. Craddock lembra que, na época, eles pensaram que nem precisavam do governo para ajudar as pessoas a encomendar o remédio online.

Alex Craddock
Legenda da foto, Alex Craddock ajudou Owen a montar um site e aproximar fornecedoresbayern rb leipzigcompradores da Prep

Do quartobayern rb leipzigCraddock, começaram a criar um sitebayern rb leipziginternet, com todas as informações necessárias e um link: "clique aqui para comprar".

Segundo Owen, o link levava diretamente a sites que vendiam o remédio online.

Era uma ideia radical: "Não vou esperar para que o NHS venha me salvar", recorda Craddock. "Quero a PrEP agora e é assim que vou consegui-la".

O site ganhou o nome "Quero Prep Agora" e foi lançadobayern rb leipzigoutubrobayern rb leipzig2015. Em 24 horas, teve 400 acessos e, a partir daí, cresceu rapidamente.

E também atraiu a atenção da comunidade médica. Mags Portman, consultora do NHS para assuntos ligados ao HIV e a saúde sexual, entroubayern rb leipzigcontato com Owen para encontrá-lo. Will Nutland, ativistabayern rb leipzigoutro site que também trazia informações sobre a PrEP, acabou se juntando ao projetobayern rb leipzigOwen e Cradddock.

Greg Owen
Legenda da foto, A vida Greg Owen mudou quando ele se assumiu HIV positivo no Facebook

Nutland acabou servindobayern rb leipzigcobaia. Ele tomava PrEPbayern rb leipzigdistribuidores novos e fazia exames na clínica da consultora Mags Portman. Ele testou maisbayern rb leipzig300 lotes e nenhum parecia ser falso.

Ao mesmo tempo, o Conselhobayern rb leipzigPesquisa Médica do Reino Unido deu início a um estudo comparando resultadosbayern rb leipzigusuários e não usuários do medicamento preventivo.

O resultado foi tão evidente - quedabayern rb leipzig86%bayern rb leipzignovas contaminações por HIV entre os usuários da PrEP - que a pesquisa foi interrompida precocemente e o medicamento oferecido também aos que não o estavam tomando.

Greg Owen e Alex Craddock
Legenda da foto, Greg Owen e Alex Craddock criaram um site no quarto e a ideia virou 'assuntobayern rb leipzigJustiça'

No finalbayern rb leipzig2014, o serviçobayern rb leipzigsaúde britânico (NHS) deu início a trâmites para decidir se a PrEP deveria ser disponibilizada. O tempo passou, mas nenhuma decisão havia sido tomada até 2016.

"Era muito difícil e frustrante, já que os médicos sabiam da existência dessa ferramenta preventiva, mas não podiam ter acesso a ela, nem prescrevê-la", afirma a consultora Mags Portman, dizendo que muitos médicos acompanhavam pacientesbayern rb leipzigsituaçãobayern rb leipzigrisco e que acabavam contaminados.

Em determinando momento, o NHS decidiu dizer não ao uso do medicamento.

"Fiquei chocada", diz Sheena McCormack, professorabayern rb leipzigepidemiologia clínica, que conduziu o estudo do Conselhobayern rb leipzigPesquisa Médica. Para Portland, a decisão foi "absolutamente horrível".

Assim, a ideia que começou no quartobayern rb leipzigOwen foi parar na Suprema Corte do Reino Unido.

Uma conhecida entidade beneficente, o National Aids Trust, foi à Justiça para exigir que NHS considerasse a PrEP seguindo as mesmas normas usadas para avaliar qualquer novo medicamento.

Will Nutland
Legenda da foto, Will Nutland foi 'cobaia' esperimentando comprimidosbayern rb leipzignovos fornecedores

O NHS, que enfrentava umabayern rb leipzigsuas piores crises orçamentárias, argumentava que, legalmente, não era responsável por custear a prevenção - e que isso seria responsabilidadebayern rb leipziggovernos locais.

O caso acabou expondo outra coisa - a visãobayern rb leipzigparte da sociedade britânicabayern rb leipzigque homens gays deveriam ser responsáveis pela própria sorte.

O jornalista Andrew Pierce, que é gay, se colocou contra a oferta do medicamento pelo governo.

"Não acho que o NHS possa bancar 450 libras (R$ 2.300) por mês para um homossexual", disse ele. "É um absurdo, por que o contribuinte deveria subsidiar uma vida sexual imprudente?", questionou o jornalista.

Para Owen, "homens gays têm o direito a viver sem medo, sem culpa e a ter sexo sem doença". "Estamos,bayern rb leipzigúltima instância, condicionados a acreditar que o amor, particularmente o sexo entre dois homens, sempre tem que ter um preço a se pagar. E não é para ser assim."

Mags Portman
Legenda da foto, Mags Portman ficou chocada com a decisão do serviçobayern rb leipzigsaúde britânico que, inicialmente, se recusou a oferecer a Prep

No tribunal, não se sustentou o argumento do sistemabayern rb leipzigsaúde britânico para não oferecer a PrEP. Se o NHS oferecia estatinas a pessoas saudáveis para prevenir problemas como o colesterol, poderia oferecer outras drogas preventivas.

A decisão da Justiça foi favorável ao National Aids Trust. O NHS recorreu, mas,bayern rb leipzignovembrobayern rb leipzig2016, perdeu novamente e foi obrigado a assumir a distribuição da PrEP.

Owen estábayern rb leipzigvolta à Irlanda do Norte, onde trabalha num bar. "Eu literalmente chorei. Estava servindo cerveja para um garoto que provavelmente pensou que eu fiquei louco", disse, contando como reagiu ao saber da decisão judicial.

Greg Owen a direita
Legenda da foto, Owen foi para a rua ajudar a protestar pelo acesso gratuito à Prep

O que aconteceu no Reino desde então

No ano passado, oito clínicasbayern rb leipzigLondres e outras várias fora da capital inglesa fizeram partebayern rb leipzigum teste para oferecer PrEP.

Além disso, muitos homens podem comprar o próprio medicamento,bayern rb leipzigespecial porque o tratamento foi amplamente divulgado. Em agosto do ano passado, o NHS anunciou que iria oferecer a PrEP a 10 mil pessoas.

No Paísbayern rb leipzigGales, o medicamento preventivo está disponívelbayern rb leipzigclínicas escolhidas pelo NHS. Mas ainda não há PrEP na Irlanda do Norte. No Reuno Unido, a Escócia é a única região a oferecer o medicamento pelo sistema nacionalbayern rb leipzigsaúde.

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Como é no Brasil

No Brasil, segundo o site do Ministério da Saúde, a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV está disponívelbayern rb leipzig36 serviços do Sistema Únicobayern rb leipzigSaúdebayern rb leipzig22 cidades brasileiras. Os serviços começaram a receber o medicamentobayern rb leipzigdezembro do ano passado.

O investimento inicial no Brasil foi estimadobayern rb leipzigR$ 8,6 milhões. É o custobayern rb leipzig3,6 milhõesbayern rb leipzigcomprimidos, para atender à demanda pelo períodobayern rb leipzigum ano, aproximadamente.

Ainda segundo o Ministériobayern rb leipzigSaúde brasileiro, a Organização Mundialbayern rb leipzigSaúde (OMS) recomenda, desde 2012, a oferta da PrEP, que já é disponibilizada nas redes públicabayern rb leipzigsaúde da França e da África do Sul. Já nos Estados Unidos, Bélgica, Escócia, Peru e Canadá, é comercializada na rede privada.

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No Reino Unido, pela primeira vezbayern rb leipziganos recentes, o diagnósticobayern rb leipzigHIV entre homens gays está caindo. Entre 2015 e 2016, caiubayern rb leipzig20%. Em algumas clínicasbayern rb leipzigLondres, a queda chegou a 40%.

Os mais críticos dizem que a PrEP pode prejudicar as campanhas por sexo seguro. Citam um estudo conduzido na Austrália durante quatro anos e publicado na revista acadêmica Lancet, sugerindo que enquanto o usobayern rb leipzigPrEP aumenta, obayern rb leipzigcamisinha cai. Além disso, homens que não usam o medicamento também estão usando menos camisinha,bayern rb leipzigacordo com o estudo.

Pesquisadores da universidade britânica University College London (UCL) avaliaram o custo benefício da PrEP . Eles argumentam que o medicamente traria prejuízo ao NHS nos primeiros 40 anos, mas que, a partir daí, traria benefícios econômicos. Após 80 anos, ela permitiria o país economizar 1 bilhãobayern rb leipziglibras.

Sheena McCormack
Legenda da foto, Sheena McCormack fez Owen chorar, ao salientar que ele ajudou a salvar milharesbayern rb leipzigpessoas

Owen sempre chora quando se lembra do que precisou fazer e passar até ver o medicamento sendo oferecido, ainda quebayern rb leipzigforma restrita, no sistemabayern rb leipzigsaúde.

Ele se lembrabayern rb leipziguma ligação específica que o fez chorar muito. A epidemiologista Sheena McCormack estava na linha, era o Natalbayern rb leipzig2016, poucas semanas depois da decisão judicialbayern rb leipzigque o NHS saiu derrotado.

"Eu quero que você pense nas pessoas, nas milharesbayern rb leipzigpessoas que estão andando por aí, HIV negativas, por causabayern rb leipzigalgo que você fez", disse McCormack.

Olhando para trás, Owen diz que não havia um grande plano, a ideia era ajudar pelo menos uma pessoa. Mas ele acabou ajudando milhares.

Crédito das imagens

bayern rb leipzig BBC, Getty Images, Greg Owen, Claire McGeown and Alex Craddock.

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